A Batalha Final escrita por Cathy


Capítulo 4
Capítulo 4, Perdidos!




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A última lembrança de Len era estar ao lado de Miki e Miuki, na Restauradora, com as mãos apoiadas na tampa do baú. Então por que será que ele estava deitado na grama, olhando para um céu estrelado e sem as duas metamorfas ao seu lado?

Ele rolou para o lado, se levantando. Olhou em volta, não vendo as duas ratinhas, mas sim uma cidade, tão perto que ele ouvia os ruídos vindos de lá. Andou em direção à vila, depois de avaliar suas opções e ver que ou fazia aquilo ou ficava ali ao relento.

Chegando mais perto da vila, ele percebeu que ela era maior do que ele imaginava. Havia pessoas em tendas, vendendo objetos de artesanato e alimentos. Enquanto andava, alguns dos comerciantes lhe ofereciam seus pertences que estavam à venda, cujos quais ele recusava delicadamente.

Andando sem rumo, ele chegou a uma tenda maior, com letras rebuscadas escrevendo uma pequena frase, logo abaixo do nome do local.

Sonhadores da Liberdade

Libertando os sonhos

Ele entrou cautelosamente. “Sonhadores da Liberdade”. O que seria aquele lugar?

Haviam várias cadeiras, empilhadas em um canto. Em um pedaço de madeira enorme, que parecia ser um palco, três meninos vestidos de joaninhas – um de verde, um de amarelo e um de azul – diziam coisas sem sentido, como “As Verdes são as melhores esquiadoras!”, “Amarelas como o sol, frias como a noite!” ou “Azuis como gelo, quentes que dá medo!”. Len olhou para elas, rindo baixinho. Percebeu também uma menina loirinha com olhos de um verde vibrante, vestida como um lagarto verde-vivo e sentada num canto escondido do “palco”. Ao ver o loiro parado perto da porta da tenda, a menina levantou de um pulo e sussurrou algo para as joaninhas. Não esperara resposta dos meninos, vindo com passos largos e praticamente correndo até ele.

– O que você faz aqui? Ninguém pode te ver! Vem comigo. – A loirinha disse, irritada e puxando-o pela tenda. Len tinha que se esgueirar pelas sombras para ninguém o ver enquanto a garota, que parecia ter uns nove anos e era relativamente baixa se comparada a ele, arrastava-o pela mão direita, às vezes parando para reclamar que Len era muito lento ou para tomar fôlego.

Depois de um tempo, eles chegaram a uma parte em que a jovenzinha largou a mão dele e o empurrou, com toda a sua força, por uma fresta quase invisível na tenda. Ele caiu em um chão de terra macia, bastante diferente da terra batida e dura que se fazia de chão do resto da tenda.  Havia uma espécie de quarto ali, com uma cadeira, uma mesinha, um baú e uma cama, tudo muito rústico e pequeno, parecendo feitos sob medida para caber no cômodo diminuto. A loirinha sentou-se na cama e começou a falar, rapidamente.

– Você não vai entender agora o que eu estou falando, mas sim depois. Você vai me ver daqui um tempo, mas não pode contar pra ninguém que já me conhecia. E no início você vai ter só uma vaga lembrança de mim, mas depois a percepção vai vir de súbito. E ninguém pode saber que eu estou falando isso pra você. Quando você vir As Sete Portas escolha a que tem a cor das nuvens de um dia nublado, mais ou menos meia hora antes da chuva. Sim, a tentação de escolher outras será grande, mas você terá que escolher só uma. Seu grupo tentará se separar, mas Ela não conseguirá.  – Ela tomou fôlego, continuando em seguida. – Vocês passarão por incontáveis lugares, e vocês terão de fingir que não se conhecem. As paredes têm ouvidos, seus telefones são grampeados pela Magia, vocês não poderão falar sobre os Outros assuntos. Finja serem adolescentes normais, que se conheceram ali, e tudo o mais. Não dêem pista de nada, todos estão de olho. Nenhum lugar será seguro. As Guardiãs podem protegê-los momentaneamente, mas a Transformação para humanas vai cansar-las muito. E a energia delas não vai ser reposta facilmente.  Acho que é tudo. AH! Não de deixe levar pela beleza das que passarem em seu caminho. Seu verdadeiro amor estará bem do seu lado, sempre. Agora sim, eu acabei.

