Definitivamente, Giulia era uma das meninas mais bonitas do colégio, porém, diferentemente das demais, ela não se importava. Preferia zelar por suas notas, amigos que contava nos dedos em vez de zelar por seu ibope.

E todos os dias lá estava, fiel aos mesmos amigos, sentada num banco perto do refeitório, tomando seu milk-shake e lendo alguma das obras de Nicholas Sparks. Fazia uns três dias que lia pela terceira vez ’’Diário de Uma Paixão’’.

Era incrível a curiosidade que ela provocava nas pessoas. Todos sabiam seu nome, enquanto ela, mal sabia o nome das pessoas de sua classe. Desde que chegou no inicio do ano naquele colégio, virou objeto de estudo de todo tipo de gente. Falava com poucas pessoas, tinha medo de falsidade e decepções. Talvez o fato de se preservar, tenha feito muitas pessoas taxarem-na de metida. Quando na verdade, nunca foi.

Todos que realmente conhecem Giulia sabem o quanto é divertida, atenciosa, inteligente, engraçada e amiga. As garotas populares, não gostavam muito dela, fosse o fato de ela não se aproximar ou simplesmente, inveja. Enquanto aos meninos, qualquer um ali se apaixonaria por ela facilmente, mas tinham medo de se aproximar. O motivo era bem claro, ela parecia não ser tão fácil de conquistar.  Giulia é um mistério que qualquer pessoa que use cueca gostaria de desvendar.

— Ei, - Giulia interrompeu sua leitura quando percebeu que Clara aproximava-se – Giu, sua mãe está te esperando aí fora.

— Hã? – confusa, fechou o livro e largou seu milk-shake de qualquer jeito no banco – Minha mãe?

— Sim, sua mãe. – afirmou – Eu estava lá na frente e ela estava conversando com o porteiro, quando me viu, pediu que eu te chamasse.

— O que será que ela quer? – perguntou para a amiga, por mais que não esperasse resposta alguma – Ainda é hora do intervalo.

— Acho melhor você levar sua mochila, porque acho que você já vai.

— Ok. – logo se levantou e colocou a mochila na costa.

— Tchau. – disse a amiga com um sorriso.

— Tchau.  – e retribuiu o sorriso.

No meio tempo entre o refeitório e a portaria, ficou se perguntando o motivo da presença de sua mãe. Realmente, não fazia menor idéia do que ela fazia ali.

— Querida! – exclamou sua mãe – Pronta?

— Pra quê? – perguntou confusa.

Sua mãe soltou uma gargalhada estranha, Giulia não sabia se estava assustada ou com vergonha.

— Deixa de ser lerda, filha. – disse tocando seu ombro, sarcástica – Ou vai me dizer que esqueceu da sua viagem?

Meu Deus, ela não acreditou. A pessoa mais previsível do mundo mudou de idéia?

— Inglaterra? – sorriu, boquiaberta – Sério? Você ta me zoando, mãe?

— Claro que não. – respondeu, sorrindo- Suas notas estão ótimas, você já tem 15 anos, só exijo responsabilidade de sua parte.

— Mas...mas, - estava completamente sem reação, iria explodir por dentro – Quando?

— Eu e seu pai resolvemos tudo anteontem. – parou e pegou a mochila de Giulia – Agora entre no carro, vamos arrumar suas coisas, porque 22 horas sai seu vôo.

Giulia saltitou até o carro, seu sorriso era gigante, de orelha a orelha. Seu maior sonho era visitar a terra da Rainha – desde pequena – e agora ele se realizaria.

...

Enfim, se livrou daquele trânsito infernal, despediu-se dos seus pais e comprou uma revista enquanto esperava seu vôo partir. Dentro da aeronave estava silencio. A maioria dos passageiros era de descendência italiana, não tinha com quem conversar. Os brasileiros estavam ausentes ao seu redor, o melhor seria pegar uma revista e ler. Na verdade, não conseguia se concentrar, sua ficha ainda não tinha caído. Passou meses tentando convencer seus pais, e agora, tinha conseguido.

— Senhorita, deseja alguma coisa?- a aeromoça, alta, loira, bonita com um português com sotaque italiano evidente, perguntou.

— Ah, se não se importar eu gostaria que você pudesse ligar essa televisão, não estou conseguindo.

— Claro. – sorriu, ligando-a – Agora, você pode ver filmes, ouvir nossas playlists e jogar joguinhos.

— Obrigada.

Quase um dia de viagem, o avião nem tinha decolado. Filmes chatos ou que ela já havia visto, jogar tetris é um tédio, sorte que tinha boa música.

— One Direction. – sussurrou.

Finalmente. Inglaterra. Londres. A viagem tinha sido ótima, não estava tão cansada assim, mas precisava de um banho quente. Banho quente cairia bem naquele frio de estremecer. O Aeroporto de Heatrow é bem movimentado aos sábados, percebeu. Seu olhar fitava todos os lados, ela estava à procura de uma plaquinha com seu nome no meio de toda a multidão. Quando enfim encontrou, estava nas mãos de uma mulher, aparentemente, com 40 anos, loira, com os olhos castanhos, bem branca e com as bochechas rosadas, usava óculos e tinha um sorriso acolhedor. Correu em sua direção, ela a recepcionou com um caloroso abraço e se ofereceu para ajudar com as malas. Quando engataram uma conversa, foram interrompidas por gritos, flashes e várias pessoas olhavam para uma aglomeração de gente perto de um dos elevadores.

...