The Way I Loved You escrita por Carol, Sweet Lips


Capítulo 1
Irreversível


Notas iniciais do capítulo

Huuum, minha primeira One Shot para vocês, gente. :)

Meus profundos agradecimentos à Sweet Lips, que se disponibilizou a revisar o capítulo para mim e ainda fez a capa maravilhosa. Obrigado, flor *---*

Espero que gostem, meus amores. Realmente espero.

Enjoy...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/128371/chapter/1

Dezessete de outubro de 2010, 19:10

- Sabe o que você é? - perguntei a mim mesma - Você é um monstro, Renesmee!

Entrei em casa, mas não conseguia enxergar muita coisa por causa das lágrimas. Eu havia feito mal a alguém que só quis o meu bem. Sempre. E o pior: Eu nem estava triste! Eu estava apenas com pena dele, e isso era cruel.

Larguei meu casaco sobre o sofá e caminhei até meu quarto, chutando tudo o que via pela frente. QUE INFERNO! Por que é que ele tem que bagunçar a minha vida desse jeito? Hã? POOOR QUEEEÊ?

Tirei meus tênis e joguei-os em um canto qualquer do quarto. Sentei com força na beirada da cama, eu precisava quebrar alguma coisa - mesmo sabendo que se fosse a minha cama eu teria que dormir no chão por quase dois meses. Mirei o tijolo com teclas (lê-se: meu celular) que estava pousado sobre meu criado mudo e bufei, irritada. Mas se eu tinha que me sentir culpada, ele teria que se sentir assim também.

Comecei a digitar a mensagem, mesmo sabendo que ele não ficaria com nem um pouquinho de remorso ao lê-la. Ele ficaria feliz.

“Eu acabei de partir o coração mais nobre do mundo em centenas de milhares de pedacinhos. Espero que esteja satisfeito com isso, animal.”

Apertei a tecla ‘send’ e me deitei de barriga para cima, encarando o teto. Será que se eu pulasse do alto do carvalho que tinha no quintal da minha casa eu morreria? Não, provavelmente só quebraria alguns ossos. Maaaas, seu eu pulasse de cabeça, quem sabe...

Fui arrancada de meus devaneios suicidas pelo barulho da porta do meu quarto, que foi aberta sem aviso prévio.

-Mãe? O que foi? - perguntei, preocupada.

Minha mãe estava parada na soleira da porta, com o rosto lívido e os olhos marejados. Ela caminhou até mim e sentou-se ao meu lado na cama, acariciando meus cabelos.

-Fica calma, ok? - pediu em um sussurro.

Um mau pressentimento me dominou e o sangue já começou a fugir de meu rosto.

-O que houve? - minha voz saiu mais baixa do que a dela.

Bella hesitou.

-Filha, é... É o Jacob. Ele sofreu um acidente. Bateu o carro. - falou devagar, como se isso pudesse diminuir o impacto da notícia.

Um soluço alto escapou por minha garganta, e depois tudo ficou escuro.

Sete de outubro de 2010, 14:25.

Respirei fundo, tentando me acalmar. O mundo era tão injusto! E eu era uma vaca. Mas não uma simples vaca, não, eu era uma vaca covarde. Tão covarde que não fui capaz de cumprir a minha sentença sozinha, tive que arrastar Luke comigo e fazê-lo passar por aquela situação desconcertante. Sim, desconcertante, porque eu sabia que Jacob já chegaria atirando para matar.

Metaforicamente, é claro.

Crueldade tem limite, sabem? - é o que eu teria dito se, e veja bem, apenas se eles tivessem me dado a oportunidade. Mas é claro que eles não deram, hello, estamos falando dos meus pais aqui. E, se estamos falando deles, não é nenhuma surpresa eu dizer que os dois já haviam saído hoje pela manhã, quando acordei e cambaleei sonolenta até a cozinha, encontrando o cômodo vazio e um bilhete sobre a mesa. Acho que a minha covardia é hereditária.

Filha,

            Seu pai e eu sentimos muito não poder tomar o café da manhã com você hoje, mas eu queria passar na feira antes de ir trabalhar, então saímos mais cedo.

            Ah, antes que eu me esqueça, tem uma coisinha que precisamos te contar: Jacob decidiu não participar do cruzeiro que os amigos de faculdade dele vão fazer para comemorar a formatura, ele estava realmente ansioso para voltar à Forks. Então, ele chega hoje às 14:30 no voo que vem direto de Londres, não é ótimo?Desculpe não termos contado antes, nós esquecemos ^-^.

            Billy pediu ao seu pai fosse buscar Jake no aeroporto, afinal faz cinco anos que o garoto está longe de todos que ama e, com certeza, ficaria triste se não tivesse ninguém lá para recebê-lo. Mas, com essa mudança na data de chegada, Edward não vai poder sair do trabalho para buscá-lo. Conclusão: Você vai =)  SEM DISCUSSÃO!

                                                                                               Te amamos muito,

Papai e mamãe.”

É claro que eu fiquei muito louca com isso, mas o que se pode fazer além de obedecer  a seus pais quando você tem vinte e um anos, é uma lascada na vida e recebe ajuda mensal - humilde, mas... - deles para pagar suas despesas da faculdade? Reposta: Você pode se matar! Mas eu era covarde demais para isso ¬¬’, então apenas corri até a sala e liguei para Lucas, pedindo socorro. E ele, é claro, como o garoto maravilhoso que é, veio me ajudar.

-Nessie, você não me parece bem, bonequinha. - ele disse, preocupado, acariciando minha bochecha.

Tentei colocar um sorriso no rosto, mas acho que não consegui mais do que uma careta.

-Eu estou bem, Luke. - falei, sem muita convicção - Não se preocupe.

Ele uniu as sobrancelhas.

-Tem certeza? - perguntou ceticamente, olhando para as minhas mãos trêmulas.

Eu rapidamente cruzei os braços.

-Tenho! - falei, firme.

-Ok, então. - e me abraçou, dando-me um selinho carinhoso.

Quando ele me soltou, eu respirei pesadamente e me ajeitei melhor na cadeira, fazendo a contagem regressiva.

Então, lá estava eu, torcendo para um meteoro cair em minha cabeça, quando vi a luz. Não, você não entendeu. Eu literalmente vi a luz: Um sinalzinho luminoso que se acendeu no grande letreiro eletrônico, ao lado da placa que dizia: “Voo 593, Londres-Seattle”, indicando que o avião em que ele estava havia acabado de aterrissar.

-Eu não posso fazer isso. - sussurrei para Lucas - Eu não posso fazer isso! - e saí desembestada em direção aos banheiros.

Dois passos e ele me alcançou.

-Aonde você vai? - perguntou, confuso.

-Vomitar. - respondi automaticamente.

-O quê?

Bufei, impaciente.

-Aff, você me conhece Lucas, sabe que a comida cria vida em meu estômago quando eu fico nervosa.

