O Poder do Amor escrita por CarolFernandes


Capítulo 2
Capítulo 1 - Esperanças Perdidas




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Esperança é algo que se tem ou não.

Talvez não tanto esperança, mas força de vontade e de viver. Eu tinha bastante disso tudo. Quando descobri que sofria de leucemia, foi no mínimo impactante, mas eu me acostumei com a idéia durante o tempo.

Emmett dizia – mais claramente do que nas conversas emboladas do médico – que como eu sempre fora forte e saudável, não seria tão difícil curar a doença. Mas ainda era difícil. Muito, muito difícil.

Apesar dele não frisar o quão difícil era, eu sabia pelo seu olhar e, claro, eu tinha pesquisado sobre o assunto.

A vida não era mais tão boa quanto sempre fora. Eu tinha pesadelos constantes e aterrorizantes, passava muito mal, comia pouco, me sentia cansado demais sem nem mesmo ter levantado da cama e até tinha perdido minha namorada.

Tanya era bonita, tinha um papo bom. Mas ela não era minha companheira, a mulher que eu me casaria e levaria uma vida ao lado. Como prova, ela tinha terminado comigo assim que soube que eu estava doente.

Ela disse: "Eu estou em plena faculdade. Não posso cuidar dos estudos, de mim mesma e de um namorado doente. Desculpe, Edward, você é um cara ótimo, mas eu não tenho tempo para você agora." Um sorrisinho falsamente triste foi a única coisa que ela me deu.

Eu não sentia raiva de Tanya, se fosse o contrário eu não faria o que ela fez, mas ainda assim eu tentava me pôr no lugar dela.  Era realmente um momento difícil para ficar doente, mas eu não tinha escolhido aquilo. Se pudesse escolher, ainda estaria fazendo minha faculdade de medicina – doce ironia – em Cambridge, uma das maiores universidades existentes que tinha me aceito.

“Posso entrar?” Esme bateu a porta, hesitante.

Eu odiava o jeito como a minha família me tratava, como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Era mais que proteção... Era pena. O meu quarto ficava ao lado do de Esme e Carlisle, para que em qualquer emergência eles estivessem ao meu lado.

“Já esta aqui dentro.” Falei tentando fazer graça, mas minha voz saiu fraca demais. Até fazer piada eu não conseguia por causa da maldita doença.

“Eu e Alice pensamos em almoçar fora, você nos acompanha?” Perguntou sorridente, enquanto tirava uma mecha de cabelo do meu rosto.

“Sim, mas, hum...” Tossi para minha voz ficar mais clara. “Dona Esme não quer fazer almoço hoje porque, hein? Preguiça é pecado.” Tentei fazer graça, outra vez.

Esme não era a favor de contratarmos uma empregada, apesar de dinheiro não faltar, porque morávamos em uma parte isolada do centro da cidade e seria ruim para qualquer pessoa se locomover até nós. Além disso, Cambridge era formada por uma maioria massiva de universitários como eu era. Esme não reclamava, pelo contrário, amava cozinhar e contava com a ajuda da família toda para limpar a casa gigantesca em que vivíamos.

“Ah, querido. Mereço um dia de descanso.” Ela apertou meu nariz, um gesto que eu não gostava muito. Esme suspirou, parecendo realmente cansada e pensei que em partes isso era culpa minha também.

“Desculpe.” Segurei sua mão.

“Pelo o que?” Seu cenho franziu em preocupação e confusão.

“Por te dar trabalho...” Sorri torta e tristemente.

“Não fale uma coisa dessas!” Ela pôs suas mãos em meu rosto, alarmada. “Você não me dá trabalho, é meu filho. É minha obrigação cuidar de você e eu faço com muito prazer.” Era difícil fitar os olhos de Esme por muito tempo, porque eu via a sinceridade.

“Não quero ser um peso para sempre.” Murmurei fechando os olhos.

