- Brea!

- Brea!

- Brea!

Era tudo o que eu podia ouvir e em pequenos instantes, um monte de pessoas se atolava no quarto a exclamar o meu nome. Depois de ter cumprimentado o meu pai e os amigos dele, de entre os quais estava o pai do Josh, dois rapazes entraram no meu quarto com dois sorrisos de orelha a orelha.

- Credo… como é que vocês conseguem sorrir assim? Não dói? – Eu ri-me.

- Olha Thiago… parece que o sentido de humor veio com ela a duplicar.

- Ahahah, então espera só até ela ver um certo vídeo… - O John de repente ficou sério.

- Vídeo? Que vídeo? – Perguntei curiosa ao Thiago que ria da cara do John.

- Sabes o que é Brea? O John descobriu que também tem afinidade com a espécie dele… - O Thiago explodiu em gargalhadas.

- Como assim? – Perguntei a sorrir…

- Olha… - Disse o Thiago mostrando o telemóvel antes que o John pudesse reagir.

No pequeno ecrã do telemóvel, dois rapazes estavam a dormir, com as cabeças encostadas e, literalmente, amarrados um no outro. Foi aí que reconheci as feições do meu irmão e, posteriormente, de uma galinha. Se eu não os conhecesse, até diria…

- Eu nem sei o que dizer… John… eu nunca pensei… - Disse, rindo-me.

- Não é isso que estás a pensar Brea! – O John disse aflito.

- E o que é que eu estou a pensar?

- Que eu sou…

- És… - Incentivou o Thiago.

- Ah, vocês sabem…

- Não, não sei. Sabes Thiago? – Perguntei inocente.

- Não…

- Que eu sou… virado.

- Aí está… uma confissão sem malícia… - Disse eu vitoriosa.

- Nem vou dizer nada Brea, porque acabaste de acordar. Tu também Thiago… nem perdeste tempo para lhe mostrar…

- Ah… sabes como é que é… - Começou o Thiago sem jeito.

E então uma discussão tão estúpida quanto o cérebro deles começou a decorrer. Enfim, argumentos idiotas, discussões imbecis. Foi então que me dei conta, já que o meu quarto tinha uma espécie de janela enorme para o corredor, que estavam ali umas 10 pessoas… quem sabe mais… ah, sim… deviam ser bem mais.

- Ah sabes? Decidi chamar as pessoas mais próximas quando saíste do coma… - Disse o John.

- Sei… os mais próximos e os mais afastados também… - Disse o Thiago.

- John… eu sinto-me como aqueles animais do jardim zoológico que estão em exposição para uma multidão. EU JURO QUE QUANDO SAIR DAQUI, MATO-TE! – Disse enquanto dava um sorriso amarelo para as pessoas lá fora.

Mas, algo ou melhor, alguém… chamou-me atenção do lado de fora; Duas pessoas estavam a discutir, sem prestar a mínima atenção a mim… bem, não é que isso seja mau, pelo contrário, eu queria mesmo é que fingissem que eu não existo, no entanto, a atenção de uma das pessoas envolvidas na discussão, eu não dispensaria. Daí que quando os olhos azuis dele se viraram para os meus castanhos, a discussão dos dois palermas ao meu lado ficou silenciosa e passei a ignorar as pessoas lá fora; foi lindo, como se todo o mundo tivesse parado para eu viver este momento só com ele, como se tudo ficasse em câmara lenta. O mundo podia acabar naquele preciso instante, mas mesmo assim, eu não tiraria os meus olhos daquele oceano profundo, por nada neste universo. Mas então, aquela cobra começou a chamar a atenção dele para continuarem a discussão, porém ainda demorou um bom tempo para que ele desviasse a atenção de mim, o que a fez olhar para mim também; Pude notar aquele sorriso falso a formar-se nos lábios, exageradamente vermelhos. CREDO! Ela deve gastar um só batom para aquilo! De seguida, ela puxou a mão do Josh e dirigiu-se para a porta do meu quarto. Qual é o mal? Eu digo-vos qual é o mal. Tive que contar até 10 e repetir mentalmente: “Não lhe arranques a cabeça!”.

- Brea… - Ahh, “Breaa!”, se ela me vier com essa voz falsa e pegajosa, outra vez, eu juro que esqueço as minhas notas mentais e arranco-lhe a cabeça!

- Brea… - Isto foi ele… Mas será que as pessoas não conseguem dizer mais nada para além do meu nome? Só dizem… “Brea”… uau, o meu nome! Que novidade!

- Keira… Josh… - Eu dei um sorriso forçado – Que bom que estão aqui… - Estava a ser boazinha demais, não acham? – Mas, não me lembro de me dizerem que foste convidada Keira… - Disse inocente e pude notar o brilho de ódio que faiscou nos olhos cor de safira dela.

- É… sabes como é que é… o Josh é meu namorado – Ela acentuou o meu – Mas, é verdade eu nem vim aqui por ti – Disse com desprezo…

- Ah, a sério? – Perguntei com um sorriso falso – Então podes explicar-me, por favor, porque é que estás aqui.

- Keira, já chega. Vamos lá para fora, agora não é boa altura. – O Josh tentou puxar a Keira lá para fora. Ele estava visivelmente nervoso, como se tentasse esconder algo.