-Nessie... - ele disse, rindo, e me puxou para seu peito em um abraço confortador.

Eu escondi meu rosto dentro de seu casaco.

- Eu não posso fazer isso! - falei novamente.

-Você pode sim! - Lucas disse.

Fala sério, de onde ele tirava tanto otimismo?

-Não, eu não posso. - bati o pé.

Ele fez um muxoxo.

-Você não só pode, como vai. Você vai receber o seu amigo. - hesitou por um momento - Afinal... O que é que ele fez de tão grave, para te deixar assim nervosa com a sua chegada?

O que ele fez? Ele não fez nada! Fui eu que fiz, machucando-o da forma mais cruel que alguém pode machucar outra pessoa! - tive vontade de gritar, mas não o fiz.

-Eu não quero falar sobre isso. - falei, seca.

-Ok! - Luke ergueu as mãos em sinal de rendição e me arrastou de volta para as cadeiras.

Mas eu não tive nem chance de me sentar, pois, mesmo no meio daquele aglomerado de pessoas no saguão do aeroporto - umas chegando, outras partindo, eu consegui vê-lo, no exato instante em que passou pelo seu portão de desembarque. E naquele momento eu me dei conta de que a conexão absurda que sempre existiu entre nós ainda estava ali, viva e pulsante, e me chamando para ele.

Soltei a caixa de bombons - cortesia de mamãe - sobre um assento qualquer e corri, corri como a louca que eu era, e pulei em seu colo, enlaçando minhas pernas em sua cintura e afundando o rosto em seu pescoço cheiroso. Jacob me segurou firmemente e enterrou o rosto em meus cabelos. Só percebi que ele chorava quando ouvi um soluço baixinho, e só percebi que eu mesma chorava quando vi a gola de sua camisa arruinada pelas minhas lágrimas.

E daquele jeito nós ficamos durante alguns minutos, apenas abraçados um ao outro. Éramos dois náufragos que ficaram à deriva por muito tempo, e que agora se agarravam às suas boias salva-vidas na última esperança de sobrevivência. Cinco anos! Cinco longos anos longe do amor da minha vida. O meu choro já estava tão descontrolado que chegava a ser constrangedor.

Desci de seu colo e analisei-o minuciosamente. Céus, Jake havia mudado tanto! Já não tinha mais seus longos cabelos negros que eu tanto amava, mas, devo admitir, ele ficava melhor desse jeito. Suas feições também estavam diferentes, mais fortes, mais maduras. Mas, o que mais me chamou a atenção foi seu corpo. Ele estava imenso! Enorme mesmo, tipo aqueles caras que lutam na TV, e eu mal alcançava seu ombro de tão alto que estava.

Ele também me analisava, mas eu não estava tão diferente. Na verdade, eu não estava nada diferente, continuava a mesma de cinco anos atrás. Ou, quase a mesma, pois agora eu não era mais a Ness do Jacob. Agora eu era a Nessie do Lucas.

Pelo menos era nisso que eu queria acreditar.

Mas mesmo assim eu sabia, no fundo da minha alma, que eu sempre pertenceria àquele homem que estava bem na minha frente, me olhando daquela forma carinhosa, que me fazia sentir especial e amada. Jake e eu havíamos crescido juntos, e ele sempre me tratara desse jeito, cheio de ternura, como se eu fosse a coisa mais importante do mundo para ele.

Voltei a abraçá-lo, inalando seu perfume delicioso e aproveitando o máximo daquele momento para matar a saudade, pois eu sabia que não poderia ficar muito tempo perto dele depois disso. A não ser que eu quisesse machucar o Luke, porque, com certeza, eu cairia nos braços de Jacob na primeira investida dele. Quem não cairia? - Ao menos eu tinha isso para usar em minha defesa.

Só que, ao lembrar de Lucas, eu me toquei de que o estava magoando, afinal, assistir a namorada agarrada a um cara - que é o grande amor da vida dela, só para constar - daquele jeito não deveria ser muito agradável.

Tentei me afastar de Jake, mas é claro que ele não deixou. Do jeito que ele me conhecia, certamente já havia percebido que eu estava desconfortável com algo, e, certamente, já havia deduzido que esse ‘algo’, na verdade, era alguém. Ele beijou minha testa demoradamente e depois descansou a cabeça em meu ombro.

-Ele é seu namorado, não é? - perguntou sua voz rouca em meu ouvido, e eu sabia que ele estava fuzilando Lucas com os olhos.

Estremeci. Há quanto tempo eu não ouvia aquela voz? Pareciam-me séculos.

-Sim. - respondi, um pouco envergonhada. - Você vai respeitar isso, não vai? - meu tom esperançoso era patético.

PATÉTICO! Porque eu sabia que, daquele momento em diante, dependeria completamente da solidariedade dele para poder continuar o meu namoro com Luke.

Mas ele não respondeu à minha pergunta, e isso me fez entrar em pânico.

Dez de outubro de 2010, 18:22

-Eu vou ficar bem, Luke - falei pela milésima vez - Não se preocupe.

-Tudo bem, mas qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, é só ligar, ok? - falou, me ajudando a tirar o cinto de segurança.

-Ok. - respondi sorrindo, ele era tão preocupado comigo!

Ele sorriu de volta, beijou-me e falou que me amava. Eu, como sempre, apenas sussurrei um “idem”. Nunca conseguia dizer a ele que o amava, talvez porque tivesse medo de pronunciar aquelas palavras. Ou então porque eu realmente não o amava.

Peguei minha bolsa e o pequeno embrulho, que estavam no banco de trás do seu carro, e abri a porta. Mas, antes que eu saísse, Lucas segurou meu braço e me fez olhar em seus olhos.

-Nessie, eu sei que pode parecer paranoia da minha parte, mas... Eu sinto que vou te perder. - confessou baixinho.

-Luke... - comecei, mas ele me impediu de continuar.

-Você ainda o ama. - não foi uma pergunta, foi uma afirmação. Não neguei. - Eu posso conviver com isso porque tenho a esperança de que algum dia você o esqueça e passe a me amar, mas... Mas não posso conviver comigo mesmo sabendo que eu sou a única coisa que te impede de ser feliz.

-Lucas! Nunca mais repita isso, me ouviu? - ralhei, perplexa - Você não me impede de ser feliz, muito pelo contrário, você é muito importante para a minha felicidade.

Luke deu um sorriso amarelo.

-Eu sou o “muito importante”, mas ele é o “fundamental”. Não tente negar para mim algo que você não consegue negar nem para si mesma, amor: Não existe Nessie sem Jacob.

Olhei-o com os olhos cheios d’água, ele estava me dizendo adeus?

-O que você quer dizer com isso? - perguntei, engolindo o choro - Você está terminando comigo?

Ele riu.