“Você não vai ser.” Me aconcheguei nos seus braços, sentindo o calor instalado ali... O calor de mãe. Era muito comum para eu sentir frio demais, cólica, enjôo e febre. Esme estava sempre cuidando de mim, fazendo o possível para eu ficar melhor. Por mais que isso fosse o ‘trabalho’ de uma mãe, eu ficava grato por ela não me abandonar como outras pessoas faziam.

“Obrigada, mãe.”

“Edward?” Alice perguntou estalando as mãos a minha frente. Ela soltou uma risadinha quando eu me virei assustado. “Estava pensando em que?” Perguntou voltando a comer seu almoço. O restaurante que elas tinham escolhido era bem tranquilo e eu agradeci por isso, estava cansado e, por incrível que pareça, com fome.

“No que vou fazer agora...” As duas se entreolharam, pensando besteira. “Quer dizer, estou pensando no que fazer para passar o tempo. Indica algum livro, Alice?”

“Hum... Você sabe, não temos os mesmo gostos.” Soltou uma risadinha. Gibis realmente não eram a minha praia.

“Vou falar com papai. Ele me prometeu alguns livros da faculdade.” Falei mais para mim mesmo.

“Não, esses livros são muito complexos.” Esme disse alarmada. Percebendo sua excessiva preocupação, respirou fundo. “O médico disse que você não pode se cansar e, eu sei que quando você começa a ler algo muito difícil, não para mais.” Era verdade, eu não podia negar.

“Mas ele disse que é interessante.” Dei de ombros.

“Ele disse isso antes de você...” Esme respirou fundo outra vez, tentando não falar besteiras.

“Antes de eu descobrir que virei um doente inválido?” Completei entre dentes. Esme não negou, então levantei da mesa – com meu prato praticamente cheio – e sai do restaurante, indo até o carro dela e me apoiando no capô.

“Ela não quis dizer isso.” A voz de Alice estava bem perto de mim. Minha irmã era minha melhor amiga.

“Eu sei, mas é a verdade.” Lutei contra o nó na minha garganta, que com certeza desencadearia um choro.

“As coisas vão melhorar, você sabe. Ainda há muita esperança.” Alice era a pessoa que menos tentava me enganar, ela sempre fora sincera. Suas mãos acariciando meu braço esquerdo acalmavam-me.

“E se a esperança acabar?” Perguntei fazendo uma careta. “Se der tudo errado, eu... Eu acho que não estou pronto para...” Eu senti uma lágrima idiota descer. “Para ir.” Completei com dificuldade.

“Pare de pensar isso! Você não vai...” Alice me abraçou. “Eu não quero te perder, Edward. Não depende completamente de nós, mas depende de você. Nunca desista, irmão... E se você perder a luta, se orgulhe de ter lutado até o final.”

Se dependesse de mim, eu lutaria até o final, enfrentando tudo o que a doença trazia de ruim. Porém, quando eu fui fazer alguns novos exames, minha esperança se esvaiu em 90%.

“Cullen?” O médico chamou e eu o acompanhei até a sua sala. “Olá.” Apertei sua mão, sentando em uma poltrona a sua frente. Eu tinha pedido para vir sozinho até o consultório, já que não sabia se iria aguentar – caso algo estivesse errado – ver Esme ou Alice chorando por mim. “Nervoso?” Perguntou vendo o meu silêncio.

“Estou com um pressentimento ruim.” Confidenciei. Os pesadelos que eu tinha da minha morte e da minha família sofrendo, acabavam com a vontade de dormir e consequentemente me faziam pensar em muita besteira.

“Bem...” Começou, respirando fundo. “Eu realmente não tenho boas notícias.” Soltei o ar pela boca, sem nem perceber que estava prendendo.

“A doença piorou?” Perguntei escondendo minhas mãos embaixo da mesa, para que ele não visse o quanto elas suavam de nervoso.

“Antes fosse.” Riu levemente. Eu não tinha o mesmo humor que ele. “A doença estagnou. Desde os últimos exames, não mudou nada... Nem para pior, nem infelizmente para melhor.” Lamentou.

