Crônicas de Sieghart escrita por xGabrielx


Capítulo 10
Colônia de Gosmas 10 — Pensamento




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“Droga!” pensou Linea. “Droga. Droga! Droga, droga, droga!”

– Mas que merda! – gritou, pontuando o xingamento com um grito e golpe em uma gosma que caía em sua direção com a flecha envolta em fogo que segurava em suas mãos.

O chão em volta tinha várias gosmas. Elas haviam parado de atacar por um momento, mas os arqueiros ficaram para trás e logo depois da primeira onda de flechas contra o que quer que fosse que saiu daquilo que devia ser um portal, as gosmas voltaram a saltar em cima de todos aqueles que estavam perto demais da colônia.

A princípio, a arqueira logo correu para longe das gosmas e percebeu que elas não chegariam a certa distância do portal. Mas então percebeu que nenhum dos outros conseguiram sair do meio delas. Atirou uma flecha e ia pegar a segunda, mas logo desistiu. Eram muitas e certamente não teria flechas o suficiente. O grito de um dos arqueiros com metade da perna já envolta em verde fez Linea voltar correndo para perto da colônia, mas enquanto ela ia em direção à arqueira que tinha gritado, finalmente percebeu que não teria como ajudar. Não havia como. Sozinha, ela conseguia, embora com dificuldade, atravessar e desviar dos ataques, mas como guiaria a outra mulher? E se suas pernas já estavam tão mergulhadas no líquido corrosivo, ela não poderia mais correr agilmente.

Então, a outra arqueira caiu de joelhos. Os braços também já estavam envoltos pelas gosmas. Não poderia salvá-la. E não era só ela: os outros também estavam perdidos. Eles obviamente não poderiam acompanhar seus passos. Se pudessem, já teriam saído de lá. Como os salvaria? Cortaria tudo em volta? Ela era uma arqueira, não espadachim. Sua agilidade não superaria a falta de habilidade em combate de corpo a corpo. Linea virou as costas e estava voltando. Então, de trás veio um grito tremido de terror.

– Por favor!

Linea hesitou levemente. No momento seguinte, sentiu um peso empurrando na base das suas costas. Movimentando rapidamente o braço para trás, ela sentiu a flecha cortar algo. Ela continuou a correr para a direção do portal.

– Não me deixa aq... – tentou falar um homem que a viu saltando e desviando das formas verdes. Uma saltou em sua face e, já fora de equilíbrio com duas gosmas no mesmo braço, caiu no chão.

Suas costas estavam começando a arder. Um pouco do líquido estava escorrendo pelas pernas, mas não dava para parar agora. Precisava antes sair dali.

Todos os outros eram incompetentes. Extremamente incompetentes. Salvar a si mesma já requeria praticamente toda a sua concentração. Ela não podia fazer nada: se eles não conseguiam desviar dos golpes, se eles não conseguiam proteger a própria vida, a culpa era deles, não dela.

“Não estou disposta a dar minha vida.” pensou. “Não aqui, não por vocês.”

“Incrível.” tinha elogiado o homem alto de olhos castanhos. “Tão jovem, erguer uma barreira assim... Você salvou a vida deles.”

Mer Ellot nem sabia seu nome. Sangue escorria pelo pescoço da cabeça no chão.

Era a primeira vez que via uma pessoa morrer, e a culpa era sua.

Não era para acontecer isso. Não agora, não nesse lugar.

Eles deviam diminuir o tamanho da colônia de gosmas. Era isso. Só. Ninguém morreria ali. Cada instrutor responsável pelos novatos os protegeriam e o modo de combate sistematizado contra as gosmas garantiria a segurança de todos.

Não era para ninguém morrer. E nunca precisaria ver ninguém morrer em batalha. Ele só queria acesso à Academia de Magia do Reino. Acesso aos livros, acesso aos conhecimentos guardados. Talvez fosse para Serdin estudar na Academia Violeta e finalmente para a Universidade Real de Canaban.

Não queria lutar. Nunca quis. Conseguiu passar o tempo da caminhada pela floresta falando com o Kriewalt, que embora não parecesse interessado em conversar muito, não parecia estar se incomodando, então estava tudo bem. Quando percebeu que fogo realmente não funcionaria contra as gosmas, toda a tensão que sentia no corpo desapareceu: poderia ficar fora da batalha, usando o pouco que sabia de magia de recuperação em quem precisasse.

Mas as pessoas morreram. Ele deixou que alguém morresse. Nunca pediu por essa responsabilidade, mas ainda assim, falhou. Por sua culpa, uma pessoa...