- Espera, Josh! – Ela disse, com aquela voz irritante e aguda – Sabes o que é, Brea? – Ela disse venenosa – Vim fazer uns testes…

Quando a palavra “testes” foi pronunciada, uma tensão sem igual instalou-se no quarto. O Thiago e o John, que antes prestavam atenção à conversa, unicamente para me controlarem caso perdesse a cabeça, agora estavam interessados no tipo de testes que esta parva veio fazer e o Josh parecia que ia ter um enfarte a qualquer momento.

- Testes? Ah. Não me digas, descobriram que tens ar em vez de um cérebro!? Bem, vê pelo lado positivo, és o único ser com essa capacidade… - Disse cândida, tentando desanuviar a tensão do quarto... – Estou, certa?

- Completamente errada – Disse como se agora estivesse “por cima”. Uau, eu sei que estou errada, ó inteligência! É lógico que não tens ar em vez de um cérebro, mas também o cérebro que tens deve já estar muito gasto… - Vim aqui… - Ela parou como se quisesse fazer suspense, o que fez o Thiago e o John rolarem os olhos e eu confirmar o desespero palpável do Josh… Alguma coisa não está certa nesta história… - Fazer teste de gravidez.

Sabem quando temos a sensação de que o mundo está, literalmente, a desabar; como se tudo começasse a pesar o triplo e de repente, já não tivéssemos mais pé? Quando o nosso coração acelera as batidas cardíacas como se estivesse a esbofetear cada esperança contida? Como se não houvesse mais razões para existir? Como se um simples facto conseguisse mudar uma série de vidas envolvidas…

“Teste de Gravidez”… eu tive que fazer um esforço desumano para não desmaiar… não daria essa graça àquela cobra… não! Ela veio aqui ao hospital, precisamente para esfregar na minha cara que poderia estar grávida, e não é preciso ser muito mais inteligente do que ela para saber que o filho só pode ser do Josh… Quer dizer, se a questão fosse apenas a dúvida de estar grávida, ela poderia ir a uma farmácia e resolveria o mistério, mas não. Ela preferiu fazer um exame de sangue aqui… e de uma coisa vos posso garantir, não foi para ter a certeza absoluta da possível gravidez.

Eu senti-me bloqueada pela fala, como se estivesse num filme e ainda não fosse a minha vez de falar; Olhei para o John e o Thiago, ambos estavam brancos, com caras de surpresa, preocupação e pena… Afinal, a Keira pode ser muito bonita, mas não há rapaz que a ature mais do que uma semana. Reparei que olharam para a Keira, apenas quando ela deu a notícia, depois viraram-se para o Josh com as mesmas expressões, mas com um pouco de raiva; isso iria-me afectar, eles sabiam. E por fim, todos olharam para mim, como se estivessem à espera que eu caísse para o lado desmaiada, ou que voltasse a entrar em coma, ou que no mínimo me levantasse e começasse a gritar com aqueles dois irresponsáveis, que não só lixaram a própria vida, como também acabaram com a minha. E apesar de isto ser da minha vontade de fazer, não optei por isso… não… Optei por algo muito mais ousado…

- A sério? – Sorri falsamente de felicidade. – Bom, vocês são um pouco novos, não? De qualquer modo, acho que vão ser muito felizes. – Disse, parecendo sincera… Na verdade, eu quase que caí no que disse.

- Não te importas? – A Keira faiscou de raiva, tentando conter-se na pergunta.

- Não… Quer dizer, vai ser duro para ti, enfrentar a escola com um barrigão de 9 meses… Mais as piadinhas e tal… - Ela ficou branca como a cal quando ouviu isto - Mas, vê pelo lado bom, conseguiste amarrar o Josh! – Acho que fui malvada… Bem, era o que ela merecia e, se ela realmente estivesse grávida, parabéns, teria mesmo que enfrentar isto.

- É… nós vamos andando… - Disse o Josh, para que isto não piorasse. Haviam muitas coisas a serem ditas e feitas agora; Gritos histéricos, pedidos de desculpa e arrependimentos, mas tudo isso estava resguardado para que ninguém desse o braço a torcer; mas em troca desse orgulho, um silêncio comandado por uma tensão descomunal pairava sobre todos nós.

- Sim, vamos buscar os resultados. – Disse a Keira frustrada, mas a recompor-se para não prejudicar a sua vitória, que apesar de já parecer estragada… dentro de mim, tinha conseguido o efeito esperado.

E assim saíram. E foi assim que vi o primeiro e, talvez, único amor da minha vida partir, mas ao contrário de todos os outros que voltaram e não olharam para trás ao principio, ele não voltaria, mas olhou para trás inúmeras vezes, como se pudesse dizer tudo naqueles olhares lançados; Mas, as palavras que ele queria dizer e eu corresponder, não poderiam ser mais proferidas; essas juras de amor silenciosas seriam enterradas com os beijos e tudo o resto do nosso passado; Agora só interessariam a rapariga que estava ao lado dele e que, provavelmente, levava algo que pertenceria aos dois, uma linha infinita que, para sempre, entrelaçaria e uniria os dois; e, infelizmente, eu não estava incluída nesse novo plano.