A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

"- Você quem sabe. ele puxou meu rosto para mais perto do dele e me perdi em seus olhos Eu estou adorando nossa posição, Roza."



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Os dias seguintes foram bem estranhos. Dimitri e eu parecíamos incomodados, e acabávamos agindo com gentileza excessiva um com o outro. Ele realmente parecia arrependido e estava distante, sempre com o pensamento longe. Eu agia com indiferença, como se não me importasse se ele estivesse ou não ali, embora muito me afetasse quando ele saia e demorava pra voltar, ou quando acordava e não o encontrava na cama ao lado.

 Era uma situação complicada a nossa. Odiava brigar com Dimitri, e odiava ficar sem falar com ele. Mas tudo que eu disse no treino era verdade. Ele precisava admitir isso, ou então nunca daríamos certo. Não era a idade ou o fato dele ser meu mentor que nos impedia de ficar juntos. Era ele mesmo.

- Vocês deveriam conversar.

Já fazia uma semana desde a briga, e Dimitri e eu ainda estávamos estranhos um com o outro. Yeva assumira grande parte das sessões achando que seria melhor e mais produtiva que Dimitri, já que, apesar de vivermos discutindo, superávamos nossas diferenças com mais rapidez.

Nesta uma semana separados, e com Vik fora, me aproximei ainda mais de Karolina. Ela e a bebê me faziam companhia quase toda a noite. Eu a ajudava na medida do possível, mas não tinha menor jeito ou experiência com crianças, então era expectadora a maior parte do tempo. Karolina era tão legal quanto Viktoria, mas era mais quieta e comportada que a irmã. E seu humor era mais estável do que de Sonya. Vik tinha razão, esperava que o parto dela fosse logo.

- O que?

- Você e Dimka deveriam conversar – repetiu Karolina enquanto trocava a fralda com toda a calma do mundo. – está ficando insuportável vê-los brigados.

- Não estamos brigados – respondi quase que imediatamente – Para que acha uma briga, é necessário que hajam conflitos de interesses ou opiniões. E o caso de Dimitri, claramente, não é nem um nem outro.

Karolina riu e não disse nada enquanto terminava de trocar a filha. Não demorou muito, e logo ela a pegou no colo e eu juntei as coisas sujas para jogar no lixo.

- Dimitri, e acho que você já percebeu isso, é muito fechado. Ele tem medo de se abrir, de se entregar e acabar... se machucando. Veja, Rose, ele era guardião do melhor amigo, assim como você e Lissa. Ele foi morto por Strigois, e Dimitri, apesar de não estar no turno, se sente culpado e sofre por ele. Mas você está obrigando-o a se abrir e a se entregar, e meu irmão não gosta disso.

Eu franzi o cenho e a acompanhei até a sala, logo após de ter jogado a fralda no lixo na varanda. Karolina pediu para que sentasse ao seu lado, e diminuiu a altura de voz. Dimitri não estava em casa, mas poderia chegar a qualquer hora.

- Eu observei bastante vocês, Rose. Parece que você entende Dimitri de uma maneira tão profunda que ele não precisa verbalizar pra você saber o que ele está pensando. E o sentimento é reciproco. Então te pergunto: como você se sentira no lugar de Misha?

- Assustada. E... eu acho que eu iria acabar fazendo idiotices por causa disse como... Como me afastar ou sei lá.

- Exatamente. – Ela sorriu e ficou quieta, dando atenção a filha. Falou apenas minutos de silencio depois. – E tem Adrian também...

- Você também, Karolina? – exclamei cansada. Qual era o problema deles com Adrian? – Adrian nem está aqui, como ele pode ter culpa nisso tudo!?

Ela pareceu chocada com minha pergunta e me olhou desgostosa.

- Você é namorada dele, como podemos ignorar isso, Rose?

- Namorada? Mas quem disse que... – eu me interrompi. Eu sabia exatamente o que tinha acontecido. – Maldito seja! Ele não entende ironia? Adrian não é e nunca foi meu namorado, Karolina. A gente ficou algumas vezes, mas Adrian realmente gosta de mim, de uma forma que eu nunca poderei retribuir. Por isso eu resolvi ser só amiga dele.

- Mas aquele dia... Deu a entender que você era namorada dele.

- Yeah... – eu baixei os olhos, brincando com minhas mãos, sentindo-me envergonhada – eu sei, e fui muito rude aquele dia também, me desculpe. É que eu dormi mal a noite, e acabei descontando em Dimitri. Sei lá no que eu estava pensando.

- Não é a mim que você tem que pedir desculpas Rose...

Eu ergui o olhar para o dela. Karolina tinha razão. Eu andava brigando demais com Dimitri, e acho que não tinha nada a ver com meus sonhos com Adrian, ou a Lissa irritada comigo. Tinha, sim, uma grande influencia do Espirito vindo através do laço. Mas a escuridão me não me influenciava a ponto de me induzir a fazer algo que não queria ou dizer o que não pensava. Era quase como estar bêbada. Eu era rude e grossa, mas era sincera. Eu falava e fazia o que eu queria por impulso.

- Você tem razão. Assim que Dimitri chegar eu vou conversar com ele. Por os pingos nos i’s. Melhor que ficarmos brigados por ai sem nos falar.

Karolina sorriu satisfeita, e mudou de assunto para outro fútil qualquer. Minha cabeça? Apenas ficava atenta à porta se abrindo indicando que Dimitri chegava. O que mais queria agora era falar com ele.

Infelizmente, a vida às vezes prega peças inesperadas e idiotas. Eram umas dez horas da noite e Dimitri ainda não havia chegado. Minha mente já estava paranoica, pensando nos mais variados e inesperados motivos para sua demora. Como, de repente, ele ter encontrado algum strigoi pelo caminho. Ou ter ido para um bar e bebido demais e agora estava à mercê da sorte em algum lugar em Baia. Ou então pior! Ele se encontrou com alguma ex-namorada e eles resolveram relembrar os bons tempos! Não, não, não! Isso não poderia estar acontecendo comigo! Deveria, [i]tinha[/i], que ser algo de guardiões, ou eu sei lá. Nada que envolva perigo, seja ele vindo de strigois ou mulheres.

Eu tentei não parecer muito ansiosa. Ninguém ali parecia preocupado com sua demora, e eu também não deveria estar. Só que eu estava. Precisava conversar com Dimtri e desabafar tudo que sentia antes que alguma outra vadia venha e acabe conquistando o coração do meu cowboy. De preferencia que não seja a Tasha. Ai, meu Deus! Eu acabei de usar um pronome possessivo com Dimitri?

- Rose, faça um favor a você mesma e vá dormir. – pediu Karolina subindo as escadas. – Está tarde. Estamos todas cansadas. Ficar esperando não vai adiantar em nada se te deixar de mal humor.