-Nunca. Eu não conseguiria, minha alma te pertence. Eu só estou dizendo que, caso você escolha ele, eu vou entender. E vou querer continuar participando da sua vida.

-Isso não vai acontecer. - garanti - Quando você voltar da sua viagem, eu vou estar te esperando.

Lucas sacudiu a cabeça.

-Não prometa algo que você não pode cumprir, Nessie. De qualquer forma, eu vou torcer para que você resista a ele, mas isso porque eu sou um iludido. - sorriu - Agora vá, ou então o bebê da Rachel vai nascer com cara de bolinho de banana.

Forcei um sorriso.

-Adeus, Renesmee. - ele disse antes de eu fechar a porta.

-Até logo, Luke. - frisei bem o ‘logo’.

Por que as coisas têm que ser tão complicadas? - era a pergunta que rodava em minha mente enquanto eu caminhava pela tão conhecida estradinha de barro, em direção à pequena casa de madeira vermelha.

Rachel, grávida de seis meses,  estava com desejo de comer bolinhos de banana. E a minha mãe, como a pessoa ótima que é, preparou os bolinhos para ela e pediu, carinhosamente, para que eu trouxesse a bandeja para Rachel.

Lucas estava indo viajar hoje, iria para o Texas visitar a família, e me trouxe até La Push antes de ir ao aeroporto porque, bom, digamos que eu não era lá uma motorista muito boa.

Quando avistei a casinha, meu coração foi a mil. É claro que eu já tinha vindo muitas vezes aqui depois da partida dele, para visitar Rachel, Rebecca e Billy. Mas, sabendo que agora Jacob estava de volta, as coisas ficavam muito diferentes. Olhar para aquela casa sabendo que ele deveria estar em algum lugar lá dentro me provocava um frio na barriga. Trazia-me as mais perfeitas lembranças: Os momentos que passamos juntos na infância; os deveres da escola que ele me ajudava a fazer na mesinha da sala; a adolescência; nosso primeiro beijo; nossa primeira vez. Tudo ali, naquela casinha de janelas estreitas.

Jake e eu sempre fomos carne e unha, inseparáveis. Ele me protegia de tudo e todos, fazia tudo para me ver bem e feliz, sempre. E, eu tinha certeza, ele daria a vida por mim. Minha garganta fechou de angústia quando constatei que, tudo que eu fiz para retribuir seu carinho e dedicação, foi deixá-lo sozinho.

Olhei para o céu, estava completamente carregado por nuvens escuras. Uma das costumeiras tempestades de Washington estava prestes a começar. Uma gota de água caiu em meu rosto e eu fechei os olhos, lembrando-me do dia mais doloroso que já vivi.

Flash Back: 15 de agosto de 2005, 8:35.

-Você está estranha, Ness. - Jacob falou enquanto caminhávamos de mãos dadas pelo grande saguão do aeroporto de Seattle.

-Eu? Não, imagina! Estou perfeitamente normal. - disfarcei.

Eu iria adiar o assunto o máximo que pudesse, não queria que ele tivesse tempo para discutir, queria apenas embarcá-lo naquele avião para que ele pudesse seguir em busca de seus sonhos.

-Sei. - ele falou, contrariado.

Peguei em sua mão e puxei-o para umas cadeiras mais afastadas, eu queria privacidade.

Sentei-me em sua frente e fiquei apenas olhando em seus olhos por um momento. Ele estava sorrindo e seus olhos continham um brilho diferente, de pura ansiedade por estar entrando em uma nova fase de sua vida. Mas eu podia perceber a tristeza nele, tristeza essa que ele fazia de tudo para esconder, na intenção de evitar o meu sofrimento. Jacob sempre fora assim: ele preferia segurar a barra sozinho, a ver o mínimo vestígio de dor em meus olhos. Eu sabia que, se pudesse, ele me levaria junto para a Inglaterra.

Mas ele não podia, e eu não permitiria que ele passasse cinco anos de sua vida preso a mim.

-Eu vou morrer de saudades. - ele disse, a voz entrecortada.

Alisei seus longos cabelos lisos, que caiam como uma cortina negra até pouco abaixo de seus ombros. Respirei fundo, procurando uma forma de começar a conversa.

-Jake - falei por fim - Eu quero que fique com isso. - lhe entreguei a aliança de prata que já estava em meu dedo há mais de um ano.

Ele me olhou surpreso.

-Por quê? Não! Eu não quero que você passe um dia sequer sem usar a nossa aliança de compromisso, Ness! Coloca de volta! - falou, bravo.

Eu neguei com a cabeça, apertando os olhos com força para que as lágrimas traidoras não me denunciassem.

-Não existe mais compromisso, Jake. Logo, não há mais razão para que eu use esse anel. - minha voz não passava de um sussurro.

-Do que, diabos, você está falando? - seu corpo tremia.

-Eu estou te libertando de mim, Jacob. Agora você é um cara livre, não tem mais nenhum tipo de obrigação comigo.

Ele pegou meu rosto em suas mãos e olhou em meus olhos.

-Eu não sei o que você pensa que está fazendo, Renesmee, mas, se for uma piada, pode parar porque não tem graça!

Eu tirei suas mãos de meu rosto e olhei para o lado, não teria coragem de dizer aquilo encarando-o.

-Não é piada, eu estou terminando o nosso namoro. Espero que você respeite a minha decisão e não insista.

-O QUÊ?! - ele gritou, atraindo a atenção de algumas pessoas.

Levantou-se da cadeira e começou a andar de um lado para o outro.

-O que deu em você, garota? Enlouqueceu? - ele estava bastante alterado, falava alto e maltratava seus cabelos, puxando-os com força. - Você só pode estar brincando, só pode. Nós já conversamos sobre isso, já combinamos tudo. Vamos nos visitar a cada quatro meses e nos falaremos por telefone e e-mail todos os dias. Isso já está decidido. Você não pode desistir de nós, meu amor.

Eu não pude mais conter o choro.

-Jacob, por favor, você só está tornando as coisas mais difíceis.

Ele se ajoelhou na minha frente, o rosto banhado em lágrimas.

-Por quê? - suplicou.

Desviei meu olhar, ver a dor estampada em seu rosto era muito mais do que eu podia aguentar.

-Porque eu sou uma maldita pirralha que não tem nada para te oferecer, droga! - desabafei - Você tem dezoito anos, já é um homem, e está indo para a faculdade em outro continente! Ficará cinco anos lá, rodeado por mulheres de verdade, lindas e experientes, e verá que eu não valho a pena.  Eu sou só uma garotinha sem graça de dezesseis anos que está no primeiro ano do colegial.

Ele se levantou de súbito, a fúria dominando-o. Deu um chute violento em sua mala, fazendo com que ela fosse parar perto dos lixeiros.

-Mulheres de verdade? - deu um riso curto e amargo - Você julga tão mal assim os meus sentimentos? Acha que eu vou deixar o grande amor da minha vida pela primeira vadia que estiver disposta a ir para a cama comigo?

