Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 48
47 - uma vida por outra vida




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A deusa abriu os olhos devagar, piscando. Ela se sentia excessivamente manhosa. Athena suspirou e apoiou seu queixo no tórax do deus. Ela percorreu, com a ponta dos dedos, uma linha imaginária que ia do peito até os lábios de Poseidon e, instantaneamente, ele sorriu.

Poseidon abriu os olhos e subiu a mão pelas costas de Athena, parando no pescoço, sentindo-a se arrepiar. Ela sorriu timidamente e fechou os olhos, franzindo o nariz.

- Você parece uma gata ronronando, sabia? – disse, com a voz rouca de quem acabou de acordar.

A deusa mordeu o lábio. E no instante em que Poseidon ficara mais próximo, um ser do além que não tem noção do perigo bate fortemente na porta.

- Mas o que é agora?! – gritou ele. Athena riu.

- Ahm, me desculpe interromper senhor – era Sebastian. – Mas há algo que tem que saber.

Poseidon olhou incrédulo para a mulher ao seu lado que ainda sorria.

- Vá – disse ela, reprimindo uma risada. – Ele parece preocupado.

O deus revirou os olhos.

- Preocupado, eu vou mostrar quem é que está preocupado – resmungou o deus, levantando-se e se enrolando em um dos lençóis.

Athena balançou a cabeça. Oh, se eles tivessem filhos, com certeza teriam um temperamento difícil.

Ela, antes que Poseidon abrisse a porta, entrou no banheiro, disposta a um banho que colocasse seus pensamentos em ordem.

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- Ah, você está aí – Poseidon murmurou, quando Athena saiu do banho enrolada na toalha. Se não fosse pela exigência do momento, ele pensaria em coisas nada puras para fazer.

A deusa parou e franziu o cenho.

- O que aconteceu? – perguntou ela, pela primeira vez reparando na armadura que Poseidon terminava de arrumar no seu corpo.

Ele engoliu em seco.

- Athena, eu me lembro que você disse que gostaria de lutar, mas não quero que se machuque – disse ele, seriamente. Ela continuou em silêncio. Poseidon caminhou até a deusa e a segurou pelos ombros. – Mas Sebastian acabou de avisar que Anfitrite está vindo, com um exército atrás dela, disposta a arruinar tudo o que ver pela frente. Sem aliados, provavelmente agirá como se fosse sua última chance.

Athena soltou o ar pela boca. Ela realmente tinha pressentido que algo ainda estava fora dos eixos e agora teria de encarar aquilo.

- E você está indo para lá – murmurou ela.

- Athena...

- Como você mesmo disse, conversamos sobre isso – ela o olhou nos olhos, transmitiam firmeza. – Eu não vou abandoná-lo Poseidon.

Houve um aperto no coração do deus, como se algo faltasse. Querendo ou não, ele teria de deixá-la correr o risco.

- Então você...

- É claro que eu vou lutar. Na verdade, é até revigorante. Faz tanto tempo que não sinto o calor da batalha... Normalmente essa é a função de Ares. Eu fico apenas supervisionando as estratégias, posições e o acampamento.

Poseidon sorriu, embora estivesse preocupado.

- Obrigado.

Athena retribuiu o sorriso, ficando na ponta dos pés e lhe dando um beijo.

- Eu amo você.

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A deusa o empurrou para longe. Ainda podia sentir o calor que suas mãos deixaram ao passarem pelas suas costas.

- Poseidon, essa não é a hora – disse ela seriamente, embora quisesse sorrir. – Temos uma guerra.

O deus revirou os olhos.

- É, não precisa me lembrar desse detalhe sórdido. Acho melhor se vestir.

Poseidon bufou quando olhou pela janela. O clima estava ficando cada vez mais tenso. A realidade estava vindo à tona.

- Embora eu adorasse te ver lutando de lingerie, ou nua, claro, afinal essa deve ser uma visão extraordinariamente sexy, você terá de colocar uma armadura.

- Certo Poseidon, eu não sou mais deusa, mas lembro o que devo usar numa guerra, está bem?

Athena revirou os olhos, pegando suas coisas. Quando saíra às pressas do Olimpo, a deusa não pensara em trazer a armadura e agora estava tendo de conjurá-la.

- Me desculpe – ele respirou fundo. – Athena, eu preciso falar com os oficiais, nós podemos nos encontrar depois?

A deusa assentiu enquanto colocava seus braçais.

- Positivo.

Ele sorriu nervosamente e abriu a porta. Athena ainda podia ouvir sua armadura tilintando pelo corredor.