E mais uma vez, Karolina estava correta.

Dormir não foi muito fácil. Me revirei na cama e olhava para a porta toda hora, com os ouvidos atentos para quando ele chegasse. Mas ele não chegou, e agora estava mesmo preocupada com seu bem estar.

Em algum momento  eu consegui dormir. E então eu estava em chamas.

Meu corpo estava eletrizado. Suas mãos ágeis percorriam meu corpo, desejosas enquanto me despiam. Puxei sua cabeça para a minha, juntando nossos lábios com fome e ansiedade. Não era apenas amor. Desta vez era também distração. A necessidade de focar minha mente em outra coisa.

Chegava a doer fisicamente a saudade que sentia. Parecia que tudo piorava com ela longe. Uma inquietação, como se algo ruim crescesse dentro de mim. A depressão voltava aos poucos, e embora Christian vivesse tentando me alegrar, eu precisava das duas partes de mim para me sentir plena. Para que eu ficasse feliz eu precisava de Rose aqui do meu lado. E por mais que eu amasse Christian...

Oh, merda.

Esses pensamentos não pertenciam a mim. Cruzes! Eu não amava Christian! E nem morta gostaria de continuar na mente da Lissa e acabar transando virtualmente com ele! Apenas de sentir suas mãos no meu corpo, já me sentia suja. Não. Não era meu corpo, e eu tinha que sair de lá antes que as coisas evoluíssem mais entre eles!

Foquei minha mente no meu quarto. Tentei sentir meu próprio corpo e minha própria mente. Lembrei-me que estava em Baia, na Russia e milhares de quilômetros de distancia. Pensei em Viktoria, nos Belikov e nas sessões de treinamento intensivo. Por último, e acho que foi isso que me salvou, pensei em Dimitri. Ele e em seu sotaque russo incrivelmente sexy. Dimitri quem acelerava meu coração e eram os toques dele que disparavam correntes elétricas pelo meu corpo. Era ele quem me tirava do sério e me fazia suspirar feito uma idiota apaixonada. Era com ele que queria ter minha primeira vez, de verdade, e não estando na mente de outra pessoa.

E então, com alivio, estava de volta no meu próprio corpo.

Odiava quando era arrastada para a mente de Lissa. Odiava ainda mais quando não conseguia separar o que era eu e o que era ela. Era desconcertante e sufocante, sem falar na invasão de privacidade, que era horrível para as duas.

Virei-me para olhar as horas e me deparei com Dimitri dormindo tranquilamente em sua cama. Eram duas e meia da manhã. Tentei não me irritar com isso, e me levantei com todo o cuidado para não fazer barulho e sai do quarto nas pontas dos pés sem me preocupar em calçar algo. Desci as escadas igualmente silenciosa. Depois que meu sono fora interrompido de uma forma tão desagradável, dificilmente eu o recuperaria tão cedo.

Vaguei pela casa a esmo. Tomei um copo de agua, folheei alguns livros na sala, mesmo não entendendo nada e até tentei voltar dormir no sofá. Por fim, acabei escorada na porta da varanda, observando o céu estrelado do lado de fora.

Foi um erro imperdoável, ainda mais considerando o foco dos treinos na ultima semana, mas eu só percebi a presença de Dimitri quando ele colocou uma manta sobre meus ombros.

- Você vai acabar congelando.

Eu virei a cabeça para olhá-lo. Ele usava uma calça de moletom e blusa regata.

- Ah, claro. E você? – zombei me aconchegando na manta. Tinha o cheiro dele, e isso, de certa forma, acabou me esquentando mais – Estou bem, mas obrigada mesmo assim.

Dimitri ergueu uma sobrancelha descrente. Uma coisa que passou totalmente esquecida pela minha cabeça e a de Abe, fora os pijamas quentes. Os que eu havia trazido se resumiam em camisolas e conjuntinhos de short e baby look. Enquanto eu me mantivesse coberta durante a noite, e o aquecedor funcionasse, eu não teria nenhum problema serio com isso.

- Está bem com esse micro short? – eu não ia admitir que agora eu estava sentindo frio, mas foi só por que ele falou – Tem certeza?

- Hey, camarada. Não sou o tipo ‘dama-frágil-indefesa’ de seus livros de faroeste, beleza?

- Eu sei, Rose. – ele me encarou sério, sem desviar os olhos dos meus – Você é tudo, menos frágil e indefesa.

Caramba, eu odiava quando ele me olhava daquela forma, que fazia meu corpo todo se arrepiar. Odiava quando ele expressava seu pensamento que deixava a desejar algo mais, que ficava nas entre linhas. Dimitri tinha o dom incrível de ver através de mim. Era como se ele me entendesse quando ninguém mais, nem eu, me entendia.

- Então... – eu pigarrei para que não me distraísse e me esquecesse do que eu queria falar com Dimitri – Resolveu dormir em casa, han? Pensei que não voltaria hoje.

Se ele entendeu a minha indireta e a ponta de ciúmes, não demonstrou. Apenas se recostou do outro lado da porta, como se não estivesse fazendo frio algum ali.

- Reunião de Guardiões. Parece que precisam de alguns na América ou algo assim.

- E você vai? – só de pensar em Dimitri indo para os Estados Unidos, sem mim, me deu um aperto no coração.

- Não. Pelo menos não agora. Tenho um compromisso mais importante que me prende aqui.

Ai, caramba. Dimitri me confundia. Ele queria ou não algo comigo? Ele mesmo disse ser errado e se afastou, mas então ele me manda uma dessas? Esperava ser apenas Adrian que fosse o problema, pois seria esta noite mesmo que iriamos resolver tudo.

- Quer dizer que vai voltar a falar comigo normalmente? – sua expressão foi como se não soubesse do que eu estava falando. – Qual é, camarada? Vai fingir agora que estava tudo bem entre nós? Até Karolina veio falar comigo hoje!

- Ela foi? – Dimitri ergueu as sobrancelhas surpresas – e o que ela disse?

- Pra eu falar com você, por que todo mundo está de saco cheio da forma que viemos agindo.

Ele não respondeu, e ficamos em um silencio que seria confortável, se eu não estivesse morrendo de vontade de despejar tudo pra cima dele. Mas tinha de me controlar e não perder o controle, ou então as coisas não acabariam como eu gostaria.

- O que está fazendo acordado há esta hora? Você chegou tarde, deveria estar no décimo sono agora.

- Acordei e não te vi na cama. Vim ver se estava tudo bem. – mordi minha bochecha para não dar a resposta atravessada que gostaria – E você? Por que não está dormindo?

- Sonho ruim. Digamos que eu fui arrastada para a mente de Lissa... em um momento bem intimo dela.

Compreensão encheu o olhar de Dimitri, e ele começou a rir, me deixando exasperada.

