Sabem aquela sensação de que estamos nas nuvens? Que estamos a sentir aquele friozinho na barriga que parece cócegas? Que temos um lindo… Espera… é o Josh.

Quebrei aquele momento que mais tarde me atormentaria, empurrei-o, ainda que ao de leve, o suficiente para que se afastasse de mim. – Eiii! Será que dá para parar de me beijar? Eu sei que é praticamente impossível, mas ao menos podias segurar-te!

- Eu? Segurar-me? Ahahahahahahahahah! A única pessoa que tem que se segurar aqui és tu… és tu quem não me resiste!

- E lá vem ele, outra vez. – Disse, rolando os olhos.

Esta noite tinha tudo para dar certo, mas a partir do momento em que este idiota se sentou ao meu lado, esta noite tem sido tudo menos certo. Detesto quando me sinto assim… meio abatida, começo a comer desesperadamente. Apanhei as pipocas das mãos do Josh… tinha que comer alguma coisa antes que o menino começasse a dizer que eu estava amuada.

- Ei! Essas pipocas são minhas! – Ele disse, tentando alcançá-las.

- Olha, tu não vês que eu agora quero comer?

- A mim não me interessa se queres ou não comer. Eu quero as minhas pipocas! Dá cá! – A sério… a esta altura ele parecia uma criança que queria o brinquedo.

- Olhe, se faz favor – eu virei-me para o funcionário do balcão – Quais são os filmes em que menores de 6 anos já podem entrar?

- Bem… nós temos… “Os contos dos Ursinhos Peludinhos”; “As Fadas do Reino Encantado”; “As Aventuras do Hugo” e “Viagem À Volta do Mundo”…

- Bem… - eu olhei para o Josh, avaliando-o… - Pelos gostos do meu amigo, acho que ele vai querer “As Fadas do não sei quê que o Sr. disse”. – Se ele queria agir como criança, seria tratado como tal!

- Ei! Eu tenho mais do que 6 anos! – Ele disse indignado.

Eu virei-me para o funcionário, como se fosse fazer um comentário para que apenas ele ouvisse, mas a minha intenção era que o idiota ouvisse também - A sério? Às vezes, ainda fico na dúvida…

- Às vezes ainda ficas na dúvida? – Ele repetiu irritado.

- Realmente, tens razão… eu já nem tenho dúvidas… tu não passas nem dos 5!

- Ai é!? Pois então, são dois bilhetes para o filme das Fadas! – Ele disse olhando para mim.

O Sr. já estava a marcar os bilhetes. – O quê? Não! É só um! – eu disse.

O Sr. voltou a anular um dos bilhetes.

- Não. Tu vens comigo e ponto!

E o Sr. voltou a marcar dois bilhetes… e isto seguiu-se por mais dois minutos.

Entretanto, o Sr. que já estava farto de “marcar” “anular” e como tínhamos umas 20 pessoas na fila, ele lá marcou os dois bilhetes e OBRIGOU-NOS A ENTRAR NA SALA DE CINEMA!

Conclusão!? Eu dou-vos a conclusão! Ao invés de eu estar a ter uma linda noite com o meu príncipe, o Andrew, a ver o filme mais divulgado da época... Estou a ter um desastre de noite, ao lado de um pré-histórico, que possui um vocabulário reduzido, de mais ou menos 5 palavras, entre as quais três são para dizer: “EU ACHO-ME BOM!” e a ver um filme de… Isto é mesmo um filme? É que eu acho que trocaram isto com os apanhados… só pode!

- Eii, posso falar contigo? – Ele perguntou, calmo.

- Não. – Disse irritada.

- Porquê?

- Estou ocupada! – Disse alto.

- A fazer o quê? – Ele perguntou.

- A respirar! – Eu falei.

- Ai! Deixa-te de criancices!

- Criancices? Eu dou-te as criancices! – E comecei a atirar e a bater-lhe com as pipocas. Não, não houve problema nenhum. Sabem porquê? Porque felizmente ninguém é burro de vir ver ESTA PALHAÇADA DE FILME! Até aquele grupo de criancinhas lá fora foi ver um filme mais interessante do que este!

- Ei pára com as pipocas! – Ele agarrou-me os pulsos e eu pude ter uma visão muito privilegiada. Não! Não é nada disso que vocês estão a pensar, suas mentes perversas! Não, por enquanto… BREA! Olha a linha, olha a linha! Bem, a maravilhosa visão com que me deparei foi o mais maravilhoso azul que eu já vi na minha vida. Para muitas pessoas, o azul mais bonito é aquele azul-céu… aquele azul-claro que parece tão puro! Mas, para mim não! O azul mais incrível do mundo era único e, neste momento, estava a centrar no mais simples e comum castanho. O meu castanho. Ó Meu Deus, ele pode ter milhões de defeitos e os maiores danos mentais extensivos do mundo, mas ninguém podia superar aqueles olhos. De repente, eu via-me numa tempestade, perdida no meio de um oceano. Aquele azul - acinzentado apesar de me trazer uma calma e nostalgia imensa… fazia-me sentir agitada e ansiosa. E, por alguma razão, ele também não parava de fitar o meu castanho. Daria tudo pelos pensamentos dele, afinal é uma cor extremamente comum, nos olhos de tanta gente, o que veria ele de especial neles?

- Consigo ver tudo o que quero neles. – Por um fragmento de um milésimo de segundo eu pensei que ele estivesse a ler a minha mente, mas logo descartei essa hipótese, rotulando-a como “totalmente” improvável. Afinal, é impossível ele ler pensamentos..., certo?