Jake chorava descontroladamente, eu também.

-Não foi isso que eu disse! - protestei.

-Foi exatamente isso que você disse! Céus, Renesmee, quando é que você vai enfiar nessa sua cabeça dura que eu te amo mais do que a mim mesmo? Pára com essa insegurança idiota. Você é uma mulher. Eu te fiz mulher ontem à noite, lembra? Você é a minha mulher!

Inspirei e soltei o ar lentamente para me acalmar, como se isso fosse possível.

-Jacob, o que aconteceu ontem... Foi a experiência mais linda de toda a minha vida. Esses quinze meses de namoro foram a fase mais feliz que eu já vivi, mas, entenda, acabou. Vai ser melhor assim.

Ele me olhou incrédulo.

-Melhor assim? Não seja ridícula!

Eu iria responder, mas fui interrompida por uma voz feminina, chamando os passageiros do vôo com destino a Londres para o portão de embarque.

-É o seu vôo. - falei.

-Eu não vou.

Olhei para cima, buscando forças. Dei dois passos em sua direção e acariciei seu rosto.

-Você vai sim, esse sempre foi seu sonho.

-Sonho? Pro inferno a merda do meu sonho! Eu posso viver sem um sonho, mas não posso viver sem minha vida. Você é a minha vida.

Uma lágrima rolou por meu rosto, enxuguei-a com as costas da mão.

-Jacob Black, você vai embarcar naquele avião sim, sabe por quê? Porque você merece isso! Você é o cara mais maravilhoso do mundo, você lutou arduamente por aquela bolsa de estudos, e não, você não pode viver sem esse sonho! Eu ficaria muito decepcionada se te visse desistir de tudo.

Ele me abraçou com força.

-Não, você está errada, eu não vou embarcar naquele avião porque mereço. Nesse momento, a única coisa que me motiva a ir é o fato de que daqui a cinco anos eu estarei de volta, terei recursos para te oferecer uma vida confortável e nós iremos nos casar. Ness, olha para mim. - fiz o que ele pediu - Eu juro pela minha vida que, quando eu voltar, você vai ser minha de novo. E mesmo que você esteja em um altar, prestes a dizer sim para um outro alguém, eu não desistirei. Nem mesmo se você já tiver dito o sim. Nós dois fugiremos para, sei lá, Budapeste, e reconstruiremos a nossa vida.

Ele respirou fundo e continuou a promessa:

-Daqui a cinco anos eu estarei desembarcando aqui nesse mesmo aeroporto, e nós continuaremos de onde paramos.

Dito isso, ele me puxou para um beijo. Foi o mais desesperado de nossas vidas, e tinha um gosto amargo por causa das lágrimas que ambos derramávamos. O sofrimento fazia o meu coração apertar e ficar pequenininho. A ansiedade com que a sua língua buscava a minha era quase violenta, e nos separamos apenas quando nossos pulmões já estavam gritando por oxigênio.

Ele colou nossas testas.

-Não faz isso comigo, amor. - pediu entre soluços - Eu não consigo sem você.

Empurrei seu peito, afastando-o de mim.

-Adeus, Jacob.

E saí sem olhar para trás.

Fim do Flash Back.

Sequei algumas lágrimas idiotas que - idiotamente - eu permiti escaparem de meus olhos. Tomei fôlego e bati na porta. Não pira, Nessie, não pira - pensei, criando coragem. Você só vai entregar os bolinhos para Rachel, e depois voltar para casa.

Sabe quando dizem que “se começa bem, termina mal. Se começa mal, termina pior”? Isso se aplica a mim, não tenha dúvida. Concluí isso quando...

-Ness? - Jacob perguntou, surpreso, ao abrir a porta.

Engoli em seco. Cara, esse garoto deve ter malhado muito enquanto esteve na Europa, até seus músculos tinham músculos. Ele estava com uma calça de moletom, sem camisa, os cabelos curtos encharcados e uma toalha de banho pendurada no ombro. Quase me afoguei com minha própria baba.

-A... a Rach-chel está aonde? - gaguejei fracamente.

Ele pareceu um pouco desapontado.

-Ela saiu com o Paul, foram para Port Angeles.

Franzi a testa.

-Mas eu trouxe os bolinhos. - falei com a voz fininha, apontando para o embrulho.

-Bolinhos? - ele perguntou, confuso.

Eu o olhei sugestivamente, e ele entendeu, saindo da porta para que eu pudesse passar.

-É - falei, me encaminhando para a cozinha - Ela ligou para a minha mãe, dizendo que estava com um desejo imenso de comer bolinhos de banana, daí eu vim trazer. Mas, ao que parece, o desejo já passou.

Peguei um pote no armário e coloquei os bolinhos lá dentro, guardando no microondas logo em seguida. 

-Eles foram comprar algumas coisas para o enxoval. - a voz dele veio de algum lugar da casa, acho que de seu quarto.

-Tudo bem, depois você só avisa a ela que eu trouxe. - falei, pegando uma lata de refrigerante na geladeira.

Despejei todo o conteúdo da lata em um copo e me sentei sobre a bancada, bebendo devagar. Minha garganta estava absurdamente seca.

-Claro, pode deixar. - ele falou, entrando na cozinha - Sede? - arqueou uma sobrancelha, rindo.

-Aham. - ergui o copo.

Ele havia vestido uma regata branca que contrastava com sua pele e o deixava completa e despudoradamente sexy. Pegou uma lata de cerveja e fez o mesmo que eu, colocando tudo em um copo.

Eu tomei o resto da Coca em um gole só, lavei o copo rapidamente e saí da cozinha. Ele me seguiu.

-Você já vai para casa? - perguntou tristemente.

Olhei para o chão, eu nunca conseguia encará-lo quando estava triste.

-É, eu vou. A Rach não está em casa mesmo, então... - dei de ombros, fingindo indiferença.

Jake segurou meu braço carinhosamente.

-E você não quer ficar aqui mais um pouco? Nós podemos ver um filme, ou...

-Jacob. - interrompi - Pára, isso não vai acontecer. Nossas vidas tomaram rumos muito diferentes, elas não vão mais se cruzar.

-Ah, é? - ele perguntou.

Colocou-me sentada sobre as costas do sofá, posicionando-se entre minhas pernas e segurou meu rosto em suas mãos.

-Então fala que não me ama mais. Fala, Ness. - ele olhava em meus olhos - Fala que você não desejou tanto a minha volta quanto eu desejei voltar. FALA! - gritou, no mesmo instante em que um trovão assustador ecoou lá fora.

Eu apenas o olhei. Não sabia se deveria mentir e dizer que nem pensei nele durante esses anos, ou se deveria contar a verdade de uma vez por todas, deixá-lo saber o quanto eu ainda o amava - embora eu tivesse certeza de que isso já estava bastante claro.

