The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 23
Encrencada - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi flores, tudo bem? Ai que saudade de vocês!
Bom, enfim, mais um capítulo fresquinho de The Soul pra vocês, feito com todo carinho!
Como vocês viram, o capítulo anterior teve muitas revelações... * Não digam que não avisamos que vocês teriam surpresas kkk * E uma delas foi que a Peg e Espectro/Ian vão trabalhar juntos como Buscadores. No que será que isso vai dar hein? * Suspense * Bom, aó lendo pra saber.. hehehe
Então flores do meu jardim, bora ler? Boa leitura e esperamos que gostem do capítulo e até lá em baixo!



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POV. Peg

Eu acabara de acordar de um pesadelo em que eu ainda possuía Mel quando Finny veio até o quarto sacudindo-me fraquinho achando que eu ainda dormia e dizendo em voz baixa que Maya estava no telefone. Atendi com todo o sono indo embora, sendo expulso pelo medo de ser caçada ou pior. Caçar minha própria família.

–Alô.

–Pet? Perdão por incomodar tão tarde da noite, mas preciso de alguém para patrulhar Sentinel Peak esta noite. Estamos fechando perímetro.

–Está bem, posso chegar lá em pouco tempo.

–Não se preocupe, Espectro de Fogo já está a caminho, vocês patrulharão juntos. Perguntas?

Fiquei com um nó na garganta, incapaz de abrir a boca nem para respirar. Ficar perto de Ian/Espectro de Fogo podia ser bom ou ruim. Eu poderia despertá-lo caso suprimisse, sei que poderia! Mas também poderia me decepcionar se ele já estivesse irremediavelmente suprimido. De qualquer jeito, acho que não havia escolha, ficaríamos juntos por mais uma noite, quer ele estivesse lá ou não.

–E-E-Está bem...

Respondi gaguejando, ainda sem conseguir decidir se aquilo era bom ou não. Maya se despediu secamente e desligou. Quando me virei, Fiandeira de Nuvens esperava ansiosamente pelo que minha Buscadora-Chefe tinha a dizer. Sorrindo encorajadora entreguei o telefone à ela indo até a minha cômoda iluminada pelo luar prateado. Lancei um olhar para o relógio ao lado da cama. 10 horas da noite. Ótimo.

–Maya quer que eu patrulhe Sentinel Peak.

–Sozinha? Ouvi dizer que há humanos lá. E cactos pontudos.

Quase ri de Finny. Ela fazia parecer que os cactos pontudos eram a pior coisa no mundo. As vezes ela era cuidadosa demais.

–Espectro de Fogo vai estar comigo, mamãe.

–Você parece feliz de estar com esse rapaz.

Ela notou, dando a volta na cama enquanto eu me trocava, olhando-me com um olhar maternal. Sorri comigo mesma enquanto colocava as calças jeans, o casaco e botas pretas. Eu estava realmente feliz, percebi enquanto reunia as coisas que precisaria na minha bolsa e pendurava-a no ombro. Aquela era uma espécie de pontinha de esperança depois de tanto tempo de dúvida. Fosse qual fosse o destino de Ian, eu descobriria hoje e dependendo do resultado eu apressaria ou retardaria o plano. Mas só poder olhar para o seu rosto sem pessoas me olhando e me julgando ao meu redor já era uma boa notícia.

–Estou mesmo feliz.

Confessei. Ela sentou-se na beirada da cama enquanto eu arrumava as coisas dentro da mala. Ela arrumou cuidadosamente a colcha e os lençóis com a mão livre, alisando as roupas de cama com a mão macia.

–E devo me preocupar com essa felicidade?

Perguntou, pousando o telefone no criado mudo e arruando a cama com as duas mãos, arrumando os lençóis e afofando o travesseiro. Sorri beijando sua testa.

–Por ora não.

Fui até a porta e desci ao andar de baixo para a cozinha, onde abri uma lata de energético. Isso me daria energia para umas duas, três horas no máximo, e eu precisaria mesmo de energia. Olhei no relógio da cozinha. Seria uma longa noite. Suspirei indo até a janela. Uma longa noite com Espectro de Fogo, com Ian e com a única coisa que me restava além do meu filho. Esperança.

–Você volta ainda hoje?