Depois de colocar suas grevas por cima das botas, a deusa começou a amarrar sua roupa revestida de couro. Suas coxas estavam cobertas precariamente por um pedaço da roupa. Bem, apesar de todas as histórias sobre Athena, ela não gostava de lutar com a armadura completa.

É um saco e só me atrapalha. O que há de mais em lutar apenas com um corpete por cima de um vestido fino e curto? Eu não estou armada? As Caçadoras lutam apenas com um short e camiseta, não é?

Athena pegou seu elmo e o colocou debaixo do braço, já imaginava Poseidon falando na sua cabeça “O que você estava pensando?! Ir à guerra vestindo isso!”, mas ela também sabia que toda aquela história de “lutar de lingerie” levaria seus créditos.

Sorrindo, a deusa girou a maçaneta. Poseidon lutaria com seu tridente, obviamente. Mas ela observaria a situação e escolheria sua arma depois, apesar de preferir a lança.

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- Athena! – a deusa estacou às portas do palácio. Oh não, justo naquela hora a mulher viria lhe atazanar? Só podia ser o destino. Ou a vontade de atrasá-la, o que era bem mais provável.

- O que você quer? – disse Athena, com sua frieza característica. Por um lado, era por tudo que Ariana tinha causado. Por outro, era pela impaciência e incredulidade que a deusa estava sentindo.

- Oh, eu vou te acompanhar – Ariana sorriu, indicando a própria armadura azulada e a espada presa ao cinto.

- Tem certeza? – Athena arqueou uma sobrancelha. A outra assentiu. – Tá. – ela deu de ombros e voltou ao seu trajeto.

A deusa respirou fundo quando chegou no começo da escadaria de mármore. Atlântida estava simplesmente sendo devastada.

- Oh, isso não vai ser fácil – murmurou Ariana, chegando ao seu lado. – O que faremos?

Athena franziu os lábios.

- O melhor que pudermos – disse ela, começando a descer. – É isso o que faremos.

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- Ahm. Você está bem? – gritou ela sobre os barulhos de metal atingindo metal para Poseidon, que no momento não lutava, estava apenas sentado a alguns metros da batalha fazendo um curativo horrendo no ombro.

- Vou ficar – gritou ele de volta.

A deusa sorriu e assentiu. No fim das contas, lutaria mesmo com sua lança.

Ela se virou e mordeu o lábio. Não se via mais o chão, apenas um mar de corpos ensangüentados e cobertos por poeira dourada e parte da armadura. Sangue escorria, misturando-se à água e deixando-a avermelhada. Havia monstros de diversos tipos ali, a maioria subaquática. Anfitrite tinha conseguido enfeitiçar muito mais do que apenas soldados.

É isso o que a guerra faz, pensou a deusa, andando na direção de um grupo de homens que estava sendo encurralado. Ela destrói. Anfitrite é uma vergonha para nós, deuses. Ela não é digna de ter sangue dourado correndo nas veias.

Athena levantou sua lança, atravessando três monstros de uma vez só. Apenas quando os soldados a encararam surpresos foi que ela percebeu. A deusa havia dado, depois de muitos séculos, seu grito inconfundível.

Ela podia sentir como se seu sangue queimasse. Adrenalina. Calor. Satisfação. Ela estava de volta.

E foi assim que a batalha se sucedeu. Poseidon voltara à luta, Athena continuou seu massacre particular e algumas vezes eles tinham uma visão relanceada de Ariana ou Valentino, combatendo fervorosamente o exército inimigo.

Ariana deve ter finalmente caído na real. Mas não é hora para refletir sobre isso.

Foi quando alguém, um serzinho sem armadura e desarmado, correu sem medo por entre os monstros e os soldados, chegando até Poseidon.

Athena os observou, mesmo que continuasse atravessando a lança na cabeça de seus inimigos. De costas, ela se esforçava para ouvir a conversa.

- Ela está lá dentro, meu rei! O senhor tem de impedi-la!

A deusa automaticamente olhou de Poseidon para o palácio. Além do som da batalha, não havia mais nada chamando a atenção, mas eles não poderiam deixar aquilo continuar.

Imersa em pensamentos e totalmente distraída e alheia à batalha, Athena só se deu conta de que estava para ser atacada quando ouviu um barulho metálico logo atrás de si, perto o suficiente para atingi-la, seguido de um grito feminino de dor.

Quando ela se virou, bem, não foi uma coisa agradável de ver. Um borrão vermelho caiu aos seus pés. Havia um pedaço de uma espada. Pó dourado. Choro.

- Ariana! – gritava Valentino, olhando desesperadamente para o lugar onde ela estava. Athena congelou.

