Assim que a forma de Jake não podia mais ser vista, fui devagar até a porta da casa de Kevin, respirando cada vez mais fundo e tentando cada vez mais acalmar as batidas rápidas do meu coração. Toquei a campainha timidamente e na mesma hora Matt abriu a porta, tão animado quanto um cachorrinho hiperativo:

– Nessie! Você veio! – não pude deixar de sorrir. – Bem, você é a ultima a chegar,

– Tem muita gente ai? – perguntei enquanto entrava na casa.

– Na verdade não muito. Só alguns amigos. Caroline também já chegou. Vem, vou te apresentar aos outros. – Ele falou pegando minha mão. Tentei pensar numa forma de soltar a mão de Matt sem magoa-lo, mas não consegui pensar em nada, então desisti e o deixei me guiar para o que achei ser uma sala de estar. Caroline estava sentada de costas para a enorme TV na parece, num tapete, no centro da sala, com algumas almofadas, ao lado de mais três pessoas – dois meninos e uma menina – que, com exceção de um deles, eu não conhecia.

– Ness, que bom que veio! – Carol disse animadamente.

– Oi, Carol. – Respondi com outro sorriso, tão animada quanto ela. Eu me sentia mais feliz do que um dia podia imaginar que estaria depois do meu primeiro dia de aula.

– Hey, Nessie. Ainda bem que chegou, Matt já estava nos deixando loucos de tanto falar em você. – O garoto que eu vira de manhã com Matt disse revirando os olhos. Eu corei.

– Mentira dele, Nessie. Cale a boca, Lion. – Matt falou tampando nele uma almofada do sofá próximo a nós. Lion era um garoto claro, com cabelos arrepiados castanhos e olhos cor de mel. Ele era tão forte quanto Matt, mas me parecia ser um pouco mais novo, embora provavelmente fosse da mesma idade. Soltei a mão de Matt para acenar um "oi" para Lion que me devolveu um sorriso.

"Aquele é Christopher." – e apontou um garoto de cabelo preto jogado para o lado e olhos grandes e castanhos. Seus olhos passavam a sensação de que me examinavam e observavam a tudo atentamente.

– Eu prefiro "Chris", se não se importar. – Ele disse piscando um olho e sorrindo.

– Sem problemas. – Correspondi o sorriso.

– E esta é Amy. – Ele disse indicando uma menina de cabelos pretos, extremamente lisos, repicado nas pontas e com mechas azuis. Sua pele era quase tão clara quanto a minha, e seus olhos de um azul profundo, extremamente observadores e cuidadosos. Ela foi mais espontânea em se levantar e vir me cumprimentar com um abraço. Tentei ficar calma e não me assustar com a aproximação repentina e me preparei para o cheiro de sangue que certamente eu sentiria. Mas enquanto ela me abraçava eu não senti cheiro algum, mesmo sem prender a respiração. Nos soltamos rapidamente e nos encaramos por breves segundos, o que, pra mim, poderiam ter sido minutos inteiros. – Hey, o que acham de jogarmos "Detetive"? – Matt perguntou e todos concordaram, nos fazendo quebrar nossa "conversa" pelo olhar.

Passamos umas boas duas horas jogando, e eu tinha que admitir que passar a tarde com humanos estava sendo divertido. Eu tinha que controlar minha rapidez e raciocínio rápido, então as vezes eu errava algumas coisas no jogo de propósito, para tentar disfarçar. Minha sede de vampiro era fácil de controlar, mas às vezes quando um deles vinha perto demais inesperadamente eu tinha que morder meu lábio para me impedir de enfiar os dentes neles. E fora minha curiosidade imensa sobre Amy, estava tudo bem.

– Hey, que tal vermos um filme e tomarmos um chocolate quente? – Carol disse um pouco irritada, depois de Chris ganhar a quinta partida seguida.

– Só se eu puder escolher! – Lion gritou jogando as cartas em cima do tabuleiro do jogo e levantando num pulo, indo em direção ao notebook de Matt.

– Nem sonhando, Lion! Eu escolho! – Amy gritou em resposta e levantou se jogando em cima de Lion, que acabou caindo no chão por baixo dela.

– O filme que você escolheria é "Anjos da noite" ou algum filme do gênero. Nem pensar. – Ele disse rindo e rolando no chão de modo que ficasse por cima dela e pudesse se levantar a atrasando.

– Algo contra? – Ela perguntou contrariada, mas se conformando em apenas se sentar no chão e esperar.

– Eu tenho! Você vai escolher aqueles filmes de luta chatos que a gente já viu mil vezes. – Carol reclamou revirando os olhos.

– E você uma comedia romântica adolescente. – Matt reclamou e Carol lhe mostrou a língua, infantilmente. - Por que a Nessie não escolhe? Vai acabar rolando uma luta livre aqui se a gente for discutir de filmes. – Matt disse revirando os olhos para o teto e me fazendo corar quando todos viraram para me olhar.

– Eu.. An..

– Bora, Nessie, escolhe logo um "American Pie" e tudo se resolve. – Chris disse rindo, mas se calou ao ver o olhar de Carol e Amy que já procuravam uma almofada para jogar nele. – Brincadeira, gente, calma.

– A gente bate no eenie meenie e quem ganhar escolhe. Melhor?

Todos concordaram e Matt cantou, excluindo de um em um. Primeiro Christopher, depois Amy, eu e Matt. Lion e Carol se encaravam como se aquela fosse a maior aposta da vida deles. Lion tinha uma expressão debochada no rosto, e a expressão sempre fofa e meiga de Carol tinha dado lugar a uma expressão repleta de determinação. Matt cantou a música de novo, enquanto Amy e Chris gritavam o nome de Carol ou de Lion, como uma torcida organizada.

