Aquela manhã estava nublada, um céu acinzentado, nuvens negras e um frio tremendo. Calça jeans, blusa branca, casaco rosa e outro casaco preto cobriam meu corpo. Botas marrons, luvas, cachecol, nada resolvia.

A noite passada foi inusitada. Nunca imaginei conhecer Liam Payne e de sobra ser convidada para ir à sua casa para compor algumas canções. Sim, isso ocorreu. Ontem, enquanto estávamos no meu quarto e depois que cantei e toquei uma de minhas composições.

Liam Payne é completamente contrário ao que os tablóides insistem em transformar. Ele é adorável, divertido e humilde.

Depois de encarar um metrô lotado, atravessar o frio cortante que aquelas ruas carregavam, enfim cheguei ao local onde Liam tinha falado.

Eu achava que a casa onde eu estava era luxuosa, mas depois do que eu vi não tenho mais noção do que é luxo ou não.

Aquela rua em particular tinha várias e gigantescas mansões, num estilo bem rústico, calçadas limpas e arborizadas, um lugar perfeito.

Congelando, finalmente encontrei a casa em que Liam supostamente morava. Atravessei a rua e chequei o endereço novamente. O lugar tinha três andares, um muro gigante, três câmeras e foi o que consegui ver, o resto a “grande parede” me impossibilitou de apreciar.

Toquei a campainha uma vez. Eram quase sete horas da manhã, imaginei o motivo de ter que estar lá tão cedo. Paparazzis?

O som do portão sendo destrancado rompeu meus pensamentos.

— Rápido, entre. – disse Liam, quase que num sussurro.

Entrei brevemente. Liam estava com a cabeça pra fora do portão, checando todos os lados e estava de pijama, num dia frio como aquele.

— Espero que nenhum fotógrafo chato já esteja nos vigiando este horário. – olhou e sorriu.

— Eu espero. – concordei.

Estava distraída com o lugar. Um jardim gigante, repleto de flores e árvores altas, pedrinhas serviam como um caminho até a varanda onde a porta principal estava.

— Olha, Giulia. – Liam ficou ao meu lado, fazendo sinal para que começássemos a andar – Os outros caras moram aqui também.

Ótimo, era o que eu imaginava. Não demonstrei nenhuma reação, quis que ele continuasse.

—Eu não disse que tinha te conhecido. Niall e Louis já estão acordados, então não ligue se eles se assustarem ou te encararem muito.

— Tudo bem. – concordei.

— Espero que possamos compor e conversar mais. – riu.

— É, eu também. – sorri.

Estávamos subindo os degraus da pequena escadaria que existia do jardim para a varanda. Liam abriu a porta e o segui.

Que lugar gigante e organizado. Surpreendi-me, pois pelo que eu sabia até ali, cinco garotos moravam naquele lugar. O ambiente era confortável, aquecido e no centro tinha uma escadaria gigante. Eu estava fascinada.

— Giulia, me segue. – fechou a porta com cuidado e timidamente pegou minha mão.

Sorri discretamente e ele retribuiu. Ele me puxou pelas mãos e em poucos passos já estávamos entrando em outra sala.

— Ei, caras. – introduziu, fazendo com que Niall e Louis se virassem e olhassem para nós dois.

Estavam sentados no sofá, assistindo Bob Esponja. Niall estava com um pijama quadriculado e Louis estava com um de bolinhas azuis. Que baita cara de sono eles estavam, mas não tanto quanto a expressão de surpresa ao me verem com Liam.

— Oi. – disseram em uníssono, sem graça.

— Essa é Giulia. – apresentou-me e somente sorri, recebendo dois lindos sorrisos de volta.

— O-oi. – completei.

Liam segurou minha mão novamente e nos guiou até o outro sofá, de frente para Louis e Niall. Sentamos e o silêncio não persistiu.

— Conheci Giulia ontem. – Niall e Louis continuavam sorrindo, prestando atenção no que Liam falava e ao mesmo tempo olhando para mim – Outra hora explico a história melhor, mas ela está aqui porque tem ótimas composições e disse que pode nos ajudar.

— Que ótimo. – Louis falou e desligou a televisão, dando a entender que continuaria a falar – Nós estamos precisando mesmo de inspiração.

— Já tem muitas composições? – Niall perguntou.

— Sim, - sorri sentido minhas mãos suarem e as bochechas arderem, colocando uma das mexas de meu cabelo atrás da orelha e por fim, juntando as mãos perto de meus joelhos – Ao todo são quarenta finalizadas, mas se quiserem podemos ajustá-las.

