E aqui estava eu outra vez onde a batalha começou, cercada de lobos de todos os tamanhos. Olhei em volta e Circe não estava em lugar algum, isso estava me deixando preocupada. Será que ela foi embora? Bem, se foi os lobos não deveriam estar aqui. Eles tecnicamente a seguem.

Meus irmãos já tinham derrubado um dos gigantes, Encelado e agora estavam seguindo para Tifão. Preferi me manter de fora matando a maior quantidade de lobos que conseguia. Eu me sentia um tanto envergonhada quanto a isso, o que tinha feito até agora? Apenas assustado Cérbero e mandá-lo para o mundo inferior.

Continuei a atacar os lobos e tentava não pensar que na verdade eram milhares de homens, mortais e semideuses que cariam aos encantos de Circe ou até mesmo que um deles fosse Cameron, hesitava um pouco ao matá-los, mas de qualquer forma era preciso.

Meus irmãos ainda estavam ali, lutando bravamente eu podia ver que estavam todos exaustos e prestes a cair. Eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que matar Circe.

Olhei em volta outra vez bem a tempo de ver o longo vestido negro de Circe se arrastar para dentro do castelo.

- Onde você está indo - Disse para mim mesma e corri em direção ao castelo.

Infelizmente atrai a atenção de alguns lobos que me seguiram castelo a dentro, exatamente seis. Um deles conseguiu me pegar e abocanhou meu calcanhar cravando seus dentes com firmeza perfurando um pouco minha carne, sacudi meu pé desesperadamente antes que os outros chegassem então peguei minha espada e consegui feri-lo. Levantei-me e corri até o salão de meu pai, fechando as portas antes dos lobos entrarem, eles a arranhavam e latiam desesperadamente, mas eu sabia que não poderiam entrar depois dela fechada.

Eu ainda estava com as mãos sobre a porta de costas para o resto do salão, apenas pensando no que fazer. Foi quando eu o ouvi.

- Selene?

Minhas mãos congelaram sobre a porta, um frio subiu pela minha espinha. Isso era impossível, impossível. Virei-me devagar com medo do que pudesse encontrar estava com as mãos coladas ao meu corpo e tremulas. Era ele.

- Polix - Minha voz saiu abafada, rouca, triste, surpresa tudo isso em apenas uma palavra.

Polix sorriu e foi aquele pequeno sorriso que me levou de volta pra aqueles tempos antigos. Também sorri enquanto as lagrimas deslizavam sobre meu rosto.

Meus pés hesitaram a ir ao seu encontro, achei que fosse imaginação minha, algum tipo de delírio que Circe tenha planejado. Deixei meu lado racional de lado, pouco importava corri em sua direção e o abracei Polix cambaleou para trás e retribuiu meu abraço me apertando junto a si.

- Como isso pode... Você... Já faz tantos anos - Minhas frases saiam intercaladas, como se todas as duvidas na minha cabeça jorrassem da minha boca de uma vez só.

Ele não disse nada apenas continuou me abraçando.

- Polix, o que aconteceu com você?

Então Polix se afastou devagar, apenas o bastante para olhar em meus olhos.

Seus olhos castanhos me fitaram e senti um embrulho no estomago, eu não sabia se era bom ou ruim, tudo o que importava era ele. Polix segurou meu rosto com uma das mãos e me beijou, seus lábios eram macios, me conectei com ele no mesmo momento e foi como se nunca tivéssemos nos separados.

Quando nos afastamos eu o abracei outra vez, enterrando meu rosto em seu ombro.

- O que aconteceu com você?

Perguntei outra vez tentando me afastar, mas o que ele fez foi me abraçar mais firme ainda. Devagar ele colocou a mão em meu pescoço segurando meu medalhão, tentei desesperadamente me soltar, mas ele tinha uma força sobrenatural.

- Polix me solta! O que você está fazendo?

Ele puxou com força o medalhão do meu pescoço, a corrente quebrou fazendo um pequeno corte em minha nuca, o sangue desceu por ela quente e grosso. No mesmo momento em que o medalhão foi quebrado um forte vento quebrou as janelas e entrou no salão fazendo todas as coisas ali voarem de um lado para o outro.

Com um simples empurrão em meu tórax Polix me jogou do outro lado do salão, bati contra a parede e cai no chão.

