Recebi uma ligação logo no começo da manhã avisando-me que a cirurgia havia sido adiantada para dali uma hora, já que o paciente estava muito mal e não agüentaria até a parte da tarde.

-Jake. Jake. –O despertei dando leves tapinhas em seu ombro. –Amor preciso ir, depois te ligo.

-Ok amor. Vou para minha casa. Espero seu telefonema para jantarmos juntos. –Ele disse com um sorriso safado que eu tive que rir.

Fui voando para o hospital, onde o paciente já se encontrava na sala de cirurgia. A operação de ponte safena, que geralmente é simples para nós cardiologistas, se complicou e depois de 8 horas na mesa Dona Lucy,uma senhora que vivia sorrindo e era sempre positiva veio a falecer.

Fiquei abalada, era a primeira pessoa que morria em minhas mãos. Convivi com ela durante sete meses, tempo suficiente para conhecer toda sua história.  A parte mais difícil eu teria de fazer, comunicar aos seus familiares o ocorrido.

Saí da sala de cirurgia e fui em direção a sala de espera.

-Por favor, os filhos da senhora Lucy. –Ela tinha dois uma mulher e um homem ambos casados e com filhos, seu marido havia morrido a três anos atrás.

Acho que minha expressão facial denunciou algo, já que eles vieram em minha direção com lágrimas nos olhos e abraçados.

-Eu...eu sinto muito. Toda cirurgia tem um risco, o coração dela não agüentou. –Foi triste ver o desespero da família, mas a vida é assim infelizmente.

Depois de assinar o atestado de óbito e mais alguns papéis fui para minha casa. No caminho tentei ligar para Jake, mas a forte chuva que estava caindo, deveria ter interferido no sinal do celular.

Abri a porta e vi as malas de Edward na sala e a luz de seu quarto acesa.

Sentei no sofá da sala e comecei a chorar baixinho, primeiro havia sido dona Lucy e agora Edward estava se mudando. Ele saiu de lá e veio sentar ao meu lado e me abraçar.

-Ei, acho que já imagino o que deve ter acontecido. Você escolheu essa profissão, e como todas as outras há seus altos e baixos.

-Tentei de tudo, mas não consegui. –Disse com o rosto colado em seu peito onde exalava um perfume delicioso e másculo.

-Você não é uma péssima médica por causa disso. Já acabei perdendo três pessoas na mesa de cirurgia, o primeiro fiquei muito mal. Me senti impotente por não ter o que fazer, mas depois você aprende a lidar com isso.

-Será que vou aprender a lidar? –Levantei meu rosto a fim de ver a expressão de Edward. Sua boca estava muito perto da minha.

-Claro que vai. Você vai ganhando experiência com o passar dos anos, e aprende a lidar com sentimentos e emoções... –Edward disse isso vindo em direção de minha boca.

Ele encostou o lábio nos meus e sua língua encontrou a minha instantaneamente. Uma de suas mãos estava em minha cintura e a outra acariciava meus cabelos. Era um beijo doce, que eu nunca havia dado, e quentinho, de uma forma apaixonada?

Como assim??? Edward foi marido de minha melhor amiga antes de sua morte, como eu estava fazendo isso com ela? Em um súbito ataque de consciência o afastei de mim.

-Isso não é certo. Você era marido de Alice e eu tenho um noivo. –Droga, havia esquecido de Jake.

-Eu sei. –Ele disse com os olhos tristes. –Por isso estou mudando de casa. Eu fui o marido de sua melhor amiga e você tem um noivo. E se casará daqui seis meses. Desculpa a culpa foi minha.

-Não, eu correspondi a culpa foi de nós dois.

Ficamos nos olhando até que um trovão nos despertou do transe e depois meu celular começou tocar. Era Jacob.

-Bella querida, pode falar? Já são quase sete horas da noite e você não me ligou. –Quê? Por quanto tempo eu e Edward havíamos ficado nos olhando.

-Ah, oi amor. Tive um dia horrível, o tempo não ajuda. Você tem certeza que quer sair?

-Então...estou praticamente trancado em La Push. Uma árvore caiu na estrada, não há como passar e acabou levando os fios de energia. Estamos sem luz também. Podemos ir almoçar amanhã ao invés de jantar hoje? Daí você pode pegar a tarde livre e ir vermos os preparativos para o casamento, o que acha?

-Adorei a ideia. Está combinado. Até amanhã amor. Beijos.

Desliguei o celular e Edward já estava em pé na porta pronto para ir para casa dele com todas as suas malas.

-Bella, já vou. Qualquer coisa me ligue. Estarei com o celular. –Ele me deu um beijo na testa e se foi. Naquela noite chorei até adormecer.

Acordei com a claridade batendo em meu rosto e fui até a janela. Estava fazendo sol em Forks, isso era muito raro.

Hoje era dia de eu ir à minha clínica, mas liguei lá e pedi para agendar minhas consultas para outro dia. Apesar do que havia acontecido com Edward ontem, Jacob ainda era meu noivo e iríamos nos casar.

Peguei o telefone e liguei para ele que atendeu com uma voz de sono.

-Bom dia amor. Estava dormindo? –Soltei um risinho com a minha pergunta.

-Oi amor, é né estava. Mas é muito bom acordar com o som da sua voz. Parece que ainda estou sonhando.

Senti uma leve vertigem que não expressei em minha conversa no telefone com Jacob.

-Teria como você vir para cá agora? Ou ainda não tiraram a árvore?

-Vou ver como as coisas estão aqui e dependendo da situação já estou indo para ai.

-Ok, beijinhos amor.

Desliguei o telefone e fui fritar uma fatia de bacon para mim, só o que eu não esperava é que quando a carne bateu no fundo, encharcado de óleo, da frigideira subiu um cheiro de gordura o que fez meu estomago embrulhar e eu correr para o banheiro. A náusea tomou conta de mim enquanto minha vista ficava turva e meu foco de visão ia sendo tomado pó diversos tons de cinza.

-Bella? Amor? –A voz de Jake me soava fraca enquanto aos poucos ia recuperando meus sentidos.

-Está voltando à consciência. –Havia reconhecido essa voz como a de Edward.

-Eu estou bem. –Murmurei me sentando no sofá de casa.

-Quem e como me encontraram aqui? –Disse abrindo meus olhos de vagar.

-A passagem de La Push havia sido desobstruída, então vim aqui o mais rápido que pude. Quando cheguei vi que você não atendia a campainha e aos meus telefonemas e arrombei a porta. A cozinha exalava fumaça e cheiro de algo queimado, fui te procurar pela casa e te encontrei desmaiada no banheiro social.

-Por sorte eu havia me esquecido de uma agenda então quando cheguei, Jacob estava desesperado. Pedi que a trouxesse e a deitasse no sofá e verifiquei seu pulso. –Edward me encarou sério antes de continuar. –Bella, desmaios por nada podem ser perigosos, deveria procurar um médico.

Fiquei pensando no que ele disse e por fim acrescentei:

-Deve ser pelo ocorrido de ontem com a senhora Lucy.

-Bella, concordo com o Edward você deveria procurar um médico.

-Chega vocês dois. Já disse que estou bem só, talvez, com um pouco de sede.