Todos olharam para Nina.

- Tanta coisa na profecia e você pergunta logo o que é cisão?! – Comentou Mariana para ela.

- Ah, desculpa! – Falou Nina levantando os braços em sinal de “eu me rendo”, porém em um tom sarcástico – Se a filha super inteligente de Ares sabe o que isso significa, vamos ouvir então.

Mariana olhou para ela com raiva, então virou-se para Bia e lhe deu um tapa no braço.

- Ai! Que foi isso?! – Queixou-se Bia.

- Fala o que é cisão, filha de Atena! – Ordenou ela.

- Eu não sei o que é cisão! – Reclamou Bia retribuindo o tapa.

- Explica de novo Amanda. Antes que alguém se mate. – Falou Rodrigo.

Todos os outros olharam para ela franzindo o cenho.

- De novo? – Repetiu Bia – Você sabia disso antes?

- Ahm... – Amanda não sabia o que responder direito – Rodrigo tinha me contado a profecia há alguns minutos atrás. Mas... Não deu tempo de contar para vocês.

Ninguém gostou de ouvir aquilo. Antes que Mariana tivesse a chance de reclamar com ela, Quíron falou.

- Deixe isso de lado, e conte para seus amigos o que é cisão. – Pediu ele calmamente.

- Cisão é uma divisão. – Explicou ela – A profecia diz que nós vamos nos separar, mas... Não vai ser de um jeito bom. Vamos... Brigar ou algo parecido.

Rhamon lembrou-se do jeito que sua mãe tinha falado com ele quando estavam naquele tipo de reunião familiar. “Vocês são os doze escolhidos pela profecia. Devem ficar juntos.” foi mais ou menos o que ela disse. Eles tinham que ficar juntos, porque a profecia tinha declarado isso, mas agora a própria profecia disse que eles iriam se separar!

Aquilo era algo realmente estranho. Como eles poderiam evitar brigar a cisão se até o futuro estava contra eles? Muito contraditório.

Flávia olhou para seus amigos. Ela queria pedir a eles que não briguassem, mas se deteve quando pensou que isso talvez pudesse provocar uma briga. Ela teve uma sensação estranha. Parecia que estava andando em um campo minado, correndo risco de explodir algo a cada passo cauteloso que dava. Como filha de Apolo, ela sabia que não tinha como mudar uma profecia.

- Nós vamos brigar? – Perguntou cautelosa, quebrando o silêncio.

- E-Eu espero que não. – Respondeu Mariana preocupada – Eu não quero brigar com vocês.

- Há Há! – Riu Nina incomodada e séria – Não quer brigar com a gente, mas ia deixar os seus irmãos nos matarem!

- Ah! A culpa é minha se vocês são umas manés? Fala sério, Nina! Você é muito inútil! É filha de Zeus, mas morre de medo de brigas! – Respondeu Mariana.

- Cala a boca! Você nem vem falar nada de mim, porque a única coisa que você é boa é em arrumar briga. Fora isso você é inútil! – Rebateu Nina com raiva.

- Não me manda calar a boca! – Mariana deu um soco na mesa de ping-pong, que tremeu com o impacto – A culpa disso tudo é desse esquizofrênico idiota que teve a brilhante idéia de ir ao sótão para ouvir essa droga de profecia!

- É mesmo! – Concordou Vinícius – Valeu mesmo, seu babaca! Estamos ferrados por sua culpa!

- A culpa não é minha! E também... Você é muito errado! Nem faz nada que preste, mas resolve xingar os outros do nada! – Queixou-se Rodrigo apontando para Vinícius.

- Eu posso! O meu pai manda nesse lugar todo! Ele é foda, velho! – Vinícius fez pose de “fuck yeah”.

- Ele nem mesmo sabe o seu nome, Vargas! – Comentou Nina – O meu pai manda no seu pai e em tudo! Se alguém tivesse o direito de xingar alguém aqui, seria eu!

