Iron Mask escrita por Luisy Costa


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todas as leitoras maravilhosas que não desistiram dessa história, especialmente para Leila Marsofe, Gabrielly e Julia Cullen. Vou deixar que leiam em paz, nos encontramos lá embaixo.



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Cinco dias foram o suficiente para danificar o humor geral do ambiente, os Volturi ainda não haviam deixado a região. Nos primeiros dois dias eles ficaram acampados na margem da cachoeira, fuçando ao redor de toda a entrada, sem por sorte jamais notar o óbvio. No poente do terceiro dia não havia rastro algum deles no entorno, mas Paul relatara o brilho distante de uma fogueira. Eles estavam se movendo, mas nunca deixavam uma distância suficiente para que todos ficássemos tranquilos.

Embora o perigo imediato de morte justificasse o medo no geral, eram as restrições que enlouqueciam a todos. A qualidade da comida havia deteriorado na mesma proporção que Tanya reclamava de cozinhar no escuro, afetando a todos. Os guardas estavam irritadiços e me vigiavam sutilmente, havia sempre alguém garantindo que eu estivesse mesmo onde disse que estaria. Os cavalos estavam agitados, sem feno fresco e atenção constante.

A rainha, embora ostentasse uma figura tranquila, exigia relatórios constantes da situação e passava todo o tempo ao lado das filhas. O príncipe havia se tornado mais focado no treino e, para minha total surpresa, as princesas se mostraram aprendizes perspicazes. Rosalia retirava com rapidez o punhal que Emmett dera, enquanto Alice havia descoberto uma nova função para as agulhas de cabelo, as usando juntamente com o punhal.

As aulas haviam se tornado o momento mais relaxante do dia, além de garantir uma defesa extra a realeza, eu podia satisfazer minha masoquista interior e tocar Edward o quanto julgasse necessário. Eram os únicos momentos do dia que estávamos juntos agora, ele dedicava todo o restante do dia ao lado da família ou debatendo estratégias com Jasper.

Havia me mudado para um dos espaços nas cavernas de depósito, encontrara uma espaçosa o suficiente para o meu colchão e movi todas as minhas coisas para lá. Os outros guardas dormiam no grande salão agora e ficaram satisfeitos por eu ter escolhido tal lugar. Podia sentir o cheiro de fumaça da cozinha improvisada, mas poder dormir sem roncos era renovador. Estava sentada no colchão, massageando as costelas doloridas de cotoveladas e chutes contínuos, quando ouvi o padrão de passos do príncipe. Ele usava a cota de malha o tempo todo agora, assim como eu deveria estar usando. Ali, enterrada sozinha no escuro, havia cometido o erro de me permitir o conforto dos seios livres.

Sem tempo para colocar discretamente a cota, vesti o blusão e rezei pela vantagem de ter seios pequenos ser novamente útil. O príncipe chegou justamente quando acabava de ajustar a roupa, seu archote iluminava minha caverna simples como o poente. Ele o apoiou no chão e parou na minha frente.

— Ainda não entendo a razão de eles permanecerem por aqui — foi tudo que disse antes de se sentar ao meu lado.

— Há algo que os mantém aqui, talvez uma pista interessante ou uma ordem expressa dos seus donos. Mas seja o que for, Demetri está impaciente, mudar de acampamento todas as noites é um sinal de que ele tem um pressentimento e está revirando a floresta atrás da resposta.

Estava olhando para o archote, absorta pela dança das chamas e sombras que bruxuleavam em sincronia enquanto o fogo morria. Foi assim, imaturamente despreocupada, que senti a presença de Edward, virado completamente em minha direção. A força do seu cheiro com as ondas que corriam do seu corpo para o meu tiveram um efeito catastrófico. Meus seios livres ficaram entumecidos, despontando suavemente no camisão, enquanto meu rosto escondido corava.

— Você se escondeu aqui com medo deles? — a intensidade da sua pergunta com a voz sussurrada não melhorou a situação, eu rezei mais forte para que ele não olhasse para baixo.

— Eu tenho medo deles, Edward — era minha resposta mais sincera. — Vi do que são capazes e digo, embora tenhamos a vantagem numérica, seria muito difícil os vencer. É provável que você e sua família seja poupada ilesa, os Volturi fariam de vocês o maior troféu de todos. Mas cada guarda, ama e caçador de recompensa seria torturado e morto, apenas pelo prazer do ato.