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Poseidon corria disparado escadaria acima. Valentino vinha logo atrás e só se preocupava com a mulher desfalecida em seus braços, com uma espada atravessada no peito. Athena era a última da fila, desesperada, ela ainda se defendia de coisas que teimavam em persegui-los.

Eles atravessaram o portal. As portas imponentes do palácio se fecharam. Os três ficaram parados no saguão, encarando-se.

- Anfitrite está aqui.

Poseidon inspirou fortemente.

- E você tem que ir atrás dela.

Athena o olhava decidida.

- Ariana está morrendo.

Valentino fungou.

- Eu vou cuidar dela – disse Athena, engolindo em seco. Mas aquela não era hora de discutir quem morreria ou não, não era a função dela. – Poseidon, você tem que fazer algo contra Anfitrite. Valentino vá com ele. Sebastian – ela chamou o homem que vinha pelo corredor. – Me ajude com Ariana.

- Mas... – começou Valentino, logo interrompido.

- Você está assustado demais. Seu nervosismo não vai ajudar em nada, mas talvez possa ser útil com Poseidon – disse Athena, passando o braço de Ariana por seus ombros.

- Athena...

- Vão logo, estão achando o quê?! – gritou ela, já de costas.

Valentino e Poseidon se encararam, com medo do que uma deusa da guerra com uma lança na mão e a adrenalina à flor da pele poderia fazer se fosse contrariada em plena batalha.

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- Preciso de panos quentes, curativos, água e um lençol – disse a deusa, deixando Ariana no sofá na sala de estar e virando-se para o homem.

Sebastian assentiu.

- Sim milady. Volto em um minuto.

Quando ela percebeu que ele já estava longe, sentiu-se mais aliviada.

Athena segurou a mão de Ariana e tirou as mechas ruivas que caíam em sua face.

- Oh Ariana – sussurrou a deusa. – O que foi que você fez?

As pálpebras da mulher tremeram.

- Você... – ela tossiu. Alguns pingos de sangue caíram no tapete. – Você seria... Mo-morta. Eu não... – Ariana respirou pela boca. – Eu não poderia...

- Ariana, você está morrendo, tem sorte de ser imortal. Mas, por não ser por laços sanguíneos, você ainda pode morrer em batalha, assim como as Caçadoras – ela suspirou. – Eu conheci uma garota... Victoire*, ela me lembra você... Uma das garotas mais valentes que...

- Athena... - Ariana a interrompeu. – Esses podem ser meus últimos minutos de vida então me escute – ela parecia ter revigorado as forças apenas para aquelas últimas palavras. – A essa altura você já deve saber a verdade. Anfitrite é minha meia-irmã e por isso eu fiquei dividida. Eu estava confusa entre você, uma mulher maravilhosa, e entre a família que eu nunca tive. Eu não sabia o que fazer. No começo, eu concordei em ajudá-la, mas depois de te conhecer e perceber que ela não ligava para mim... Bem, eu quis me redimir hoje, sabe? Mas acho que nem todos os atos do mundo são capazes para apagar o que eu fiz. Eu não te deixei lutar de propósito – ela respirou fundo, perdendo o ar. Sua voz estava rouca e fraca quando recomeçou a falar. – Porque... Porque eu sabia que você... E só você... Seria capaz de derrotá-la. Athena, aconteça o que acontecer comigo, apenas me prometa... Eu sei que não estou em posição para pedir algo, mas apenas a faça sofrer, ok? Por favor, não a deixe sair imune dessa.

Os olhos da deusa arderam, mas as lágrimas não caíram. Ela enxergava a verdadeira natureza da mulher, Poseidon não havia se enganado. Nem ele, nem Valentino. Ela sentiu uma mão prender-se com força em seu antebraço.

- Athena...

- Não vou – disse ela com firmeza, olhando-a nos olhos. O aperto desapareceu. Os olhos de Ariana fecharam-se novamente.

Naquele momento, a porta foi aberta.

- Me desculpe pela demora – disse Sebastian, arfando. – Está uma confusão lá fora. Aqui estão as coisas.

Athena se levantou, pegando uma sacola enorme dos braços do homem.

- Obrigada.

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*Victoire: Hello pessoas lindas do meu coração! Seguinte, eu aposto que a maioria tá perdida, né? Aham. Victoire é uma menina de outra fic que eu postei, elas não tem ligação, óbvio, mas eu acho legal aquelas “pontes” entre uma história e outra (Rachel que o diga, vive interligando as fics!).


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Notas finais do capítulo

Então, faz muito tempo que eu não escrevo uma cena de batalha, ok? Tô rezando pra não ter perdido a prática.