- Aham! Claro! – Exclamou Mariana fingindo concordar – Na verdade você teria o direito de se desculpar, porque para mim você está na lista dos três traidores!

- Você tem problemas?! – Exclamou Nina surpresa – Por que eu?!

- Rodrigo também! – Apontou Mariana – Esse esquizofrênico do cacete!

- Dane-se! Mas eu não sou traidora! – Berrou Nina – Estou pouco me lixando para o que você acha do Rodrigo.

- E a Amanda também! – Apontou Mariana estreitando os olhos para ela.

- Eu?! O que eu fiz?! – Perguntou ela.

- Não se faça de inocente, sua filha de Hermes sacana! Você sabia que Rodrigo ouviu a profecia e não falou nada para nós! E o seu único papel é entregar mensagens! Além disso, você é filha do Deus dos ladrões. Tem tudo a ver. – Acusou ela.

- Eu não acredito que...! – Amanda se conteve. Ela estava morrendo de vontade de falar para Mariana umas coisas não muito bonitas, mas não falou. Eles já estavam brigando, e não seria nada bom se continuassem. El fez um esforço – Acho que isso é injusto, mas não vou ficar gritando com você.

- Amanda, você é filha de Hermes. Ninguém se importa com o que você acha. Você só entrega as nossas mensagens, mané! – Retrucou Mariana.

Amanda queria dizer que ela não entregava somente cartas e mensagens, mas antes que pudesse dizer Bia a interrompeu.

- Esqueçam isso. – Disse Bia – Nós temos que pensar no plano para a missão. Isso é realmente essencial.

- É mesmo. – Concordou Amanda – Eu acho que nós...!

- Não! – Interrompeu Bia em um tom levemente paranóico – Eu é que é que vo pensar no plano! Quero montar a estratégia...

- Por quê?! – Reclamou Amanda com raiva – Por que eu não sou filha de Atena e não sou tão inteligente quanto você?! Só porque o meu pai é Hermes, quer dizer que a minha opinião não conta?! É isso?!

- É, é sim. – Concordou Mariana naturalmente – Agora... Sh! Cabeça de vento.

- Sh?! – Repetiu Amanda – Não me chame de cabeça de vento! Eu tenho idéias melhores do que você com todo o seu pouco cérebro!

Mariana se levantou e Amanda também, mas Bia puxou-a para baixo, e Mateus fez o mesmo com a filha de Hermes.

- Gente! Por favor... Parem de brigar! – Pediu Flávia com olhos levemente molhados de lágrimas. Ela parecia uma criança indefesa.

- Flávia, você tem que parar com isso. – Pediu Natália preocupada com o jeito infantil com que ela agia – Em uma batalha de verdade você não vai poder pedir para os outros pararem de brigar. Ninguém vai dar trégua só porque você é...

- O que? – Quis saber ela – Sou o que?

Natália hesitou um pouco.

- Infantil. – Completou ela depois de um tempo – Falou isso para o seu bem.

- Bem, nada! Você só quer nos criticar junto delas duas! – Reclamou Amanda.

- É isso mesmo! E querem saber?! Não entendo porque estão nos acusando de sermos traidores, se vocês sempre chamaram a Bruna de traidora! – Rebateu Nina.

- Nina! Eu não sou...! – Bruna tentou se defender, mas ela não deixou.

- Você apontou uma flecha para a minha testa! – Exclamou Nina.

- A Bruna não é traidora! – Defendeu Mariana. Todos ficaram de queixo caído ao ouvirem isso. Inclusive a Bruna.

- Você... Está me defendendo?! – Perguntou Bruna incrédula – Você foi a primeira a me acusar de traidora, mas agora...

- Alguém filme isso, por favor! – Pediu Mateus se levantando – Sério?! Alguém tem uma câmera por aí?!

- Senta! – Falou Nina – Quero ouvir o que ela vai dizer para defender a Bruna.