–Acho que não mamãe. Não me espere acordada.

–Então se cuide.

Fiandeira de Nuvens pediu colocando um cacho louro rebelde atrás da minha orelha.

–Você também.

Desci pela pequena trilha de pedras até Ian, digo Espectro de Fogo me esperava encostado ao carro, muito parecido com o que eu dera perda total, talvez até da mesma marca, mas porém esse era prata, e não sangrava ferrugem. Espectro batia nervosamente os dedos na lataria, esperando-me chegar. Detive-me por um momento pensando como deveria cumprimentá-lo. Deveria apertar sua mão, passar reto ou dar um soquinho em seu braço como os colegas de trabalho que éramos – Ou fingíamos ser – Ou deveria depositar um beijo em sua face como faria com Ian? Quero dizer, já havíamos nos beijado antes, o que seria um beijo no rosto?

De qualquer jeito seria desconfortável tanto para mim, quanto para ele e Ian não é? Optei por apenas sorrir simpaticamente ao vê-lo, e devo ter feito algo certo pois ele repetiu o gesto e abriu a porta do passageiro para mim, cavalheiresco como só Ian – Ou uma Alma – Poderia ser. Sentei no banco e coloquei o cinto imediatamente lembrando-me do jeito que ele me segurava ao banco enquanto o carro girava, girava e... Argh, não quero falar sobre isso. Ele entrou no carro e sorri para mim enquanto colocava o próprio cinto e colocava a chave na ignição.

–Então... Sentinel Peak?

Eu perguntei enquanto ele ligava o carro.

–É o que parece.

Ele respondeu enquanto o motor roncava como um jaguar, pronto para correr. Então, o silêncio se instalou. Durante todo o percurso eu não parei de pensar o que eu estaria fazendo se Espectro de Fogo não estivesse ali. Eu pousaria a mão sobre a sua na marcha e ele a seguraria, levando-a aos lábios e sorriria por trás dela. Quando não houvessem curvas na estrada, eu deitaria minha cabeça em seu ombro e ele beijaria o topo da minha cabeça. Estar tão perto dele e ao mesmo tempo tão longe era mais horrível e dilacerante do que eu achei que seria.

Eu imaginava se ele estava dentro de Espectro pensando a mesma coisa, sem poder mexer-se, incapaz de retomar seu próprio corpo, incapaz de viver. Incapaz de coexistir com alguém que não Espectro de Fogo.

Logo chegamos ao portão do parque de Sentinel Peak. O Pico dos Sentinelas, ótimo, pensei, nenhum melhor lugar para dois sentinelas vivendo seus dramas intercorpóreos cercados por humanos que deveríamos capturar, mas que eu não estava com a mínima vontade de fazê-lo. Seria uma longa noite, concordei comigo mesa novamente. Senti a falta da voz de Mel para quebrar o silêncio e me dizer o que fazer para recuperar Ian. Ah minha irmã, as loucuras que eu estou fazendo por amor, Pensei encarando a lua pela janela do carro, talvez seja tão insana quanto você ao me levar para as Cavernas.

Mas pelo menos você tinha um plano. Eu não tenho nada.

Espectro desceu do carro, tirou o pino do portão, escancarou-o e voltou ao carro. Sentinel Peak é um lugar bonito durante o dia, se você gostar de ar fresco e vegetação desértica. É um parque estadual como outro qualquer no mundo, mas o que mais havia ali eram cactos e arbustos. Se um humano conhecesse o local, era um ótimo lugar para brincar de esconde-esconde, principalmente quando seus adversários são Buscadores e a cada passo eles podem cair em um cacto e se machucar seriamente. Areia escorregadia, e cactos e arbustos espinhentos podiam ser grandes aliados para guerrilheiros, principalmente em uma noite escura como aquela. Descemos do carro olhando em volta acendendo as lanternas.

–Eu vou pelo lado Oeste e você pelo Leste?

Encarei-o por um tempo antes de murmurar um “está bem” e ir em frente. Ele não era Ian, não era, eu tinha que lembrar disso. Ian nunca me mandaria para longe. Nunca. Seja como for, Peg, não chora.

Eu preciso de você ao meu lado,

Não sei como vou sobreviver

Mas um dia sem você é como um ano sem chuva.

