A Mulher da Casa escrita por sisfics


Capítulo 10
Capítulo Nove: Do Céu ao Inferno.




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Isabella Pov

O carro deslizou suavemente até parar por completo na frente da portaria do prédio. Mordi o lábio engolindo a vontade de não me mover, afinal sabia que era muito errado realizar esse meu desejo. Eu precisava ir embora.

Desafivelei o cinto de segurança, espiei o banco de trás onde Nessie dormia tranqüilamente e destranquei a porta. O som fez Edward acordar e segurar mais firme no volante. Minha garganta estava seca demais para dizer qualquer coisa e meu nervosismo também o impedia. Sequer olhei seu rosto, só fiz um sinal com a mão tentando esboçar um agradecimento pela carona e saí do carro.

Entrei com minha chave, fechando o primeiro portão. Só então o Mercedes arrancou, mas minha coragem de me virar e ver se suas esmeraldas me mediam ainda de longe ou não se esvaiu. Subi desanimada os degraus, o porteiro abriu a segunda porta para mim e me recebeu com um sorriso. Agradeci a delicadeza, mas não perdi mais tempo, precisava correr até o lugar que achava mais seguro no momento.

Ao entrar no apartamento, encontrei Alice cochilando no sofá com a tv ligada e Rosalie estudando na mesa da cozinha. Outra sensação tomou conta do meu corpo, dominando meus sentidos, quando notei já estava sentada na poltrona completamente zonza com Rose ao meu lado chamando Alice que resmungava um pouco por ter que se levantar.

- Bella, o que houve? Você está pálida. Está se sentindo bem?
- Não. - consegui murmurar de olhos fechados.
- Então, o que houve?
- Estou meio zonza. Minhas pernas estão moles. Minhas mãos suando. E meu coração, droga. Não consigo respirar.
- Pode ter sido um pico de pressão. - Alice sussurrou e elas começaram a confabular.

[i]'A única explicação é que estou apaixonado por você.'[/i] - sua voz foi novamente tão clara que me fez arrepiar, Rose notou e envolveu com mais força meus dedos.

- Foi uma tonteira? - perguntou preocupada.
- Não, foi uma loucura.
- O que disse?
- Só pode ser loucura, brincadeira.
- Do que está falando?
- Eu não quero mais ser uma peça nesse jogo.

Estava tão irritada pelo tanto que fui idiota essa noite. Ter deixado Edward dizer tolices como aquela, ainda por cima na frente de sua irmã que viera com toda aquela idéia de namoro e foi mesmo quase impossível de controlá-la depois do que presenciou. Como se ele, [i]logo ele[/i], pudesse mesmo se apaixonar por alguém. Como se pudesse se apaixonar por uma garota [i]como eu[/i]. Era uma brincadeira, eu sabia, mas meu coração idiota parecia querer me fazer sofrer mais uma vez. Não bastava tudo que já vivi no passado e agora ele estava se tornando fraco de novo e querendo acreditar naquele imbecil.

Lembrei do quanto foi difícil manter-me quieta no caminho de Port Angeles até aqui. Segurar minha vontade de pedir que me levasse de volta para a mansão, que me abraçasse como fez no deque, me beijasse e repetisse as palavras que proferiu quase aos berros no parque. Eu só queria saber o que estava acontecendo a nós dois.

- Isabella, está nos ouvindo? - pareceu perguntar pela segunda ou terceira vez, então fiz que não com a cabeça e recomecei.
- O que faço agora?
- Acho melhor só descansar e se ainda se sentir mal pela manhã te levamos em algum médico. Talvez Carlisle. Pode ser sério. - Alice disse passando a mão pelo meu braço.
- Mas é sério. Se ele não estiver mentindo, então será uma das coisas mais sérias que já ouvi na vida.
- Ele mentindo? De quem está falando?
- De Edward. - Allie que já voltava a se aconchegar nas almofadas deu um solavanco para frente que quase a fez cair do sofá.
- Essa pergunta começou a ficar algo repetitivo. O que ele fez dessa vez?

Mordi o lábio, colidindo meus pensamentos e minhas lembranças num borbulhar infinito.

- Edward me beijou de novo. Na frente de uma pequena multidão, na frente de sua irmã. Edward disse que confiava em mim e pediu que eu fizesse o mesmo. Ele disse que está... apaixonado por mim. Me ajudem, por favor? Eu não sei o que faço.
- Apaixonado por você? Como assim?
- Bells, conta devagar o que aconteceu. - Rose pediu.
- Eu estava na mansão essa manhã e pretendia voltar para casa, mas Rennesme me chamou para ir ao parque em Port Angeles com seu pai. Quando chegamos na garagem, descobri que era Edward que nos levaria. No início fiquei tão nervosa que agi mecanicamente, entrando no carro e seguindo até o parque, mas quando chegamos lá ele parecia tão estranho e violento. Comprou os ingressos, nos deu dinheiro e foi embora mesmo com Nessie pedindo que ficasse. Pediu que nós o esperássemos oito e meia na porta do parque, mas ainda não era a hora marcada e ele entrou para nos procurar. Sua irmã estava num brinquedo e eu a esperando do lado de fora. Edward agarrou meu braço, começamos a discutir e, aconteceu o que já contei, ele disse que eu precisava confiar nele, pois ele confiava em mim e a única explicação para o que estava acontecendo era que estava apaixonado.

As duas terminaram de me ouvir, mas não expressaram imediatamente qualquer esboço de preocupação como esperado. Encontrei sim um certo choque, mas somente isso e alegria. Rose se levantou um pouco e se sentou na mesa de centro, seguida por Alice.

- Esse garoto. - murmurou fascinada - Ele é mesmo uma incógnita.
- Tá, uma incógnita. E o que devo fazer agora? Preciso terminar com essa babaquice o quanto ant-
- Espere. - Allie me interrompeu - Porque quer tanto acabar com isso?
- Porque Edward não tem o direito de fazer isso comigo.
- Porque Edward não tem o direito de fazer você se apaixonar por ele? - Rose perguntou cruzando os braços.
- Eu apaixonada? Por favor, meninas, vocês não ouviram mesmo o que eu estava contando, não é?
- Melhor do que pensa. Ouvimos uma garota pedindo socorro porque não entende o que está acontecendo consigo mesma e estamos lhe dando uma resposta. Se ficou nervosa assim pelo que ouviu, Bella, não foi por medo ou raiva. Tenho quase certeza que você sente o mesmo por ele.
- Não, vocês não entenderam. Edward disse aquilo para me calar, para se aproveitar, ou sei lá. Eu ainda não sei qual o [i]novo planinho estúpido[/i] dele, mas seja o que for não vou cair numa mentira. Se ele quer fazer papel de pobre coitado, vai desperdiçar sua encenação com as paredes, pois não vou acreditar numa palavra que disser. - tentei me levantar, mas Alice puxou-me contra a almofada.
- Você não vai acreditar ou tem medo?
- Medo, porque eu teria medo?
- Porque gostou do que ouviu, queria que ele repetisse, no fundo sabe que sente o mesmo, mas tem receio de admitir e descobrir que tudo não passou de mais uma mentira e então se magoar.

- Já sei que é uma mentira. Não preciso de todas essas etapas. - ri sem humor.
- Mas você sabe que sente o mesmo, não sabe?
- Ah, não preciso ouvir mais essa baboseira. - me levantei, ignorando o que falavam, e corri até meu quarto no final do corredor.

Era impossível acontecer comigo. Nunca me apaixonei por ninguém, na verdade, nem tinha tempo para pensar em amor. Tranquei a porta, troquei de roupa e me deitei na pequena cama no canto da parede. Havia tantas coisas passando pela minha cabeça. Carlisle jamais poderia descobrir o que aconteceu entre Edward e eu, teria que pedir a Rennesme que jamais falasse sobre aquele assunto, teria que inventar mais mentiras.

Mordi o lábio imaginando se sentiria também falta de Edward quando fosse embora dali. Do seu sorriso torto, o jeito irritante como bufava quando se sentia acuado, do verde folha de seus olhos. Essa cidade estava me fazendo mais mal do que eu poderia imaginar. Será que o que me aflingia tanto era mesmo amor?

Todos que amei nessa vida se foram, ou me magoaram, ou me abandonaram. Tinha tanto medo que isso acontecesse de novo, por isso depois que fugi de casa e passei por tantos lugares evitava criar carinho e se aquilo acontecesse voltava a fugir. Mas Forks tinha sido diferente desde a primeira vez. Fui dormir pensando no porquê.

Três semanas depois

- Bella. - Nessie entrou na cozinha quase aos gritos o que me fez deixar o prato escorregar da mão e cair dentro da pia - Te assustei? - perguntou de olhos arregalados.
- Imagina. - abri a torneira e terminei de lavar a última louça, para enfim secar as mãos e dar atenção a pequena - Diga-me o que aconteceu. - me agachei ao seu lado.

Rennesme passou a mão pelo meu cabelo e sorriu.

- Estava lá em cima com papai. Ele me pediu que te chamasse. Parece ser importante.
- Carlisle quer falar comigo? - perguntei para mim mesma.
- Sim. Ele está no escritório e disse que era um assunto particular quando perguntei.
- Ah, sim, eu vou subir agora.
- Quando voltar, vai arrumar sua bolsa para voltar a cidade ou ficará o resto do sábado conosco? - pensei bem.

Edward saiu pela manhã de moto, não voltaria muito antes de escurecer, e mais uma vez fugiria desse encontro.

- Vou para a cidade. - ela deu de ombros com um enorme pesar.
- Tudo bem. Papai está te esperando. - acertei um beijo na sua bochecha e me levantei.

Subi as escadas até o terceiro andar um pouco ansiosa em saber o que o doutor teria para tratar comigo de tão importante e também tão particular. Bati duas vezes na porta antes de entrar e o encontrei sentado na grande cadeira do outro lado da mesa de mogno com um sorriso apreensivo no rosto.

Assim que me viu, pediu que entrasse e fechasse a porta. Hesitei um pouco, só me sentando quando pediu que o fizesse. Carlisle digitou algumas coisas no teclado do notebook e suspirou.

- Perfeito que ainda esteja aqui. Pensei que seria tarde demais e teria que correr atrás de você na cidade.
- É tão importante assim, doutor?
- Já disse mil vezes, Bella. Chame apenas Carlisle. - sorri - Sim, é muito importante, algo que somente você pode me ajudar.
- Pode dizer.
- Lembra quando lhe contei sobre meus contatos que chegaram até seu irmão? - assenti angustiada - Tenho notícias melhores dessa vez.
- No-notícias boas? - meu coração disparou.
- Sim. Parece que conseguiram localizar o orfanato em que ele passou a primeira semana depois de sair da casa de sua tia. Isso é até crime federal, mas a minha amiga conseguiu um scanner da ficha dele e gostaria que olhasse a foto já que mal me lembro da antiga que vi e que também verificasse o nome de seus pais. Pode fazer isso?
- Claro.
- Então venha aqui. - fez um sinal com a mão, me levantei e dei a volta na mesa parando ao seu lado.

Ele abriu um arquivo em seu computador, aparecendo na tela a imagem que falou. A última vez que vi meu irmão, Willian não passava de um garotinho. Agora seus traços estavam um pouco mais fortes. Os olhos cada vez mais parecidos com os de minha mãe, os fios lisos e loiros começavam também a escurecer. O rosto era tão parecido com o do meu pai que me senti até meio estranha.

Uma lágrima escapou pelo meu olho e dei um grande sorriso só por ver que ele estava bem. Ao menos, era o que parecia pela foto.

- Tudo bem, Bella? - Carlisle perguntou me fazendo olhar para baixo.

Ele me encarava com um sorriso meio torto. Era como um pedido de desculpas silencioso, mas não havia nada errado ali. Sem segurar meu impulso, o abracei com todas as minhas forças e agradeci quando consegui recuperar a voz presa no peito. Ele se surpreende um pouco, mas me abraçou de volta e depois se afastou corado me lembrando Jasper.