– AEEEE! – Carol explodiu num grito animado e correu para me abraçar. Amy, Lion, Chris e Matt olhavam a cena emburrados, de braços cruzados, feito crianças emburradas.

– Ê, que ótimo. Agora pode ir escolher o filme logo? Quanto antes isso começar, mais cedo termina e a gente pode fazer outra coisa. – Lion reclamou e se sentou, ainda revoltado, no tapete da sala de estar, encarando a TV e os outros três imitaram seu gesto, enquanto Carol ia feliz da vida buscar o notebook e escolher um filme.

Enquanto ela ligava o cabo do notebook na TV e dava o play em "Amizade Colorida", Matt foi até a cozinha e preparou 7 xícaras de chocolate quente, e, com a ajuda de Chris, trouxe 3 cobertas para nós.

– Assim, não sei se você reparou, mas nós estamos em 7, e você trouxe 3 cobertas, gênio. – Lion disse.

– Simples: Amy divide um deles com você, Chris divide um segundo com Carol, e eu e Nessie ficamos com o último. Se ninguém tiver nada contra, claro.

– Dá logo essa coberta aqui. – Chris e Lion falaram juntos puxando as cobertas imediatamente.

Agora que entendia melhor as ações dos humanos, realmente prestei mais atenção ao jeito que agiam quando estavam pertos uns aos outros. Carol foi andando na direção de Chris, olhando para os olhos dele e depois para baixo, com vergonha. E ele continuava tentando segurar o olhar dela, enquanto ela sentava ao seu lado e ele a puxava com o cobertor.

Já Amy, assim que Lion pegou o cobertor, o chamou com a mão e deu tapinhas no chão ao seu lado, indicando para que ele sentasse ali. Ele não se demorou e, assim que a envolveu carinhosamente com o cobertor, ele a puxou para um beijo rápido, seguido de um sorriso que eu não sei bem quanto tempo durou, pois senti Matt atrás de mim, logo ouvindo sua voz em meu ouvido:

– Você parece estar com um pouquinho de frio e meio solitária, ficando aqui parada sem ninguém... - Reprimi um arrepio quando sua respiração quente deslizou por meu pescoço (se foi tremor de nojo ou prazer, eu não sabia dizer. Nem se era pelo tentador cheiro do seu sangue, brincado ali, tão perto da minha boca).

– Não, estou bem. – Disse, me afastando.

– Mesmo? Porque eu posso te esquentar bem rápido se você quiser… - Ele me puxou para mais perto de si, e senti o calor do seu corpo me acariciando.

– Não, sério, estou bem. – respondi. – Acho melhor sentarmos e ficarmos em silêncio, o filme já começou. – Continuei, me sentando. Poucos segundos depois ele já estava ao meu lado, me abraçando por baixo da coberta.

Meia hora depois de filme, como se estivesse combinado, assim que os protagonistas se beijaram, Amy e Lion, e Chris e Carol se beijaram também.

"Que ótimo..." – pensei. – "Realmente maravilhoso..."

Matt começou a distribuir beijos pelo meu pescoço e foi subindo devagar até me queixo, enquanto suas mãos passeavam pelas minhas costas.

Eu não tinha certeza do porque estava reagindo assim em relação a ele. Talvez porque minhas emoções vampirescas estivessem falando mais alto, ou – mais provavelmente -, porque ele era o primeiro homem a me beijar com vontade e luxuria, mesmo que não fosse na boca. Parei de pensar e fechei os olhos, aproveitando aquela sensação inédita para mim.

– Renesmee?

– Hmm?

– Por que não seguimos o exemplo dos quatro? – Ele perguntou em voz baixa. Seus beijos agora chegavam ao canto da minha boca. Sem pensar e nem ao menos medir as conseqüências, respondi, sem me dar conta do que eu realmente estava dizendo:

– Acho uma ótima ideia.

O rosto de Matt se abriu em um sorriso enorme e meu celular começou a vibrar insistentemente no bolso da minha calça; e, sem me dar a chance de ao menos processar a informação sobre o celular, Matt pressionou seus lábios suaves nos meus.

Aquela onda de emoções vampíricas cresceu dez vezes mais. Me confundiu, embaralhou meu cérebro. Não podia pensar, não conseguia responder. Só percebi vagamente que eu o estava beijando também.

Ninguém mais importava agora. Meus ouvidos escutaram os risos e assovios que explodiram em nossa volta, mas meu cérebro não registrou o fato. O celular no meu bolso continuou a vibrar intensamente, mas o fato se perdeu para mim. Eu não podia nem lembrar meu nome a essa altura. De tão novas que eram as sensações, acabaram por se tornar arrasadoras.

Seus lábios eram macios e gentis contra os meus duros como pedra. Embora agora eu sentisse o cheiro de seu sangue pulsando em suas veias até mais forte, isso não me incomodava. Minhas mãos se moviam com vida própria, deslocando-se para se entrelaçarem em seu cabelo escuro, enquanto uma de suas mãos estava em minha cintura e a outra em meu pescoço, me puxando mais para ele. Nos separamos já sem ar.

– Já está quente agora? - Matt perguntou, respirando com dificuldade, com um sorriso brincando no canto dos lábios agora vermelhos.

– Aham. – Respondi me aconchegando mais a ele e deitando a cabeça em seu peito, enquanto ria dos assobios e gritos dos dois casais a nossa volta que diminuíam aos poucos, dando lugar as vozes dos personagens do filme que ainda rodava, momentaneamente esquecido a nossa frente.