É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 1
Capítulo 1 - A caminho




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Ela grita que está pronta. Um segundo depois ela desce, usando um chapéu que ela com certeza não devia estar usando. Ela para no final da escada com um pulinho, gira em torno de si mesma e me faz a inevitável pergunta:

-Como estou?

Quero dizer que está ridícula. Minha língua se move, mas depois volta para o lugar quando lembra do que combinei com ela. Nada de sinceridade assasina. As pessoas não gostam de ouvir a verdade, mesmo que ela precise ser ouvida. As pessoas não gostam quando você diz que o chapéu delas é ridículo, mesmo quando é. As pessoas gostam de ouvir elogios. Não importa se são verdadeiros ou não.

Ela para e bate o pezinho no chão, impaciente. Ela está esperando minha resposta. Eu pisco e abro a boca lentamente.

- Você está... - fecho a boca. Minha língua se aconchega no fundo dela, se recusando a fazer o que eu quero que ela faça. Na verdade,estou em dúvida entre feia e muito, muito feia.  

Não consigo dizer nada. Meu rosto se contorce em uma careta. Ela percebe, e seus ombros desmoronam. Ela coloca a mão na aba do chapéu faz uma cara triste e diz:

- É feio?

- Parece um ninho de passarinho. - eu sorrio para ela.

Atirando aquele chapéu horroroso no chão, ela sorri de volta para mim.

- Você não consegue, não é mesmo? - ela me pergunta.

- O quê?

- Não ser sincera.

Dou de ombros.

- É mais forte do que eu.

Ela ri e ajeita os cabelos dourados que vão até a cintura, fazendo com que o perfume deles chegue até onde eu estou, passa por mim e me dá um beijo no rosto. Ela pega sua bolsa no sofá e pisca um dos olhos azuis na minha direção.

- Vamos? - pergunta.

Ah, sim, vamos.

- Não pretendia ir mesmo com aquele chapéu, não é? - indago, enquanto saimos pela porta vitoriana chique da casa dela.

Ela revira os olhos.

- É claro que não.

Eu devia ter desconfiado.

Pisamos na calçada. Os saltos ecoam na rua deserta. São onze horas da noite e aquela parte da cidade já está adormecida. Eu olho em volta à procura de um táxi na escuridão, e, quando ela percebe o que eu estou fazendo, diz:

- Nã-ão.

Eu a encaro. Ela está fazendo que não com o indicador, da mesma mão que segura um objeto que não consigo identificar na falta de luz. Quando ela sacode a mão com mais força, o objeto produz um barulho e percebo que são chaves. Meus olhos se arregalam quando ela aponta com a cabeça um Mercedes parado na calçada, quase ultrapassando o meio-fio. Meus ombros se arriam quando entendo.

- Tensy - minha voz saiu como um sussurro. - Você não está pensando em fazer isso, está?

Ela levanta as sobrancelhas.

- E por que não? Não prefere chegar na balada com isso aqui? - ela dá um tapinha de leve no capô do carro, depois o olha como se ele fosse a oitava maravilha do mundo.

- Mas você não devia. É do seu pai. Se ele descobrir, estamos ferradas. As duas.

- Ele não vai descobrir. - ela continua com o tom de desprezo.

- Você só tem dezesseis anos.

Ela revira os olhos com a minha frase.

- Só sente no banco do carona e fique quieta.


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