- É ele. - li o nome completo de meus pais e mais outras informações - Os dados estão certos. Carlisle, meu irmão está bem, certo? Sabemos onde ele está.
- Sim, Bella. Mas a informação ainda não está certa. Como eu disse essa é a ficha do orfanato onde passou sua primeira semana, foi transferido depois disso, mas minha amiga já está atrás de novo. - assenti ainda confiante e voltei para minha cadeira com um enorme sorriso.
- Não imagina o que sinto por vê-lo bem. Como ele cresceu.
- Sim, er, pensei em adotá-lo. - soltou me fazendo congelar quando entendi.

O choque me impediu de responder imediatamente. Carlisle aplicava uma força exagerada enquanto segurava a mesa com uma das mãos e a outra fechava o notebook. Foram vários minutos de silêncio. Eu não sabia o que aquilo poderia significar. Rastrear meu irmão já era muito mais do que ele precisava fazer, agora adotá-lo. Gostaria de saber de onde teve essa idéia.

- Como disse?
- Bem, er, não sei se isso é o que você quer. Mas, depois daquela tarde que lhe contei sobre seu irmão ter sido levado para adoção, eu pude perceber o quanto era doloroso te afastar dele. Então, sou um homem com ótimas condições financeiras, tenho outros filhos e sei que não seria assim tão difícil, nem tão burocrático, adotar uma criança. O nosso combinado quando estava doente e morava escondida no quarto de empregada foi que você ficaria aqui isolada de tudo até completar sua maior idade, mas então pensei que você não tem para onde ir quando esse tempo acabar. Bella, você se tornou especial para todos nós e gostaria muito que continuasse aqui. Nada mais do que justo trazer seu irmão para viver com você. Não pense que estou tentando, não sei, te chantagear para ficar. - coçou a cabeça confuso - Você é como uma filha para mim e também uma irmã para meus filhos. Você criou raízes nessa cidade por causa dessa casa e também das amigas que fez. Só gostaria de te dar uma opção a mais. Não se ofenda, não estou te obrigando a ficar, só pedindo que o faça pelo seu bem. Se aceitar, trago também seu irmão para viver conosco.
- Carlisle, eu-
- Não diga nada agora. Pense bem no que te disse. Pelo tempo que precisar.

Procurou afoito por um pedaço de papel na gaveta e uma caneta. Escreveu bem rápido algumas linhas e o me entregou.

- Aqui está o endereço de e-mail e também o telefone da agente social amiga que me fez encontrar seu irmão. Eu disse a ela que gostaria de adotá-lo e que ligaria de novo para confirmar. Fica na sua mão. Você liga se quiser.
- Tudo bem. - sussurrei.
- Er, acho que terminei o que tinha para conversar. - ele tentava segurar um grande sorriso de alívio - Tenho que ir agora. Tenho dois assuntos muito importantes para tratar no hospital e quero voltar antes de escurecer para passar a noite com Rennesme. Prometi assitir uns filmes com a baixinha. - eu sorri, segurando uma lágrima e levantei quando fez o mesmo - Quer uma carona para a cidade, Bella?

- Não, doutor. Eu- eu ainda tenho que arrumar algumas coisas antes de sair e também esqueci a chave do apartamento. Preciso esperar até que uma das duas esteja em casa. - fui convincente na minha mentira.

Carlisle assentiu e saiu do escritório. Eu só não gostaria de passar tanto tempo sozinha ao seu lado enquanto ainda não tivesse uma resposta. Saí também e fui direto para meu quarto. Fiquei sentada na cama tentando não pensar em muita coisa e só depois que tive certeza que ele já havia saído para o trabalho é que comecei a arrumar minhas roupas.

Fiz a mochila com pressa colocando tudo dentro sem nem me dar o trabalho de arrumar. Troquei de blusa, pus um casaco preto por cima e joguei a bagagem sobre as costas. Precisava de algo para ocupar minha cabeça pelo longo caminho até o apartamento, então me lembrei de músicas que Alice colocara no meu celular. Conectei o fone-de-ouvido, os encaixei e aumentei o volume até que não pudesse ouvir nada do mundo exterior.

Saí da mansão pelos fundos, caminhei pelo campo lateral até estar na pequena estrada de terra que desembocava na principal. O papel parecia pesar toneladas no meu bolso. A proposta de Carlisle fizera meu coração dançar de alegria. Eu estaria vivendo rodeada de uma família que amava, de amigos que faziam parte de mim e não estaria traindo meus laços pois Willian estaria ao meu lado e bem assim como eu.

Já teria mais de dezoito, o conselho tutelar não poderia vir atrás de mim. O futuro brilhante começava a ser pintado de frente aos meus olhos.

A saída para a estrada estava só a dez passos. Preferi atravessar logo ali que quase nunca passava carro do que me arriscar ir até a principal para pegar o ônibus do outro lado. Ainda pensando, puxei de dentro do bolso da calça o papel com a letra de médico de Carlisle com os contatos que eu precisava.

Mordi o lábio, reprimindo o desejo de ligar para ela agora mesmo. Uma rajada de vento atingiu contra meu corpo quando já estava quase do outro lado me forçando a levantar o ante-braço e cobrir o olho por causa das pequenas folhas secas que voavam ao meu redor.

O papel fugiu da minha mão com o vento. Corri atravessando de volta a estrada atrás da folha, mas congelei ao ouvir o rompante agudo e tão próximo. Puxei os fones de ouvido. A moto de Edward deitada no chão voava para longe da entrada de carros soltando faíscas, enquanto seu corpo estava deitado no asfalto, o capacete longe e o rosto sangrando.

- Ah, meu Deus, não. - corri o mais rápido que pude.

Assim que estreitei os metros que nos distaciavam, olhei para trás e vi que o tombo deve ter sido causado pela pista que estava completamente escorregadia. Me ajoelhei a seu lado e chamei seu nome. Ele não moveu o corpo, mas soltou um gemido de dor abafado. Sua camisa estava rasgada, o ombro e a face esquerda ralados pelo asfalto.

- Edward, está me ouvindo? - uma motorista saltou de um carro que parou na hora do acidente.
- Meu Deus, ele está bem? - a mulher perguntou.
- Eu não sei.
- Vou ligar para a emergência. - puxou o celular do bolso e apertou rapidamente as teclas.

- Edward, pode me ouvir? Sou eu, Bella. Por favor, responda. - seus olhos se abriram uma fresta, mas que logo se fechou.
- Meu braço. - não passou de um murmúrio que não teria notado se não estivesse tão próxima de seu rosto.

- Eu já chamei a ambulância. Eles logo vão chegar. - me ergui um pouco e agradeci a senhora - Onde estava com a cabeça, menina? - perguntou me deixando confusa - Ele jogou a moto no chão só para não te atropelar.

[...]

Já passava de uma e meia da manhã, ninguém havia me procurado, nem mesmo Carlisle, o que só fazia minha preocupação aumentar ainda mais. Vir ao lado de Edward na ambulância, avisar sua família foi o máximo que pude fazer, mas essa sensação de mãos atadas me deixara mais do que inquieta, me deixara quase louca. Ainda para piorar minha situação havia o medo de ser reconhecida.

Uma parte de mim insistentemente gritava para que eu fosse embora, mas já abandonei Nessie uma vez, não poderia fazer o mesmo com Edward. Não sendo a culpada do acidente, não com aquele aperto em meu peito diferente de tudo que já senti.

Cansada da espera me levantei, caminhando sem querer ser notada pelo longo corredor, até chegar a recepção. Havia duas mulheres conversando entre murmúrios. Assim que me aproximei, elas se silenciaram e a que estava sentada voltou sua atenção para mim.

- Pois não?
- Er, eu gostaria de informações sobre o rapaz que chegou no final da tarde de um acidente de moto.
- O filho do doutor Carlisle? - a que estava em pé perguntou olhando para mim.

Assim que olhei em seus olhos a reconheci. Era a mesma enfermeira que entrara no quarto onde eu estava quase tentei fugir pela primeira vez do hospital logo antes de me apagarem e Carlisle aparecer. Minhas pernas bambearam, abaixei um pouco o rosto, mas então pensei bem. Milhares de pacientes passam nas mãos dessas enfermeiras e eu estava bem diferente de quando fui tirada da estrada, não havia grande chances de se lembar e assim relaxei um pouco.

- Sim. Edward Cullen.
- Você é a menina que veio com ele na ambulância? - a que estava sentada perguntou.
- Sim, sou eu.
- Leve-a até o quarto, Collins. - ela deu a volta, saindo da recepção e parando ao meu lado - Volte em seguida, ainda temos outras coisas para conversar. - a moça riu e passou uma mão pelo meu ombro me guiando até o elevador.

A porta se fechou, estávamos sozinhas, então perguntou:

- Você é amiga do filho do doutor?
- Er, acho que sim. Quero dizer, somos, somos amigos. - me observou intrigada.
- Não nos conhecemos de algum lugar?
- Eu duvido muito. - respondi para os números dos andares rezando para que o nosso chegasse - Nunca vim a esse hospital. E, sinceramente, nunca mais volto.

Chegamos ao nosso destino, pulei da caixa de metal em busca de ar e olhei para os dois corredores que se alongavam.

- Por aqui, querida. - indicou o lado direito.

Andamos só mais alguns poucos metros, até que pediu que parasse e com o dedo esticado mostrou uma porta a esquerda.

- É ali. O doutor está com o filho. Ele pode estar ainda um pouco zonzo, mas não há problema se entrar. Caso precise de mais alguma coisa pode pedir para me chamar.
- Obrigado.
- Não há de quê. - voltou por onde viemos.

A porta do quarto estava entreaberta, apoiei a mão na maçaneta e espiei um pouco antes que qualquer movimento. Carlisle estava em pé ao lado da maca, lendo algo preso numa prancheta em sua mão. Edward, deitado, tinha o ombro e o braço esquerdo enfaixados. Seu rosto também estava coberto com curativos e seus olhos se perdiam em algum ponto no teto.

- Nenhum arranhão? - sua voz embargada me pegou de surpresa.

Seu pai levantou o rosto pasmo como se compartilhássemos o mesmo sentimento. Ele apoiou os papéis na mesa de cabeceira ao seu lado e sorriu.

- Sim, meu filho. Bella não se machucou. Porque tão desconfiado?
- Eu poderia jurar que não tinha conseguido virar a moto a tempo.
- Me explique como aconteceu. - ele suspirou parecendo se lembrar dos detalhes.
- Hum, eu estava pronto para entrar na estrada de terra que leva até a mansão. Bella estava correndo na entrada, quis jogar a moto de volta para a pista que estava, mas vinha um carro logo atrás de mim, então deitei a moto. Eu só me lembro disso. - soltou um gemido.
- O que houve? - o pai perguntou preocupado.
- Minhas costas ardem. - tentou rolar de lado e teve ajuda.
- São os curativos. Quer se sentar por um minuto?
- Sim. - com dificuldade conseguiu jogar as pernas para fora da maca e sentou - E a moto?
- Não está mesmo fazendo essa pergunta, não é? Dane-se essa porcaria de moto. Maldita hora que sua mãe te deixou comprá-la. Tomára que não haja recuperação.
- O estrago foi tão grande? - perguntou arregalando os olhos, quis rir mas me controlei.

Carlisle balançou a cabeça de um lado para o outro e se afastou.

- Vou ligar para casa. Nessie não dorme enquanto não tiver notícias suas. Ficará bem sozinho?
- Ficarei ótimo. - resmungou.

O médico caminhou na direção oposta do filho, por isso me esquivei para a parede antes que nos esbarracemos. Ele se surpreendeu um pouco ao meu ver e sorrindo fechou a porta.