- Hey! Não teve graça, okay? – mas Dimitri não parecia me ouvir, e continuou rindo. Tendo o cuidado de não gargalhar e acordar a casa toda. – Dimitri! Quer parar! Se você no meu lugar não estaria ai rindo como um retardado! [i]Para[/i]!

Eu dei um tapa em seu braço, e finalmente ele pareceu notar meu incômodo. Se recuperou facilmente, embora sua expressão fosse mais relaxada e divertida que antes, me obrigando a sorrir à contragosto.

- Desculpe... – pediu ele se desencostando da porta. – mesmo. É que sua cara foi hilária.

- Eu não achei nada engraçado.

- Wow, cadê a Rose divertida que eu conheço, hein?

- Ela está lá em cima, na minha cama. Quietinha esperando que eu volte pra ela e durma meu sono de beleza. Mas é difícil quando se fecha os olhos e vê dois olhos azuis que você odeia, e de repente quer casar com eles.

- Okay, vamos distrair essa sua irritação. Vou fazer chocolate quente, você quer?

Eu sorri.

- Precisa perguntar?

Ele negou sorrindo, e indicou que eu fosse à frente para a cozinha. Chegando lá, me sentei no balcão e o observei preparar as coisas. O chocolate quente que Dimitri preparava era o melhor de todos os que eu havia provado, e nunca que recusaria um.

- Então... han... Quer dizer que você vai voltar a falar comigo?

Ele estava em pé ao meu lado, tomando o chocolate quente como se fosse água enquanto eu esperava o meu esfriar um pouco. Ele me olhou, como se ponderasse minha pergunta.

- Eu não agi muito legal com você, não é? – Dimitri parecia insatisfeito, talvez até envergonhado consigo mesmo – me desculpe Rose. Eu não sei o que aconteceu é que...

- Você está com medo. – terminei a frase por ele. Dimtri abriu a boca pra retrucar, mas eu o interrompi. – Não. Me deixe terminar. Você está com medo por que... tem medo de acabar me perdendo como perdeu o seu amigo. Sua irmã me contou dele. Do Moroi que você guardava.

- O nome dele era Ivan. Eu o conhecia desde... quase sempre. Foi um golpe pra mim, sabe Rose? Eu nunca imaginei que alguém tão próximo poderia... Foi um choque de realidade pra mim...

- Eu sei como você se sente. Realmente sei. – eu me referi a Spokane e à Mason, e Dimitri sabia disso. – Não é fácil... e parece que tudo meio que se distancia, que nada é real.

- Você sabe que não foi sua culpa, não é? Que nenhum dos acontecimentos, Spokane e Ivan, foi culpa nossa, certo?

- Eu sei... mas não consigo parar de pensar... Eu briguei com Mase aquela noite e se eu não tivesse provocado ele, talvez ainda estaria vivo.

- Foi uma escolha dele, Rose. – Dimitri pôs a xícara sobre o balcão e me olhou sério. Era apenas por que estava sentada sobre o balcão que nossa altura estava mais próxima – Tendo você provocado ou não, o que você acha que ele teria feito? Realmente acha que ficaria parado, sabendo onde os strigoi estavam?

- Não... – respondi olhando para meus pés – Não, Mason teria ido atrás mesmo assim.

- Então não fique pensando no que poderia ter sido, quando não foi.

- E no que pode ser? – ergui a cabeça para encara-lo – O que pode ser, mas a gente mesmo põe empecilhos no que deveria ser simples?

- Desde quando estamos falando sobre nós?

- Você não vê? Dimitri, tudo isso é sobre nós! Por que você acha que estamos tendo esta conversa no meio da noite? Hã? Você parece fugir de mim, mesmo não querendo. E, acredite, eu vejo que você não quer. Está estampado na sua cara que você quer o mesmo que eu quero.

- Não basta querer. Temos que...

- Não me venha dar lição de vida zen, Dimitri. Não seja hipócrita. Não tem a ver com a minha idade. Nem com o fato de você ser meu tutor, você sabe disso. Eu já sou maior de idade, e não estamos na Academia, então essas desculpas não colam. Pode ter a ver com estarmos na mesma casa, dividindo o mesmo quarto. Mas isso a gente ajeita. O problema, o principal problema, era e sempre foi o Adrian, eu que fui muito burra e idiota e não enxerguei isso antes. Preciso que sua irmã me falasse com todas as letras. Aliás, todo mundo vinha me dizendo o que estava acontecendo, eu que insistia em fechar os olhos e não ver.

Ele me encarou, e eu sustentei o olhar determinada. Muito improvável que incomodasse a ele o fato de ambos sermos damphiros. Dimitri não era o tipo de cara que se importaria com isso caso ele estivesse realmente amando alguém. Mas quando esbarrava em honra e coisas assim – como o fato dele achar que estava me ‘roubando’ de Adrian – ele pisava em cacos de vidro e renunciaria a própria felicidade com medo de acabar fazendo algo errado.

- Eu não tenho nada com Adrian. Não irei mentir e dizer que ele não significa nada pra mim, por que ele significa. E é por isso que eu fui sincera com ele, meses atrás antes mesmo de vim pra cá, e disse que queria ser amiga dele, e nada mais. Por que não suportaria não tê-lo em minha vida. Mas eu não o amo. Não como eu amo você. E não há nada neste mundo que me fará mudar de ideia e...

De repente eu não podia mais falar, pois seus lábios esmagavam os meus. Foi ainda melhor que na primeira vez que nos beijamos, se é que era possível. Dimitri subiu uma de suas mãos para minha nuca e a outra apoiou a base de minhas costas, me pressionando contra ele.

- O que foi? – eu indaguei quebrando o beijo, mas não me afastando – O que eu disse que te fez mudar subitamente de ideia?

- Dizer que me ama.

Eu sorri e pressionei os lábios nos dele mais uma vez.

- Eu pensei que seria necessário mais alguns argumentos para te convencer. Tinha um discurso pronto na cabeça.

- Se quiser, eu finjo que isso não aconteceu e você pode dizer tudo o que queria falar.

- Não. Estou bem assim. Gostei mais do seu jeito. Me interrompendo e m...

Ele me calou com um beijo que me fez perder o folego. Enrolei as pernas em sua cintura, e Dimitri aprofundou o beijo, quase se deitando sobre mim sobre o balcão.

- Rose, às vezes você fala demais.

Eu ri e voltei minhas energias para o beijo ao invés de falar.

Meu coração batia tão forte que seu som parecia envolver toda a cozinha. Puxei seus ombros para mais perto, a proximidade não sendo suficiente pra mim. Eu queria mais, precisava de mais. Não bastava o abraço forte, era necessário que quase nos fundíssemos.

Foi Dimitri quem parou o beijo, não eu. Fiz biquinho quando ele se afastou, e ele simplesmente riu, pegando as xícaras sujas e indo para a pia lava-las.