-Você não ama aquele mauricinho topetudo, pequena. Eu sei que não. Nós somos Jake e Nessie, afinal. - sorriu com os olhos marejados - Existe, no mundo, alguém capaz de nos separar? Nem nós mesmos conseguimos.

-Nós já estamos separados. - falei em um fio de voz.

Ele ignorou minha colocação.

-Por favor, volta para mim. - implorou, olhando-me intensamente.

Meu lábio inferior tremeu, mordi-o com força. Eu tive vontade de gritar ‘SIM, É TUDO O QUE EU MAIS QUERO!’, mas então me lembrei de Luke. “Eu sei que pode parecer paranoia da minha parte, mas... Eu sinto que vou te perder.” - foi o que ele disse, e pude ver o quanto estava sofrendo. Não merecia uma traição.

Respirei fundo.

-Eu não quero mais ficar perto de você, Jacob. - declarei falsamente.

Ele arquejou e se encolheu, como se tivesse sido golpeado com uma adaga afiada. Aproveitei seu momento de fraqueza para afastá-lo de meu corpo e corri para a porta.

A chuva estava muito forte, aquela era uma das tempestades mais horríveis que eu já havia visto. Desci os degraus da pequena varanda e corri na chuva, mas eu não sabia para onde ir.

A dor estava me dilacerando. Eu havia machucado novamente a outra metade de meu coração, e deixado-a sangrando. Eu já estava completamente encharcada e não conseguia ver nada por causa da água que caía do céu aos baldes. Meus soluços eram descontrolados e eu estava tremendo.

Não vi em que momento ele saiu de casa, também não o ouvi se aproximar de mim. Só sei que em um instante eu estava ali, apertando meu peito com força para me manter inteira, e no outro era ele que o fazia, segurando-me com força em seus braços.

-Eu vou lutar por você. Não importa o quanto isso demore, ou o quanto parta o meu coração. Eu vou lutar.

E então selou nossos lábios com urgência, acariciando meu lábio inferior com sua língua. Seu abraço, que envolvia meu corpo com carinho e proteção, era também, de certa forma, possessivo. Como se ele quisesse me provar que eu ainda lhe pertencia. Mas eu sabia muito bem disso, minha alma sabia. Cada célula do meu corpo gritava por ele.

De qualquer forma, eu vou torcer para que você resista a ele, mas isso porque eu sou um iludido.” As palavras de Lucas começaram a ecoar em minha mente, e eu sabia o que era isso. Culpa. Separei-me bruscamente de Jacob e corri para a casa de Claire, ela era minha amiga e me ajudaria a fugir dali.

Onze de outubro de 2010, 21:17.

-Tem certeza de que vai continuar com essa besteira de fugir do Jacob, filha? - meu pai perguntou, enquanto media a minha temperatura - Aceite, ele é seu destino.

Neguei com a cabeça, e gemi de dor ao fazê-lo. Maldita sinusite!

-Não - falei com a voz estranha por causa do resfriado - Lucas é meu destino!

Papai sorriu, mas seus olhos me censuravam.

-Renesmee, você sabe muito bem que isso não é verdade. Você e Jacob são... Vocês são almas gêmeas, e ficar longe dele só vai te fazer mal. - parou por um instante - Na verdade, já te fez mal, não estou certo? Olha para si mesma, está péssima.

-Eu não estou doente porque estou separada dele - falei com desdém - Para ser bem sincera, ele é o verdadeiro culpado disso. Se não tivesse me beijado à força, no meio de um temporal eu não estaria...

-Ora, pare de bancar a durona - Edward me interrompeu - Porque eu bem vi que você chegou com os olhinhos brilhando em casa ontem.

Minhas narinas se inflaram.

-Essa é a primeira vez que eu me sinto segura quanto à minha vida amorosa, pai. - tentei explicar - Lucas é maduro, responsável, cavalheiro, sensato... Eu sinto que tenho o controle da relação, e isso é completamente inédito para mim. E ótimo. Além do mais, ele não é tão ciumento, e impulsivo, e complicado, e viciante, e... Enfim, ele não é como Jacob. Ele é educado, me faz sentir confortável e, principalmente, respeita o fato de eu ter escolhas. - tomei fôlego - Sabe o que Jacob fez quando eu disse que não queria ficar ao seu lado? Ele disse “Eu vou lutar por você”! - meu tom era indignado - Por que ele não podia simplesmente dizer “espero que seja feliz e, só para constar, estou me mudando para a Eslovênia hoje”?

Meu pai riu alto.

-Nessie, se você se sentisse tão segura com relação a Lucas como diz que sente, a presença de Jacob não te afetaria nem um quinto do que está afetando.

Sério? Eu nem tinha percebido! Bufei alto. Ele sorriu torto e saiu de meu quarto

Doze de outubro de 2010, 00:24

Acordei com um cafuné gostoso. Abri os olhos lentamente, meu corpo estava pesado e dolorido. A princípio minha visão ficou meio embaçada, mas depois consegui enxergar com clareza: Jacob estava sentado no chão, ao lado da minha cama, velando meu sono. Ronronei e me aconcheguei mais nos travesseiros.

-Sua mãe ligou lá para casa, ela disse à Rachel que você estava doente. - ele falou baixinho - Sinto muito por isso.

Olhei-o de cara fechada.

-E deve sentir mesmo, você é o responsável por eu estar assim. - minha voz estava ainda pior do que antes de eu pegar no sono.

Ele riu.

-Obrigado, eu me sinto bem menos culpado agora.

Não pude evitar, acabei rindo junto.

Depois disso, ficamos em silêncio durante um bom tempo. Ele descansou a cabeça em meu travesseiro, deixando nossos rostos a centímetros de distância.

-Como se sente? - Jake perguntou, por fim.

Pude notar que, por trás das brincadeiras, ele se sentia realmente culpado.

-Estou bem, não se preocupe. É só um resfriadozinho à toa. - hesitei por alguns segundos - E... E você, Jake? Como se sente?

Ele entendeu minha pergunta, sabia do que eu estava falando. Mesmo eu estando namorando outro, até mesmo se eu já estivesse casada com outro... Ainda assim eu sempre me preocuparia com Jacob e colocaria seu bem estar como prioridade máxima em minha vida, porque meu pai tinha razão: Nós éramos sim almas gêmeas, e nossa separação foi a decisão mais tola que eu poderia ter tomado, agora eu podia ver. Eu fui tão tola! Deixá-lo sozinho por tanto tempo, tê-lo feito sofrer e, o pior, continuar fazendo, tudo isso era horrível. Mas era resultado de uma escolha minha. Uma escolha definitiva - mal-pensada, mas definitiva. E depois, eu ainda havia envolvido mais um coração nessa história, não tinha como escapar, alguém sempre sairia machucado.

Jacob olhou em meus olhos e esperou até que eu o encarasse de volta.