POV. Ian

Observei-a devastado enquanto ela ia embora, incapaz de impedir. Tentei golpear Espectro de Fogo, mas ele havia construído sua própria barreira ao meu redor.

–O que está fazendo?! Chame-a de volta!!! Patrulhem juntos ou sei lá, mas pelo seu amor em tudo o que é mais sagrado...

Se eu tivesse olhos estaria chorando naquele momento e se tivesse joelhos estaria neles, mas no momento não tinha nenhuma daquelas coisas e Peg estava indo embora, de cabeça baixa e ombros caídos. Percebi que ele a havia decepcionado. Ela não deixara de acreditar em mim, sabia que eu resistia, mas ele está dando a ela motivos para que pense o contrário. Não sei como, mas ela sabe.

“-Pare com isso, Ian. Deixe-a ir. Somos Buscadores agora lembra? Foi você quem me colocou nessa para começar.”

–Para ajudá-la! E ela está bem ali!

‘’-Ela está bem Ian. Se quisermos realmente protegê-la temos que cumprir nosso papel.’’

Não queria protegê-la daquele jeito frio e calculista que Espectro descrevera. O único jeito que eu sabia e queria fazer era fechar meus braços ao seu redor e manter todo o mal longe.

Você pode me sentir

Quando eu penso em você

A cada suspiro que eu dou

Cada minuto

POV. Peg

Grávidas deviam ser poupadas dessas grandes caminhadas de caça ao humano, mesmo se fosse Buscadoras grávidas. Meus pés não acostumados com o peso extra do meu filho que crescia um pouco mais a cada dia, se tornaram em pouco tempo inchados e doloridos. Porque eu havia vindo afinal? Estava apenas me enganando ao pensar que ficaria perto de Ian porque tudo no que eu conseguiria fazer era ficar perto de Espectro. Eu precisava de um plano, só isso. Então poderia ir para casa e ter meu filho onde todos estaríamos seguros, agora e sempre, perfeitamente entre os nossos.

Continuei caminhando apesar da dor nos pés. Duas horas passaram enquanto eu andava sozinha no escuro, iluminando apenas onde meus pés pisavam para que eu não tropeçasse e perdesse a visão, quebrasse algum osso ou algo que o valesse. E então, um galho seco quebrou perto de mim. Eu não capturaria ou machucaria um humano guerrilheiro, mas eu podia não conhecer as pessoas que podiam estar ali, e elas podem não ter a mesma mentalidade que a minha e além do mais tinham vantagem de conhecer o campo. Ou é só um coelhinho, percebi revirando os olhos quando o bichinho saiu detrás de um cacto bem no meio do meu foco de luz como o coiote.

Balançando a cabeça para esquecer as memórias ruins eu continuei a andar e o coelho apressou-se em fugir de mim. De repente, senti uma mão em meu ombro e minha cabeça só viu pânico. Coelhos não eram tão altos. Coelhos não tinham mãos. Virei-me formando um arco no ar que deixei zunindo quando acertei a pessoa atrás de mim com a lanterna.

–AI Peg! CUIDADO!

Disse Ian... Quer dizer, Espectro quando acertei sua cabeça. A adrenalina derreteu na minha cabeça e eu suspirei aliviada.

–Ai me desculpe Espectro! Você me assustou! Está tudo bem?

Perguntei ofegante. Ele fez que sim com a mão no local.

–Acho que esse galo vai cantar de manhã, mas só isso.

Eu segurei uma gargalhada por alguns segundos recuperando o fôlego enquanto ele acariciava a própria testa onde eu o havia acertado. Talvez aquela pancada acordasse Ian lá dentro.

–Me diga, você está tão perdida quanto eu estou?

Fiz que sim. Não fazia a menor ideia de para onde ia, só ia onde não havia morte certa, convicta que só devia parar de andar no final do parque que eu nem sabia onde acabava.

–Achei que o parque era menor.

Confessei.

–Está muito escuro. Acho que a única coisa humana que vamos achar aqui vai ser uma torção e espinhos no NOSSO corpo humano. É melhor acampar aqui e esperar pela luz do dia.

–Mas eu não tenho uma barraca. Ou um saco de dormir.