- Você realmente interrompeu esse momento lindo para lavar a louça?

- Quer enfrentar a raiva de Olena de manhã quando ela ver que a cozinha que ela deixou impecável, não está mais impecável?

- Bom argumento.

Ele riu e voltou a sua atenção para a louça suja. Eu me desci do balcão e fui para a sala, me distrair enquanto o esperava. A estante de livros antigos e artesanais era minha atual fonte de distração. Eu não entendia nada que estava escrito ali, mas adorava as capas bonitas e diferentes que haviam lá. Era uma mais interessante que a outra, e podia ver a história respirando ali.

- Foi por culpa desses livros que comecei a ler. - Virei-me para trás e suspirei ao ver o deus Russo vindo ao meu encontro com um largo sorriso. – Eu vinha aqui toda a noite tentar decifra-los, até que minha vó cansou de me ver frustrado por ai e me ensinou a ler. Eu tinha quatro, talvez cinco, anos.

Dimitri me abraçou por trás e descansei a cabeça em seu peito, enlaçando meus braços no seu.

- Um dia você me ensina Russo? Não preciso ser uma expert, mas se você me ensinasse uns palavrões ou algo assim já me sentira feliz.

- Você já conhece palavrões de mais, Roza. – respondeu ele rindo.

- Saber palavrões nunca é demais. E já que vou ficar aqui um bom tempo, seria bom saber se as pessoas estão ou não me insultando.

- Por que alguém de insultaria? – eu virei a cabeça para olha-lo com descrença – Okay. Não precisa responder. O simples fato de você se chamar Rose Hathaway é um autoexplicativo.

- Exatamente. – eu sorri e me virei em seus braços, ficando de frente a ele – Mas não quero falar disso agora. Tenho coisas mais importantes para me preocupar neste exato momento.

- Ah, jura? E o que é tão importante que está te deixando preocupada?

Deslizei as mãos pelo seu peito e envolvi seu pescoço em meus braços, me erguendo nas pontas dos pés.

- O fato de você não estar me beijando agora.

- Fácil de resolver.

Ele sorriu e inclinou a cabeça para mim, tocando seus lábios nos meus com suavidade. Mas era impossível permanecer tranquila com Dimitri me beijando. Sempre que ele me tocava era como se acendesse o pavio de uma bomba, e seu beijo era como uma bomba explodindo. Uma onda de calor passava meu corpo e passividade não era suficiente.

Aprofundei o beijo, e nos abraçamos com mais força. Eu o empurrei contra o sofá e me sentei em seu colo, sem nunca desgrudar nossos lábios. Suas mãos desceram pelo meu quadril e foram para minhas coxas, pressionando-as de leve e me fazendo arfar entre seus lábios. Em seguida subiram novamente, uma delas indo diretamente para minha nuca e a outra se insinuando para dentro de minha blusa, deixando um rastro de calor por onde passava.

Mordi seu lábio de leve, enroscando meus dedos em seu cabelo puxando seu rosto para mais perto de mim. Eu estava quente e Dimitri também. Ele me virou no sofá e deitou-se sobre mim. A mão que estava em minhas costas traçou o contorno de meu corpo enquanto as minhas puxavam sua blusa pra cima, tentando tira-la. Ele me ajudou, e eu voltei a abraçar sua cintura com as pernas, trazendo-o mais para mim. Minhas unhas fincaram e arranharam suas costas quando seus lábios desceram pela minha mandíbula até o meu pescoço em beijos ávidos cheios de paixão, rocando de leve seus dentes em minha pele. Desceu mais, para meu colo próximo do vão entre os seios me fazendo suspirar e arquear as costas.

Dimitri subiu para meus lábios novamente, e estava começando a tirar minha blusa quando parou de repente, rindo baixo.

- O que foi? – perguntei irritada por ele ter parado e confusa por estar rindo.

- Estou me sentindo um adolescente agora. Pegando a namorada e indo para o escurinho escondido de todos. – Com essa eu tive que rir junto, por mais que quisesse estar fazendo outra coisa. – Por mais que eu quisesse continuar, e acredite, eu quero, acho que devemos para por aqui.

- Por quê? – franzi a testa e Dimitri sorriu, beijando entre as sobrancelhas – Está tudo ótimo aqui, por que parar agora?

- Exatamente por isso. Imagine se alguém acorda e nos vê nesse amasso? Pior... – ele abaixou a cabeça para beijar meu pescoço enquanto falava – se nesta manhã, quando minha mãe se levantar e deparar conosco dormindo no sofá?

Eu não havia entendido a principio, mas a fixa caiu quando vi sua blusa jogada no chão e me lembrei que ele tentara fazer o mesmo com a minha.

- Hm... Não seria uma visão agradável.

- Não mesmo.

Seus lábios não deixavam a minha pele, deslizando-os ora pelo pescoço, ora pelo meu colo, e isso me impedia de construir uma frase com coerência.

- Ela iria ficar uma fera... - ele concordou e eu arfei ao sentir uma mordida de leve na base do pescoço – E acho que correríamos o risco de apanhar dela

Ele riu.

- Não duvido nada.

- Então acho que seria melhor irmos para o quarto... – fechei os olhos e fechei as mãos em punho. Dimitri não parava de me beijar e isso não era bom quando tentávamos não levar isso adiante – Agora.

Eu puxei seu rosto para o meu e o beijei, ele retribuiu com igual fervor e prazer. Suas mãos voltando a explorar meu corpo com, avidas, e eu voltando a ter a linha de pensamento voltada para sexo. Dimitri pareceu perceber para onde estávamos indo, e parou novamente. Mas desta vez era pra valer. Ele se sentou sem ar e se levantou logo em seguida, estendendo a mão para mim.

- Eu acho melhor irmos dormir logo. – eu segurei sua mão e levantei do sofá – Você tem a tendência em provocar o Dimitri que gosta de quebrar regras que existe em mim, Rose. E olha que ele é difícil de aparecer. Praticamente raro.

- É, estou vendo. –  zombei enlaçando nossos dedos.

Ele sorriu, me beijou com o mais leve dos toques e fomos em direção à escada. Subimos em silencio, e ao chegar ao quarto, fechou a porta.

- Posso dormir com você? – sussurrei. Um silêncio desaprovador e tenso surgiu, me fazendo rir. – Dormir, [i]dormir[i]. Prometo. Nada mais.

Ele não respondeu, ao invés disso me levou para sua cama e se deitou me puxando para ele. Dimitri nos cobriu e eu me aconcheguei em seu corpo.

- Eu estava exatamente pensando se eu pareceria um tarado se te pedisse isso. – disse ele por fim, acariciando meu cabelo.

Eu ri.