A primeira coisa que fiz foi olhar para meus braços para ver se estavam transparentes como de meu pai. Não aconteceu nada.

Então uma forte dor atingiu meu peito e não foi por causa do forte impacto e sim quem o causou. Porque ele tinha feito isso? Porque ele pegou o medalhão?

Minhas perguntas foram respondidas quando vi Circe entrar no salão caminhando calmamente com seu vestido negro e sinistro e seu salto alto fazendo um barulho extremamente irritante. Ao seu um lobo que caminhava com a mesma calma.

Ela pousou suas mãos no rosto de Polix o que o fez sorrir, aquele lindo sorriso. Então ela simplesmente o puxou para um beijo ele imediatamente retribuiu colocando a mão em sua cintura. Um som de repulsa saiu inesperadamente de meus lábios, Circe então se afastou e olhou para mim.

- Ah, você ainda esta ai.

Ela tamborilou as unhas sobre o queixo.

- O que fazemos com você... Hmm acho que Polix pode dar um jeito em você, vou gostar de ver isso.

Ela virou-se jogando para o lado seus longos cabelos castanhos.

- O que você fez com ele?

Perguntei enquanto me levantava do chão, Circe se virou de volta com um sorriso assustador.

- Só o tornei uma pessoa melhor. Qual é casar com você? Ele merecia coisa melhor - Ela agitou as mãos sobre a cabeça - È claro que ele demorou um pouco para ele se acostumar com a vida nova e entender que vai servir a mim pra sempre, alias vai ser assim com o Cam.

- Cam?

Circe revirou os olhos impacientemente.

- Cameron!

Serrei os punhos e senti meu rosto ficar vermelho de raiva.

- Cameron - Sussurrei - Onde ele está?

- Chega de papo.

Circe virou-se para Polix outra vez dramaticamente e começou a andar em sua direção.

- Onde ele está?! - Insisti.

Ela pegou o medalhão de Polix e colocou em seu próprio pescoço. Corri em sua direção, mas antes de alcançá-la Polix me atacou tomando sua frente.

Ele estava com uma espada negra, provavelmente feita por Circe.

- Polix sou eu! Lembra? Nós íamos nos casar.

Gritei dando vários passos para trás, eu estava sem minha espada e ele tentava de todas as maneiras me ferir, ou melhor, me matar.

Corri até minha espada e a peguei do chão e consegui me defender do seu ataque. Sua força enorme quase quebrava meus braços cada vez que sua espada chocava com a minha.

- Polix para, para.

Insisti outra vez, mas minhas palavras eram impenetráveis.

Continuamos a lutar se é que pode se chamar de luta cai varias vezes no chão e fui cortada. Houve um momento em que tentei usar os ventos com um leve sopro, mas não aconteceu nada, simplesmente nada é como se eu não tivesse nenhum poder comecei a entrar em desespero vencer Polix com certeza era impossível se eu pudesse ao menos chegar até Circe, mas nem isso era possível Polix a protegia de toda maneira.

Continuei apenas a me defender apenas de seus fortes ataques, sentia o sangue escorrer por varias partes do meu corpo. Com um pequeno descuido meu Polix cortou minha perna e cai de joelhos então pegou minha espada e arremessou indo parar do outro lado do salão.

Havia acabado eu tinha que admitir isso, correr não adiantaria nada eu somente prolongaria minha morte eminente.

Eu tentei, eu tentei.

Repetia milhares e milhares isso na minha mente tentando convencer a mim mesma. Quer dizer, nem mesmo proteger o medalhão eu consegui meu pai ficou com ele por anos, enfrentou milhares de batalhas e sempre o protegeu, e eu? O que eu fiz? O perdi nas primeiras horas.

 Polix caminhou ao meu lado segurando firme sua espada.

- Você disse que me amava - Falei rouca com algumas lagrimas caindo sobre meu rosto.

- E amei.

Olhei surpresa para ele, não esperava que fosse responder.

- Então porque quer me matar?

Ele não disse nada apenas jogou a cabeça para trás em um grande uivo, aquilo poderia até mesmo ter sido estranho se eu estivesse em outra ocasião. Ele jogou a espada no chão e se curvou a transformação foi rápida em um segundo ele era um lobo. Um lobo de pelo acinzentado o mesmo dos meus sonhos, o famoso dom dos sonhos pré-cognitivos para que eles serviam se não podia ao menos eu podia evitar as ocorrência dos fatos?