- Pensei que não estivesse mais aqui, Isabella.
- Desculpe, doutor. Eu precisava vê-lo. Eu-eu não queria. - apontei para o quarto sem saber o que dizer.
- Estava ouvindo a conversa? - assenti envergonhada - Não se sinta culpada pelo acidente. Edward ficará bem e não guardou rancor de você. Pelo contrário, estava mais preocupado se tinha te atingido do que com o braço.
- Ah. - senti minhas bochechas esquentarem e abaixei o rosto.
- Não deveria estar mais aqui. - Carlisle sussurrou bem perto de mim.
- Eu sei, doutor. Me desculpe. Só queria ver se ele estava bem.
- Não precisa pedir desculpas por isso também. Entendo sua preocupação. Porque não entra para conversar com ele? - levantei o rosto negando rapidamente - Entre, Bella. Tenho certeza que ele vai gostar de te ver. Não se preocupe em ser interrompida por enfermeiras, médicos, isso não vai acontecer. Não se preocupe em ser reconhecida. - pensei por alguns segundos, então assenti.

No fundo, estava louca para ter aquele encontro que a semanas adio. Carlisle deu espaço para que eu passasse e depois seguiu seu caminho. Segurei a maçaneta sem firmeza e a girei. Edward continuou de cabeça baixa até ouvir a porta trancar novamente.

- Pai, essa-

Nossos olhares se encontraram.

- Oi, Edward.
- Bella. - abaixou a cabeça e sorriu - Como Carlisle disse. [i]Nenhum arranhão.[/i]

Também tive vontade de sorrir ao ver que estava melhor do que eu esperava. A faixa cobria seu ombro, braço, costas e costelas. Não notei quando ele levantou o rosto e começou a encarar-me com aquele típico deboche impresso no canto dos lábios.

- É, foi um belo estrago, não acha? Quebrei o braço em três lugares. - abaixei o rosto corando - O que foi?
- Me desculpe. Por favor, me perdoe, eu deveria ter tomado mais cuidado. Nada disso teria acontecido se não fosse tão idiota e estabanada.
- Não na opinião de Carlisle. - riu, levantei a cabeça confusa e ele deu de ombros - É sério. No fundo ele culpa somente a minha imutável irresponsabilidade e talvez até quisesse que alguma coisa assim acontecesse para tirar a moto de mim. O que foi? Porque me olha assim? - não sabia que cara estava fazendo, mas realmente não acreditava no que estava ouvindo.

- Não diga besteiras assim.
- Só estou brincando. - ele se ajeitou ainda desconfortável e fez uma cara de dor por se mover.

Me aproximei angustiada, ficando de frente para ele, e o ajudei a puxar o cobertor debaixo de seu corpo para que não se esforçasse mais. Assim que terminamos, notei o quanto estava próxima, bastava levantar um pouco o rosto para encontrar seus grandes olhos verdes, mas não me atrevi a fazê-lo.

- Como pode pensar em humor uma hora dessa?
- Simples compensação. - cruzei os braços e bufei - Porque está aqui? Pensei que tivesse pavor de hospitais ou algo parecido.
- Só queria, na verdade, precisava ver se estava bem.
- Pois bem, já viu, não precisa se sentir culpada. [i]Já pode cair fora.[/i]

Sua resposta foi tão fria que assustou. Não conseguia entender suas mudanças de humor que só desordenavam ainda mais meus pensamentos. Seu rosto estava baixo quando, o lábio mordido e uma ruga no cenho. Quando levantou os olhos, esqueci todo meu medo e fui surpreendida com o desejo de abraçá-lo.

Cada um daquele infitos traços verdes me traziam tamanho conforto que jamais pensei encontrar. Mergulhar naquela imensidão era a melhor viagem que já fizera, a melhor que poderia imaginar fazer. Não queria admitir, mas havia sim algo acontecendo dentro de mim, algo que me puxava para cada vez mais perto. Como um grande imã forçando aquele encontro.

Sua boca se entreabriu não acreditando no que via. Eu também não conseguia acreditar nem um pouco que estava me encaixando entre suas pernas e me debruçando para seu rosto. O perfume era tão delicioso que esqueci de tudo. Meu nariz tocou seu queixo e inspirei profundamente.

O braço bom de Edward me envolveu, trazendo-me para ainda mais perto. Tive certo medo de tocá-lo e assim machucá-lo ou provocar dor, mas delicadamente avancei até deixar um beijo no seu maxilar. Sua mão afagou minha cintura e as minhas foram para suas costas longe das ataduras.

Nossas bocas se encontraram, um arrepio discreto desceu por minha espinha deixando também minhas pernas moles. Nos encaixamos, ele se moveu bem devagar chocando nossos hálitos. Meu coração estava disparado, havia um formigamento em cada extremidade do meu corpo e até perdi a estima por respirar, por mim eu só o beijaria por dias seguidos.

Nos separamos só quando mesmo muito necessário, mas mantive nossas testas coladas. Edward já me observava quando abri os olhos.

- Porque fez isso? - perguntou roçando seu lábio ao meu.
- [i]Não sei. Eu. Droga, estou confusa.[/i]
- Eu sempre fui. Não se preocupe. - fechei os olhos sentindo sua língua se enroscar com a minha mais uma vez.

Seus dedos se embrenharam nos meus cabelos, os afagando com carinho. Apoiei uma mão em seu ombro bom para ganhar impulso e aprofundar o beijo, mas fomos surpreendidos com o som da porta sendo aberta. A primeira coisa que veio a minha cabeça foi Carlisle entrando e nos encontrando daquela maneira, mas me surpreendi ao me afastar e encontrar o médico daquela noite. Doutor John.

Ele não olhou para meu rosto, apenas para a situação, por isso fui rápida o suficiente para mirar fixamente o chão e virar-me para a parede.

- Er, acho que atrapalhei. Com licença. - o clique me fez pensar que tinha ido, mas ao virar o rosto vi sua sombra passar ao meu lado na direção da mesa de cabeceira.

Voltei para o lado de Edward, onde me sentia mais segura, escondendo-me atrás de seu braço ou ainda dos cabelos o máximo que podia sem também chamar muita atenção.

- Definitivamente, atrapalhou. - ele rosnou, o médico levantou o rosto da prancheta com um sorriso debochado e deu de ombros.
- Onde está seu pai, meu rapaz?
- A menos que tenha se escondido no meu bolso acho que aqui ele não está. Poderia nos dar licença?
- Alguém já lhe disse que tem o senso de humor da sua mãe? Não estamos no horário de visitas. Além do mais, não deveria estar deitado e dormindo?
- Sim, mas não estou. Quanto ao meu senso se humor, parece que é tão ácido quanto o senhor metido. Agora poderia nos dar licença?
- A senhorita é? - perguntou para mim me fazendo tremer.

Meu braço estava encostado no de Edward e acho que notou minha reação pois logo em seguida prendeu seus olhos em mim só se desviando quando o encarei também.

- Ela precisa responder a pergunta? Isso aqui é uma prisão de segurança máxima? Vai querer revistá-la também? [i]Amigo, aí você vai ter um problema.[/i] - o médico bufou.
- Por favor, rapaz-
- Ela é uma amiga [i]muito íntima[/i] da família e tem o direito de estar nesse quarto pois está me fazendo companhia e cuidando de mim ao contrário de outros que até agora só serviram para empestiar o ambiente de arrogância e falta de educação. O senhor é médico então deve saber onde seu colega está, agora nos dê licença, por favor?

Doutor John saiu sem querer discutir e só então pude respirar em paz. Precisava sair dali imediatamente. Afastei-me da maca na direção da porta, mas Edward agarrou me braço.

- Pode me explicar o que foi isso?
- Solte-me, por favor. Preciso ir.
- Não sem antes me explicar o que aconteceu. - me puxou para mais perto.
- Esse beijo. Não sei o que houve. Preciso mesmo ir.
- [i]Não estou falando do beijo.[/i] - rosnou - Porque teve tanto medo quando aquele homem entrou? Você empalideceu, tremia e sequer conseguiu erguer o rosto. Porque essa reação, Bella?
- Não preciso respondê-lo. É impressionante como até numa cama de hospital não pode me deixar em paz. Solte meu braço agora.
- Me dê uma resposta.

Edward era a pessoa mais teimosa e decidida que já encontrei. Sabia que não me deixaria partir enquanto não extraísse uma maldita respota satisfatória a qual com mentiras eu não conseguiria suprir e com verdades só ameaçaria mais meu disfarce. Precisava dizer a única coisa que o faria me soltar, confirmar suas suspeitas - se é que elas ainda existiam - nem que só aumentasse o aperto da corda no meu pescoço. Agarrei sua mão, aproximei bem nossos rostos e respondi da maneira mais fria o possível.

- Fiquei nervosa porque não quero que essa [i]estupidez[/i] chegue aos ouvidos de Carlisle. Não posso perder [i]tudo[/i] que ele me dá por sua causa, por um de seus caprichos. - seu aperto afrouxou e sua boca se abriu sem som - Agora com licença, [i]garoto.[/i] Eu tenho com o que mais me preocupar.

Me libertei e saí. Meu coração gritava que eu não devia ter dito aquilo. Não foi uma afirmação de que tinha um caso com seu pai, mas era o suficiente para sua cabeça imaginativa. Olhei para os dois lados do corredor e parti. Cheguei no apartamento e fui para meu quarto. Me sentia péssima. Magoei nós dois mesmo depois do tanto que se arriscou para não me machucar.

No dia seguinte, contei a Rose e Alice sobre o acidente e o beijo, e o conselho que ganhei foi de contar a verdade sobre Carlisle, que era apenas um amigo, quase um pai. Eu amava Edward, assustava admitir, mas o queria. Contaria a verdade, somente sobre seu pai, mas temia por sua reação. Teria que esperar até segunda.

Edward Pov

- Bom dia, filho. - Carlisle entrou no quarto com seu sorriso costumeiro e uma bandeja com o café-da-manhã.
- Ah, o que faz aqui? - rosnei.

Ele parou no meio do caminho até minha cama assustado, mas meu mau-humor para todos era tão rotineiro que deu de ombros e fingindo não se importar acabou com o espaço que faltava. Mas não era um simples mau-humor, sentia ódio e sabia eu o porquê, só não gostava de pensar naquilo. O colchão ao meu lado afundou com o peso da bandeja, fechei os olhos e respirei fundo.

Carlisle deu a volta, se sentou do outro lado e puxou meu edredom para baixo, passando um dos braços por baixo do meu que não estava quebrado e apoiando a outra mão sobre meu ombro coberto pelas faixas.

- No três você se senta.
- Posso fazer sozinho. Tire a mão de mim.

Me ignorando apoiou o joelho firme contra meu travesseiro e contou até três me puxando para cima. Gemi de dor, a ardência nos meus ferimentos das costas e também o osso quebrado.

- [i]Puta que paril.[/i] - rosnei.
- Você acha que eu tenho tempo para sua manhas, Edward? Suas reclamações não me chateam mais. O antigo esquema não estava dando certo, então a partir de hoje será 'eu mando, você obece' e se não gostar já tem mais de dezoito anos, é esperto, pode ir embora quando quiser. - colocou a bandeja de comida apoiada em minhas pernas e apontou para dois comprimidos dentro de um pequeno pires - Tome. Ou a dor vai piorar.
- Se era só isso, já pode ir. - rosnei antes de engolir o remédio e beber um pouco de suco por cima.
- Preciso que preste atenção em mim. Tenho uma cirurgia marcada para essa tarde que não posso desmarcar, devo chegar muito tarde. Seu irmão vai viajar e só volta depois de amanhã, então preciso da sua colaboração. Bella vai cuidar de você e de Rennesme, então por favor, não dificulte as coisas para ela.
- Ué, papai, eu não seria cruel com a menina dos seus olhos. - ele bufou e se levantou.
- Um dia você vai entender, garoto.

E aquilo fazia todo sentido. Bufei e abaixei o rosto começando a comer a refeição que [i]ela[/i] preparara. Carlisle ainda me observou um pouco, mas então se lembrou de algo que teria que fazer e saiu do quarto apressado. Terminei a refeição e, com a força que me restara no braço bom, consegui colocar a bandeja no chão ao lado da cama.

Voltei a me deitar, o corpo dolorido e cansado. As cenas do acidente passavam repedidamente em minha cabeça. Quando a vi, não agi pensando, eu só precisava desesperadamente deixá-la à salvo. Suas palavras também não me passavam tranquilidade. Tanto poderia ter confirmado minhas suspeitas de que tinha um caso com meu pai quanto poderia estar só com medo de que ele visse e a despedisse por estar se envolvendo com seu filho.