— Crê que eles possam ir embora logo? Você é o único que os conhece.

— Embora os Volturi pareçam longe, eles não devem estar a mais do que alguns dias do foco de batalha — pensei em volta alta e agradeci em silêncio pelo archote finalmente estar se apagando. — Eles estão nos caçando desde que deixamos o acampamento do qual o resgatei, a paciência dos Volturi é breve, talvez a ordem para que retornem chegue antes da minha previsão.

— Não há garantias.

Essa simples frase carregava uma desesperança profunda e tanta preocupação. Não pela própria vida, mas com a de todos. O último vislumbre de luz declarou uma mudança no seu semblante, ele olhava justamente para o meu tórax neste momento. Então tudo se tornou breu e o príncipe tinha uma máscara própria para cobrir a reação ao que viu, seios levemente ouriçados. Ele se moveu lentamente, deixando o colchão e tomando o archote em brasas que nada iluminavam.

— Perdoe-me por ter perturbado seu descanso, Iron. O deixarei em paz agora, nos vemos no próximo treino.

Com a voz um tanto quanto perturbada, o príncipe deixou o recinto rapidamente, sem deixar abertura para qualquer resposta.

Tola, tola, burra, mil vezes tola e burra, ele havia visto. Talvez houvesse imaginado que sou incrivelmente musculosa, como Emmett. Não, como poderia ser? Ele treinava comigo, sabia que meu corpo era firme e forte, mas que era magro, sem músculos grandes.

Estava tudo perdido, eles me desmascarariam, ririam de mim, provavelmente seria dada como uma ama de cama a um dos guardas. Deus proteja Jacob se tentar colocar a mão em minhas calças, ele não terá mãos depois.

Estava ficando sem ar em um ambiente confinador, precisava sair dali imediatamente, precisava de Durna. Tomando por fim decência de me proteger, vesti a cota e saí para ver minha doce menina, fazendo o mínimo de barulho possível. Quando cheguei ao grande salão, o futuro maneta estava fazendo a guarda enquanto alguns outros dormiam. Ele me olhou de soslaio e interrompeu a minha passagem quando fui em direção saída.

— Você não vai nessa direção, caçador — ele cuspiu as palavras com raiva.

— Venha até comigo se quiser, mas é melhor sair da minha frente antes que corte a suas duas mãos.

Ele deu um leve passo para trás, um semblante assustado com a minha recém adquirida agressividade direta. Paul, que estava no colchão mais próximo, falou sem ao menos abrir os olhos.

— Vá com ele Jacob. Estamos todos muito irritados aqui e Iron se sente mais calmo ao lado da égua. Aproveite também e penteie nossos cavalos.

Ele bufou, me deu passagem e seguiu alguns passos atrás de mim. Assim que saímos do alcance dos ouvidos de Paul, ele sussurrou apenas para mim.

— Tente qualquer coisa e eu te mato.

— Você já está me matando com seu cheiro.

Seus passos se tornaram menos ferozes atrás de mim e permiti um leve sorriso de satisfação, meu próprio cheiro não era muito agradável, porém o deixar de boca fechada era uma pequena alegria fugaz em meio ao caos. Em poucos passos depois finalmente encontrei o meu refúgio, embora Durna não estivesse muito feliz naquele momento. Retirei o esterco que a cercava e levei para longe, na bacia onde o material estava sendo mantido, depois busquei sua escova para pentear a crina.

Era mais relaxante para mim que aprazível para ela, mas ambas parecíamos mais serenas depois de alguns minutos. Jacob seguia calado, observando como um cão de guarda, infelizmente não por muito tempo.

— Você vai fingir por quanto tempo que se importa por essas pessoas? — era uma pergunta direta, o único sentimento na sua voz era cansaço.

— Enquanto eles forem a minha missão, mesmo que isso custe a minha vida.

— Por que se dedicar tanto a pessoas que depois vão o esquecer? Talvez não seu rosto, claro, mas aquilo que fez por elas?