-Isso realmente faz diferença? - indagou - Realmente faz?... Eu sei que o seu amor por mim ainda vive, Ness. Em algum lugar aí dentro - apontou para o meu peito - Ele ainda pulsa. Mas sei também que você é nobre demais para se deixar levar por esse sentimento, porque não quer magoar o boiola do seu namoradinho. Então, o que importa? As coisas vão continuar exatamente do jeito que estão: você vai continuar namorando aquele otário, mesmo me amando. E sempre que não aguentar mais de saudade, vai correr para a minha casa e eu vou te tomar em meus braços e te fazer minha sem a menor pressa. E é isso.

As minhas lágrimas já ensopavam o travesseiro.

-Você é muito mais do que eu mereço. - sussurrei.

Ele sorriu, um sorriso fraco e tristonho.

-Eu sou seu. - declarou - Tão seu que não me importo nem de ficar apenas com o papel de Ricardão.

Dei um leve tapa em seu braço.

-Você não vai ser o ‘outro’. - falei, zangada - Eu não teria coragem de fazer isso com o Lucas. Mas não posso negar que, para mim, é impossível ficar longe de você. Então, nós vamos ser amigos, eu e você. Os melhores. Para sempre.

-Se isso é tudo o que você pode me dar, tudo bem. - ele suspirou - Pelo menos vou estar com você.

Cheguei mais perto da parede, deixando um lugar vago na cama, e dei um tapinha no espaço ao meu lado. Ele se deitou lá e ficamos abraçados até dormir.

Quatorze de outubro de 2010, 9:03.

-Droga! - resmunguei enquanto saía do carro.

Eu estava na garagem da casa dos meus pais, tentando fazer o carro funcionar. Eu detestava dirigir e era a pior motorista que já havia pisado nesse planeta, mas me obriguei a sair de casa. Já não aguentava mais aquela falta do que fazer, pois meus pais estavam trabalhando, e haviam me deixado em casa sozinha e indefesa para ser consumida pelo tédio.

Dirigi-me até a frente do carro e abri o capô, para tentar descobrir o que havia de errado com o motor daquela porcaria. Debrucei-me sobre aquele amontoado de peças que não faziam muito sentido para mim e fiquei brincando de ‘minha mãe mandou’, já que não entendia nada de mecânica, seria na sorte mesmo. 

Estremeci quando senti braços quentes e fortes envolverem a minha cintura e aquele cheiro amadeirado maravilhoso me invadir, ele tinha um cheiro de homem.

-Bom dia, pequena. - sussurrou em meu ouvido e depositou um beijo molhado em meu pescoço.

Um arrepio percorreu o meu corpo inteiro, desde o pé até o último fio de cabelo, e eu não precisava nem olhar para saber que ele estava sorrindo, satisfeito por ainda causar essas sensações em mim.

-Jake - gemi baixinho, mas depois a consciência voltou a mim - Jacob! Você não pode fazer isso, eu tenho namorado! - falei me desvencilhando de seus braços.

Ele fez um som de desdém e resmungou “um bostinha que, aposto, nem dá conta do recado”. Eu o fuzilei com os olhos.

Jake ergueu as mãos em sinal de rendição.

-Tudo bem, eu vim aqui para tomar café da manhã com você, não para discutir sobre o seu namorado. - falou a última palavra com uma careta - Precisa de ajuda com o carro?

Eu assenti.

-Não sei o que há de errado com essa lata velha, não quer pegar! - falei, carrancuda.

Ele meneou a cabeça para o lado, desconfiado, e entrou no carro.

Apenas girou a chave e a antiga picape vermelha de minha mãe rugiu estrondosamente, como um urso que acaba de acordar da hibernação. Eu fiquei perplexa.

Jacob saiu da caminhonete sorrindo, e veio caminhando lentamente em minha direção.

-Nem precisa dizer nada - eu disse, emburrada - Eu deixei a chave frouxa na ignição de novo, não é?

Ele assentiu. Percebi que estava se contendo para não rir.

-Mas - falou com falsa seriedade - Havia de fato um problema com o carro.

-Havia? - perguntei desconfiada.

Ele assentiu novamente.

-Sim, havia. Naquela pecinha que fica atrás do volante, popularmente conhecida como motorista. - deu uma gargalhada tão alta que fez eco nas paredes da garagem.

-Imbecil! - rosnei, ele riu mais ainda.

Aquilo me irritou profundamente. Peguei a primeira coisa que vi na minha frente - um estojo de pregos - e joguei nele com toda a minha força.

-Ai, sua louca! - reclamou, massageando o ombro.

Eu ri maleficamente.

-Maricas! - falei em tom zombeteiro.

Ele me olhou torto, mas depois deu um sorriso debochado.

-Tudo bem, isso realmente não doeu. Só serviu para provar que você continua a mesma magrela, fracota e pirada de sempre. - falou, provocando.

A minha visão se tingiu de vermelho.

-Eu vou te mostrar a magrela fracota, seu filho da mãe!

Avancei sobre ele distribuindo socos, chutes, mordidas, voadeiras, golpes de caratê e tudo o mais que me vinha na cabeça. Ele apenas segurava os meus braços, enquanto se contorcia de tanto rir.

-Para de rir, seu cretino! - falei louca da vida, socando seu peitoral - Não vai revidar? Eu estou te batendo, vamos lá, você não tem vergonha de apanhar de uma magrela?  

Ele já estava quase tendo um AVC de tanto que gargalhava, e eu... Bom, não há como descrever a fúria descomunal que se apossava do meu corpo naquele momento, mas posso dizer que uma veia já estava quase estourando em minha testa.

-Eu não estou apanhando de você, Ness. - falou revirando os olhos - E, acredite, eu só não vou revidar por que você iria querer atirar em mim se eu o fizesse.

-Ah, é? - perguntei raivosa - Então você me bateria se pudesse?

Ele bufou em escárnio, passou os braços em torno da minha cintura e me suspendeu do chão. Mas, eu não tive como protestar, pois quando abri a boca para xingá-lo, senti minhas costas sendo pressionadas contra a parede.

Engoli o jorro de palavrões que pretendia cuspir em sua cara quando percebi o quão próximo seu rosto estava do meu.

-O q-que você p-pen...sa que está fazendo? - gaguejei.

Seu corpo estava todo colado ao meu, prendendo-me à parede. Ele grudou os lábios em minha orelha e sussurrou.

-Revidando. - e então passou, lentamente, a ponta da língua em meu lóbulo.

Não pude conter o gemido de puro prazer que subiu por minha garganta e escapou por meus lábios entreabertos, Jacob perdeu completamente o rumo com isso. Desceu as mãos, que estavam pousadas em minha cintura, para meu bumbum e apertou-o deliciosamente. Eu arfei, jogando o meu corpo para frente, já não tinha mais controle sobre meus atos. Suas mãos desceram um pouco mais, ele segurou a parte traseira de minhas coxas firmemente e me ergueu, encaixando-me em seu quadril. Seu corpo dava sinais muito claros de que ele me queria, se é que me entendem, e a razão se esvaiu completamente de mim quando eu senti isso.

