É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 5
Capítulo 5 - Consequências




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Algum idiota disse uma vez que escola é bom.

Na boa, eu cuspiria na cara de uma pessoa que disesse isso pra mim. Sim, porque escola é tão bom quanto um cuspe na cara.

Não me entendam errado. Eu não tenho nada contra escolas em geral. Mas às vezes me dá vontade de explodir a minha. Se bem que explodir só os professores já estaria de bom tamanho.

Minha cabeça está girando. Eu não consigo pensar em nada. A festa foi anteontem, no sábado, e na manhã de domingo eu não aguentava mais.

Não aguentava mais por uma série de motivos. O primeiro é que, eu bebi demais. E quando você bebe demais, a manhã do dia seguinte vem acompanhada da tal da ressaca. Eu sei que isso não é novidade para ninguém, mas mesmo assim. O segundo é que tem um menino saltitando por aí que é simplesmente perfeito pra mim, mas eu não sei o nome dele. Na verdade, não tenho 100% de certeza de que lembro o rosto dele. Quando tento pensar nele, o rosto do Ian Somerhalder vem na minha cabeça. Não me pergunte se eles são parecidos ou não. Eu não sei. É como se eu não fosse eu aquele dia. É como se fosse uma garota qualquer, bêbada e irresponsável, que teve a sorte a dar uns beijos em um cara bonitinho. E ela não sou eu. Taí o fim da minha série de motivos. 

Agora a senhora Nichols está aqui, em plena segunda-feira, tagarelando sobre algum fato perdido na história que não interessa a ninguém. Não sei do que ela está falando, mas deve ser de uma revolução qualquer. Posso garantir que, se as pessoas que fizeram essa revolução ainda vivessem, não se lembrariam que a teriam feito, porque foi há séculos. Mesmo assim ela teima em ensiná-la para nós.

- Bellie Harper! - ela grita, e dá um tapa na minha mesa. Só então percebo que meus devaneios estão correndo a aula daquela mulher inteira.

- S-sim? - respondo, um pouco sonolenta.

- Responda à pergunta que te fiz.  - ela me desafia.

Merda. Ela tinha me perguntado alguma coisa. Busco em minha memória algo que ela poderia ter me perguntado, mas não acho nada.

- Hã...- não vou pedir para ela repetir. Primeiro porque ela não repetiria. Segundo porque esse pedido é o que ela mais espera que eu faça.

Continuo pensando, embora eu saiba que não vou encontrar nada, uma vez que eu não ouvi a pergunta. A expressão dela é que ela tem expectativas de que a qualquer momento eu me jogue no chão de joelhos e implore pela resposta.

Então, em um momento de luz e alívio, escuto alguma alma salvadora sussurrar lá de trás:

- Petróleo.

Isso! Petróleo!

- Quer que eu repita? - a cobra pergunta, erguendo uma sobrancelha maldosamente.

- Não. Já sei a resposta. - anuncio, orgulhosa, e faço uma pausa teatral antes de continuar. - Petróleo!

A sala gargalha. Até a professora sorriu um pouquinho. Não entendo. Os alunos ainda estão rindo e professora faz um esforço muito grande para não rir com eles, não por compaixão a mim ou algo, você sabe, humano. Mas sim porque quer fazer uma pose de brava.

- Estão vendo, turma? É isso que acontece - ela diz, o tom de voz dela está alto para os que ainda gargalham possam ouví-la claramente. - quando não prestam atenção na aula. A gente pergunta em que ano ocorreu a Revolução Francesa e a resposta que vem é 'Petróleo'. - ela realmente ri enquanto pronuncia a palavra. 

A turma ainda gargalha. Olho para trás e vejo quem é o dono da gargalhada mais alta. Megan Parsons.

Quando percebe que a estou olhando, ela dá um piscadinha para mim.

A vontade que eu tenho é de me levantar, andar até a carteira dela e gentilmente matá-la por enforcamento. Mas eu não posso fazer isso.

Tem testemunhas demais.

Sendo assim a senhora Nichols agora volta a dar aula para as quatro paredes da sala que ainda a escutam.

Vinte minutos se passam e o sino maravilhoso toca. É hora do intervalo.

As pessoas da minha sala se levantam rapidamente e saem da sala como uma manada de esfomeados. Que é mais ou menos o que eles são.

Ainda estou sentada na minha cadeira, agarrada a ela, para ser mais precisa. Tensy se levanta da segunda cadeira onde senta e se instala na cadeira em frente à minha.

- Ei. Tem alguém aí? - ela estala os dedos a centímetros dos meus olhos.

Eu pisco em resposta.

- Vamos. Levanta. - ela manda.

Lentamente, me descolo da cadeira e me dirijo à porta. Ela consegue me arrastar à cantina. Então ela pede um suco de melancia para si e me pergunta o que eu vou querer. Quando não respondo, ela se vira para o atendente que sei que ela acha particularmente atraente e pede um suco de laranja.

Quando os sucos chegam, ela coloca seu canudinho na boca e diz:

- Pode ir dizendo. O que foi aquilo na aula de história?

Eu olho para ela.

- Não sei, eu estava distraída. Sua cabeça não está doendo? - eu pergunto, mudando de assunto, e coloco a mão de forma dramática na minha cabeça.

- Claro que sim. - ela responde - Mas acho que eu já sei no que você estava pensando. - Tensy insinua, sorrindo.

Estou prestes a respondê-la quando noto, mais à frente, uma cabeleira escura cor de chocolate que julgo familiar.

Ai. Meu. Deus.

É ele. Ele está bem ali. O menino da festa. Mas... por que ele estaria aqui? Não consigo encontrar nenhuma razão coerente. E se ele se virar? O que eu faço? O que eu digo? Será que eu falo "Oi"? Será que eu fujo? Eu... sei lá, mando um sorrisinho?

Ah, espera. É uma menina. É Amanda Trenks. Me pergunto porque ela se odeia, para cortar o cabelo daquele jeito. Porque parece um menino. Eu não sou tão louca. Quando estou, você sabe, sóbria.

Percebo que estou sem respirar desde que confundi Amanda com ele. Tento me lembrar dos movimentos de inspiração. Quando recupero o ar, vejo que Tensy está me observando.

- O que foi? - tento fingir que nada aconteceu.

- Nada. Só pareceu que você estava à beira de um ataque fulminante.

- Ahn... - respondo, enquanto pego o meu suco e o bebo, pela primeira vez.

- O que está acontecendo com você, Bell? - ela me questiona, enquanto andamos de volta à sala de aula.

- Nada, Tens. Eu acho que eu só preciso de um descanso.

- Já eu preciso de um namorado.

- É, disso eu preciso também. - sorrio para ela, que me retribui.

Então eu percebo que, anotado na mão dela, está o telefone do atendente da cantina. Essa não tem jeito.

Voltamos para a sala de aula e aguentamos ainda mais aulas chatas, nas quais eu juro que tento prestar atenção mas meu cérebro se recusa a pensar em uma coisa que não seja aquele maldito garoto.

Ou o beijo dele.


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