Ele tirou a mochila das costas e tirou o saco enrolado e a barraca dobrada de dentro dela, sorrindo.

–Não se preocupe, eu tenho.

Não consegui encarar seus adoráveis olhos sorridentes invadidos. Não chore Peg, seja como for não chora.

Mais tarde por trás das paredes azuis da barraca era impossível dormir e não era só por causa do energético que eu tomara mais cedo, o efeito deste já havia passado fazia tempo. Era o fato de que Ian estava logo ao meu lado e não me tocava. Dormir em casa e sozinha imaginando que ele estava ali era uma coisa, porque eu sabia que era uma mentira. Mas ele realmente estava ali, era de verdade, e isso tornava as coisas completamente diferentes. Era como se tivéssemos tido uma briga da qual eu não me lembrava. Revirei-me no saco de dormir durante muito tempo até que parei de frente com as costas de Ian que subiam e desçam devagar.

Ele estava completamente adormecido.

Invejei a capacidade dele. Um pensamento invadiu minha mente e senti vergonha por ter tido ele. Quando eu teria uma chance como essa de novo? Não, esqueça! Espectro de Fogo morreria logo sem um criotanque e apesar de ele aprisionar meu amor no fundo de sua própria mente, eu não podia matá-lo. Sem contar que naquela imundície de areia e sem os equipamentos e remédios de Alma tudo o que eu conseguiria fazer seria matar Ian. Suspirei e me aproximei dele, ainda deitada, encostando ambas as mãos em suas costas tensas mesmo durante o sono.

Beijei-as com uma lágrima escorrendo pela bochecha até o saco de dormir emprestado.

–Sei que está aí dentro Ian – Sussurrei contra suas costas – Sei que não conseguiria dormir sem mim assim como não consigo dormir sem você. Só quero que saiba que eu te amo e não vou desistir de você. Nunca. Eu te amo, meu Ian, e eu vou dar um jeito nisso tudo.

Seja como for Peg, não... Ah, deixe para lá.

Preciso de você aqui, não sei explicar.

POV. Ian

Ouvir aquilo sem poder fazer nada, com o corpo adormecido e sem poder de movimento doía demais. Minha Peg, meu anjo, minha esposa, meu amor estava ali para me salvar, quando era eu quem devia estar protegendo-a de todos os perigos. Me sentia idiota e estúpido de tê-la deixado quando ela mais precisava de mim, para falar a verdade, nunca havia me sentido mais impotente, fraco. Mas não importava, não importava que o que eu tinha feito tinha me levado até ali, porque houvesse o que houvesse, Peg estaria ali para mim, assim como eu sempre estive para ela e não podia estar agora.

E aquela era a maior prova de amor que ela já tinha me dado. “Na felicidade e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe”, Jeb tinha dito, e era isso que ela fazia agora.

Eu te amo mais minha Peregrina.

As estrelas estão queimando,

Eu ouço sua voz na minha mente (na minha mente)

Você não me ouve chamando?

Meu coração está suspirando

POV. Espectro de Fogo

Eu acordei com o corpo pesado do sono, como sempre havia dormido como uma pedra. Uma coisa boa de viver no corpo de Ian é que com ele não haviam sonos interrompidos ou insônias. Quando dormia era difícil acordar até estar completamente recarregado. Sentei-me e me espreguicei, tocando o teto da barraca e olhando para o lado para ver se Peregrina continuava a dormir, mas seu saco de dormir estava vazio. Toquei-o e ele estava frio. Ian não se manifestou na minha mente enquanto eu saia da barraca aos tropeções ainda descalço com medo de que ela houvesse sido sequestrada ou algo pior.

Felizmente ela se aproximou detrás dos cactos onde estava com uma massa cinza nos braços e com um sorriso radiante. O coelho apoiava a cabeça em seu braço e balançava as orelhas para frente e para trás satisfeito pelo carinho que Peg fazia ao coçar atrás delas. Ela levantou os olhos para mim e sorriu, mostrando a criaturinha peluda em seu colo.

–Não é linda? – Perguntou vindo para mais perto – Eu a encontrei presa em um espinheiro.

Sorri não crendo que tinha me preocupado que alguém pudesse fazer mal com aquele ser doce. Nem o mais vil dos humanos teria a força para levantar um dedo contra aquele ser. Só havia pureza ali, a mais pura entre uma raça de puros.