Entrelacei meus dedos em seus cabelos, puxando-os sem dó. Jacob colou seus lábios nos meus, sua ansiedade era tanta que beirava a selvageria. Sua língua invadiu minha boca sem nem pedir passagem, ele não precisava de permissão. Meu corpo, minha alma, minha mente, meu coração... Todo o meu ser reconhecia que ali estava a minha outra metade. Quando estávamos juntos, nossos corpos não precisavam de comando, as atitudes eram naturais. Instintivas.

Ele deixou a minha boca, descendo seus lábios por meu queixo, traçando a linha do meu maxilar e, finalmente, chegando ao meu pescoço. Tombei a cabeça para o lado, totalmente entregue.

-Eu sei que você ainda me ama, Ness. - sussurrava entre os beijos, mais para si mesmo do que para mim, como se estivesse se agarrando àquilo para sobreviver - Nós pertencemos um ao outro. Desde sempre e para sempre. Nascemos um para o outro.

Senti meus olhos umedecerem com a verdade contida em suas palavras. Sim, era tudo verdade, nós nos pertencíamos. Duas partes de um todo. Separados nós éramos imperfeitos, mas juntos não havia erro. Juntos viajávamos para uma outra dimensão, nosso próprio mundinho, e quando nossos corpos se fundiam, um ser perfeito e mágico vinha à tona. Jakeness.

Jacob, nesse momento, segurava a barra da minha blusa. Afastou seu rosto do meu para poder olhar em meus olhos e eu assenti, consentindo ao seu pedido mudo. Ele me presenteou com seu sorriso de sol e tirou minha blusa rápida e habilidosamente. Carregou-me até o pequeno sofá de dois lugares que havia na garagem e deitou-me delicadamente.

Eu apenas fechei os olhos e aproveitei o nosso momento. Enquanto Jake me fazia dele novamente, depois de cinco longos anos, as lágrimas de felicidade e satisfação rolavam soltas por nossos rostos. A sensação de estar em seus braços era libertadora, como se eu estivesse sendo resgatada de um mundo de trevas. Agora eu estava em casa novamente.

Quatorze de outubro de 2010, 10:39.

-Bom, eu acho que você vai ter que repensar aquele negócio de eu não ser o ‘outro’, porque é exatamente isso que eu fui ainda há pouco. - Jake sussurrou em meu cabelo.

Suspirei alto e me sentei no sofá, cobrindo os meus seios com o casaco de couro dele.

-Ah, qual é, Ness... - ele se fez de ofendido - Não tem nada aí que eu já não tenha visto... e beijado - puxou a jaqueta para baixo - Eu fiquei muito tempo sem ter essa visão, quero aproveitar enquanto posso.

Corei levemente, mas não deixei passar seu tom amargurado.

-“Aproveitar enquanto posso.” - imitei sua voz. E foi ridículo.

E ele riu. ¬¬’

-É. - falou - Exatamente isso. Enquanto o mongoloide não voltar, eu vou aproveitar a namorada dele.

Minha boca se escancarou em sinal de perplexidade. Estreitei os olhos.

-Você acha mesmo que quando o mongoloide voltar, eu vou continuar namorando ele? - perguntei, indignada.

Ele franziu a testa.

-Bom... Eu achei que você não quisesse magoá-lo, e...

-Realmente. - interrompi - Mas isso foi antes de eu fazer amor com você, Jacob, pelo amor de Deus!

Jake sorriu.

-Você quer dizer que... - respirou fundo - Quer dizer que vai terminar com ele para ficar comigo? - sua voz era desconfiada, mas, ao mesmo tempo, esperançosa.

Rolei os olhos.

-Dãh! - falei, rindo - Tá lento hoje, né?

Em um movimento rápido e inesperado ele me virou no sofá, ficando por cima de mim.

-Então quer dizer que a chave para você voltar a ser minha, esse tempo todo, estava no sexo?! - fingiu espanto.

Eu ri alto.

-Exatamente. - respondi com cara de inocente, fazendo-o gargalhar.

Ele aproximou sua boca da minha, mas antes de me beijar, encostou os lábios no meu ouvido e sussurrou.

-Então acho melhor eu me garantir, sabe, para que você não desista quando o efeito passar.

E como ele garantiu!

...

É, isso mesmo que você está pensando.

Dezessete de outubro de 2010, 18:41.

-Posso te pedir um último beijo? - ele perguntou, e vi que se continha para não chorar na minha frente.

Mas eu não estava me contendo, e chorava como uma condenada. Eu me sentia a maior vaca da história da humanidade por estar machucando aquele garoto maravilhoso, e o pior: Ele nem gritou comigo! Nem me xingou, nem me bateu, nem nada... Não! Ele só me pediu um último beijo! Só isso! Ai, por que é que a gente não manda no coração? Seria tão mais fácil!

-Quantos você quiser, Luke. - sussurrei.

Ele riu.

-Acho que vou ficar só com um mesmo, não quero que o Jacob esmague meu nariz. - tentou fazer graça.

Eu acariciei seu rosto.

-Antes de te bater, ele teria que passar por cima de mim. - minha voz estava entrecortada.

-Obrigado, Ness... Por tudo! - e então ele me beijou, um beijo doce e carinhoso.

Enlacei seu pescoço e fechei os olhos, tentando mostrar a ele o quanto estar ao seu lado era importante para mim.

-Eu é que tenho que agradecer, Luke... - falei, quando nos separamos - E me desculpar também, eu fui cruel com você.

Lucas balançou a cabeça em negativa.

-Você foi honesta, o tempo todo. Eu sabia no que estava me metendo. - beijou minha testa e se levantou do banco em que estávamos sentados.

-Eu acho que agora o adeus é definitivo, né?

-Eu acho que sim. - ele sorriu fracamente.

Abraçamos-nos e cada um foi para um lado diferente. Eu senti um aperto no peito naquele momento, aquela era, provavelmente, a última vez que eu o veria.

Dezessete de outubro de 2010, 19:54.

-É impossível que ninguém tenha uma droga de uma notícia! - falei, alterada.

Na verdade, foi quase um grito, o que fez a senhora da recepção me olhar com cara de poucos amigos. Eu até teria mostrado o meu lindo dedo médio para ela, se não estivesse tão preocupada.

-Calma, filha... Daqui a pouco alguém vem dizer alguma coisa. - papai falou baixinho, me puxando para que eu sentasse no banco ao seu lado.

Calma? Calma?! O meu pai fumou um back, só pode! COMO É QUE ELE ME PEDE PARA TER CALMA?!