Os pontos que tomei no ombro e também a imobilização estavam me irritando. Meu iPod estava logo na gaveta da cômoda. O peguei, encaixei os fones nos ouvidos e aumentei o volume até que estivessem mais insuportável que meus pensamentos.

O remédio começou a fazer efeito. Meus músculos relaxaram, a dor amenizou e minha vista ficou turva. Caí na inconsciência para minha sorte e não despertei um segundo sequer até a noite quando algo tocou meu nariz e sacudi o rosto assustado.

O quarto estava escuro, mas pude enxergar seu lindo sorriso.

- O que faz aqui? - Nessie passou a mão bem delicadamente sobre o curativo no meu rosto e suspirou.
- Acha que vai ficar cicatriz?
- Não me importo.
- Mas eu me importo. Você é bonito.
- Eu sempre soube. - fez uma careta e se aproximou deitando a cabeça em meu braço bom - O que faz aqui?
- Bella não queria me deixar vir. Disse que você estava dormindo, mas queria conversar. Ela agora está limpando a cozinha e as coisas do jantar, então dei uma escapadinha.
- Deveria obedecê-la.
- Mas você não obedece.
- Comigo é outra história. - ela riu - Que horas são?
- Oito. Bem, não posso ficar muito tempo.
- Porque?
- Bella está subindo para cuidar de você.
- Agora? - reconheci ansiedade em minha voz e por isso fechei os olhos e inspirei fundo irritado comigo mesmo.
- Hum, porque fez essa careta? - perguntou se afastando.
- Ela subirá agora?
- Daqui a pouco. Precisa terminar antes lá embaixo e também achar o curativo. Sabe onde Jasper foi?
- Não. Ele não me contou nada.
- Ele nunca te conta. Só perguntei porque talvez você o tivesse visto estudando.
- Estudando para quê?
- O ouvi conversando com Bella ontem. Disse que faria uma prova em Seatle, mas como eu estava escutando escondida, então não me atrevi a perguntar.
- Menina esperta. - assentiu se gabando.
- Bem, vi sua moto hoje na garagem. Como fará para consertá-la se papai está tão irritado com esse acidente?
- O problema é do papai. A moto é minha e eu conserto se quiser.
- Uh, então se você se garante. - cantarolou me fazendo rir - Vou para meu quarto. Se a Bella me pegar aqui, não fará mais minhas panquecas com calda de chocolate.
- Tudo bem, baixinha. - Rennesme chegou bem perto e beijou um pouco acima do curativo antes de sair.

Precisava me levantar, o que aliás seria uma batalha difícil. Me apoiei no cotovelo, joguei as pernas um pouco para fora da cama e parei um segundo para respirar. Ela então estivera no meu quarto enquanto eu dormia. Meu iPod estava na cômoda, a bandeja tinha sumido e eu estava coberto com o edredom. Mas, sinceramente, não precisava da pena de Bella.

- Estou muito bem. - rosnei e fiz impulso até me sentar, mas algo deu errado.

Acho que fiz força demais. Tive a sensação de que minha pele estava sendo puxada e os pontos escorregaram pelo corte. Me curvei um pouco sobre o colchão, não acreditando que consegui abrir a droga do machucado. Rosnei colocando a mão em cima. A faixa ficou quente e úmida com o sangue. A cama afundou ao meu lado, virei o rosto e a vi puxar a faixa de imobilização e apoiar uma gaze sobre o corte. Bella olhou nos meus olhos e abaixou a cabeça.

- Pode estar bem. Mas não sabe cuidar de si mesmo.

Pressionou com mais força o ferimento afim de estancar o sangue mais rápido, mas também causou dor e da forma que me olhava agora parecia ser intencional. Gemi em protesto e corrigi minha postura rapidamente. Bella se desequilibrou caindo um pouco sobre minha coxa.

- Fique quieto, por favor? Estamos sozinhos em casa, se der um jeito nesse braço não terei como te ajudar.
- Não preciso da sua ajuda. E eu sei sim cuidar de mim.
- Se sabe ou não, não me importo. Só peço que esqueça sua teimosia e seu orgulho por alguns minutos e me deixe cuidar de você. Somente essa noite, Edward. Depois se verá livre de mim.

Ela levantou o rosto, nos encaramos por um longo minuto até que suas feições de preocupada se tornaram tristes e desviei o olhar. A verdade é que eu não queria me ver livre dela, nem de nada que fizesse parte de Isabella. Estava tão tolo quanto Paul me avisara que ficaria.

- Ai. - gemi mais alto quando tirou a gaze que começava a grudar na linha cirúrgica.
- Me desculpe? Vou precisar que se sente bem na beira da cama.
- Para quê?
- Vou sentar atrás de você e tentar limpar isso aqui, colocar um curativo resistente até que seu pai chegue e veja a situação dos pontos.
- Não precisa. Coloque qualquer coisa em cima para estancar o sangue e me dê logo os remédios. Vejo isso com Carlisle depois.
- Coloque quantos obstáculos quiser. Prometi ao seu pai, não vou sair daqui até fazer o que preciso. - bufei.
- Colocando obstáculos, com certeza. Sinceramente, não precisa prometer nada a Carlisle, muito menos ficar de babá só porque não joguei minha moto em você. Não precisa sentir culpa.

Bella se jogou sentada atrás de mim, passando cada perna ao lado do meu corpo e puxou meu tronco para baixo com brutalidade para que alcançasse meu ombro.

- Você e as suas suposições, Edward. Tão preciptadas e preconceituosas. Com essa cara de menino mal entendido pelo mundo, mas também não faz nenhum esforço para entendê-lo.
- E o que você sabe de mim?
- Eu sei que... - vasculhou a caixa de remédio que trouxera consigo e achou um algodão e o iodo - Você é irritante, mimado e acha que o mundo deve orbitar seu umbigo. - limpou o curativo com rispidez, gemi e segurei o colchão com força.
- Ora, porque parou de falar? Continue e vê se não esquece de tirar o resto do meu braço que o acidente deixou para trás. - ela rosnou e encostou a testa na minha pele, assim como suas mãos estava fria.

Queria tanto sentir o mesmo ódio instantâneo que cultivei na primeira vez que a vi por sobre os ombros sentada em seu banco no Adam's admirando minha moto pela janela e sorrindo distraída, mas agora só conseguia implorar para que dissesse que sentia alguma coisa por mim. Eu precisava desesperadamente ficar com essa garota.

- Sempre tão criativo. - voltou aos cuidados no ferimento - Respostas na ponta da língua, justificativa para tudo, pelo visto não sou a única.
- Mas algumas coisas você deixa escapar.

- Ah, mas nesse quesito você é mestre. Deixa escapar os sentimentos dos outros e também os seus. Porque nasceu em berço de ouro e tem tudo que quer na mão esquece que não é assim que o mundo funciona. Não na vida real, Edward. Você tem sempre que ver maldade em tudo que está a sua volta, como se ninguém fosse bom o suficiente para alcançar nada sem um plano oculto, sem estratégias iguais a que você faz. Querer me tirar dessa casa foi genial. - desconfiei que estava chorando, mas não pude me virar, ela começava a finalizar o curativo - Colocar fogo na máquina de café, provocações, brincadeiras, me forçar a limpar o chão. Oh, que ótimo, humilhe a empregadinha, pois ela merece. Não passa de uma tola com um pedido de socorro escrito na testa. E sabe quem atendeu esse pedido de socorro, Edward? Foi o seu pai. Não é porque o viu me carregando no colo aquela noite que pode concluir que estamos juntos. O que tem na cabeça? Estava passando mal, no dia seguinte fui levada ao hospital, e o que ganhei em troca foi
castigo.

Bella parou, jogou o material que usou dentro da caixa que trouxera e limpou os dedos, mas depois nenhum movimento mais. Só sua respiração batendo contra minha nuca, embaralhando meus pensamentos que já estavam completamente perdidos. A nova informação só serviu para que sentisse mais raiva de mim por seu um completo idiota. Sim, eu acreditava nela. Me lembrei que Jasper cogitara isso quando o procurei para começar a infernizá-la e que também a vi tomando comprimidos e mais comprimidos nos dias seguintes.

- Edward. - não passava de um fio de voz - Só disse aquilo no hospital porque estava me sentindo confrontada por você que pedia respostas para o meu nervosismo. Não existe resposta. Queria me livrar o mais depressa possível daquele problema e foi a primeira e única solução que imaginei. A verdade é que depois de uma tarde que fui surpreendida durante uma brincadeira de pique-esconde com Nessie que vim parar no seu quarto, trancada no banheiro, enquanto você e Jasper discutiam, descobri as desconfianças e seus planos. Mas nunca tive nada com Carlisle, nem com ninguém, entenda. Só esperava que você visse com seus próprios olhos que na verdade eu estava aqui o tempo todo para você. - seus lábios tocaram minha nuca, ofeguei me sentindo estremecer com o arrepio - Estou tão culpada, por favor, me deixe ficar aqui um pouco com você. É sobre essas sensações novas.

Afinal, ela estava aqui porque queria ficar comigo ou porque estava se sentindo culpada?

Suas unhas escorregaram preguiçosamente pela minha pele e mais um beijo foi depositado na minha nuca enquanto me abraçava. Pendi minha cabeça para trás, aproveitando da sensação, mas então segurei seu joelho e me afastei.

- O que houve?
- Não quero que fique aqui porque está se sentindo culpada pelo acidente. Eu só fiz o que tinha que fazer. Repita meu gesto e vá embora. - me abraçou de novo.
- E se eu disser que descobri o que está acontecendo?
- Então, me explica.
- [i]Acho que também estou apaixonada.[/i]

Isabella Pov

Talvez depois que toda a tempestade passasse, a verdade completa poderia aparecer. Contar a história parcialmente não estava me fazendo bem. Foi por isso que fiquei tanto tempo em silêncio depois de falar para Edward sobre seu pai, havia um aperto no meu peito, um aperto de traição como se fosse uma necessidade muito forte contar a ele sobre meus pais, minha vida, minha fuga. Mas aquele não era um segredo só meu, mas também de Carlisle e agora de Willian já que o doutor desejava adotá-lo. Era um segredo que não poderia ser posto em risco.

Quando saí de casa, sabia que se me achassem acabaria voltando para as mãos de Vanessa. Foi o que aconteceu da primeira vez e meu castigo foi muito ruim. Então, eu fugi de novo e dessa vez sem nenhum erro. Era a fuga que durava até agora, mas se o conselho tutelar me achasse, eu não voltaria mais para a casa de minha tia, mas para um lugar muito pior. Não gostaria de ficar presa num reformatório. Combinado ao capricho de querer estar com Edward e sua família era uma verdadeira tortura.

Respirei fundo tentando me acalmar e sequei a lágrima que caiu enquanto falava. Mas havia um lado bom. O peso em minhas costas diminuíra consideravelmente e estava até um pouco surpresa por ele ter me ouvido até o fim sem interrupções. Queria saber o que estava pensando. Deslizei meus dedos com carinho por suas costas. Edward suspirou e jogou a cabeça para trás. Beijei sua nuca e o abracei tomando o maior cuidado possível com todos os curativos. Ele apoiou uma mão no meu joelho, suspirou e se impulsionou para frente.

- O que houve? - perguntei o soltando.
- Não quero que fique aqui porque está se sentindo culpada pelo acidente. Eu só fiz o que tinha que fazer. Repita meu gesto e vá embora. - o abracei de novo.
- E se eu disser que descobri o que está acontecendo?
- Então, me explica.
- [i]Acho que também estou apaixonada.[/i]

Sorri com minha conclusão, fechando os olhos em seguida e esperando por um sinal.

Edward inspirou pesadamente algumas vezes, os ombros ainda receosos pela dor tentando não se mover muito com a respiração. Então, tomando cuidado com minhas pernas, se virou para me encarar. A pouca luz que havia iluminou seu sorriso que se abria aos poucos. Mas seus olhos um pouco fechados ainda pareciam nervosos.