É assim que Peg é, Espectro. Apaixonante, linda, incrível. É isso que ela faz.

Ian disse, parecendo sorrir dentro de mim.

–Acho que vou ficar com ela, é tão fofinha. - Ela disse se aproximando. Acariciei a cabecinha frágil do coelho e a pequena fêmea mexeu o nariz para mim, provando do meu cheiro. – Não. Espectro não é uma cenoura. Cenoura é um bom nome, o que acha?

Ela perguntou ao coelho que olhou para ela e novamente mexeu o nariz rosado Observei ela gargalhar enquanto o coelho a lambia com sua língua diminuta e áspera. Aquilo era tão lindo... Era como... Uma criança inocente brincando com o seu coelhinho. Mais do que uma criança, mas ainda assim menos que uma mulher. Uma donzela, apesar de saber que ela e Ian haviam cuidado dessa parte. De qualquer modo, antes que eu pudesse perceber eu me aproximava devagar. Ela desviou seu rosto para mim ainda sorrindo quando nossos lábios se tocaram.

Ela deixou cair os braços e o coelho se colocou de pé assustado e correu para o meio dos espinhos, e Peg retribuiu ao beijo mais e mais profundo. Eu nunca havia sentido nada como aquilo antes, era como estar de volta ao Planeta do Fogo. Fogo, Calor, Lava e Explosões para todo o lado! Meu corpo agradeceu ao beijo como nunca havia feito com nada antes. Ah, fogos de artifício.

Tudo ia bem até Ian começar a reclamar. Bom, não era reclamar exatamente era gritar comigo e me xingar de todos os nomes possíveis, palavras tão feias que não deveriam ser usadas em momento algum. Acho que ele até me xingou em algumas outras línguas.

E então Peg nos separou e olhou direto em meus olhos, com os olhos brilhando de lágrimas de felicidade.

–Ian? - Perguntou.

–Não. Não foi Ian que quis fazer isso.

Quando dei por mim, minha bochecha estava vermelha e eu senti gosto de sangue dentro da boca. Peg tinha retrocedido três passos e me encarava incrédula.

–Você não vale nada! Sabe que eu o amo, sei que você sabe! Sabe que eu sou dele e está tentando me seduzir?! Você não é uma Alma! Nenhuma Alma faria uma maldade dessas! Eu ODEIO você!

Ela gritou se afastando a passos fortes.

–Espere Peg! Aonde você vai?

–PROCURAR MEU COELHO! - Ela gritou se afastando marchando de cara amarrada.

Assim que eu descobrir como, eu te mato. - Ian disse em tom de ameaça.

# Três dias Depois#

POV Peg:

– Bom dia, filha. Está um lindo dia lá fora, hora de acordar.

Finny saudou, abrindo as cortinas do meu quarto. A claridade atravessaram o quarto, anunciando um belíssimo dia de sol lá fora. Meus olhos protestaram, eu pisquei devagar até que eles se acostumassem com a luminosidade. Estalei os dedos e bocejei novamente, me espreguiçando sobre os lençóis macios.

Rolei na cama preguiçosamente, sem nenhuma vontade de levantar. Nessas últimas semanas eu andava bastante sonolenta, parecia que meu sono tinha triplicado. Com certeza, eram sinais evidentes da gravidez, segundo Sophia, nada fora do normal.

– Bom dia, mamãe

Cumprimentei, com voz rouca.

– Bom dia, como está se sentindo hoje? - Perguntou, se sentando ao meu lado com uma expressão preocupada, o cenho franzido. - Eu fiquei muito preocupada ontem, querida. Talvez devêssemos ir a um Centro de Cura.

– Estou bem, não se preocupe. Novinha em folha.

Afirmei, me sentando na cama e segurando sua mão.

Na noite passada, logo após o jantar, eu havia sofrido uma intensa crise de vômitos, que custaram a passar. Finny ficou o tempo todo ao meu lado, segurando meus cabelos enquanto eu me debruçava sobre o vaso sanitário. Eu tentava tranquilizá-la, deixando claro que eram efeitos da gravidez, mas nada parecia surtir efeito. Ela só se acalmou quando as crises finalmente cessaram, e eu pude adormecer, sendo velada por seus olhos cuidadosos.