- Eu não ligo se você parece um tarado ou pervertido. Desde que seja apenas comigo.

Dimitri me abraçou e senti o sono vir aos poucos. Meus olhos pesaram, e o seu perfume era quente e suave, me ajudando a oscilar entre real e sono.

- Pode deixar. – respondeu ele, sua voz ao longe. – não existe ninguém em meu pensamento que não seja você, Roza.

Senti um leve arrepio ao ouvi-lo dizer meu nome em russo e o abracei com pouco mais de força.

- Dimitri?

- Hum?

- Eu te amo.

- E eu amo você, Roza.

Dormi em seus braços, um sono tranquilo e sem sonhos.

Quando acordei, no dia seguinte, Dimitri não estava no quarto, mas eu estava devidamente coberta e abraçada ao seu travesseiro, sentindo seu perfume. Eu sorri com a lembrança da noite passada, e meu coração pareceu inchar de felicidade. Eu havia conseguido. Eu havia me resolvido com Dimitri, e feito ainda mais do que isso. Caramba! Quando achei que nada mais era possível... Esta parecia uma manhã de natal!

Levantei-me da cama e vesti um rob de algodão que Vik havia deixado comigo andes de voltar à Academia. Lembrar-me de Viktoria me fez pensar nas coisas que ela havia me dito. Ela, e parece que o resto da família toda, pareciam ter percebido o que havia entre Dimitri e eu antes mesmo de nós dois nos darmos conta disso. Nós dois andávamos agindo feito cão e gato ultimamente, mas estávamos apenas na defensiva o tempo todo.

Fiz minha higiene matinal, e dei um jeito no cabelo que parecia um ninho de rato. Esperava que Dimitri estivesse com muito sono de manhã não tivesse percebido esse detalhe. Demorei um pouco mais que o normal no banheiro para parecer mais apresentável. Nem me dei ao trabalho de trocar de roupa, em vista que todos já deveriam estar sentados à mesa, então desci de rob mesmo.

- A bela adormecida acordou.

Foi a primeira voz que eu ouvi, e fez meu coração acelerar de emoção. Dimitri estava sentado no lugar que geralmente pertencia à Vik, que era do meu lado. Seus olhos brilhavam e ele tinha um sorriso suspeito no rosto. Procurei parecer impassível ao me sentar ao seu lado, mas eu já sabia que minha temperatura havia elevado.

- Bom dia. – desejei a todos na cozinha.

Olena terminava de prepara café, no qual eu passaria com prazer. Yeva lia o jornal e não me olhou quando cheguei. Sonya já havia saído e Karolina brincava com a filha à mesa. Ela me olhou com um sorrisinho que me deixou sem graça, e por um algum motivo, eu acho que ela sabia que Dimitri e eu havia nos entendido e elevado nossa relação.

- Então, dormiram bem? – idagou-me ela erguendo uma das sobrancelhas assim como o irmão. Eu senti meu rosto esquentar. – A noite foi muito agradável, não acham?

- Agradável? – Olena veio se sentar conosco, ao lado da mãe que ainda lia o jornal – para mim foi igual a todas as outras, Karolina. Teve algum sonho bom, foi?

Ela sorriu, e agradeci por não entender o verdadeiro sentindo de suas palavras. Voltei minha atenção para o café da manhã. Estava com mais fome do que o habitual, e poderia dizer, talvez, que isso tivesse um nome. Dimitri.

Comemos em silencio. Yeva deixou a mesa pouco tempo depois e apesar de não sorrir, seus olhos eram satisfeitos e diziam muita coisa. Caramba! Será que não existiam segredos nesta casa!?

Eu precisei de uma dose grande do meu autocontrole, que não era muito, para não bater em Dimitri ou fazer algo mais. Sua perna roçava a minha com delicadeza, e vez ou outra sua mão apertava a minha por baixo da mesa. Como eu conseguia ficar sentada com tanto calor passando entre nós é uma pergunta válida que preferia não saber a resposta e sim me concentrar em comer e tentar, em vão, ignorar Dimitri.

- Mama, pode deixar que eu arrumo a cozinha pra senhora.

Depois que todos haviam comido, permanecemos na mesa, com muita preguiça de se levantar, e conversando distraidamente. Karolina se levantou e deixou a cozinha, indo para seu quarto e Olena levantou para arrumar a cozinha com uma pressa que nunca havia visto antes.

- Ah! Obrigada, Misha. Oskana pediu que eu passasse na casa dela logo cedo para...- ela se interrompeu e sorriu – segredo. Voces ficarão sabendo logo, mas eu já estou atrasada para a reunião. Sua avó vem comigo, e não sei se voltamos para o almoço, sim? Por favor, Dimitri, faça essa menina comer! Eu ainda te acho muito magrinha, Rose. Até parece que não te alimentamos! O que sua mãe irá dizer quando você voltar?

- Não dirá nada. Ela nem vai ter sentindo minha falta, imagine se ela vai sequer reparar no como eu voltei. – minha resposta foi mais amarga do que eu gostaria, as palavras simplesmente pularam para fora de minha boca. – Desculpe-me. Eu fui grossa.

- Não se desculpe... –Olena hesitou, mas acabou por não falar mais nada – Ahn, Dimitri, cuide bem da minha Rose, sim. Não a deixe pensando besteiras por ai...

Ela me olhou com carinho e tocou meu rosto em gesto de conforto antes de sair. Algum tempo depois ouvimos ela e Yeva sair, batendo a porta atrás delas.

- Rose... – Dimitri suspirou.

- O que? Eu pedi desculpas.

Ele balançou a cabeça e eu me levantei tirando as xicaras da mesa para coloca-las sobre a pia. Dimitri se levantou logo atrás de mim e assim que eu soltei a louça ele me virou para encara-lo, segurando-me pela cintura.

- Você é impossível. – ele sorriu e encostou a testa na minha. – Quando eu penso que não, você vem e me surpreende.

- Jura? – Eu ri e abracei seu pescoço. Karolina já sabia abertamente sobre nós dois, então não havia problemas em demonstrar nosso amor – E isso é bom ou ruim?

- Os dois, Rose. – ele murmurou e aproximou seu rosto do meu – Sempre os dois.

Eu sorri e me ergui nas pontas dos pés para tocar meus lábios nos seus com suavidade. Mas era difícil manter-me comportada com Dimitri tão perto de mim.

Assim que seus lábios se encaixaram nos meus, meu corpo pareceu se eletrizar, como polos negativo e positivo se atraindo como imãs. Ele puxou meu corpo contra o seu e eu o abracei com mais força. Sua boca era feroz contra a minha, e de repente eu não precisava mais de ar, e sim, apenas de Dimitri.