Mateus se sentou, e Mariana fez uma careta para Nina.

- A Bruna já traiu a mãe dela se juntando á Ártemis, mas ela não faria isso conosco. Eu não acredito que ela seja uma dos três traidores. – Explicou Mariana como se aquilo fizesse o maior sentido do mundo.

Quíron, que estava sentado quieto durante todo esse tempo, ficou surpreso ao ouvir aquilo. Ele não esperava realmente que os doze começassem a brigar, mas aquilo aconteceu. Ele tentou melhorar a situação.

- Bem... Vamos aos grupos. – Disse ele limpando a garganta – Podemos manter os grupos da missão anterior, e...

- Nem pensar. – Amanda disse olhando para Mariana – Se ela não liga para a minha opinião, eu é que não vou ajudá-la. Que ela se vire com a filha de Atena!

- Eu também não quero ficar no grupo de uma cabeça de vento! Não tenho muita coisa contra a Flávia, mas eu ficaria sozinha no grupo! Só eu é que ia pensar e lutar como aconteceu da última vez! – Reclamou Mariana.

- Da última vez?! Nós três lutamos juntas! – Lembrou Amanda.

- Você não fez nada demais! Eu é que bolei todas as jogadas e tomei as decisões. – Disse Mariana – Você não foi importante!

- Eu salvei a sua vida! – Berrou Amanda com raiva – Mas eu não faria isso de novo nem que todos os Deuses me pedissem! Não vou ficar com você, e a Flávia também não.

- Mari... – Chamou Flávia com uma voz triste – Você me acha infantil?

- É claro! – Respondeu Vinícius se intrometendo – Você é infantil demais.

- Não estou falando com você, seu...! Seu...! – Flávia tentou pensar em um xingamento muito ruim – Bobão de bunda caída!

- What the fuck?! – Perguntou Vinícius sem entender – Viu só?! Você não consegue nem xingar.

- Calem a boca! – Berrou Rodrigo de repente – Nós vamos formar novos grupos!

- É isso ai! – Apoiou Nina, Flávia, Amanda e Mateus. Rhamon ainda olhava para eles com um pouco de preocupação. As coisas não deviam tomar aquele rumo...

- Os grupos vão ser... – Rodrigo apontou para Amanda, Nina, Flávia, Mateus e Rhamon – Vocês com eles e eu sozinho. Pronto.

- Vai se ferrar! – Berrou Nina – Porra! Não vamos ficar juntos, e você não vai ficar sozinho!

- Ah, é?! Eu vou sim, e duvido que alguém venha aqui me fazer mudar de idéia! – Falou ele dando um soco na mesa.

No mesmo instante, todos os 11 meio-sangues se levantaram e começaram a andar na direção do Rodrigo. Ele se encolheu com medo ao ver todos os seus amigos indo contra ele ao mesmo tempo.

- Tá bom! Vou mudar a minha idéia! – Gritou ele apressado. Todos se sentaram novamente – Eu, Amanda, Nina, Mateus, Rhamon e Flávia. Pronto. É um novo grupo.

- Ótimo! Fiquem longe da gente, seus excluídos. – Disse Mariana triunfante – Não queremos os inúteis no nosso grupo.

Rita olhou para Mateus. Ele não era inútil e ela sabia. Estava pronta para defendê-lo, mas Quíron voltou a falar.

- Vamos fazer o seguinte. Vocês terão que partir em três, como da última vez. – Disse ele – Vamos formar novos grupos dentro desses então.

Ele analisou a situação. De um lado estava o grupo de Rodrigo, Amanda, Nina, Mateus, Flávia e Rhamon. Ou seja... Hades, Hermes, Zeus, Hefesto, Apolo e Deméter.

Do outro lado estava Mariana, Bia, Natália, Rita, Bruna e Vinícius. Ares, Atena, Poseidon, Afrodite, Íris, e Dionísio.