Len tentava memorizar aquelas palavras enquanto a menina esfregava os olhos, gemendo de dor. Pela pequena lâmpada que jogava um pouco de luz no cômodo, dava pra perceber que a menina com sua fantasia de lagarto tinha seus olhos, antes cor de esmeraldas, com uma tonalidade avermelhada nas partes brancas e o verde de sua íris era cor de sangue, vermelho puro.

 – Que droga! Como vou poder voltar pro ensaio agora? Tudo parece banhado em sangue. Odeio ter essas visões e dizer isso tudo, eu me sinto tão mal depois...

Ela tateou a mesinha até achar um frasco de água e um pouco de algodão, jogando o líquido na bola macia e dividindo a mesma em duas. Deitou na cama e colocou os pedaços de algodão nos olhos, sussurrando algo.

– Leonardo. Vai embora logo. Não vai durar muito tempo meu feitiço. Corra pelas sombras até achar a saída. Olhe para frente e só, não para os lados e nem para trás. Só ande, está bem? Agora, vá.

Len não questionou o fato de a garota saber seu nome, ou mencionar a palavra “feitiço” em sua frase. Somente assentiu, mesmo imaginando que a garota não veria o ato, e saiu pela fresta. Fechou-a delicadamente, escondendo o quarto aonde a loirinha dormia. Saiu andando, com pressa, querendo sair da tenda logo. Ao chegar à porta, não resistiu a olhar pra trás. E a visão que teve foi surpreendente.

* * *

A ratinha balançou a cabeça, sentindo seus cabelos baterem no rosto.

Espera. Cabelos?

Miki olhou pra seu corpo. Ela era humana! Sorriu, pegando uma mecha de seu cabelo que logo escapou de sua mão, por ser tão curto. Ela conseguiu ver que ele era preto como breu.

Ela se levantou, tirando a poeira das calças jeans. Estava perto de um lago. Aproximou-se, ajoelhando-se na beirada e olhando seu reflexo. Ela tinha olhos azuis elétricos, da mesma cor das faixas em formatos de raios desenhadas em sua camiseta preta. Miki sorriu, alisando os cabelos repicados que batiam no queixo e não paravam quietos no lugar. A sua aparência era de uma criança de mais ou menos nove anos, mas as feições eram sérias e decididas. A Guardiã sorriu, pondo-se de pé e olhando em volta. Havia um pequeno acampamento ali perto. Ela andou até lá, tomando cuidado para não ser vista. O que achariam de uma garota vestida com roupas de no mínimo cinquenta anos à frente e que apareceu no meio da floresta, do nada? A discrição era seu elemento ali naquela floresta.

Miki ouviu pessoas andando e falando. Escondeu-se atrás de uma das barracas de lona, escutando as conversas. Alguém comentava sobre o tempo, dizia que um vendaval vinha vindo. Outro comentava sobre o comércio, que caía de pouco em pouco. E um grupo dizia que era melhor todos saírem de lá, o Milagre estava por perto. Acabariam envolvidos naquilo.

Ela entrou discretamente em uma barraca, se esgueirando nas sombras. Seus olhos eram dois faróis, brilhantes e extremamente chamativos. Miki se virou e quase morreu de susto.

Um garoto, que não devia ter mais de cinco anos, sussurrava algo como “fantasma”.

DROGA! Ela não sabia que havia pessoas na tenda. E o menino não devia estar sozinho... Miki praguejou baixinho e pensou no que faria.

– Ei, menino! Venha cá. – Ela sussurrou para o menino, sorrindo de leve quando ele veio para sua frente. Ela agachou, ficando com os olhos na altura dos do jovem. – Eu sou um espírito que só aparece para os de coração realmente puro! Você é uma delas! Mas não conte isso pra ninguém, tá?  – A morena esperou o menininho assentir pra continuar. – Agora você tem a minha benção! Mas, se alguém me vir, diga que nunca me viu, tá bem? Obrigada!