Queria dizer que fazia pela família real e por todos os demais o mesmo que pelos moradores da minha vila, a minha família. E mesmo que não dissesse por ser um segredo, também estaria contando uma verdade parcial. Fazia por mais que honra, os protegia para ver um par de olhos verdes que jamais enxergariam que eu sou além da máscara. Pelo primeiro homem que havia desestabilizado minhas certezas, quebrados minhas convicções e retirado quase todas as precauções que seguia.

— Eu sei que caçadores tem a fama de desonestos e corruptos, mas eu não sou assim, não quebro com a minha palavra. Não importa quanto ouro esteja envolvido — era a resposta mais sincera que poderia dar sem me expor. — Além disso, quando sairmos daqui significa que não haverá mais guerra, posso voltar para minha amada em paz.

Ele pareceu ceder ao ouvir sobre uma amada, mal sabia ele que era a minha amada Renesmee. Ela agora deveria estar florescendo bela e protegida entre as montanhas, ajudando nossa pobre mãe e amigos a se manterem vivos, pensando que finalmente eu havia morrido. Voltar para elas era a maior razão de não quebrar promessas e não perder o controle.

Sentir e encobrir eram estratégias importantes para construir uma pessoa real. Jacob parecia convencido, mas não deixou a caverna até que eu voltasse com ele para o Grande de Salão.

 

 

Tanya, Irina e Kate estavam servindo o jantar aos guardas, uma sopa rala de legumes com pequenos pedaços de carne defumada boiando, aceitei a vasilha oferecida por uma receosa Kate, que rapidamente se afastou. De fato, Kate era a única com que eu não havia tido muito contato, era ama das princesas e raramente nos cruzávamos pelos corredores. Enquanto Irina seguia com seu ego ferido, agora já não corria mais atrás de nenhum guarda, e Tanya me fulminava sem nenhuma razão aparente, Kate parecia ainda me temer. Sempre com passos rápidos e cumprimentos silenciosos quando nos encontrávamos.

Muitas pessoas me temiam, refleti, mesmo aquelas que não conhecem a minha fama, elas temem o desconhecido de um rosto em branco. Engoli a sopa sem tentar sentir o sabor, em seguida tomei meu cantil e disfarçadamente tomei um gole. A essa altura as amas já haviam se retirado, ninguém me observava e eu tinhas as sombras como aliadas. Com um espaço vazio na minha mente, voltei a pensar em Kate. Emmett havia me dito que ela era noiva, era tudo que eu sabia além de que ocupava um cargo de alta confiança no palácio. Parecia bobo, mas algo havia me deixado inquieta, um sentimento ligeiro, mas persistente na minha cabeça.

Enquanto refazia todos os encontros casuais com Kate na minha cabeça, Jasper chegou com Emmett da direção do Jardim, deixaram alguns equipamentos de escalada perto da entrada e seguiram para seus colchões. Pareciam exaltados enquanto tiravam as botas e esticavam os pés na rocha fria, e embora fosse inadequado, era o momento perfeito para tentar me livrar do sentimento estranho sobre Kate. Me aproximei deles e sentei de frente para os dois, que me cumprimentaram e esperaram pelo meu retorno.

— Há alguma novidade? — primeiro uma abertura neutra para balancear, todos queriam uma boa novidade para poder enfim respirar tranquilos.

— Nada muito diferente, eles se moveram um pouco mais para o noroeste, já quase fora da nossa visão, mas não é a primeira vez. Os malditos estão dançando pela floresta — Emmett respondeu com uma voz exausta, seu camisão colado ao peito denunciava o esforço realizado. — Logo eles devem voltar, nunca ficaram a mais de meio dia de viagem.

— Eles não devem seguir bailando por muito tempo, logo devem ter que retornar para junto de seu clã. A paciente curta dos Volturi é famosa, bem como a cautela que seguem — ele parecia ouvir atentamente, enquanto Jasper estava olhando fixamente para o outro lado do salão. — Estar tão fundo no território inimigo é arriscado demais para o seguir fazendo por muito mais tempo.

— Tens razão Iron, mas tudo isso já foi debatido nos últimos dias — Jasper finalmente se pronunciou e me olhava inquisidoramente. — Pergunte o que realmente quer saber.

Ele era um homem sábio, era um líder pronto para lidar com tudo. Era assustador de fato, era necessário atenção redobrada com ele ou poderia entrar em maus lençóis.

— Queria perguntar mais sobre as amas, se elas são de confiança.