Eram grupos quase que equilibrados. Ele pensou por um instante em como dividiria-os em trios, e por fim falou.

- Certo. Aqui vamos nós. – Quíron olhou para cada um deles – Rodrigo, Nina e Amanda formarão um trio.

- O esquizofrênico, a sem noção e a cabeça de vento, juntos? – Riu Mariana – Vocês já morreram! Na verdade... Quíron juntou todos os três traidores em um grupo só.

- Vai se ferrar! – Falou Nina irritada, mas no fundo ela concordava com Mariana. Eles três juntos?! Ia ser uma loucura.

- Hades, e Zeus são irmãos que brigam por milênios. Mas Hermes funcionaria como um meio termo. – Disse Quíron explicando o porque de sua decisão – O próximo trio fica com Rhamon, Mateus e Flávia.

- Deméter, Hefesto e Apolo. – Contou Flávia – Por quê?

- Porque Deméter se importa com a família e é protetora. Hefesto não. Ele não costuma ter falar ou interagir com... Formas de vidas orgânicas. Apolo pode representar a união também.

- Agora o time vencedor, por favor. – Pediu Mariana olhando para as suas unhas com um sorriso no rosto.

- Vinícius, Bruna e Rita. – Disse ele – Afrodite e Dionísio não são muito interessados em problemas, mas Íris pode melhorar a comunicação entre o “problema” e eles. No caso... A missão.

- Então o nosso grupo fica... – Bia olhou em volta.

- Você, Mariana e Natália. – Falou Quíron.

- Ahm... Mas Atena e Poseidon não se odeiam? – Perguntou Bia, e ele assentiu dizendo que sim – E... O que Ares faria? Ele é o Deus da guerra.

- Eu sei. É que... Foram os que sobraram. – Respondeu Quíron desviando o olhar – Mas vocês vão se dar bem, podem deixar. Agora... Há algum comunicado especial que queiram fazer em nome de seus chalés?

- O chalé de Ares vai continuar matando qualquer idiota que cruzar a fronteira. Só isso. – Disse Mariana. Ela olhou para Nina e Amanda e fez uma careta – Nós nos viramos sem vocês!

- Bom saber disso. – Concordou Amanda – Por que o chalé de Hermes vai parar de entregar ou todos os tipos de mensagens. Seja de quem for.

- O que?! – Quíron pareceu preocupado – Mas... Pense bem. Isso é importante...

- Se é tão importante, então manda o chalé 5 entregar as próprias mensagens. – Comentou Amanda sem ligar – Eles que se virem já que são os melhores e tudo mais. Se acham que as nossa opinião não conta, então se virem sem a nossa ajuda, idiotas!

- O chalé de Afrodite vai participar das brigas também. – Comentou Rita – Nós não somos inúteis. Vamos ajudar.

Todos olharam para Vinícius esperando que ele dissesse algo parecido, mas ele não fez isso.

- O que? Acham que eu vou querer ajudar? – Perguntou ele sem entender – Vão sonhando. Já estou fazendo o suficiente indo em outra missão ridícula. Não encham o meu saco!

Ninguém tinha mais nada para disser. Pela primeira vez desde que eles se conheceram, todos os doze foram envoltos por um silêncio profundo. Quase constrangedor e agonizante. Não falaram nada, pois não havia nada mais para ser dito.

Era como se eles fossem completos estranhos que se encontravam por acaso em um ônibus todos os dias. Reconheciam seus rostos, mas nenhum deles dizia “Oi” para o outro. Só ficavam parados... Olhando... Esperando o momento passar bem rápido para que eles fossem embora.

Por fim, Quíron disse que eles partiriam ao amanhecer. Todos se levantaram em silêncio e foram para seus chalés. Não iriam ajudar em batalha nenhuma naquele dia (isso se houvesse uma, é claro). Eles já tinham passado por coisas demais.

E também... A cisão já tinha feito seu trabalho.