- O que você disse? - abaixei o rosto, pois nunca havia me sentido corar de forma tão violenta.
- Acho que estou-

Fui impedida de terminar. O dedo de Edward acariciava minha bochecha. Parecia estar se deliciando com minha pele fervente. Ele se inclinou um pouco, girando ainda mais o tronco com minhas pernas uma de cada lado da sua cintura. Meu coração acelerou, fechei os olhos porque aquilo sinceramente não parecia real.

- Termine, Bella. - soprou meu lábio que se entreabiram.
- Acho. Que estou. Apaixonada. - ele sorriu.
- E porque demorou tanto tempo para descobrir que eu estava aqui?

Sua mão foi para a minha nuca e nos conectamos num beijo. Era muito mais forte do que os que já demos antes. No meu peito não havia espaço suficiente para o palpitar frenético que meu coração se pusera. As descargas elétricas desceram pelos meus braços quando embrenhei meus dedos em seus cabelos cor de bronze. Aquilo não era nem metade do que já imaginei sentir por alguém.

Logo por quem. O imbecil mimado que adorava me provocar. Seus lábios continuaram a se mover lentamente com os meus até que os abri um pouco pedindo por mais. Edward sorriu sem se afastar e aquilo só me fez corar sem saber onde enfiar minha cara. Sua mão na minha nuca desceu pelas minhas costas até envolver minha cintura e com força me puxou para cima e para frente, me fazendo sentar em seu colo.

Ofeguei em surpresa e o senti aprofundar o beijo como eu queria. Abracei seu pescoço com cuidado, enquanto lutavamos por concentração para puxar o ar. Ele nos separou por um segundo esboçando um perfeito sorriso torto.

- Eu te amo, Bella.

[...]

- Boa noite. - tomei um susto ao ouvir a voz de Carlisle.

Me abracei ainda trêmula e sorri. Ele pôs as chaves do carro no bolso e seus papéis sobre o sofá da sala vindo até mim no fim da escada para conversar.

- Tudo bem? - sentia meu rosto esquentando.
- Sim, senhor.
- Não deveria estar dormindo, Bella? Já são três e meia da manhã.
- Já estava indo para o meu quarto. É que fui ver se Nessie estava na cama. Ela estava um pouco agitada essa noite. - menti.

Eu estava no quarto com Edward, o observando cair no sono depois da noite simplesmente confusa que tivemos. Meu corpo ainda não queria me obedecer muito bem, minhas pernas mal se mantinham firmes, por isso me apoiava no corrimão.

- E com Edward? Aconteceu alguma coisa?
- Na verdade, sim. Levei seu remédio, mas quando cheguei no quarto ele estava se levantando na cama e acho que pelo esforço alguns pontos no ombro sangraram. Limpei e fiz um curativo resistente o bastante até a hora que o senhor chegasse.
- Esse garoto é muito teimoso. - sorri confirmando.
- Ele já está bem. Tomou o remédio e logo caiu num sono pesado. - e eu estava até agora pouco lá em cima ao seu lado na cama com seu braço ao meu redor.

Mordi o lábio, precisava controlar o vermelhidão, pois afinal não queria que ele descobrisse que eu e Edward agora estávamos, sei lá, juntos. Quando disse que também o amava, seus verdes brilharam com tamanha intensidade que simplesmente não pude mais sair do seu lado, mas seu pai chegaria mais hora menos hora e pelo visto parti no momento certo.

- Vou dar uma olhada nele agora e depois dormir. Obrigado mais uma vez por ter cuidado de tudo, Bella.
- Não há de quê.

Fui para o meu quarto e assim que fechei a porta não suportei mais e caí no chão escorregando por ela. Meu sorriso era tão grande, impossível de esconder, assim como o dele. Amanhã passaria a tarde em seu quarto como pediu, mas será que conseguiria dormir depois do que aconteceu?

- Ai, Deus, obrigada.

No dia seguinte, mal abri os olhos e já estava digitando os números do celular de Alice. Elas acordaram assustadas com minha ligação, mas ao saber das notícias começaram a gritar feito loucas comemorando minha felicidade.

- Ele disse que te ama assim com todas as letras como num filme? - Alice perguntou.
- Melhor do que isso. A realidade é bem melhor do que qualquer filme de romance. Estávamos ali juntos, abraçados, ele olhando nos meus olhos.
- Você deve ter ficado super vermelha.
- Na verdade, Rose, estou vermelha até agora. - elas riram - O que faço agora, meninas? Quero dizer, ele pediu que eu fosse até seu quarto depois que seu pai e sua irmã tivessem saído, como devo agir?
- Da mesma forma que fez ontem. Não fique nervosa, isso só serve para estragar tudo. Tente pensar que você só vai ficar com o cara que disse que te ama e quer passar horas ao seu lado.
- Alice, você não está ajudando. - gargalhou ainda mais alto.
- Vá bonitnha, tudo bem? Use algumas daquelas dicas que já te demos.
- Sim. - bufei, odiava aquela história de maquiagem - A noite conto para vocês o que aconteceu.
- Tudo bem. Aproveite. Nos falamos mais tarde. - desliguei o aparelho e o guardei na gaveta da cômoda.

A manhã foi normal, logo Carlisle estava saindo para trabalhar e levar Nessie para a escola. Conforme os minutos passavam, meu estômago parecia apertar mais e minhas mãos suavam. Quando tive certeza de que já estaria acordado, disposto e também estávamos sozinhos, subi. Mordi o lábio e girei a maçaneta. Edward logo virou o rosto, com seu sorriso torto que faria qualquer uma derreter. Fechei a porta, me encostando nela e sorri corando. Criei coragem e fui até sua cama sentando-me ao seu lado. Seu ombro estava com um curativo a mais por causa de ontem a noite.

- Tomei um susto ao acordar com meu pai aqui cuidando de mim e ver que você tinha saído.
- Ele logo chegaria. - dei de ombros.

Ele se aproximou encostando o nariz na minha garganta.

- Mas agora você é minha.

Um beijo delicado foi depositado logo abaixo da minha orelha, me fazendo tremer novamente e arfar. Edward se afastou deitando as costas no encosto da cama e segurou meu queixo com a mão boa.

- Ele já foi mesmo?
- Sim. - retribuí seu sorriso.
- Que ótimo. Eu queria muito ficar a sós com você. - alguma nuvem deve ter passado ali naquela hora e me carregado para um céu próximo.

Estava me sentindo leve, flutuando acima do mundo e seus problemas e assisti bestializada o sorriso dela aumentar ao passar o dedo delicadamente em minhas bochechas.

- Como consegue corar assim tão rápido?
- Fica dizendo essas coisas. O que mais posso fazer?
- Continuar vermelha. Afinal, você fica linda. - pisquei os olhos algumas vezes e apoiando a mão na de Edward fiz com que me soltasse por um segundo.
- Porque me chamou aqui? - me virei para a janela que deixava a luz do dia nublado acizentar nossas pernas lado-a-lado uma da outra.
- Quer a resposta que te deixa fervendo ou a outra?
- A outra.

- Porque acho injusto nós dois sozinhos em cantos separados da casa se podemos ficar aqui, ainda mais depois do que aconteceu ontem a noite. Não é todo dia que alguém diz que te ama.
- Se lembra que eu pedi a resposta que não me deixaria corada?
- Fiz o meu melhor. Agora reclame com você mesma. - deu um leve empurrãozinho com seu braço bom em mim o que me fez rir.
- Então, está sentindo dor? - apontei com o queixo para o corte.
- Não. Mas ontem a noite quase pedi um beijo para o meu pai. - cobri o rosto com a mão e gargalhei - Ainda bem que ele não estava com a mão muito leve o que me fez abrir os olhos antes.

- Queria ter visto. Seria bem engraçado.
- Não, seria humilhante. Momentos daqueles para tirar uma[i] 'foto da vergonha'[/i] e colocar no álbum de família, ou então contar para os netos e desmoralizar o filho.
- Você é louco. - bufei.
- Não, você que é porque me deixou dormir, foi embora sem antes conversarmos e até agora não me deu nehum beijo.
- Beijo?
- Sim. De bom dia. Não quer? - perguntou erguendo uma sobrancelha.

Torci os lábios e fiz uma careta de reprovação a sua manha, mas desejava muito aquele beijo para ficar implicando agora com seu jeito irritante. Me virei de lado, seu braço bom envolveu minha cintura e me trouxe para mais perto. Deitei parcialmente em seu peito, deixando que meus lábios roçassem em sua garganta primeiro.

- Bells. - ele murmurou.

Escalei por sua pele, que salpicava arranhões na minha por causa da barba mal-feita, até chegar a boca. Suas pálpebras cerradas se fecharam de vez quando acabei com a pouco distância que faltava. Seu hálito quente me invadiu e nos movemos bem devagar até nos acostumarmos. Nossas língua se envolveram e apertei com um pouco mais de força seus cabelos, mas nenhum de nós dois ia parar para se importar.

Sua mão em minha cintura subiu pela lateral do meu corpo trazendo com ela minha blusa. Sua pele em contato com a minha foi um choque forte demais. Nos afastei com um brusco empurrão e nos encaramos assustados e sugando o ar com força. As sobrancelhas dele se uniram, mas ainda estava sem fôlego para questionar.

No fundo, queria saber porque fiz aquilo, mas foi como se eu não estivesse mais no meu corpo quando me tocou e eu precisava estar no controle de mim mesma antes que fosse acabar fazendo uma besteira.

- Porque fez isso? - perguntou já mais calmo e com um sorriso zombeteiro no canto do lábio.
- Pediu um beijo. Pronto, teve seu beijo. - comecei a me levantar da cama, mas Edward ainda abraçado a mim não permitiu.
- Espere. Onde vai?
- Respirar um pouco. Não vou embora. Só me levantar.
- Não vou deixar.
- Porque?
- Porque se sair correndo não terei como ir atrás.
- Oh, deixe de idiotice. - o empurrei e me levantei, mas ele logo fez menção de se levantar também - Não, nem pensar. Sua teimosia ontem já nos arrumou um problema. Não vá arranjar outro.
- Bem que Nessie disse que você é mandona.
- Paga para ver?
- Sinceramente, não sei o que responder. - descansou a cabeça no encosto e revirou os olhos me fazendo rir.

Caminhei até perto da janela, inspirando fundo o perfume que vinha das árvores e acalmando aos poucos meus coração disposto a ter um ataque fulminante ainda hoje.

- O que está pensando? - perguntou.
- Em como tenho que aprender a controlar meus sentidos quando estou perto de você. Idiota, eu sei.
- Não, não é idiota. É encantador. - corei e continuei minha caminhada pelo quarto.

Passei ao lado da estante com os cd e reconheci um o puxando para ler o nome das músicas no verso. Me lembrava daquela capa de uma das caronas que peguei quando ainda me refugiava na rua. Era um casal, eles tinham um estilo diferente e dirigiam uma van cinza muito engraçada.

- O que está vendo?
- Combina com você. - mostrei o cd que segurava - I don't wanna grow up, Ramones.
- Gosta de música assim?
- Gostei quando ouvi. Na verdade, nunca tive muito tempo para música. A gente aprende a gostar e se define na adolescência, mas eu nunca a tive de qualquer maneira.
- Porque não?
- Não tinha tempo para prestar atenção nessas coisas. - guardei a caixinha no lugar de onde tirei e voltei para o seu lado na cama - Havia algo muito mais importante a minha volta.
- Está se referindo a sua família?
- Acho que sim.
- Nunca te ouvi falando deles para ninguém.
- Você quer que eu-
- Porque não? - deu de ombros.
- Hum. - cocei a cabeça, contaria a verdade até meus pais morrerem.

Falei sobre meu pai, minha mãe e como meu irmão lembrava Nessie com tantas perguntas e travessuras. Ele pediu que eu falasse mais, então contei quando minha tia veio morar conosco e sobre minha casa. Como eu gostava de me deitar no telhado logo acima da janela do meu quarto e ver as estrelas pegarem fogo antes do Sol nascer. Edward riu com minha descrição e expliquei que era algo que minha mãe havia inventado.