— Que sotaque lindo que você tem. – Niall fez uma voz de bebê.

Dei uma risadinha amarela, sentindo-me corar com suas palavras. Incrivelmente, estava me sentindo à vontade e não poderia estar melhor na companhia daquelas pessoas que eu julgava de forma tão diferente.

—Também percebi. – completou Louis.

— Sou brasileira. – respondi.

—Nossa. – simplesmente falaram.

Vi Liam abrir a boca para falar alguma coisa então foi interrompido pela chegada de alguém. Alguém ao qual não fiz questão de virar para saber quem é, até porque Louis já entregava.

—Zayn! – exclamou.

Calma. Eu não a tinha, mas eu precisava. Minha pele arrepiou ao ouvir aquele nome, ao ouvir seus passos, ao sentir sua presença. Não pensei muito e como num ato instantâneo, respirei fundo e levantei como num ato automático, ficando frente a frente com ele.

— Oi. – sorriu, respirando fundo e me encarando, tentando de alguma forma compreender o que estava acontecendo.

—Oi. – tomei ar e retribui um “quase sorriso”.

Liam levantou-se e tomou posição ao meu lado, deixando-me levemente mais calma.

— Essa é Giulia, ela vai nos ajudar a compor.

— Prazer, Giulia. – continuou sorrindo e estendeu as mãos em minha direção.

Assenti com outro sorriso e logo desmanchei o aperto de mão, pois as minhas estavam querendo transpirar. Desviamos o olhar um do outro e eu, particularmente, mirei o chão. Zayn sentou no mesmo sofá que Niall e Louis e Liam e eu retornamos ao nosso lugar.

Quando consegui respirar, a imagem de Styles atravessou a porta e passou por nós como se nem notasse nossa presença. Aquele silêncio permaneceu, todos se entreolhavam e era possível ouvir os barulhos que Harry fazia no cômodo ao lado, creio que era a cozinha. Eu evitava ao máximo olhar para qualquer um deles, pois sabia que no meio de tantos olhares alguns eram especificamente sobre mim.

Harry ressurgiu e novamente iria passar reto, porém recuou ao finalmente perceber nossa presença. Obviamente tinha acabado de levantar ao julgar por seus passos pesados, olhos quase fechados, cabelo bagunçado e olheiras.

— Quem é ela? – apontou para mim, parecendo mais um bêbado.

— Giulia. – Liam respondeu e eu desviei o olhar do chão, mirando a parede.

— Ah. - disse por fim e voltou a andar, ignorando todo o resto.

Que situação constrangedora. Que atitude ignorante, primeiro passa sem cumprimentar ninguém e aponta o dedo para mim fazendo cara de desdém. Que chato isso.

—Não ligue para o Harry. – disse Liam – Ele foi mal educado.

Só assenti com a cabeça. Ele foi mesmo, todos ali foram simpáticos comigo, menos ele. Logo ele, que todas as revistas dizem ser educado. É, as revistas vivem em realidades alternativas.

—Se não se importar, Giulia, podemos começar com uma das músicas, certo? – Louis mudou de assunto.

— Claro. – disse – Só precisamos de um violão.

— Isso não é problema. – falou Zayn, puxando um violão de trás do sofá.

Peguei-o e o vi olhando fixamente para mim. Ele lembrava de mim, eu tinha certeza disso. O jeito que ele me olhava, era igual ao dia na cafeteria. Aqueles olhos tão parecidos com os meus, sem nenhum tom de azul, verde ou até mesmo cinza, mas olhos tão lindos mesmo assim.

— Que tal tocar aquela que me mostrou ontem? – sugeriu Liam.

Abri meu caderno de composições e coloquei-o sobre a mesinha de centro, checando as partituras e logo em seguida, as cordas do violão.

Comecei então. “Talking to myself”, a música que compus quando perdi minha melhor amiga. A música que me trazia tantas belas e más recordações. As notas fluíam com naturalidade, eu me esforçava. Quando cheguei no segundo refrão, de olhos fechados, pude acompanhar as vozes de Liam e Louis me acompanhando e as firulas de Zayn e Niall compondo a melodia.

Então um trovão interrompeu tudo, seguido do barulho das gotas pesadas caindo sobre o telhado. Relampeava e pela vidraça da janela conseguíamos ver a escuridão.