Polix era com certeza maior do que os outros lobos, o que me dava muito medo, ele se abaixou um pouco em posição de ataque rosnando, fechei meus olhos esperando que ele me matasse logo, a cada minuto eu pensava mais em Cameron.

Uma fração de segundos depois que fechei meus olhos, senti,  mesmo não vendo nada Polix dar alguns passos para trás, então algo pulou sobre meus ombros.

Abri meus olhos e vi um lobo em minha frente ele não estava me atacando muito pelo ao contrario estava me protegendo.

Seu rosnado era forte e autoritário, Polix caminhou alguns passos para o lado e ele fez o mesmo em minha frente, Polix deu alguns passos para o lado oposto e o lobo o imitou novamente.

Os dois agora estavam em posição de ataque e rosnavam, olhei em volta e Circe já não estava mais ali. Voltei minha atenção para os dois lobos e levantei devagar enquanto se encaravam eu podia sentir que a qualquer momento iam começar a lutar.

Enquanto me levantava o corte em minha perna me fez gemer, o lobo que estava em minha frente olhou para mim, nossos olhos se encontraram e fiquei paralisada. Olhos verdes, ele tinha lindos olhos verdes cheios de amor e preocupação, os mesmos do garoto que me apaixonei.

- Cameron - Sussurrei olhando o lobo de cima abaixo.

Ele continuou me olhando.

- É você - Eu disse incrédula com um meio sorriso.

Ele olhou para porta que agora estava entre aberta e em seguida para mim. Entendi no mesmo momento, devia ir atrás de Circe, mas deixá-lo ali? Acho que não teria problema nenhum, mesmo que eu odiasse admitir Cameron agora era um lobo e parecia ser mais forte que os outros, então fiz o que ele me pediu, peguei minha espada e fui em direção a Circe.

Assim que sai do salão pude ouvir rosnados e barulhos de coisas se quebrando e imaginei que agora estivessem brigando.

Corri pelos corredores a procura de Circe, ou pelo menos tentei correr minha perna estava machucada e mancava muito, eu tentei manter minha atenção para encontrá-la.

- Procurando alguém?

Parei bruscamente de correr e me virei para trás.

- Circe. É por você mesmo.

Ela sorriu.

- Pelo visto vou ter que terminar o que Polix começou.

Ela disse algumas palavras em uma língua estranha e percebi que ervas daninhas negras começaram a brotar do chão e se enrolaram e minhas pernas, fiz movimentos circulares com minha espada cortando varias, mas era inútil, elas cresciam outra vez ainda mais fortes.

- Você tem uma coisa que é minha - Eu gritei não me deixando abalar pelas daninhas das trevas que estavam enroladas em minhas pernas.

- E você espere que eu devolva? Quer saber de uma coisa vou fazer um teste.

Ela segurou firme o medalhão com uma mão e a outra ergueu sobre a cabeça. Um vento gelado se arrastou sobre os corredores deixando pequenos fraguimentos de neve por todo lugar os ventos eram fortes, mas as rajadas que vinham passavam rápido.

- Não consegue controlá-los - Eu disse o que fez Circe olhar diretamente para mim - Pode invocar os ventos como um guardião dos ventos, mas não pode controlá-lo.

Circe me olhou com os olhos regalados e percebi que as daninhas estavam perdendo a força em minha perna.

- Esta mentindo, é só questão de tempo.

Sorri do modo como ela falou com a voz tremula.

- Não você sabe que não é jamais vai poder controlá-los. E eu sei que esse é seu maior desejo.

Daninhas estavam cada vez mais recuando de minha perna.

- Eu não pude invocá-los, mas Talvez eu possa controlá-los, ainda sou tecnicamente uma deusa.

- Não - Foi nessa única palavra quem minhas pernas ficaram livres.

Concentrei-me no vento em minha volta, sim eu podia controlá-los. Sorri enquanto guiava os ventos para onde desejasse.

Circe levantou as mãos para o alto e começou a dizer alguma coisa, apontei minha mão em sua direção.

- De novo não.

Os ventos a jogaram contra a parede.

- Isso foi por ter quase me matado.

Antes mesmo que ela pudesse levantar eu a joguei em outra parede que se quebrou fazendo com se seu vestido ficasse branco de poeira.

- Isso foi por ter mexido com a cabeça de Polix.