Recuei encostando-me no balcão da pia e, o usando como apoio, tomei impulso e enrolei as pernas em sua cintura. Dimitri me sustentou, segurando-me no alto das minhas coxas, sem separar nossos lábios. Ele se virou e me pressionou contra a parede, subindo uma de suas mãos por baixo do rob e tocando minha pele por baixo da blusa. E parecia que estávamos de volta à noite anterior.

Dimitri soltou um rosnado baixo e seus dentes roçaram minha pele descendo pelo pescoço me fazendo arfar. Ele desatou o laço do rob e com uma destreza que nunca achei possível, puxou o rob pelos meus braços o deixando cair no chão. Minha mão subiu para sua nuca, agarrando seus cabelos e o puxando com ansiedade. Meu coração estava a mil, minha respiração era um arfar e toda a extensão do meu corpo estava sensível, sentindo um calor insuportável que nada tinha a ver com o real tempo na Rússia.

Mordi seu lábio inferior e o puxei entre os meus enquanto minhas mãos desciam por seu tórax. Dimitri começou a espalhar beijos em meu colo enquanto eu lutava para tirar sua blusa. Quando eu finalmente a joguei no chão, seus lábios subiram pelo meu queixo e eu suspirei antes dele cobrir minha boca novamente.

Desta vez ele não tentou tirar minha blusa, mas suas mãos a puxaram para cima e ficaram por baixo, em contato direto com minha pele. Uma mão desceu para minha perna, deslizando por baixo do short, deixando uma trilha de fogo pelo caminho. A minha mão que estava livre arranhou sua pele de cima para baixo em seu peito e ele mordeu meu lábio em resposta. Dimitri me pressionou mais contra a parede e eu, automaticamente, estreitei minha perna a sua volta.

Havia uma tensão sexual imensa entre nós, e eu sentia que se não parássemos naquela hora, não iriamos parar. E eu, pela primeira vez, não me sentia desconfortável. A certeza de que amava Dimitri me acalmava e me deixava à vontade com a possibilidade de sexo. Eu estava pronta, e queria ir mais além. E teria ido, ambos não teríamos parado se não fosse por um pigarro que estourou nossa bolha particular.

- Okay, vamos parar com isso. Só por que se resolveram não significa que precisem tirar a roupa um do outro em todos os cômodos da casa.

Dimitri e eu nos afastamos, mas ele não me soltou, por mais que eu desejasse que ele tivesse feito isso. Meu rosto ficou quente, mas agora a culpa era a vergonha. Estávamos no meio da cozinha, quase despindo um ao outro, agarrados de uma forma que não dava para dizer que boca era de quem ou que língua pertencia a quem. Sem contar as mãos de Dimitri por baixo da minha blusa e shorts, explorando meu corpo. Não, isso não era uma forma legal de ser flagrada com o namorado.

Karolina mantinha um sorriso no rosto, e vi que ela se esforçava para não cair na gargalhada. As mãos de Dimitri seguraram minha cintura, e vi que ele também estava vermelho. Pus meus pés no chão e dei um pigarro tentando clarear minha mente. O que estávamos fazendo mesmo?

- Ahn... Kar, a gente... – Dimitri tentou se explicar, e pela primeira vez eu o vi sem uma resposta na ponta da língua. Tive vontade de rir, mas me segurei. – Iamos arrumar a cozinha.

- Aham. – ela ergueu uma sobrancelha e seu sorriso se pronunciou – Okay, e vocês também estavam lavando louça no meio da madrugada?

Ela riu e jogou um pedaço de pano branco para Dimitri, que reconheci ser a blusa que ele usava ontem a noite, antes deu tê-la tirando e jogando em algum lugar na sala. Havia me esquecido completamente dela no calor do momento, mas não havia passado despercebido a Karolina.

- Te cuida, irmão. – ela piscou se voltando para a sala – Se vovó te pega nesse amasso...

Ela riu e sai da cozinha. Deixando nós dois envergonhados. E então eu comei a rir. Ri por que a situação toda era engraçada. Ri por que era boba apaixonada e estava feliz por ter Dimtri ao meu lado. E ri por que era muito legal ver o imperturbável Guardião Belikov todo desconcertado.

- Hey, camarada. – o chamei ainda rindo – você está da cor de um pimentão.

Ele revirou os olhos e me beijou de leve nos lábios.

- Culpa sua, Rose. Você quem provoca a pior parte de mim. – eu ergui a sobrancelha, pelo menos tentei, descrente. Aquela era a pior parte dele? Duvido. –Você não viu nada ainda, Rose. – ele se aproximou e roçou os lábios no meu, em um mero toque, os olhos brilhando de malícia – Quando estivermos sozinhos. Quando você acordar no outro dia. Quero ver se ficará com essa expressão tranquila.

A cada frase ele me dava um beijo. No pescoço, em sua base e então na clavícula. Isso, junto ao que ele disse acendeu o fogo dentro de mim que havia se acalmado quando Karolina nos interrompeu. Procurei me conter e não pular novamente para seus braços, e era mais seguro, então, me afastar.

- Eu lavo a louça. – disse me dirigindo a pia. – Mexer com agua é mais seguro que mexer com você. Tire a mesa e traga a louça suja, sim? Vamos manter essas mentes ocupadas.

Ele riu e comecei a lavar a louça. Pulei de susto quando Dimitri chegou por trás para por alguns talheres dentro da pia, mas meio que me abraçando e beijando a área próxima da minha orelha, segurando minha cintura.

- Seguro? Eu posso pensar em mil e uma formas de deixar isso divertido. – seus lábios roçaram minha pele e minhas pernas tremeram, me obrigando a segurar na pia para não cair. – Mas acho que não deixaria Karolina feliz. Terei que me contentar com a próxima oportunidade.

Eu ri nervosamente me permitindo respirar novamente quando ele se afastou.

- Meu Deus. – exclamei comigo mesma, sabendo que Dimtiri me ouvia. – O que foi que eu fiz com ele? O transformei em um pervertido!

Dimitri riu e o som da sua risada era a melhor musica que eu poderia ouvir. Definitivamente, as coisas só tinham a melhorar agora.

***

Não é necessário dizer que os dias seguintes foram incríveis. Meu humor, antes mexido pelo Espírito, agora estava mais regular. Não ficava mais tão estressada ou dando respostas atravessadas. Na verdade, era até comum me ouvir rindo e brincando com todos na casa. Bem, todos menos Yeva. Eu ainda tinha medo daquela velha amalucada.

- Rose, o pão vai queimar!

Era uma quinta feira de manhã, e Dimitri cancelara o treino por que tinha uma reunião com outros guardiões. O problema do Strigoi estava longe de acabar, e por mais que eu quisesse ter ido com ele, ele não deixara. Disse que eu não estava ali oficialmente, então não poderia ir. Então, aproveitando que eu estava acordada e de bom humor, Olena disse que finalmente me ensinaria a fazer o tal pão preto que eu e Dimitri amávamos. Mas eu tinha um certo problema de distração, então eu acho que ficar de olho no forno não deveria ser uma tarefa atribuída a mim.

