Implicante?

  Quando todas as aulas acabaram, eu estava me controlando para não dar um soco naquele garoto; ele tinha passado o dia inteiro comigo e meus amigos, como se eu tivesse dividido lanchinho quando criança com ele. Onde ele estava com a cabeça? E o pior nem foi isso: meus amigos acharam-no bonito – exceto Jake, claro – e simpático.

  AONDE ELE TINHA ALGO DE SIMPÁTICO?!

-Ah, Liss, relaxa vai. Ele engraçado, nosso dia foi divertido.

-Por que ele não ficou perturbando o seu juízo.

  Reclamei, colocando os livros dentro da mochila, debatendo com June. Ela riu, e cruzou os braços, me encarando.

-Sei. Ah, fala sério, só está assim por que ele roubou seu pirulito. E mesmo assim ele te deu um outro.

-Eu não comi aquilo! E se estivesse contaminado?

  Perguntei, arregalando os olhos pra minha melhor amiga.

  Ela riu de mim, e quando vi aquele garoto vindo até nós com um sorriso torto por sobre os ombros de June, me virei automaticamente, e continuei a guardar os livros.

-Hey, pessoal!

  Ele acenou, e June sorriu, dizendo um rápido “oi”. Eu fiquei calada. Durante a aula de matemática tomei a descisao de que iria tratá-lo com ignorância, ou então afogar ele no rio mais próximo. E o rio era trabalhoso demais, e hoje tem The Vampire Diaries.

-E aí.

  Respondi, dando um sorriso amarelo, indiferente. Eu peguei a mochila com dificuldade, já que estava um chumbo por que o fichário estava lá dentro, e me dirigi á porta.

-Deixe-me levar para você. Meus livros não chegaram, só vim com o fichário.

  Disse, colocando a mão no suporte da mochila. Dei um tapa em sua mão, fazendo levantá-las, como um refém.

-Não precisa.

  Respondi.

-Faço questão.

  Encarei June. Ela me lançou um olhar encorajador, e depois eu me lembrei de um fato importante que me salvou:

-Não dá, a June vai me dar carona.

-Bom, na verdade, Liss, pensei em dar carona á Brian também. Afinal, é o mesmo prédio e seu carro está no concerto.

-O QUE?!

  Ela bebeu vodka no lanche? O que tinha naquele pacote de biscoito?

  Ergui as sobrancelhas e fiz uma careta, respirando fundo. Ok, mantenha-se superior, Lisa. Diante do sorriso vitorioso de Brian, larguei a mochila em sua mão, pegando mais um pirulito – dos meus – dentro da mochila e continuei a andar, dizendo:

-É toda sua.

  Agora, depois de falar com Jake e Caroline, estávamos no estacionamento da escola, entrando no carro. Eu fui no banco do passageiro, do lado de June, e Brian lá atrás.

  Peguei o porta CD no porta-luvas. Tinha deixado um meu aqui, graças a deus. Brian se apoiou entre os dois bancos, encarando o porta CD.

-Posso escolher?

-Sem chance.

-Por que não?

-Por que se você fizer mais uma pergunta, eu faço você engolir uma maçã.

  Respondi, dando um sorrisinho meigo. Ele riu discretamente, me encarando. Voltei a procurar por um CD.

-Hum... Não, não... Este também não... Ahá!

  Disse, assim que American Idiot apareceu. Só Green agora conseguiria salvar o dia.

  Coloquei no rádio e pulei para a próxima música, Holiday. Quando a linda voz de Billie Joe – lindo e gostoso – começou a soar, comecei a cantar também.

  June sabia que não podia se pronunciar nada enquanto eu estava escutando Greenday, mas já Brian...

-Hey, você sabia que...

-Shhhh!

  Balbuciei, colocando um dedo na frente dos lábios. Ele ergueu a mãos novamente como refém, June viu pelo retrovisor, e sussurrou para si mesma “ele ainda tem muito o que aprender”. Se depender de mim não vai aprender nem a metade da metade.

  Quando chegamos no prédio, me despedi de June e sai do carro, pegando minha mochila e, quase me desequilibrando pelo peso, e corri até a portaria. Brian me acompanhava com um sorriso descarado na cara.

  Quando entrei no elevador, apertando o botão para que a porta se fechasse mais rápido umas trocentas vezes, ele riu e conseguiu entrar, me fazendo xingar baixinho.

-Sabe, você não é muito bom com primeiras impressões.

  Disse, procurando as chaves.

-Não sou, é? Pelo menos não fui eu que quase voou no pescoço de um cara só por que ele roubou o pirulito dela.

-Hey, não fale assim deles!

  Eu disse, erguendo um dedo em sua face. Ele riu, abaixando-o, e depois o elevador abriu no sexto andar.

-Eu fico aqui.

  E eu no sétimo. Tchauzinho, babaca!

-Bom para você...

  Me interrompi assim que ele puxou minha mão escreveu com uma caneta de CD os números “640”. Olhei para ele, com raiva, já que caneta de CD custa a sair, e o fuzilei com os olhos.

-O que é isso?

  Tentei manter a calma.

-Você vai entender quando precisar.

  Ele sorriu, como se estivesse rindo de uma piadinha. Engoli a seco, cotando mentalmente do um até o dez.

-Quer fazer o dever de casa juntos?

-Claro que não, garoto! Vai, vai, vai! Anda logo e não assim você vai me fazer cometer suicídio!

  Gritei, empurrando-o do elevador. Ele riu, e parou em frente a ele, vendo as portas se fecharem. Quando só havia uma brecinha, ele ergueu um fichário brevemente familiar.

  Peraí.

  Aquele fichário é meu!

  Avancei para ir bater em Brian e pegar o caderno, só que a porta se fechou imediatamente. Grunhi alto, pegando a mochila e saindo do elevador quando chegou minha vez.

  Ele fez isso justamente para eu ter que ir a sua casa. Aquele idiota filho de uma...

-Hey! Como foi o dia, meu anjo?

  Papai me perguntou, abraçando-me. Eu dei de ombros, jogando-me no ofá, morta.

-Ah, foi péssimo! Entrou um garoto novo, o...

-Brian?

  Ele me interrompeu. Encarei ele exatamente no mesmo segundo, estranhando. De onde eles se conheciam, pelo amor de deus?

-Vai dizer que você é amiguinho dele?

-Ah, trombei com ele hoje de manhã, quando colocávamos o lixo lá embaixo. Ele me pareceu ser bem gentil, mas por que, o que você iria falar dele?

  Afundei a cabeça no travesseiro, gritando.