A joguei dessa vez em uma coluna fazendo a mesma se quebrar em milhões de pedaços.

- E isso foi por ter transformado Cameron em lobo.

Caminhei lentamente até ela segurando firme minha espada.

- Você não pode fazer isso.

- Ah eu posso, e vai ser um prazer.

Abaixei ao seu lado e arranquei o medalhão do seu pescoço como Polix fez comigo. O colar que Cameron havia me dado no dia em que cavalgamos na fazenda esta em seu pescoço, Circe o tinha pegado do lago.

- Isso é meu.

Arranquei também a corrente de seu pescoço. 

Peguei minha espada e a segurei firme apontando para Circe, minhas mãos estavam tremulas e as pontas dos meus dedos estavam brancas.

- Você não precisa fazer isso - Circe disse séria.

- È a única maneira de reverter o feitiço em Cameron.

Fechei meus olhos e com um só movimento afundei a espada sem seu coração, abri meus olhos a tempo de vê-la tomada de daninhas negras.

- Tudo o que é meu vai comigo - Ela sussurrou e logo em seguida soltou uma gargalhada.

Então as daninhas simplesmente começaram a percorrer todo o salão formando um tapete negro, eu as segui até a entrada do castelo, o que eu vi foi incrível. As ervas não estavam atacando meus irmãos apenas desviavam deles e se enroscavam nos lobos e monstros praticamente desintegrando-os.

- Tudo o que é meu vai comigo - Repeti ainda olhando todos os lobos sumirem.

Lobos, meu estomago começou a revirar. Cameron era um lobo, olhei para os corredores e as daninhas estavam seguindo para o salão, corri outra vez para o salão tropeçando algumas vezes, às daninhas ainda se estendiam pelos corredores deixando tudo negro.

Cheguei ao salão antes mesmo que elas pudessem me alcançar abri com um pouco de dificuldade o enorme porta e o que encontrei foi Cameron sentado encostado em na parede no canto do salão, não em forma de lobo, ele estava apenas com a bermuda como no dia do lago, seu peito nu estava ensangüentado eu não conseguia nem saber onde estava o corte.

Corri para seu lado acariciando seu rosto.

- Eu o matei, matei Polix - Ele disse com um sorriso então concluiu - Eu disse pra você que ele era um mentiroso.

Eu assenti enquanto milhares de lagrimas jorravam sobre meu rosto.

- Me desculpa isso é tudo culpa minha...

Ele colocou seu dedo indicador em meus lábios e em seguida uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

- Não é culpa sua.

Olhei para trás esperando as ervas daninhas elas estavam já espreitando pela brecha da porta. Cameron segurou meu queixo me fazendo olhar para ele.

- Acabou.

Eu o abracei tomando cuidado para não machucá-lo.

- Eu não sabia, não sabia que isso ia acontecer. Ela jogou um feitiço.

Eu soluçava enquanto jogava as palavras quase incompreendidas para fora.

- Ei, esta tudo bem agora.

Então ele me beijou e quando se afastou repetiu que estava tudo bem.

- Não, não esta tudo bem você vai...

Não consegui concluir minha frase deixando-a no ar.

- Vou desaparecer.

Eu o encarei surpresa por terminar minha frase.

- Então como pode estar tudo bem? 

- Porque você vai ficar bem.

Olhei para trás e as ervas daninhas agora estava tomando o salão até mesmo sobre as paredes elas rastejavam. Cameron segurou meu rosto outra vez me impedindo de olhá-las.

- Olhe para mim - Ele disse limpando minhas lagrimas.

- Não quero ficar sem você.

Eu as senti se aproximando cada vez mais.

- Eu te amo.

Ele disse enquanto as daninhas das trevas enrolavam-se em suas pernas e tomavam seu corpo.

- Eu sempre vou amar você - Eu disse com uma voz firme.

Minhas mãos estavam pousadas em seu pescoço as daninhas agora estavam em seus ombros e desviam de minhas mãos seguindo por sua nuca, olhei em seus olhos, Cameron não parecia estar com medo ele não estava assustado com o que estava prestes a acontecer então me inclinei e o beijei como se pudesse mante-lo comigo para sempre, mas não funcionou, Cameron simplesmente sumiu dos meus braços me deixando no chão com lagrimas correndo sem parar sobre meu rosto enquanto as daninhas se retiravam calmamente.