- Ai.. .– reclamei quando apoiei a forma no fogão – Bem...se queimou, nem da pra ver.

Eu tentei brincar, mas estava frustrada. Era um desastre em atividades domésticas, mas falhar na frente de Olena era quase humilhante.

- Tenho certeza que deve estar bom! – ela parecia realmente otimista. – vamos deixar esfriar então experimentamos.

Fomos para a sala. Ela estava bordando algo para uma amiga e eu fiquei folheando aqueles livros interessantíssimos que nada entendia.

- Você acha que Dimitri me libera do treino hoje?

- Por quê? – Ela ergueu os olhos preocupados. - Você esta bem, Rose?

- Não! Quero dizer, sim, estou bem, mas não é isso. Não tive a oportunidade de conversa com Mark e Oskana ainda. Não como gostaria, e queria visita-los.

- Ahn... Eu acho que você precisa de um bom argumento. – ela riu e me olhou rapidamente antes de voltar a atenção ao bordado – Você o conhece, Rose. A não ser que você esteja morrendo, ele não te libera simplesmente para uma visita social.

- Ah, pode deixar que consigo um ótimo argumento até ele chegar.

Ela riu e ficamos em silencio.

Ficar parada era um porre. Eu não nascera para isso. Precisava me movimentar, fazer alguma coisa, não ficar quieta, deitada lendo um livro ou sei lá o que as pessoas fazem quando não tem nada para fazer.

- Só por que Dimitri não está aqui, não significa que eu não precise treinar. – disse me levantando do sofá e indo em direção à porta – Olena, vou para o galpão. Caso o Dimitri chegue, peça para me procurar por lá. Volto na hora do almoço.

Ela apenas consentiu com um barulho e eu saí de casa. Antes de começar a andar, fiz um aquecimento básico para ir trotando até o galpão, que como adivinhei, estava vazio.

Era estranho, para dizer o mínimo, ficar sem Dimitri. Estava tão acostumada a dormir com ele, acordar com ele, tomar café, treinar, discutir com ele que essas horas separados eram uma tormenta. E, bem, outro motivo óbvio pelo qual sentia sua falta era seus beijos, seu cheiro, seu abraço. Nunca pensei que seria tão... gostoso namorar escondido. Tinha toda aquela urgência um pelo outro e o medo de sermos pegos.

Dimitri disse que deveríamos esperar um pouco para contarmos para Olena sobre nossa relação. Não era medo dela não nos aceitar, por que ele sabia que ninguém teria nada contra ali, mas com toda a confusão da Vik, os Strigois, Olena andava meio distraída e sensível. Por mais que ela fosse ter uma reação positiva, ela poderia se irritar, por exemplo, por estarmos dormindo no mesmo quarto – mal sabia ela que na mesma cama. Ele queria contar para ela na ‘hora certa’, de modo que não precisaríamos ficar separados. E porque eu argumentaria contra?

- Você está estacando torto.

Virei-me assustada e me deparei com Dimitri à porta, de braços cruzados e um sorriso torto no rosto. Eu estava treinando há pelo menos uma hora, e estava tão concentrada que nem havia ouvido o ranger da porta.

- O que? Não está não!

Ele revirou os olhos e se aproximou de mim. Virou-me de costas pra ele e envolveu seus braços nos meus, ambos frente à frente com um boneco de treino. Tentei bloquear da minha mente seu cheiro, seu toque, sua proximidade. Mas estava, assim, muito, difícil. Eu senti minha temperatura aumentar na hora, e sabia que ele sentia-se assim também.

- Você está escorregando a estaca. – disse-me suavemente, seus lábios na altura dos meus ouvidos – Assim você não atinge o coração com tanta destreza, isso se ela acertar o coração. Você acha que o matou, mas na verdade não o fez.

Sua mão envolveu meu pulso e com movimentos leves, estacou o boneco da maneira correta. É, eu realmente estava fazendo errado. Havia ido treinar para tira-lo da cabeça e tentar me distrair, mas desde que peguei a estaca eu apenas conseguia enxergar Dimitri lutando. Sua destreza e rapidez o deixavam quase invencível. E tinha, obviamente, os detalhes que apenas eu percebia: os músculos se contraindo por baixo da pele macia e perfumada, o olhar desafiador, a forma como seu cabelo ondulava conforme seus movimentos... E isso tirava totalmente minha atenção.

- Se eu quisesse matar o boneco, eu teria matado. – retruquei me afastando de seu toque com um leve tremor que o fez sorrir. – Caso você se esqueça, eu fui a melhor da turma.

- É, pode ser, mas ainda sim esta fazendo errado. Na vida real isso teria custado sua vida e de sua protegida.

- Arght! Odeio quando você vem cheio de lições para cima de mim.

- Correção: Você odeia que eu esteja certo e você errada.

Pressionei os olhos, mas ele não levou minha ameaça a sério. Então eu aproveitei a oportunidade e o ataquei já que sua guarda estava baixa. Ou pelo menos eu achava que estava.

Dimitri bloqueou meu golpe com facilidade. E os outros golpes e chutes que dei em seguida.  Dei um passo para trás, com um sorriso no rosto em desafio.

- Okay, camarada. Agora é pra valer.

- As outras vezes que te nocauteei não contam?

- Não. – respondi tentando acerta-lo com uma de direita, mas ele segurou meu braço atrás das minhas costas.

- E por que não? – ele me soltou e rodeamos um ao outro no tatame.

- Porque agora eu quero ganhar. As outras lutas foram meros treinos...

Ele riu e tentei atacar novamente. Não foi surpresa ele ter me bloqueado, mas agora estava preparada. Não deixei que ele me segurasse e nem cai no chão. Virei em sua mão e parei atrás dele. Chutei suas costas com toda a força que podia juntar e ele se desequilibrou.

Preparei mais um chute, mas ele segurou meu pé. Então decidi tentar dar uma manobra arriscada. Em um movimento rápido, apoiei as mãos no chão e usei o outro pé para chutar seu peito. Por essa ele não esperava e ficou sem folego. Aproveite a brecha e consegui, finalmente, acertar um soco, fazendo-o dar um passo para trás. Ele tentou me segurar pelos ombros, mas ainda estava sem ar o suficiente e meio atordoado, e consegui dar-lhe uma rasteira, levando o ao chão. E ele me levou junto.

Ambos sorriamos. Dimitri divertido, e eu vitoriosa.

- E então, camarada?

Indaguei, sentada sobre ele e com o troco inclinado em seu peito, sem ar.

- Rose... – ele riu e tirou uma mexa de cabelo do meu rosto – Eu deixei você ganhar.