– Ótimo, querida! - Sorriu, murmurando para si mesma um ''Está mesmo mais corada, isso é bom''– Eu preparei um café da manhã para nós, vou esperá-la na cozinha. Não demora muito, meu netinho precisa ser alimentado, certo?

Ela beijou minha testa com carinho e saiu, me deixando sozinha no quarto. Eu me sentia emocionada com todo carinho que Finny tinha por mim, que acreditava ser sua filha. Todos os dias, eu me sentia culpada, por retribuir todo esse cuidado com mentiras. E isso apertava o meu coração. Mas eu tentava expulsar esses sentimentos, pois dificultariam a minha missão.

Senti um leve cutucão em minha barriga, quase imperceptível que eu não estivesse atenda, e encheu meu coração de orgulho. Era como se o bebê estivesse me dizendo, ''Bom dia, mamãe''. Era gracioso e único.

Ele estava se mexendo com mais frequência agora, como se quisesse nos agraciar sempre com sua presença, nos dando um ''Olá''. Era dolorosa, as vezes não era nada sutil, mas eu me sentia feliz com a minha sementinha. Também parece gostar da minha voz, pois sempre se acalma quando eu converso com ele/ela todas as noites, tentando manter uma conversa mãe/bebê. Era mais um monologo, mas eu me sentia segura em nossa bolha particular.

Senti uma movimentação abaixo das cobertas, próxima aos meus pés, me fazendo soltar risinhos. Era leve, quase como... Cócegas. Cenoura, lembrei. A pequena coelhinha viera comigo para casa após a frustrada patrulha Sentinel Peak.

Levantei as cobertas e logo vi seus olhinhos me encarando, seu narizinho gelado provando meu cheiro. Ela escalou as cobertas para mais perto de mim, continuando a provar meu cheiro.

– Bom dia, Cenoura!

Saudei sorridente, acariciando sua cabecinha macia. Agora ela estava no meu colo, mas logo se cansou da brincadeira, parecendo entediada e continuou me cheirando, sentando bem próxima da minha barriga elevada. Aquilo pareceu chamar atenção do bebê dentro de mim, que chutou novamente, com mais força agora.

– Ei, parece que alguém está com ciúmes da mamãe, Cenoura.

Brinquei, sentindo um novo chute em resposta. O telefone tocou na mesinha de cabeceira, me tirando da minha bolha particular.

– Alô

– Pet, desculpa te acordar tão cedo – Disse a voz de Maya do outro lado da linha – É que eu preciso de alguém que me acompanhe numa patrulha hoje. E só você está disponível, já que Espectro de Fogo está de folga hoje.

– Claro Maya, sem problemas. – Falei, mas na verdade, não estava com a menor vontade de acompanhar Maya numa patrulha. – Estarei pronta em alguns minutos.

– Ótimo, daqui a pouco estarei ai na sua casa. – Maya concluiu desligando o telefone sem delongas. Ótimo, o dia não poderia começar melhor, pensei irônica.

Vesti-me rapidamente, colocando uma camisa leve e folgada que escondesse o máximo minha barriga saliente, e prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Ele estava bem maior nas últimas semanas, e estava me habituando a usá-lo preso.

Enquanto descia as escadas, meu bebê chutou de novo, mostrando que também não estava gostando nada daquilo.

– Eu sei, bebê, eu sei. - Sussurrei, tentando acalmá-lo. - Temos que esperar só mais um pouquinho, pelo papai. Precisamos levá-lo de volta para casa, certo?

Estranhamente, a casa estava em completo silencio. Quando passei pela sala, a TV permanecia ligada nos noticiários. Um mulher impecavelmente vestida sorria amigavelmente, anunciando a chegada da temporada de chuvas.

– Mamãe? Mamãe?

Mais silencio.

– Finny? Finny?

Chamei, atravessando a sala.

Finny havia saído?

Caminhei até a cozinha tranquilamente, e meu estômago protestou pela falta de alimento. Na geladeira, encontrei um bilhete com a sua letra esmerada, e um cheiro de panquecas saídas do forno tomava conta do ambiente.