Miki esperou o sorriso calmo do menino, os olhinhos cor de esmeralda assustados, mas confiantes. E disse para ele ficar calmo e se aconchegar no colchão que havia ali, pois era muito cedo e estava frio demais. E ele somente assentiu, se enrolando no cobertor. Acenou de leve para ela, fechando os olhinhos e dormindo. Miki sorriu pra si mesma.

Ela suspirou aliviada e saiu da tenda com cuidado, não encontrando mais ninguém. Camuflou-se na neblina, embora fosse um pouco complicado enxergar. Ouviu algumas conversas. Pelo que falavam, não podia ser real... Mas Miki devia estar no tempo Dela! Era a chance de descobrir mais sobre sua Mestra! Prestou atenção ao que o povo falava.

– Não vou obrigá-los – dizia um cidadão, a voz grossa e firme, porém levemente metálica, como se falasse num microfone gigante –, mas eu acho melhor irmos para longe. Eu prevejo uma chuva e um vendaval chegando...

– Ele diz! Ele está certo! Vamos para longe! – Murmuraram os outros habitantes daquele acampamento improvisado, em coro. Eles começaram a desmontar as barracas e Miki teve que se esconder atrás de uma árvore. Ela pulou dentro de uma carroça, aonde tinha um grande monte de palha, provavelmente usada para fazer o chão das barracas. Cavoucando um pouco, ela achou um espaço. Enfiou-se ali. A carroça começou a tremer, indicando que havia começado a andar.

Miki se sentou em seu cantinho, relaxando. Sentiu algo a cutucando, e virou a cabeça somente para ver uma loirinha sorrindo. A garota abriu a boca pra falar quando a menininha a interrompeu.

– Psiu! Não fale alto, vão te ouvir. Eu vou te contar uma coisa, mas você só vai entender o significado depois, tá? Agora relaxa. – Miki assentiu furiosamente e se recostou na palha, fechando os olhos. Estava tão... Cansada...

– Nem você nem seus amigos pertencem a esta época, nem da qual vieram. Caiam fora. Rápido.

A voz antes doce da menina era um grave e bravo sussurro que contornou a espinha de Miki. Foi a última coisa que ela ouviu, antes de sentir-se flutuando sob tudo e todos.

* * *

– Ótimo, me perdi! – Miuki disse pra si mesma. Ela transformara em uma humana linda, com cabelos pretos e Alexandria’s Genesis compondo um visual bizarro, mas ao mesmo tempo magnífico. Os olhos cor de ametistas brilhantes vagavam pelo canto em que estava. Havia tendas por todo o lado. Ela não sabia como tinha chego ali, nem onde estava e muito menos porque estava ali.

Ela virou à esquerda, dando de cara com uma enorme tenda. Era clara, num tom acinzentado muito bonito.  O nome dela não conseguia ser visto já que uma névoa sinistra, mas ao mesmo tempo convidativa impedia por estar ao redor de toda a parte de cima da lona que formava a tenda.

Miuki suspirou após dar uma boa olhada na névoa. Ela ODIAVA névoa, ou qualquer coisa que lembrasse chuva e/ou frio. Fora em um dia em que havia uma tremenda nevasca que- não, era melhor não se lembrar disso.  Respirando fundo, ela entrou na cabana.

–UAAAAAU!  – Ela não conseguiu conter a exclamação que veio ao olhar em volta da tenda. Não parecia nada com o exterior. Era extremamente linda, embora parecesse uma foto tirada no modo sépia. Tudo tinha um tom meio amarelado, mesmo que parecesse comprada/trocada no dia anterior. Havia... Bem, um monte de coisas. Num canto, aonde havia umas três cadeiras na frente e uma atrás de uma enorme mesa redonda cheia de papéis em cima junto com algo que parecia uma bola de... Cristal, seria aquilo?, e a mesinha era coberta com uma enorme toalha. Aí era tudo arrumado. Porém, se você virasse para o lado oposto...

