-QUÊ?

-COMO ASSIM, LISA?

  As duas perguntaram, assustadas.

-Ah, “como assim”? Acho que vocês sabem muito bem como!

  Eu falei, nervosa, me levantando e andando de um lado para o outro, a mão na testa. Oh, merda, oh, merda. Agora elas me deixaram ainda mais nervosa.

-Você e o Syn transaram?

  Avril perguntou, sem entender.

-NÃO, não foi o Syn, foi o...

  Respirei fundo, rapidamente. As duas na mesma hora arregalaram os olhos.

-Lisa, diga que você não dormiu com o Dean.

  Mordi o lábio inferior. Elas murcharam o peito, os ombros descendo. June colocou a mão na cara, a outra na cintura, enquanto Avril pegava o celular e ligava para alguém. Escutei-a falar rápidas palavras, “abortar missão”, e em seguida desligar.

-Por que você fez isso? Você tá namorando ele?

  June perguntou, meio hesitante.

-Não, quer dizer, sim... AH, eu lá vou saber, to mais preocupada com outras coisas, porra, June!

  Gritei, me sentando na cama.

-Meninas, vocês estão bem?

  Dona Clarice, mãe de June perguntou, dando batidinhas leves na porta. Tomei um susto.

-MÃE, RALA DAQUI!

-Ok, ok. Calma, garota.

  Escutamos seus tamancos batendo para longe. Depois de alguns míseros segundos em silencio, andando de um lado para o outro, as duas me encararam, de braços cruzados.

-Sua burra! Se fosse do Syn, vai lá que seja, você gosta dele, mas do Dean?

-EU NÃO GOSTO DO SYN.

  Falei, erguendo um dedo.

-Ei, pode abaixando esse dedo aí, que direito você tem de meter esse dedo na cara da madrinha do seu filho?

  Avril perguntou, colocando as mãos nas cadeiras.

  Revirei os olhos.

-Você vai ter esse filho?

-Eu não sou nenhum monstro, não vou matar o meu bebê.

  Eu falei, franzindo a testa.

-Dean já sabe?

  Neguei com a cabeça.

-Voces são as primeiras.

-YES, conseguimos passar a mãe dela!

  Avril falou, erguendo a mão para June, que a encarou séria. Avril abaixou a mão, fazendo biquinho.

-Hm, acho que você tem que falar com a sua mãe primeiro.

-Não, primeiro as duas vão na farmácia comprar vinte e cinco testes de gravidez para mim, de preferência diferentes.

  Eu disse, levantando e empurrando-as para fora do quarto.

  Depois de meia hora fazendo xixi naquelas merdinhas, eu sai do banheiro.

-E aí?

  Perguntei, encarando-as.

  Elas deram de ombros.

-Você está mesmo esperando um bebê.

-EBAA, vou ser titia!

  Avril disse, pulando de alegria, correndo pela casa dela, agora vazia. Ela estava super animada, já eu procurava uma maneira de contar.

-Hey, não fique assim. Nós estamos com você, e estamos tão felizes.

  June falou, afagando meu cabelo.

-TOMARAM NA CARA, vocês. Ficavam falando que eu é quem iria engravidar primeiro, sem ofensas, Lisa, sabe que eu te amo, MAS VOCES RACHARAM A CARA!

  Ela falou, atirando na gente com uma arma invisível.

  Sorri. Eu já estava acostumada com as piadinhas de Avril. Ela não fazia por mal, só não pensava direito.

  June me levou para casa. Avril ainda estava animada demais com a noticia para poder dirigir.

  Saímos do carro, parando em frente ao portão do prédio.

-Lisa, acho que seria tão bom você se acertar com o Brian.

-Ah, é? Depois do que ele me fez? De que lado você está? Estabeleça um agora.

  Perguntei, erguendo uma sobrancelha.

-Ah, Lisa, você nem escutou o garoto. Eu escutei Avril falando com ele e...

-Avril falava com ele? O que ela falava? 

  Vi a cara de arrependimento de June. Ela mordiscou os lábios, e falou, insegura:

-Bom, eu não entendi muita coisa... Ele ligou para ela, pedindo algo, e ela falou algumas coisas...

-O que ela falou?

  Perguntei, meio irritada.

-Olha, é o seguinte: eles estão suspeitando de que Dean e Carol tenham armado juntos. Eles não, Brian está convicto e a Avril está ainda num meio termo.

-O que? De novo com isso?

  Respirei fundo, colocando a mão na testa, escorregando-a pela cara.

-Amiga, você tem que admitir que pode ter alguma verdade aí. Dean sempre foi louco por você, e Carol sempre invejou você, ela sempre quis ter o Brian só por que você gosta muito dele...

-Eu não...

-... gostava.

  Ela se corrigiu logo.

-Ela o beija, Dean a consola e acaba conquistando você, e Carol está livre para fazer o que bem entende com Syn.

-Com certeza ele deve estar com ela.

  Cruzei os braços, tentando não parecer que me importava.

-Não. Se você o visse na escola... Liss, ele está acabado. O coitadinho mal consegue se manter em pé.

  Ficamos em silencio, seus olhos tentando ver os meus enquanto os meus fugiam.

-Vá falar com ele. Não precisa ser hoje, mas em breve. Se não fizer por você, faça por mim, ok?

  June me deu um beijo na bochecha e saiu andando de volta para o carro, dando a partida e indo embora. Sacudi a cabeça com os pingos de chuva e entrei no apartamento.

  Agora eu estava no meu quarto. Escutava o CD que Jake tinha feito com musicas do da Joan Jett. Minha faixa preferida tocava agora: Crimison and Clover.

  Eu queria vê-lo, queria falar com ele... Mas e essa mania de sempre ser pessimista? E se ele não quisesse mais me ver, depois dos constantes gritos que eu dei? E o bebê? Como iria contar a ele?

  Eu não tinha resposta para pergunta alguma.

  Mas, quando dei por mim, já estava parada em frente a sua porta, meu punho batendo levemente nela.