Pet,

Fui ao mercado comprar algumas coisas que estavam faltando na dispensa. Não devo demorar, minha querida, fiz panquecas para o café. Se cuide filha e cuide bem do meu netinho. Amo vocês.

Sua Mãe, Finny.

Soltei um risinho ao ler o bilhete cuidadoso, típico de Finny. Nesses meses se convivência, eu começava a me ligar aquela doce Alma. Escrevi rapidamente um outro bilhete, avisando a Finny que estaria com Maya, e aproveitei o tempo restante para comer as panquecas deliciosas e tomar um copo de suco. Eu precisava abastecer o meu filho, que agora permanecia quieto dentro de mim.

Assim que terminei meu café - o mais tranquilamente que consegui - uma buzina alta soou no ambiente, chamando minha atenção. Abri a cortina da janela e vi o carro de Maya estacionado na frente casa.

Respirei fundo, me preparando para um longo dia, e sai em direção ao Auston Martin reluzente de Maya.

– Bom dia, Maya.

Cumprimentei-a assim que entrei no carro, colocando o cinto de segurança.

– Oi. Pronta?

Ela perguntou tirando os óculos de sol que usava. Fiz que sim.

– Para onde vamos?

Perguntei curiosa quando vi que Maya tinha um mapa nas mãos.

– Vamos patrulhar as regiões remotas em torno de Tucson e a cidade vizinha. Recebemos algumas denuncias durante essa semana, mas nada concreto– Ela respondeu distraidamente, enquanto fazia um circulo na região onde iríamos patrulhar. Era uma área extensa. Engoli seco, encarando minhas mãos levemente tremulas.

Tantas perguntas rondavam a minha mente, fazendo meu coração palpitar. E se... E se encontrássemos algum humano? Não podia permitir que Maya capturasse alguém. Não podia! O que eu poderia fazer para impedir? Eu estava de mãos atadas aqui, qualquer coisa que eu fizesse poderia me deletar. Mas eu conseguiria ver um humano capturado e não fazer nada?

Tentei afastar esses pensamentos sombrios. Ficamos em silencio boa parte do trajeto, Maya estava concentrada no volante, mas parecia satisfeita por estar começando uma busca. Estremeci. Era como se ela ansiasse pelo momento em que encontraria os humanos ainda não subjugados.

Pela janela do carro, vi uma menininha de cabelos ruivos e maria-chiquinhas, brincando no balanço, no parquinho logo a frente, com seus pais. A mãe desembalava um chocolate e a entregou com um sorriso gigante no rosto, a menininha abraçou-a e se deliciou com o chocolate, sujando completamente o queixo e as bochechas rechonchudas. O pai riu e limpou.

Uma lágrima amarga escorreu sobre o meu rosto até o canto da boca, me permitindo sentir o gosto salgado.

Por sorte, Maya não percebera nada.

POV Espectro de Fogo:

'Ian, por favor, fala alguma coisa! Já faz três dias que você não diz uma palavra! Eu realmente sinto muito, de verdade. Eu apenas não consegui me controlar...–Pedi sincero, tentando acabar com o silencio de Ian– Eu não queria magoar ninguém, nem Peg. Apenas foi... Mais forte do que eu.

''Você não percebe o que fez a Peg?’’ – Ian disse finalmente, me surpreendendo e quebrando enfim os três dias de silencio, sua voz estava dura e fria – Você a magoou, ela está sofrendo e você piorou ainda mais as coisas! Por que a beijou?! – Indagou, magoado– Ela é MINHA esposa!’’

''Eu sei, eu sei. Eu juro que isso nunca mais vai se repetir... ''

Ele pareceu se agitar dentro da minha cabeça.

''- Espectro, eu vou repetir isso apenas uma vez, está bem? Nunca mais pense em repetir isso, entendeu? Se não eu juro que... ''- Ameaçou, eu sabia que se ele pudesse , estaria trincando os dentes.

'' Eu sei que fui um idiota, Ian, não precisa me lembrar isso. Eu só não quero que você me ignore mais. Desculpe, prometo manter o foco agora.– Torci os lábios, me concentrando em nossa conversa interna. - Vou ajudar você e Peg a saírem a salvo daqui.- Torci os lábios, me concentrando em nossa conversa interna. Peg ainda está muito magoada comigo, depois daquele dia ela não falou mais comigo. O que sugere que eu faça para me desculpar?’’