Era uma completa bagunça. Cadeiras e mesas dobráveis se empilhavam, somente para serem usados como apoio desajeitado para um monte de jornais velhos (tinha até mesmo um de 1875, reparou Miuki), objetos que pareciam sem uso, desde espadas lindamente trabalhadas, porém feitas de isopor e estatuetas de menininhas lutando contra animais até cristais em um formato estranho, parecidos com porquinhos que tinham o rabinho desenhado no bumbum e asas branquinhas que eram em relevo, além de um focinho em formato de tomada, que eram num tom de pedra meio cor-de-rosa, que pareciam valer milhões.

Ao dar mais uma olhada na pequena tenda, Miuki reparou algo na mesa, do lado onde tinha só uma cadeira. Ela olhou melhor e, para sua surpresa, era uma MOÇA que estava ali. Ela sorria levemente e provavelmente tinha feito isso durante toda a inspeção que Miuki fez em sua tenda. A de cabelos pretos sorriu sem jeito e se sentou na cadeira que a aparente dona da tenda apontava.

–Bem vinda, minha menina. Gostou da minha casinha? É bem simples. – E então Miuki fez menção de falar, mas ela não conseguia porque estava abismada demais com tudo. A dona da barraca riu discretamente, porém com vontade. Parecia que ela não fazia isso há anos...

–Gostei muito, é muito legal dona... – Miuki perguntou/gaguejou.

–Vivi muitos anos, minha menina. Assim, tive muitos nomes. Mas o meu preferido é Ruth. – A moça sorriu alegremente.

–Dona Ruth, então. Você tem uma casa muito bacana! – Miuki estava alegre demais pra se lembrar que tinha que manter sua pose ranzinza.

Ruth riu mais ainda da menininha sorridente que, embora a aparência fosse de 14~15 anos, parecia uma garotinha alegre de cinco aninhos. A moça se levantou e, calmamente, foi andando até a pilha desorganizada. Vasculhou aqui e ali e soltou uma exclamação alegre.

–ACHEI!! – E então ela foi quase quicando até uma pasma Miuki. – Ó, isso é pra vocês! Pra você e sua Gêmea. Vocês não se lembram de mim, mas eu lembro muito bem de ambas, então confiem em mim!

E Ruth estendeu uma caixinha, lindamente entalhada. A moça colocou a caixa nas mãos de Miuki, que olhava para ela com cara de ponto de interrogação.

–Vocês vão precisar disso. Só abram quando estiverem com quem realmente confiam, ok? Aqui eu guardei as Relíquias. Uma é para vocês duas, a outra é para o Milagre, há também uma para O Herói. Tem as das três Guias e várias outras que eu não posso dizer ou Eles me condenariam eternamente. E, acredite, isso não seria nem um pouquinho bom.  – Ruth olhou para os lados nervosamente. – Vamos, vamos, pequena! Eu tenho que te tirar daqui!

Miuki foi gentilmente empurrada, com a caixa nas mãos, até a pilha desorganizada – que ficava bem no fundo, Miuki lembrou depois – e olhou estupefata Ruth empurrar os jornais e tudo que havia ali com uma facilidade enorme.

–VEM!! – Ruth puxou Miuki. A segunda pulou uns dois passos e saiu cambaleando da tenda, entrando com tudo na névoa e quase caindo. Ruth fez uns gestos estranhos e sussurrou algumas palavras. Logo em seguida, um coelho branco apareceu e imediatamente saiu correndo, deixando uma trilha brilhante da cor de seu pelo no chão.

–Siga a trilha! Ela vai sumir, mas você vai vê-la. Tome contas das Relíquias. Agora vá! – Ruth disse, apressadamente, e entrou de novo na tenda. Miuki deu uns passos, mas caiu de novo e decidiu fazer uma pausa pra respirar. E então ela ouviu vozes saindo da tenda, as quais preferiu nunca ouvir. Elas pareciam brigar com Ruth... Mas, estranhamente, pareciam somente distorções da voz da moça. Realmente estranho.

Miuki resolveu ficar para ouvir mais um pouco. Infelizmente, aquilo tinha sido uma péssima, péssima, péssima decisão.


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Notas finais do capítulo

CAPÍTULO GIGANTE FTW!
Sim, eu não postei por um tempããããão. Peço perdão para os míseros leitores que eu tenho. Writer's block complicou tudo aqui, sabem. Dx

Obrigada por ler de todo o jeito! :3



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