É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 3
Capítulo 3




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Ei, sabe aquele tipo de coisa que você simplesmente sabe que não deve falar, mas você fala mesmo assim e no final você acaba realmente ferrando com tudo? Então.

- Sabe, tem um beco sem saída a duas quadras daqui. - minha querida amiga diz. - E fica vazio o tempo todo.

Os olhos da loirinha brilham de um modo visível até na escuridão. Ela dá uma risadinha e estala os dedos.

- Ei, galera. A nossa mais nova amiguinha aqui - ela passa um braço magro pelo ombro de Tensy - tem um lugar interessante pra gente ir. A propósito, meu nome é Ashley. - ela acrescenta.

Tensy assente.

- Por aqui. - ela guia.

O caminho para o beco é rápido. Pra ser bem sincera, não tenho a mais vaga noção do que estou fazendo aqui.

Ashley está tagarelando sobre algumas coisas que fez na última vez que fugiu de casa. Parece que dormiu ao lado de um mendigo meio pervertido. É impressão minha ou nós realmente estamos saindo com uma pessoa assim?

Chegamos ao beco. É aqui. É úmido, fedido, nojento e eu JURO que eu acho que aquilo que eu vi passando correndo ali foi um rato. Não tenho tanta certeza, mas eu prefiro não descobrir.

Está lotado de gente. Deve ter umas trinta pessoas aqui. Eu não imaginava que seria tanta gente.

Ashley está coordenando uma operação para colocar alguns caixotes de madeira para montar uma mesa onde ela quer colocar as bebidas.  Três meninos fortes e grandes a ajudam. Se bem que ela não ajuda muito, a não ser que você conte ficar parada e gritar "Vamos, gente, força!" como ajuda.

Eles, enfim, terminam de colocar os caixotes. Ashley distribui as bebidas pelos caixotes com rapidez. Alguém surge com cinco pacotes de copos de plástico.

- Sirvam-se! - Ashley grita, e se delicia quando os adolescentes quase derrubam uns aos outros para alcançar as garrafas.

- Vamos! - Tensy berra, e me puxa.

- Não, Tensy, não acho que seja uma boa ideia.

Ela revira os olhos. Essa mania dela me irrita. E não pense que eu nunca falei isso pra ela. Porque eu falei. Centenas de vezes.

- E por que não? - ela indaga, nem um pouco interessada.

- Não é melhor nós irmos embora?

- É. E aí o mundo acaba amanhã e o que a gente fez? Merda nenhuma.

Então eu deixo que ela me puxe em direção aos jovens sedentos. Ela se serve e eu pego um copo de plástico e coloco dentro dele alguma substância amarela que não sei identificar.

Eu coloco os lábios na borda do copo e pondero se eu devo fazer isso. A última vez não acabou nada bem. Mas não importa. Eu viro o copo e deixo o líquido chegar às minhas papilas gustativas. O gosto é bom.

Instantaneamente, eu me sinto mais animada. Termino aquele copo e pego outro. E outro. E mais um. Estava indo para o quinto quando Ashley aparece e toma o copo da minha mão.

- Ei, mais calma, mocinha. Tem que sobrar pra todo mundo. Experimenta esse. - ela preenche o espaço vazio entre minhas mãos com um copo de líquido roxo.

Eu bebo. É horrível. Não gosto da sensação.

- O que é isso? - reuno forças para perguntar.

- Vinho paraguaio batizado. - ela responde.

Quase cuspo o pouco que ainda resta na minha boca. Vinho paraguaio já é uma porcaria. O tal 'batismo' piora muito a situação. Eu ia perguntar batizado com xixi de que animal, mas eu acho melhor não. Não quero ouvir a resposta.

Eu e Tensy passamos nosso copos por todas as garrafas que vimos, experimentando todas as bebidas. Agora estamos deitadas no chão do beco com Ashley, que está tagarelando sobre todas as suas tatuagens, mas dessa vez, presto mais atenção à sua história. Um animal passou correndo pelo meu pé agora, mas que se dane. Bebi tanto que não me importo mais. Nós três estamos rindo de algo que não me lembro nem se foi engraçado, quando reparo um menino olhando para mim.

Ele é alto, branco e forte. São as únicas características que consigo perceber na escuridão. Cinco amigos dele estão sentados, mas ele está em pé, me encarando, do outro lado do beco.

Os amigos dele se levantam para pegar mais bebida. Ele então continua me fitando e eu também estou olhando para ele, não me importando que ele tenha me pego no flagra, como me importaria, se estivesse sóbria.

Ele levanta dois dedos e me convida a me juntar a ele. Eu levanto e vou, contrariando totalmente meu bom senso, que a essa altura já é uma parte muito, muito pequena de mim.

- Curtindo? - ele me pergunta, quando chego perto dele. Ele está bebendo alguma coisa branca que não sei o que é. A voz dele é rouca, baixa, meio sexy. Eu gosto como soa.

- Sim - respondo - Nunca tinha feito isso antes. - e eu não falava só de beber tanto.

Ele levanta as sobrancelhas que, percebo, são perfeitas.

- Nunca tomou um porre?

- Não, quer dizer, teve a festa da Megan Parsons.

A expressão dele se torna confusa e eu percebo que fiz de novo. Falei de alguém para outra pessoa que não faz ideia de quem esse alguém é. Então eu me vejo obrigada a explicar pra ele a festa inteira. De como aquele dia eu fiquei com o garoto mais repugnante da escola, sem nem a Tensy saber, paguei mil micos diferentes, vomitei no jardim da casa da Megan, quebrei todos os vasos que via pela frente, passei trote para três professores e para o diretor. E então me vejo contando a ele sobre todos os professores imbecis da nossa escola, e entregando para ele todo o nosso esquema de cola durantes as provas finais e de recuperação. De como já fui apaixonada pelo menino mais lindo e popular da escola, que me deu um fora no dia do meu aniversário, quando me declarei para ele e não contei a ninguém. De como já pichei o muro da escola quando fui desafiada, com uma tinta preta sobre o muro branco que até hoje ninguém tirou. Narro também sobre minha briga, no final da festa, com a Megan, que ninguém nunca entendeu a razão. Conto mais coisas para ele, mas não me lembro mais exatamente o quê.

- Eu sou completamente maluca, não sou? - pergunto.

- Não. - ele diz, então me beija.


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