- Mentiroso! – bati em seu ombro. – Foi uma vitória justa! Mesmo que não admita!

- Você quem sabe. – ele puxou meu rosto para mais perto do dele e me perdi em seus olhos – Eu estou adorando nossa posição, Roza.

Ele roçou nossos lábios, mas não me beijou, me deixando frustrada. Mas antes que pudesse verbalizar meu descontentamento, ele me virou no tatame, prendendo meus pulsos contra o colchão, pegando-me completamente desprevenida. Ele riu.

- Aprenda comigo, Rose. – ele sussurrou, nossos narizes se tocando – [i]Isso[/i] é o que chamo de vitória. E você acabou de falhar uma lição.

- Nunca cante vitória antes do tempo... – murmurei sem folego desejando terrivelmente que ele me tocasse.

- Exatamente.

Então ele me beijou.

E, wow, que beijo. A adrenalina da luta ainda estava em nosso sangue, e estávamos quentes. Mas agora, o motivo era outro.

Dimitri puxou meus lábios entre os seus e eu me vi prendendo-o entre as pernas. Soltei o rabo de cavalo e agarrei seus cabelos possessivamente. Ele soltou um grunhido e suas mãos voaram pelo meu corpo, contornando cada pedaço que ele parcialmente conhecia. Apertou minha coxa de leve e eu arfei com a corrente de calor que passou por todo meu corpo.

Eu nunca desejei alguém como desejo Dimitri. Era muito além do físico, claro. Eu o amava com tanta intensidade que me assustava. Mas não podia ignorar o quão gostoso ele era nem a combustão instantânea entre nós quando estávamos tão perto assim. Meu coração retumbava no meu peito e parecia que seu som invadia todo o local. Apenas Dimitri conseguia me deixar assim, tão quente, com um olhar sequer. Quando ele me beijava então... era a melhor coisa do mundo!

Mas estava cansada, honestamente, de ter apenas seus beijos e olhares. Queria mais. E, aparentemente , ele também.

Suas mãos ágeis e habilidosas puxaram a barra da minha blusa e subiram lentamente, pele contra pele me fazendo arrepiar. E então a puxou por cima da minha cabeça e me admirou. Dimitri sempre parecia se surpreender comigo. Seja com o que eu falasse, como agisse. E ainda mais meu corpo. Desde o dia do corredor – quando ele me viu apenas de toalha – seus olhares para mim haviam se aprofundado. Eram mais analíticos e menos disfarçados. Olhavam-me com admiração e, me atrevo a dizer, desejosos. Me olhava como mulher, e não mais a bonita jovem que estava passando uma temporada com sua família para treinar. Eu gostava mais desse olhar.

Dimitri voltou a me beijar, descendo os lábios pelo meu pescoço com avidez e gentileza, espalhando beijos e mordidinhas pelo meu colo, fazendo-me fechar as mãos em sua pele em um espasmo de prazer. Ele e apenas ele conseguia a proeza de ser gentil e ansioso ao mesmo tempo. Nos beijos, nos toques. Me deixava louca a forma como ele aplicava pressão em diferentes partes do corpo.

Eu empurrei seu casaco de cowboy pesado para trás e sem pudor nenhum puxei sua camisa forçando-a a abrir, fazendo com que alguns botões escapassem. Não que estivéssemos nos importando com isso. Deslizei as mãos pelo seu tórax nu e me perdi em sua suavidade e perfeição. Os músculos rígidos, a pele quente. Ele era... perfeito.

- Me prometa que não vai mais dormir de camisa. – murmurei contra seus lábios com o restante de folego que me restava – Prometa, Dimitri.

Ele riu. Uma de suas mãos deslizou da minha coxa para minha cintura, fazendo um caminho pela minha barriga e subindo até o pescoço, passando pelos seios.

- O que você quiser, Roza.

Eu amava quando ele me chamava assim. Era meu nome em russo, disse-me ele uma vez. E havia tanta adoração  quando ele falava assim.

- Eu gostaria de barganhar também. – disse ele sorrindo, alternando entre me olhar e beijar. – Mas acho que se pedisse para você dormir com menos roupa, Rose, acabaria congelada.

Foi minha vez de rir.

- Como poderia sentir frio com você ali, bem juntinho de mim?

- Hm... – ele me olhou e os olhos escuros brilharam de malicia – Então acho que podemos chegar num acordo.

Sorrimos e então nossos lábios e mãos estavam muito ocupados.

Dimitri era mais rápido. E, bem, tinha mais experiência nesta área. Meus jeans estavam abertos e levemente puxados para baixo antes mesmo que eu conseguisse desatar seu cinto. Ele me ajudoy, sem nunca separar seus lábios de alguma parte do meu corpo. Suas mãos, então, voltaram a trabalhar em mim, tentando tirar minha calça por completo.

Mas, para variar, algo no interrompeu.

O celular dele.

- Arght! – exclamei pendendo a cabeça para trás, sem folego – É karma, viu!

Sem sair de cima de mim, Dimtri tateou o celular no bolso do casaco e me lançou um olhar de aviso. Antes dele atender já sabia quem era.

- Oi, mama. – ele ouviu do outro lado um pouco e sorriu, deslizando o nariz em meus pescoço – Sim, estou com ela. Estava terminando um exercício de relaxamento pós-treino.

Como? Dimitri estava mentindo com a maior cara de pau para a mãe dele? Sem nem ao menos hesitar ou gaguejar? Palmas para o cara!

- Okay, estamos indo já. – ele desligou e me olhou com o sorriso fraco. Divertido, porém decepcionado. – Estão nos chamando para o almoço.

Ele se levantou, visivelmente tentado pela vista que tinha de cima de mim. Mas se controlou e começou a abotoar as calças.

- Pelo jeito vai ser nunca que terminaremos o que começamos. Frustrante.

Voltei a vestir a blusa e subi a calça, fechando em seguida. Dimitri, que já vestira o casaco, me abraçou pela cintura e beijou minha testa com um sorriso.

- Pode deixar que darei um jeito nisso. – prometeu ele e eu ri. – mas agora melhor irmos, antes que Olena venha pessoalmente nos chamar.

- Fazer o que... pelo menos tenho a noite toda pra te agarrar... embora só possa fazer isso.

Dimitri não respondeu, mas riu, me guiando para fora do ginásio.


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Notas finais do capítulo

PRONTO finalmente o capitulo 13 pra vocês. MIL desculpas a demora=/ final de bimestre e semestre é MUITO TENSO. Vou demorar para postar agora, por que tenho duas semanas de provas a partir de segunda, sem contar as de recuperação, entao tenho que me matar de estudar pras exatas..Dx
Mas, se tivere MUITOS reviews, PROMETO que não demoro pra postar o capitulo 14 completo;)
BEIJINHOS
mary