Mamãe estava com a ponta do nariz  e os olhos vermelhos, assim como Rachel, e as duas choravam abraçadas. Billy estava inquieto em sua cadeira, o olhar desesperado. A turma havia comparecido em peso e nós estávamos ocupando todos os espaços disponíveis na sala de espera. Quil não parava de resmungar sobre a incompetência dos funcionários do hospital, que não apareciam sequer para dizer se Jake estava bem.

“É o Jacob. Ele sofreu um acidente. Bateu o carro.” - Eu tentava pensar positivo, mas as palavras proferidas por minha mãe há alguns minutos atrás ficavam dançando na minha cabeça, como um mau presságio.

-Eu vou lá - levantei-me novamente do banco - Se eu invadir o quarto eles vão ter que me dizer como ele está.

Edward me segurou pela mão.

-Pai! - protestei

Ele não respondeu, apenas apontou para algo atrás de mim. Eu quase quebrei o pescoço de tão rápido que virei a cabeça.

-Familiares de Jacob Black? - um homem alto e magro, vestido com roupas brancas e um jaleco com o emblema do hospital perguntou.

-Sim. - respondi prontamente, antes que qualquer um dos presentes tivesse tempo sequer de assimilar a pergunta.

O cara sorriu.

-Sou o doutor David McGuff - apresentou-se, eu apertei sua mão - Estou cuidando do rapaz Black.

Meu coração disparou, de repente eu não sabia se queria mesmo ouvir o que ele tinha a dizer.

-Como ele está? - a bocuda da Rachel perguntou. Será que ela não podia esperar um tempinho? Eu precisava me preparar, poxa!

O médico ficou sério instantaneamente, e meu estômago gelou.

-Bom... - começou - O acidente foi feio. Bastante feio. Só o fato de ele ter sobrevivido já foi um milagre.

A minha respiração já estava falhando, para que enrolar tanto? E mais: o acidente foi bastante feio? Sentei-me rapidamente, pois minhas pernas vacilaram.

-Mas, o que deixou não só a mim mas a todos os outros médicos chocados foi que... - abriu um grande sorriso - Ele está bem! Realmente bem! Perdeu bastante sangue, isso é verdade, mas não teve nenhum traumatismo. Em geral, o problema mais grave do quadro dele são três costelas quebradas, ou seja, nada que um bom tempo de repouso e cuidados não resolva.

Eu sorria e chorava ao mesmo tempo, meu corpo abalado por uns tremores estranhos. Há alguns segundos eu estava quase tendo um filho pela boca de tanto nervosismo e agora... Agora eu só sentia alívio. Jacob estava bem, meu coração continuaria vivo.

Dezessete de outubro de 2010, 20:38.

-Você está terminantemente proibido de me dar um susto desses novamente, me ouviu? - falei me jogando em cima de Jacob.

O efeito dos remédios tinha passado e ele havia acabado de acordar. Por mais que todos estivessem muito ansiosos para vê-lo, deixaram-me vir primeiro, eu realmente precisava daquele momento com ele.

-Desculpa, amor, sinto muito por te assustar... - gemeu de dor - AI! Caramba, Ness... Eu já tenho três costelas quebradas, não preciso de mais uma fratura, não.

-Oh, me perdoa, Jake, oh... - falei, afobada.

Eu estava beijando seu rosto e abraçando-o com força e, no meu entusiasmo, quase terminei de arrebentar o coitado.

-Tudo bem, tudo bem - deu um riso fraco, e gemeu novamente ao fazê-lo - Que droga! Não dá nem para respirar direito!

Fiquei angustiada com isso.

-Você está sentido muita dor, não é? - perguntei, preocupada - Eu vou chamar a enfermeira e pedir para ela te dar mais analgésicos, só um minutinho.

E saí em direção à porta.

-Espera, Ness. - ele pediu, baixinho.

Virei-me.

-Sim?

-Eu posso aguentar a dor... Tranquilamente. - sorriu - Mas não sai de perto de mim, por favor.

Apertei os lábios.

-Mas é bem rapidinho, Jake, eu só vou...

-Por favor - ele me interrompeu - Por favor.

Caminhei até seu leito e parei ao seu lado.

-Eu te amo. - falei baixinho, acariciando seu rosto.

-Eu te amo infinitamente mais. - ele chegou mais para o lado na cama - Deita aqui comigo?

Cerrei os olhos, a proposta era tentadora, mas...

-Jake... Eu não posso. Se o médico me pega ele me expulsa daqui.

-Para te expulsar ele vai ter que me expulsar primeiro, e não acredito que ele vá fazer isso antes de eu ter alta.

Sorri e subi na cama, me aninhando ao seu lado.

-Eu morreria sem você, sabia? Você é toda a minha vida. - declarei, deixando algumas lágrimas escaparem.

Pensar em todos os riscos que ele correu, pensar que eu poderia tê-lo perdido para sempre... Meu coração sangrava só de imaginar a possibilidade. Jake também estava chorando, colhi todas as suas lágrimas com beijos doces. Com muita dificuldade, ele ergueu o braço esquerdo e passou a mão em meus cabelos, acariciando-os.

-Todas as noites em que estive longe de você - respirou fundo, abafando um soluço - Eu sonhei com a sua voz me dizendo isso. Dizendo-me que, de alguma forma, eu ainda era importante em sua vida.

-Você não é apenas importante... - falei, lembrando-me do que Lucas havia me dito antes de ir viajar - Você é fundamental.

Ele não conseguiu mais se conter, e desabou em um choro doloroso. Aquilo me fez sentir tanta raiva de mim mesma a ponto de querer arrancar um braço. O sofrimento que eu provocara naquele garoto foi algo desumano. Mas ele precisava saber o quanto eu ainda o amava, o quanto eu era miseravelmente dependente de seu amor, e por isso decidi provar, da forma mais doida e romântica, que ele era a minha vida.

Desci da cama, ajoelhando-me ao seu lado e peguei sua mão. Ele me olhou, confuso.

-Jacob, eu sinto muito por tudo que te fiz, sei que eu sou a única culpada por todos os seus traumas, e... Eu me odeio por isso. - respirei fundo - Eu sou uma pessoa cheia de defeitos: Sou chata, impulsiva, mesquinha, egocêntrica, detestável...

-Qual é a finalidade disso tudo? - interrompeu-me, arqueando uma sobrancelha.

-Eu só quero que você saiba que, por mais imperfeita que eu seja, o amor que eu sinto por você me redime, Jake... Porque cada fibra do meu ser te idolatra. Eu quero ser sua para sempre. - beijei sua mão e olhei em seus olhos - Você quer se casar comigo, meu amor?

Ele quase caiu da cama.

Depois avançou sobre mim, beijando-me com tanta felicidade que fez meu coração inchar e ficar do tamanho do mundo, enquanto minha alma flutuava, dançando no paraíso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews? I LIKE IT! *-----------------------*