Por incrível que pareça, falar neles ao seu lado não doía.

Acho que se animou um pouco quando contei de uma briga que tive com Willian quando ainda era imatura demais para enteder meu irmão e caímos aos tapas na mesa da sala, quebrando tudo que entrava em nosso caminho, e ele a comparou com os campeonatos de luta que costumava fazer com seus irmãos e que apesar de ser o mais novo sempre ganhava de Jasper.

Mas apesar da descontração do momento, eu senti que ele se retesou um pouco ao lembrar que a mãe lhes dera uma bela de uma bronca. O rancor de Edward pela mãe ter pedido o divórcio do pai era maior que o de qualquer um dos filhos de Carlisle. Cada um tinha sua maneira de expressar o descontentamento ou sua raiva. A dele ficava tão clara em seus olhos que chegava a ser palpável. Por isso, fiquei feliz ao ver que mudara o rumo da conversa.

Ele agora nos comparava. No nosso primeiro beijo no deque, ao se aproximar dissera que costumava ir ali quando era menor. E era verdade, ele disse que passava algumas noites por lá vendo estrelas no telescópio que ganhara num Natal e que também gostava de observar o céu antes do nascer do sol.

- Era bem melhor ser criança. Estar em casa. - murmurei.
- Não. Está errada. Se fossemos crianças, você não estaria aqui. Assim é bem melhor. - corei violentamente e dei um leve empurrão para que parasse de me provocar.

Edward preciptou um pouco o braço e gemeu de dor. Aquela onda de culpa me envolveu e me aproximei tentando cobrir seus braços com minha mão.

- Me desculpe. Oh, droga, onde eu te machuquei? - de repente sua mão boa me puxou me fazendo cair sentada em seu colo e ele sorriu satisfeito com o final feliz da sua encenação.
- Dói aqui. - tocou sua própria boca.
- Imbecil. - soquei seu ombro bom o fazendo cair na gargalhada e cruzei os braços derrotada.
- Poxa, Bella, que força. - acariciou onde tinha batido - Aprendeu a bater assim com quem?
- Meu pai.
- Ah, me esqueci que estou namorando a filha de um policial. - virei meu rosto assustada.
- Você disse o quê?

Meu coração vacilou não só uma, mas várias batidas, meus dedos formigavam e tive vontade de rir tamanho meu nervosismo. Meus pensamentos congelaram com aquela palavra, mas Edward não parecia nem um pouco abalado já que seu sorriso só cresceu com minha cara de espanto.

- Que vou ter que comprar um escudo? - brincou.

Seu braço bom envolveu minha cintura, fazendo assim com que eu me deitasse em seu peito. Os olhos verdes estavam próximos, avaliando minhas feições e brilhando de orgulho pelas reações que causara.

- Acha que meus sogros não vão me apoiar nessa decisão?
- Edward.
- Depois de ontem a noite, basta três letras, uma palavra e eu estarei de novo no paraíso, Bella. - escovou seus lábios nos meus de uma forma delicada e o abracei suspirando - Você quer namorar comigo, certo?
- Eu-
- Me perdoe. Sei que parece mais uma ameaça do que uma pergunta, mas não sou muito bom nessas coisas.
- Nem eu. - confessei com o rosto em chamas.
- Então, juntos podemos tentar melhorar. - sorri com a proposta.

Estava tão pateticamente apaixonada por esse garoto que nem sequer me reconhecia. Sentia um pouco de medo desse sentimento desconhecido que havia me dominado, mas se ele mesmo estava propondo descobrirmos juntos, a mim só restava me entregar nas suas mãos e aproveitar as coisas boas. O beijei delicadamente e ainda nos tocando anunciei:

- Sim, eu quero. - abriu um grande sorriso, o [i]meu[/i] grande sorriso - Eu quero muito, Edward.

No momento, só tinha certeza sobre uma única coisa. O fato de minha vida ter dado essa estranha e maravilhosa guinada nos últimos dias era bom e ao mesmo tempo desconfiável. Uma família para mim, a idéia de ter meu irmão de volta e aqueles braços ao meu redor, poderia jurar que estava sonhando. Seu beijo me fez ver que não.

- Prometo que não vai se arrepender, Bells. - sabia que ele estava certo.

Apesar de tão confusa, tinha certeza do que sentia e era só isso que importava.

Uma semana depois.

Edward Pov

- O que é isso?
- Oh, meu Deus. - deixou o tabuleiro cair da mão e em seguida as levou aos ouvidos com o barulho estridente de ferro arranhando o piso.

Se virou assustada, ofegante, com os olhos arregalados e me encontrou rindo também surpreso com sua reação.

- O que faz aqui?
- Vim ver o que estava fazendo para o jantar. Não imaginei que você ia gritar dessa maneira. - inclinei um pouco o tronco, mas se adiantou abaixando e buscando tudo que deixou cair.
- Já pode sair da cama, mas não se abaixar. Não faça esforço.
- Tudo bem, doutora. - a puxei pela cintura e deixei um beijo no seu pescoço sentindo o perfume de morangos.
- O que pensa que está fazendo? - me empurrou.

Bella ficou na ponta dos pés, espiando por cima do meu ombro a porta da cozinha.

- Me aproveitando da distração para dar um beijo na minha namorada. E você [i]BondGirl[/i]?
- Que engraçadinho. Seus irmãos estão em casa e seu pai pode chegar a qualquer momento, não deveria me abraçar assim. - a puxei de novo, dessa vez a prendendo entre a pia e meu peito - Edward, melhor não.
- Conversamos e decidimos que não contaríamos para ninguém, mas também não vou ficar me policiando toda vez que quiser um carinho seu. Por favor, deixei de ser ranzinza, Bells. - pressionei seus lábios contra os meus, então aos poucos senti seus músculos relaxarem até que se entregou, mas não por muito tempo.

- Tenho que terminar o jantar. - resmungou abaixando a cabeça.
- E eu sou idiota de acreditar nessa. - puxei uma cadeira e me sentei de frente para ela - Pois então, continue.

Seu sorriso tímido fez meu coração bater mais forte. Ela se virou e continuou o manuseio ágil e quase frenético dos legumes e facas. Não entendia a pressa de Isabella, muito menos como conseguia ser tão atrapalhadada, mas não na cozinha.

- Com quem aprendeu a cozinhar dessa maneira, Bells?
- Com minha mãe e minha tia. - respondeu de súbito, mas depois parou.
- O que houve?
- Nada demais. Só saudade de casa. - deu de ombros - Mas porque essa pergunta? Vai reclamar da minha comida, posso apostar.
- Não, boba. Agora tenho maneiras bem mais interessantes de te provocar quando quero. - fez uma careta adorável e continuou o trabalho.

O som de passadas pelo corredor me fez dar um tapa na testa admitindo para mim mesmo que se tivesse continuado com o abraço seríamos vistos como alertou, mas não falei nada em voz alta. Nessie logo apareceu na porta e ao me ver abriu o grande sorriso debochado que aprendeu comigo.

- Já dando seus passeios, chato.
- E você suas escapadinhas do trabalho de casa.
- Desculpa, querido. Mas eu já terminei. - se gabou indo até Bella e agarrando sua perna - Posso ficar aqui?
- Sempre, meu anjo. Quer alguma coisa?
- Só você. Já é suficiente.
- Então, tudo ótimo. - o telefone tocou.

Ela largou a faca, mas fiz um sinal com a mão indicando que eu atenderia. Nessie não se importou, apenas se agarrou mais em Bella e a observou mexer suas panelas. Me levantei, fui até a extensão da parede e tirei o aparelho do gancho.

- Alô? - deitei meu ombro bom no batente da porta e aguardei, mas não houve resposta - Alô, estão me ouvindo?
- Edward? - reconheci a voz doce de imediato - Filho, é você? Deus, como é bom ouvir sua voz. - agarrei o telefone com força demais, olhei para Nessie distraída e pensei rapidamente no que devia fazer - Está me ouvindo? - perguntou, tive vontade de gritar.
- Rennesme. - se virou assustada com meu tom de voz - Terminou o trabalho de casa, mas ainda tem que tomar banho antes do jantar, então suba para o seu quarto agora.
- Edward?
- Suba também e a ajude. - disse a Bella que enrugou o cenho, mas sabia que havia alguma coisa errada, então antes que minha irmã dissesse mais alguma coisa a pegou no colo e levou para fora do cômodo.

Quando não havia mais sinal de suas vozes, voltei a colar o aparelho no ouvido e rosnei:

- Porque está ligando para cá?
- Edward, não use esse tom de voz comigo, por favor. - forcei uma risada.
- Eu não estou ouvindo isso. Só pode ser uma piada. Para quê você ligou?
- Senti falta dos meus filhos.
- Ah, que ótimo. Teatro de boa mãe.
- Queria conversar com vocês. - estava chorando.
- Guarde suas lágrimas de crocodilo para outra hora. Conversar sobre o quê? Quando decidiu colocar suas coisas na mala não se deu o trabalho nem de dizer adeus e de repente ficou afim de conversar. Nos poupe disse.
- Não fale assim comigo, sou sua mãe.
- É para ter pena?
- [i]Edward.[/i]
- Esse método de chamar minha atenção não funciona mais, [i]mãezinha[/i]. Talvez soubesse se um dia tivesse prestado realmente atenção. Agora, vou te pedir um favor. Da próxima vez que quiser pegar esse maldito telefone de novo e discar para cá imaginando ser uma boa idéia, não o faça. Ninguém aqui quer saber notícias suas. É o meu único aviso: não tente entrar em contato de novo com qualquer um daqui, principalmente Rennesme.
- Filho.
- Não sou mais seu filho. - bati o telefone no gancho.

Só então pude enfim respirar. Meu ombro estava doendo muito, acho que pela postura tensa que assumi. Apoiei a mão sobre meus machucados e gemi pela ardência. Meu peito estava apertado, mas não me sentia culpado pelo que acabei de fazer. Aquela mulher decidia sumir de nossas vidas, eu ficava para assistir meu pai definhar e minha irmãzinha adoecer, e teria mesmo que ser obrigado a atendê-la com educação ao telefone?

Olhei para as coisas do jantar largadas sobre a pia. Precisava subir até o quarto de Nessie e perguntar a Bella se a pequena tinha estranhado alguma coisa. Respirei ainda algumas vezes para que não se assustassem quando entrasse no quarto, depois me virei na direção da sala, mas dei de frente com Carlisle parado atrás de mim no corredor.

- Pai? - levantou o rosto, parecia tonto - Você-
- Era Esme? - não havia como mentir, então assenti - Vamos para o meu escritório agora mesmo. - rosnou.

Isabella Pov

- Segure aqui. - Nessie fez um cesto com os braços e agarrou as roupas que separei - Se precisar de ajuda quando sair do banho, pode me chamar.
- Ai, Bella, já estou grandinha. - resmungou corando.
- Tudo bem. Vou voltar para a cozinha.
- Antes disso, pode me responder uma coisa?
- Claro.
- Quem era no telefone para Edward ter ficado aborrecido daquele jeito?
- Seu irmão não estava aborrecido. É o jeito dele. Não precisa se assustar.
- Não me assustei. Estou acostumada com a maneira de ser de Edward. Mas, sabe, gosto mais quando ele está calmo, feliz, assim como quando está com você. - me desencostei do armário um pouco surpresa e ela sorriu - Eu juro não contar para ninguém. - saltitou até o banheiro da suíte e fechou a porta.

Fiquei lá ainda algum tempo, pensando e sorrindo. Mas minha curiosidade logo falou mais alto e resolvi descer para encontrá-lo e saber o que aconteceu. A cozinha estava vazia, nem sinal dele, contudo vi a pasta de Carlisle no aparador da sala e aquilo me deixou preocupada. Edward não tinha paciência nenhuma com o pai, também Carlisle estava estressado e se os dois brigassem havia Nessie que poderia ter uma recaída se ouvisse. Por isso, subi de novo até os quartos, mas o dos dois estavam trancados. Então fui até o terceiro andar.