Os dois se entreolharam e depois me fitaram, a palavra confiança não deveria estar gravada na minha máscara.

— São filhas do Lorde George Birtree, a esposa dele, Ladie Elsie, cresceu como dama de companhia da rainha, a serviu até o momento em que o príncipe Carlisle se tornou rei. Depois disso ela partiu da corte para que seu marido assumisse as terras e títulos do pai — ele fez uma pausa breve para beber do seu cantil. — Poucos anos depois, uma praga assolou as terras de Birtree e a saúde de Ladie Elsie também. Ela morreu deixando três filhas pouco mais velhas que as princesas e uma carta para sua antiga amiga, pedindo ajuda. A rainha decidiu acolher as meninas como suas protegidas e as colocou como damas de companhia das princesas. Cresceram todas juntas, e quando se fez a necessidade de amas, o rei ofereceu mais do que poderiam sonhar para dar o que de maior valor possuíam, a confiança.

Ele se calou então, uma longa pausa e pensei que esse era o fim da conversa, mas Emmett tinha mais para oferecer.

— Esse foi um arranjo um tanto quanto apressado, ao meu ver — ele recebeu um olhar significativo de Jasper. — Veja Iron, a história que as criadas mais antigas contam é de que Ladie Elsie era uma jovem muito amável e graciosa, além de uma amiga fiel, mas que sua morte impediu que ensinasse o mesmo para as filhas. As criadas acusam veladamente Tanya de caprichosa e interesseira, Irina de lasciva e grossa, enquanto Kate tem o apelido de A Opaca.

— A criadagem do castelo fala mais do que deveria e você passa mais tempo com eles do que com seus deveres, Emmett. É um apelido muito cruel e fruto da inveja sobre o cargo ocupado pela jovem Kate — rebateu rapidamente Jasper.

— Podem me explicar de onde surgiu?

— As criadas a chamam assim por ela sempre tentar não chamar atenção — Jasper resumiu de forma cortes.

— Não, Jasper, eles a chamam assim por não ter brilho algum. Normalmente damas de companhia não devem se destacar sobre as princesas, mas Tanya e Irina sempre encontram uma forma de chamarem a atenção para si. Enquanto isso Kate não faz esforço algum, nenhuma cor brilhante, laços, fitas ou nada chamativo. Ela ainda tenta ser o mais discreta possível ao caminhar pelo castelo. Então as criadas a compararam a prata sem lustre, opaca ainda que bonita.

— Parece um tanto quanto cruel, visto que ela é uma jovem comprometida, diferente das irmãs — apresentei uma meia defesa, esperando ávida por mais informação.

— Ela é a mais velha, na verdade ela já nasceu prometida — Jasper parecia querer acabar logo com o assunto, aproveite as minhas talvez últimas migalhas. — Lorde Birtree era um homem importante na época que Kate nasceu, então buscou o mais vantajoso acordo que pode. Porém agora ela tampouco sabe onde o noivo está, ele se tornou pajem e foi para a frente de batalha.  As terras de Birtree se recuperaram antes da guerra, o Lorde se casou outra vez e teve um filho homem que vai herdar tudo. Vir para cá significa um casamento e um dote vantajoso para as mais novas, para Kate pode ser a chance do seu marido se tornar um grande Lorde.

— O mais importante, além de todas as boas histórias que a criadagem me contou, é que todos aqui sabem que o rei moverá o mundo para garantir que sua família esteja sã e salva. Por isso todos aqui, até mesmo você, contam com a inteira confiança de Vossa Majestade, então não deveríamos duvidar de seu julgamento — finalizou Emmett com um sorriso.

Eu assenti, chocada por ouvir sobre mim e confiança de forma positiva na mesma frase com tanta naturalidade, mas também por toda informação que havia recebido. Deixei os dois em paz e fui novamente para os meus espaçosos aposentos no escuro. Deitei no colchão fino e, dessa vez sem tirar a cota de malha, decidi descansar um pouco para refletir sobre tudo aquilo.


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Notas finais do capítulo

Há muito sobre como eu escrevo que mudou ao longo dos anos, ainda assim espero que continuem apreciando. Não será uma fanfic longa, mas prometo um final. Tudo que posso adiantar agora é que há uma tempestade pela frente.



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