Um enorme peso o empurrou pela direita ao chão. O mago reconheceu aquele que o homem agora morto tinha chamado de Vanto logo ao seu lado, quase em cima. Fora empurrado por ele. Um corte na diagonal percorria seu peito e a barriga. O sangue começava a sair. Finalmente lembrando que algo tinha matado o primeiro homem, olhou rapidamente em volta.

Seus olhos pararam nos quatro feridos tinham ficado para trás. Uma mulher e um homem desmaiados e dois homens, um sentado com o apoio do outro, também sentado, que tinha as pernas queimadas. Os dois olhavam surpresos para Ellot.

Em cima.

O mago virou sua cabeça e viu uma figura completamente preta. Dava para discernir que usava um robe que cobria o corpo todo e a cabeça devia estar escondida por um capuz. Ainda assim, dois grossos chifres da mesma altura que a cabeça, levemente torcidos em si mesmos e direcionados para cima pareciam sair do capuz. Em suas costas, enormes asas da forma como se esperaria ver em anjos de antigas pinturas, mas torcidas estranhamente de modo que a figura pudesse parecer estar de pé, batiam para baixo, recuperando a altura de pelo menos um metro no ar que sempre perdia enquanto as asas se levantavam para preparar outro golpe no ar. Da manga direita do robe, havia uma lâmina azul-escura que descia até os pés.

Boquiaberto, o mago não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar.

– ...eira...

Mer Ellot ouviu o homem no chão falar algo, mas não se atreveu a tirar os olhos daquilo no céu.

– ...ra... Ba... – com uma pequena pausa, tentou falar mais uma fez – Barrei... – mas a força que fez falou acabou fazendo-o começar a tossir repetidamente.

O jovem tinha entendido. Levantou todo o braço para o alto e a palma de sua mão brilhou. Ainda não precisava voltar a dizer o encantamento.

Logo você não aguentará mais mantê-la.

Ouviu novamente a voz em sua cabeça. Ou, talvez, sentiu. Sabia que não tinha ouvido. Poderia ter ouvido as palavras mesmo se fosse surdo. Era mais como se fosse um pensamento, mas a voz era extremamente diferente dos seus.

Não sabia explicar com palavras, mas sabia que aquelas que agora pouco ouvira não pertenciam à sua cabeça. E assim como se realmente estivesse ouvindo, sabia que sua origem era a figura no ar com asas.

E o que quer que fosse aquilo, estava certo. O rubi em seu cetro foi esvaziado ao erguer a barreira. Converter magia para pedras e usar a forma refinada era uma coisa. Ele não sabia controlar sua forma pura. Nunca aprendeu a utilizá-la diretamente, e o resultado era o óbvio: o inimigo nada fizera, mas o jovem já estava sentindo os primeiros sinais do cansaço.

– Arke... – falou o homem no chão ao seu lado, Vanto.

Mer Ellot sentiu um aperto em seu peito. Arke era o nome do homem que deixou morrer. Vanto tinha gritado quando ele morreu, lembrou. Lágrimas quiseram sair dos olhos, mas Ellot as segurou. Era culpa dele, ele sabia. Vanto iria culpá-lo, era óbvio.

– Cris... cristal...

Olhando para baixo, viu que o homem estava apontando para o corpo do morto. Um cristal! Se pudesse usar a reserva...

– Mas... eu... eu não posso me mexer! – falou. Não podia sair do lugar. Se tirasse os pés do chão, a barreira seria desfeita. O ser com asas continuava no mesmo lugar, meramente observando e esperando. Os quatro feridos não poderiam fazer nada, e Vanto, no chão, não conseguia nem falar direito. Ninguém ali além de Mer Ellot poderia lutar, mas a reserva de energia em seu corpo acabaria e, junto com a barreira, qualquer possibilidade de se defender ou atacar sumiria. O inimigo sabia que ele faria o favor de derrotar a si mesmo, pensou o mago.

“Não sou nada incrível...” comentou para si mesmo, lembrando das palavras de Arke.

Notou um movimento e olhou: o homem com as pernas queimadas estava rastejando na direção do corpo decapitado. A careta que ele fazia ao arrastar as pernas no chão parecia deformar o rosto todo, mas ele não diminuía de velocidade.

O inimigo encapuzado também percebeu, e começou a golpear a barreira com a lâmina azul-escura com golpes em rápida sucessão. No quinto golpe, não levantou a lâmina: o ar em volta da ponta da arma estava brilhando levemente na cor branca.

Embora não conseguisse discernir face alguma, Ellot poderia jurar que aquilo no ar tinha sorrido com os cantos dos lábios. Ambos sabiam que a barreira tinha cedido. Ainda estava ali, mas menos de vinte daqueles golpes bastariam para quebrá-la.

A figura negra levantou a lâmina, preparando-se para um novo golpe.


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