Mal terminei os degraus e ouvi o primeiro grito que vinha do escritório e era do pai. Me aproximei mais da porta. Sabia que era errado, mas meus pés não me obedeciam. Ouvi um soco na parede e soube que era Edward.

- Você não devia ter feito isso. - Carlisle gritou.
- E esperava que eu agisse como? A atendesse amorosamente, passasse a ligação para a minha irmãzinha e depois ainda pedisse para mandar um cartão postal do inferno que está vivendo.
- Ela é sua mãe e não podia ter feito isso, Edward.
- Pode ser minha mãe. Mas não é mais sua esposa e se conforme com isso, pai.

Algo caiu no chão, ou foi derrubado. Senti medo e impotência, por isso voltei de onde não devia ter saído.

Quando cheguei na cozinha, Jasper estava sentado com os pés sobre uma cadeira e um caderno no colo. Ele sorriu ao me ver e fui para a pia terminar o jantar. Não muito tempo depois, o som de uma porta batendo no segundo andar chamou minha atenção.

- Que humor. - murmurou olhando o teto.
- Se imaginasse o que está acontecendo.
- O que disse?
- Nada. - acendi o fogão e peguei no armário os pratos para arrumar a mesa.

Fui para a sala de jantar, mas ao passar pelo pequeno corredor vi Carlisle parado de frente para o aparador da sala onde deixara sua pasta. Congelei, imaginando como ele devia estar se sentindo, o que se revelou quando levantou seus olhos verdes na minha direção.

- Pode tirar meu lugar da mesa, por favor?
- Carlisle, você-
- Outra hora conversamos, Bells. - se virou para a escada - Outra hora.

Arrumei a mesa para três lugares, mas na verdade Edward também não desceu, então a pedido de Rennesme me sentei em sua cadeira e ceiei com ela e Jasper. Ele não parecia preocupado com as ausências, mas ela, apesar de se fingir alheia ao assunto, deixava seus olhinhos pairando sobre a cadeira do pai algumas vezes.

Quando terminamos, limpei tudo e ajudei Nessie a ir para o quarto. Ela me jurou que não precisava de companhia para dormir aquela noite, que o faria sozinha. A menina amedrontada começava a desaparecer aos poucos. Dei boa noite, a deixei vendo um pouco de tv e fui para o meu quarto.

Estava preocupada demais para responder as mensagens de Rosalie e Alice, e ainda mais com o cansaço do dia, só tive ânimo para me aninhar entre os lençóis e cochilar. Acordei algumas horas depois com um som abafado vindo da área de serviço. Me levantei, calcei o sapato e saí, mas não havia ninguém por lá. O armário de roupas para passar estava aberto e a porta dos fundos destrancada. No mesmo instante entendi o que estava acontecendo, por isso voltei até minha cama para buscar uma colcha e também saí para o gramado seguindo seu rastro até o rio.

Deixei meus sapatos ainda na grama para não alertá-lo com meus passos nas tábuas do deque, me aproximei e já nas suas costas chamei seu nome. Ele se virou um pouco assustado, mas não protestou como antigamente, não precisava mais.

- O que faz aqui?
- Ouvi você. Pensei que poderia ficar um pouco contigo.
- Bella, não me leve a mal, mas acho que preciso ficar sozinho. - me ajoelhei nas suas costas, desdobrei a colcha e a coloquei em seus ombros deixando um beijo no seu pescoço.
- Tudo bem, mas não se descuide porque está com a cabeça cheia. - segurou minha mão.
- Fique então. Cuide de mim.

Sorri corando e fui me sentar entre suas pernas puxando também as laterais de lã para cobrirem meus braços. Aproveitei o espaço para fechar um pouco mais a camisa que pegou no armário e colocou de forma desajeitada, afinal com metade do tronco coberto de faixas ele nem mais as usava. Só depois pude me virar para o rio e deitar um pouco em seu peito.

- Fui até seu quarto e você já estava dormindo. Desculpe ter te feito levantar. Talvez o barulho que fiz foi inconscientemente de propósito.
- Fui até o terceiro andar e vocês estavam brigando. Desculpe ter ouvido. Talvez me meter demais na vida de vocês seja algo inconscientemente de propósito. - suspirou alto.
- O que ouviu?
- O quanto foi duro com seu pai.
- Não, Bella. Não fui duro com ele. Você sabe que aquela mulher saiu dessa casa de repente, voltar para nos assombrar é cruel. Meu papel foi só o de dar um choque de realidade nos dois.
- Tratar sua mãe de maneira rude ao telefone e gritar com seu pai daquele jeito não me parece choque de realidade.
- Não me julgue, não sabe o que passa na minha cabeça. - puxei para o alto sua mão apoiada na minha cintura e a beijei.
- Não estou te julgando. Só querendo te ajudar.
- Não precisa ser um anjo-da-guarda.
- Vocês todos são o mais próximo que tenho de família no momento. Só não gosto de vê-los mal. Carlisle para mim é um grande amigo, deveria tentar conversar com ele.
- Conversar? Eu vou dizer o que?
- Que sente muito.
- Não mentir é um dos dez mandamentos, sabia?
- Sem deboche, Edward. - me virei, passando minhas pernas sobre a sua e encaixando meu rosto em seu pescoço - Se essa situação é difícil para você deveria imaginar o quanto é para ele.
- Acha que sou insensível ao ponto de não vê-lo entristecido pelos cantos, não é? Se afundando em trabalho e ocupações para não pensar em todo o resto, na própria vida.
- Se sabe o que ele passa, porque não tenta apenas ajudá-lo? - me abraçou - A maneira que tem tentado fazer nos últimos tempos não funciona. As reações de sua irmã são prova disso.
- Ela não nos ouviu, não é mesmo? - perguntou me afastando preocupado.
- Não, a pus no banho antes disso. - relaxou um pouco, mas depois seus olhos se prenderam atrás de mim, na margem turva do rio, procuravam algo que não imaginava o que era.

Com sua atenção fixa em outra coisa, escorreguei a ponta dos dedos pelos seus traços duros, o queixo e o pescoço. Depois pela clavícula, me infiltrando um pouco pela camisa e ele suspirou deixando um sorriso brincalhão brotar aos poucos.

- Quer me causar distrações?
- Não. Na verdade, eu que estava distraída. - puxei minha mão de volta sentindo as bochechas pegarem fogo.
- Porque você tem que ser tão linda, minha Bella. - me deu um beijo no queixo e me puxou para ele.
- Promete que vai pensar no que lhe disse?
- Sim, eu prometo.
- Que ótimo. Tenho mais uma coisa para te dizer.
- Vai me deixar de cabelos brancos?
- Não, pelo que te conheço, você vai adorar.
- Diga.
- Acho que Rennesme sabe sobre nós dois. - deu uma risada incrédula - É sério. Quando a levei para o banho hoje disse que gostava mais de você quando estava dessa maneira, digo, calmo e feliz, como quando está comigo. - abaixei o rosto envergonhada.

Ele ficou em silêncio um tempo até que puxou meu rosto para cima e colou nossos lábios com um suspirar.

- Sim, bem mais feliz. - murmurou em seguida.

Me uni mais ao seu corpo, o abraçando pelo pescoço, deixando que seus lábios brincassem pelo meu rosto. Era uma sensação deliciosa a maciez de sua boca se arrastando pela minha pele, abandonando um rastro de fogo consigo, algo que jamais imaginei sentir. Sua mão entrou pela minha camisa e seus dedos escorregaram sutilmente pela minha espinha.

Um abalo atingiu meu corpo, acabei fincando minhas unhas na sua coxa e ele se afastou. Corei, agradecendo por estar escuro o suficiente para que não visse o quão roxa eu estava, mas não pareceu funcionar.

- O que houve? - perguntou no meu ouvido.
- Nada. Eu-
- Você gosta? - as carícias continuavam e eu assenti envergonhada.

O que mais eu poderia responder? Estava adorando, apesar de ter vergonha de admitir, mas era bom. Qualquer toque dele me fazia delirar mesmo que ínfimo. Nos beijamos, eu calando qualquer outra palavra de provocação que pudesse me deixar mais constrangida, mas também me fazendo sair desse mundo.

Quando dei por mim, seus dentes puxavam em leves mordidas a minha mandíbula e continuava descendo até alcançar a alça da minha camiseta que foi abaixada para que beijos fossem distribuídos pelo meu ombro. Não estava pensando nas conseqüências, apenas me aproximei mais o abraçando, mas Edward me afastou gentilmente com um sorriso tímido.

- Preciso de ar. - me fez deitar a cabeça em seu peito e suspirou - Você me faz perder o controle, garota.
- É engraçado imaginar um homem dizendo isso para mim. - falei mais para mim mesma, mas ele ouviu.
- Por que uma besteira como essa?
- Não sou bonita como disse.
- Claro que não. [i]Você é linda[/i]. Aos meus olhos, a mais linda de todas.
- Mais bonita que aquela ruiva que você namorava? - Edward me encarou com um sorriso travesso nos lábios.
- Me desculpa, mas a única garota que já namorei está aqui na minha frente e ela me faz esquecer qualquer outra mulher. - corei e ele rindo completou - O normal seria você dar um sorriso vitorioso e se gabar.
- Não sou como as outras.
- E isso me encanta.

[...]

Cheguei ao apartamento, largando tudo que era meu sobre o sofá e correndo até a cozinha atraída pelo perfume tentador que vinha da comida de Rosalie. Ao me ver, ela sorriu e me chamou para mais perto.

- Vai provar meu assado hoje. E esse é meu molho especial. - apontou para a panela que mexia.
- Vou engordar uns vinte quilos morando com vocês.
- Talvez. Se morasse mesmo com a gente. - Alice resmungou entrando no cômodo abraçada a um livro.
- Não ligue para isso, Bella. Ela estava com saudades de você.
- Ah, como se ela fosse se importar com isso. Agora só quer saber do Edward.
- Alice. - eu e Rose repreendemos juntas.
- Você passa a semana toda enfurnada naquela mansão por causa dele e Rose some nos finais de semana com Emmett. Eu fico aqui largada. Isso é um absurdo.
- Não está feliz por nós? - eu estava começando a jogar baixo com a cara de cachorro abandonado, mas ela riu.
- Claro que estou, mas me sinto só. - me abraçou.

- Então, precisamos arrumar um namorado para você.
- Pronto. - se afastou como se tivesse recebido um choque - Antes que digam o nome do outro Cullen estou indo lá para o meu quartinho.
- Nem pensar. O jantar já está pronto.
- E eu prometo não tocar mais nesse assunto. - jurei com os dedos - Se, é claro, você parar de me encher de mensagens loucas.
- Eu? Não fiz isso. Só queria saber o que estava acontecendo por lá.

Busquei o celular no bolso e abri o último sms que recebi o lendo em voz alta.

- Seu trabalho era seduzir e depois acabar com os mini-Cullens. Agora dois deles te idolatram e um não te larga mais para nada. Você precisa me dar aulas. Carência mode on. - Rosalie gargalhou - O que foi esse final?
- Isso bem que você entendeu. - cruzou os braços emburrada.
- Ai, vamos mudar um pouco de assunto. Emmett me chamou para jantar na mansão no final de semana que vem. Quer me apresentar a família. Ele disse para te levar, Alice. E que também nessa noite Bella será convidade e não empregada. Carlisle comentou alguma coisa? - neguei.
- Pobre homem. A vida dele está uma confusão.
- O que aconteceu?
- Devem me prometer que não contarão para ninguém, tudo bem?
- Claro.
- Bem, ontem a noite, Edward atendeu uma ligação e era a senhora Cullen. Ele tratou muito mal a mãe, desligou e brigou com Carlisle depois. Nenhum dos outros sabe o que aconteceu, por isso pedi sigilo.
- Nossa, eu tenho pena do doutor.
- Eu também. Um homem tão bom não deveria ser tão sem sorte. Mas consegui convencer Edward a conversar e fazer as pazes com o pai.
- O que uns amassos não fazem.
- Alice. - rosnei a fazendo gargalhar.