– Você a magoou, se lembra? Use a sua criatividade para se desculpas, isso é justo.– Ironizou, parecendo

‘’- Hum... Isso que dizer o que eu acho que quer dizer? Vou poder ficar perto dela?’’

‘’- É o que parece, senhor Shakespeare apaixonado!’’ – Falei sarcástico.

‘’- Há, muito engraçado!’’ – Ian resmungou, revirando os olhos – ‘’Eu tenho uma ideia!’’

Ian estava animado. Eu podia sentir isso nas minhas veias. Só o fato de pensar que estaria perto de Peg o deixava em êxtase. Então, ele foi me contando à ideia dele.

‘’- Um buquê de flores? Acha mesmo que vai dar certo, Ian?’’ – Perguntei enquanto estacionava o carro próximo a casa onde Peg vivia agora.

‘’- Claro! Diz a ela que fui eu que quis lhe dar um buquê de flores, ué ’’ – Ian disse convicto. Foi ai que vimos uma Mercedes, que estava estacionada na frente da casa, dar partida, indo embora pela Avenida. Mas... Aquele não era o carro de Maya? Senti uma fisgada no peito quando vi de relance Peg sentada no banco do passageiro. Algo me dizia que aquilo não iria terminar bem.

POV PEG:

Um forte enjoo. Foi isso que senti quando Maya voltara de uma loja de conveniência com dois copos médios de café expresso. Respirei fundo tentando controlar o mal estar antes que Maya percebesse, mas era quase impossível. Meu estômago parecia revirar 380ºC em todos os ângulos possíveis.

– Você está bem? Está pálida! – Maya comentou, assim que ouviu um gemido inconsciente que deixei escapar.

– Estou bem. Devo ter comido alguma coisa que me fez mal. Foi isso. – Falei tentando parecer bem, mas tudo parecia girar e a temperatura do meu corpo parecia ter caído bruscamente, fazendo meu corpo tremer. Pousei a mão protetoramente sobre meu ventre. O que estava acontecendo comigo? Não tive alternativa a não ser...

– Maya, você... Pode parar o carro no acostamento, por favor? – Falei sentindo a bílis fazer uma festa em meu estômago. Com uma freada brusca Maya parou. Eu desci do carro imediatamente, tampando a boca com a mão. Aproximei-me do mato que rodeava a estrada, vomitando toda minha última refeição.

– Definitivamente, você não está bem! – Ouvi a voz me Maya dizer. Quando me dei conta, Maya havia descido do carro e estava de pé ao meu lado. Tentei argumentar, porém mais uma vez o enjoo me privou de responder. Como uma rápida resposta meu corpo reagiu e vomitei mais. - Por favor, não venha me dizer que você está... Grávida?

A fraqueza me dominava enquanto a mata rodava a minha volta, eu estava tonta. Não consegui responder. Mas, meu silencio pareceu ser resposta suficiente para Maya. Ela me pegou de surpresa, levantando minha blusa, deixando claramente exposta minha barriga saliente e elevada.

– O. QUE. SIGNIICA. ISSO? – Ela disse assombrada, tampando a boca escancarada com a mão. - Quero uma explicação plausível, e agora!

Como se eu estivesse vagando pelo deserto

Por mil dias

Não sei se é uma miragem,

Mas eu sempre vejo o seu rosto, baby

Selena Gomez– A Year Without Rain


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Gostaram? Esperamos que sim!
Pois é gente, capítulo cheios de emoções... heheheh... Segurem esses coraçõezinhos que deve estar querendo nos matar agora... hahahaha...
E então, que tal reviews? Recomendações?
Pois é gente, a Peg está numa enrascada danada agora, e agora como vocês acham que ela vai se explicar para Maya? =O. Bom gente, isso só no próximo capítulo
O que será que vai acontecer hein? = O. Deixei vocês curiosas né? hahahahaha.
Bom isso só no próximo capítulo amores! Não percam hein!
Flores, queríamos agradecer de coração a todas vocês de coração que acompanham a FIC e deixem seus reviews lindos! Obrigada! Vocês são nosso motivo para prosseguir!
Bjos e Até o próximo post!