- Desculpa, não pude resistir.
- Passamos a madrugada quase toda juntos. No deque, conversando e rindo. Ele me propôs sair um pouco, talvez ir ao cinema, mas por causa do gesso não podemos, então eu o convidei para assistir um filme aqui no apartamento comigo. Vocês estão de acordo? Eu posso cancelar se não o quiserem.
- Só deixo porque sei que agora ele está mais domesticado.
- Alice.
- Falo mesmo, ué. Qual o problema? Não está aqui para me ouvir e estou só parabenizando a Bella.
- Vai ser durante a semana. Na quinta, início de noite enquanto ainda estiverem trabalhando, para não atrapalhar vocês.
- E para que a gente também não atrapalhe, né danadinha. - corei abaixando o rosto.
- Você não se agüenta?
- Espero é que vocês se agüentem.
- Alice. - fizemos de novo e ela correu da cozinha fugindo de mais reclamações.

Ajudei Rose a colocar a mesa e em seguida jantamos juntas. Com provocações, brincadeiras, e aquele usual constrangimento da minha parte, mas eu adorava. É claro, elas insistiram naquela história de filminho no apartamento e quase voltei a ser uma experiência em suas mãos, mas consegui afastá-las em busca de ar. O resto do final de semana passei me divertindo um pouco com as duas e contando as horas para voltar ao trabalho que se tornara tão prezeroso.

Edward Pov

- Não deveria ter ido até Port Angeles. Imagine se seu pai descobrir. - ralhou me entregando a bacia com pipoca.
- Uau, eu desobedeci uma ordem? Tão fora do normal. - Bella se deitou ao meu lado rindo.
- Continue debochando da minha preocupação, idiota.
- Não estou. Só não há motivos para tanto. Jasper me levou até lá e Paul me trouxe até aqui. Pronto. Sem esforço algum.
- Você que pensa. - deitou a cabeça em meu ombro bom enquanto a envolvia com meu braço - E que horas seu irmão vem te buscar?
- Mas, meu Deus, já quer se ver livre de mim?
- Estou falando sério.
- Combinei de encontrá-lo na biblioteca às oito. Terá longas três horas para se aproveitar de mim o quanto quiser. - suas bochechas ficaram tão, [i]tão[/i], tão coradas que não pude deixar de gargalhar.

Se levantou aborrecida, murmurando algumas reclamações em tom de indignação, foi até o interruptor na parede e o desligou. Toda a sala estava agora só iluminada pela tv que esperava o comando para começar o filme. Bella voltou a se deitar ao meu lado, ainda envergonhada, e puxou o cobertor até nossas cinturas.

- Silêncio, por favor. Vou dar o play. - resmungou pegando o controle na mesa de centro.

Todas aquelas informações chatas - que ninguém lê - começavam a passar pela tela e ela fingia prestar atenção, mas estava concentrada em mim e no meu sorriso. Os trailers avançaram, sequer se moveu, então abaixei meu rosto devagar até poder mordiscar sua bochecha. Também entrelacei nossas pernas e a puxei um pouco mais para perto.

- Não faz essa cara de aborrecida. Eu sei que você gosta.
- Vai ver ou não?
- Tudo bem. - lamuriei escondendo o rosto em seus cabelos.

Era tão gostoso que passei os vinte primeiros minutos do filme somente inspirando seu perfume, sem nem mesmo olhar para a tela. Bells soltou uma risada da comédia e se aconchegou mais em mim.

- Me dá um pouco de pipoca? - pedi já que estava sem braços disponíveis.
- Mais, Bells. - pedi ainda de boca cheia e ela rolou os olhos - Não faz essa cara. Acha que gosto de depender dos outros para quase tudo? De ter que contar com a piedade de todos?
- Ah, definitivamente, você gosta.
- Posso fazê-la mudar de idéia.

Me afastei e, finalmente, desprendendo os olhos da tv ela me encarou com um sorriso divertido causando suas covinhas.

- Você conseguiu. Perdi a vontade de assistir o filme.
- Comemoraria se tivesse meu braço agora.
- Por favor, sem mais desse drama barato.
- Pensando bem: eu te agarraria se estivesse em condições.
- E as idéias vão ficando cada vez mais criativas. - recitou.
- Não gosta delas? - perguntei no seu ouvido e senti sua pele se arrepiar.

Minha respiração batendo contra sua nuca a fez fechar os olhos e suspirar. A vontade de explorá-la e descobrir seus pontos fracos era imensa, mas toda vez que mergulhava no castanho de seus olhos meu corpo refreava. Com Bella não havia a pressa de sempre, só desejava aproveitar sua companhia sem medo de que saísse correndo de mim.

Meus beijos já estavam na sua clavícula, acompanhando o desenho com carinho. Seus dedos se afundaram nos meus cabelos, puxando-me até sua boca. Foi apenas um roçar, uma provocação, para então se deitar mais e me puxar para cima. Observei por um segundo sua expressão tímida, mas ansiosa pelo que fiz em seguida. O beijo que imaginei desde que acordei. Eu precisava ser mais racional.

Bella arqueou seu corpo em busca de mais contato e assim deixei que me minha mão entrasse em sua blusa para acariciar suas costas e cintura. O telefone tocou a assustando. Suas mãos espalmadas empurraram meu peito, sua respiração estava ofegante e eu resmunguei:

- Mas que merda, hein?

Ela esticou o braço e o pegou na mesa ao lado do sofá. Era a mãe de uma das suas colegas de apartamento que logo desligou.

- Foi só para quebrar o clima.
- [i]Edward[/i],
- Ah vai, tudo bem. Eu precisava te contar umas coisas mesmo.
- Que coisas?
- Bem, segui seu conselho e ontem a noite pedi para conversar com meu pai. - abriu um sorriso enorme e pediu que continuasse - Não sou muito bom em pedir desculpas, mas me esforcei.
- Foi ótimo quando o fez comigo.
- Aí já é outra história. Deixe-me terminar. Falei que não era minha intenção dizer aquilo pra ele, mas que era o que eu achava e que não me sentia bem vendo como aquele assunto afetava todo mundo e que também só queria proteger Nessie. Por incrível que pareça, ele concordou e disse que era muito bom ter uma conversa de homem para homem comigo.
- [i]Eu não disse.[/i] - sussurrou orgulhosa antes de me dar um selinho.
- Tá, tá ótimo. Não vamos fazer disso uma premiação.

- O clima será bem mais leve aman-
- Nem me fala de amanhã. - apoiei a cabeça em seu ombro desmoranando de cansaço - Final de semana passado esse foi o único assunto daquela casa. Até Jasper se empolgou com a idéia, acredita?
- Você fala do seu irmão de uma maneira.
- Ah, e Emmett que quase se mata por perder uma aula decidiu que vai faltar amanhã só para chegar a Forks mais cedo.
- Rosalie merece.
- Sua amiga o fisgou direitinho, não é mesmo? - sorri imaginando algo que faria Bella corar da maneira adorável de sempre - Assim como fez comigo. - sussurrei.

Sua bochecha encostada a minha pegou fogo e precisei morder a língua para não rir.

- Edward, eu queria muito te contar umas coisas também. - a olhei nos olhos sentindo sua preocupação repentina - Eu estou muito feliz. Quero dizer, que tenha compartilhado seus problemas comigo. Confiado em mim para isso.
- Também estou.
- E acho que não tenho sido muito justa. Por isso, decidi que quero te contar alguns segredos meus.
- Sempre desconfiei que tinha. - abaixou o olhar triste - É sério, Bella?
- Sim. Muito sério. - inspirou fundo e ficamos em silêncio por vários minutos até que tomou coragem o suficiente para me encarar e contar - Seu pai vai adotar meu irmão.

No choque não pude responder, apenas continuei estático tentando engolir suas palavras. O irmão de Bella morava com os pais dela, porque diabos Carlisle adotaria o menino? E desde quando meu pai decidi adotar um filho e nem sequer diz aos outros quatro? Não que estivesse desconfiando das palavras dela, mas era muito estranho.

- Adotar? - perguntei uns minutos depois.

Apoiei a mão na almofada embaixo de Bella e me ergui. Também se sentou, mas um pouco mais assustada pela minha reação, por isso com sua ajuda tirei a camisa que me incomodava tanto por causa daquele maldito tronco enfaixado e segurei sua mão a puxando para se sentar no meu colo. Algo em seus olhos me fez receoso, as notícias não pareciam boas.

- Porque meu pai adotaria seu irmão? Ele não mora com seus pais em San Diego?
- Não. Menti para você. Me perdoe, mas é um assunto um pouco doloroso para mim.
- Se é, porque tocar nele agora?
- Porque você entrou na minha vida. - sorrimos e a abracei - Me perdoa por não ter falado antes, mas meus pais morreram. Pouco mais de seis anos.
- [i]Morreram?[/i] - passei a mão pelo cabelo, as palavras travando na minha garganta, mas Bella ergueu sua mão e tocou a minha.

- Não precisa ficar nervoso por isso.
- Eu sinto muito. Porque não falou antes? Quero dizer, poder-
- Para que os outros sentissem pena? É a última coisa de que preciso. Mas, bem, preciso terminar de contar antes que perca as forças. - sua voz sumiu um pouco.
- Como morreram?
- Estavam voltando de São Francisco. Festa de bodas de um amigo do meu pai. Era madrugada, ele estava cansado e havia uma obra inacabada na estrada. - fechou os olhos, se abraçando com medo - Só me lembro de acordar com as luzes do carro de polícia que veio nos avisar no teto do meu quarto. Desde então eu e meu irmão ficamos aos cuidados da irmã adotiva da minha mãe. A tia que lhe falei. Era nosso único parente vivo. Ela nunca ficou muito saitsfeita com a herança, mas aguentou firme.
- Então. - tentei juntar algumas peças - Aconteceu algo com sua tia. Foi isso? - vi um flash de rancor passar por seu olhar sempre tão doce, por um segundo não reconheci minha Bella.
- Não o que está pensando. Pude ir embora quando tive a oportunidade, mas meu irmão ainda estava com ela. Não tinha condições de trazê-lo comigo. Seu pai me ajudou muito desde que nos conhecemos, e ele sabe de toda essa história desde o começo. Meu objetivo nesse emprego era unicamente juntar dinheiro e tentar dar alguma coisa melhor para meu irmão, mas minha tia foi mais rápida e abriu mão da guarda dele. Agora Willian está para adoção.
- Ela pode fazer isso?
- Alegou invalidez.
- Mas é sobrinho dela. - seus dedos me silenciaram enquanto deixava um sorriso triste terminar a conversa.
- Seu pai me propôs a adoção. Aceitei. - mordeu o lábio apreensiva - O que diz sobre isso?

Toda a tristeza escondida atrás daquela menina. Bella podia ser mais velha que eu, ainda assim suas feições e jeito me lembravam de uma garota, completamente indefesa. Acho que o Edward de meses atrás se sentiria traído por ter escondido isso de mim, mas o de agora entendia o medo pelo qual deve ter passado e só queria abraçá-la afugentando esses fantasmas.

Foi o que fiz. Assim que deitou sua cabeça em meu ombro, senti também seus músculos relaxarem de alívio.

- Com essa idade um imbecil como eu ganhando um irmão. Espero que ele goste de jogar beisebol. Vou mostrar o quanto sou bom quando meu braço estiver bom. - rimos da minha bobeira.
- Obrigada, Edward.

A abracei mais forte e voltei a nos deitar. Ficamos juntos o resto da noite, pelo menos até sermos interrompidos por suas amigas chegando do trabalho. Bella corou como nunca e me fez correr para porta. Foi um prazer conhecer a namorada de Emmett antes de todos, parecia uma garota legal, mas não houve muita conversa já que estava atrasado.

- Finalmente. - Jasper reclamou quando apareci na porta da biblioteca.
- Eu concordo. - Bella confiava em mim. Finalmente.


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