“Doutor...” Respirei fundo, tentando deixar minha voz audível. “Há alguma chance dos próximos medicamentos fazerem efeito?” Perceber que as três sessões dolorosas de quimioterapia que eu tinha enfrentado desde o último exame não tinham surtido efeito, foi preocupante.

“Desculpe-me, Edward. Parece que não há nada mais o que fazer.” Falou vagarosamente, como se eu fosse um retardado mental.

Meus joelhos fraquejaram e – como se eu já não estivesse 100% fraco – senti uma vertigem forte. Tudo a minha volta começou a rodar e, mesmo de olhos fechados, eu ainda sentia como se estivesse em um carrossel.

“Cullen? Você esta bem?” Perguntou se aproximando. Neguei. Ele gritou o nome de alguém e depois trouxe um copo de água a minha boca. Virei o rosto, sem vontade de beber aquilo. Eu não sei o que ele fez com a água, porque eu apaguei no mesmo instante.

 “Mamãe.” Eu via perfeitamente o garotinho correndo até o colo da mãe, em Forks.

O que aconteceu? Machucou?” Perguntou pegando o joelho ralado dele e assoprando cuidadosamente. O menino assentiu. Um pouco atrás vinha o irmão grande e desastrado dele, Emmett.

Desculpa, Ed. Foi sem querer, eu não olhei para trás e acabei te derrubando...” Falou rápido e nervosamente, esperando uma reação ruim da mãe que, afetada pelos hormônios da gravidez, estava um pouco mais estressada.

Esta doendo.” O menino do joelho ralado choramingou.

Vou passar um remédio.” A mãe ia levantar, mas o garoto a deteu.

Vai doer?” Perguntou desesperado. Ele odiava sentir dor.

Não, querido.” Beijou sua testa, se afastando.

Não chore, ela disse que não vai doer.” Uma menina de olhos chocolate se aproximou, dando um soco fraco em Emmett. “Eu disse para você não correr tão rápido, mete.” Falou para o grandalhão.

Eu estou bem.” Suspirou o garoto franzino, depois dando de ombros. “Obrigado, Bella.

Abri meus olhos vagarosamente. Uma claridade estranha atrapalhava a visão. Olhei para baixo e percebi estar em uma maca de hospital, com direito a roupa de enfermo. Suspirei. Eu estava acostumado a ter sonhos estranhos, até que eu os esquecesse ou eles se confundissem com a minha realidade. Apertei o já conhecido botãozinho que chamava a enfermeira, e logo uma mulher de branco se aproximou.

“O que aconteceu?” Minhas cordas vocais estavam muito defeituosas. Minha voz não saia direito.

“Sua pressão baixou e você desmaiou. Fique tranquilo, já chamamos a sua família.” Sorriu educadamente.

“Chamaram?” Sussurrei para mim mesmo, mas ela assentiu. “Não foi um sonho?” Segurei seu braço antes dela ir. Eu me referia a consulta do médico.

“Sonho? O que?” Ela foi até o pé da cama, lendo meu prontuário médico. “Eu sinto muito pelo seu estado, você é tão novo.” Falou com pesar.

Eu também achava que era muito novo. Se já era difícil aguentar a barra de que você morreria logo, imagina aguentar isso tendo pouca idade. Na minha concepção, eu ainda tinha muito que viver, mas a doença estava arrancando tudo o que havia em mim, como um furacão.

Minha esperança era o tratamento, mas ele nem sempre dava certo. Eu era um desses casos perdidos.

Eu tentei respirar fundo diversas vezes, acalmar meu coração que pulava incessantemente. Nada dava certo. Eu percebi que estava realmente desesperado quando senti lágrimas molhando minhas bochechas.

Eu não queria sofrer ou sentir dor.

Emmett e Esme me levaram para casa e reparei que no caminho eles não paravam de me olhar com pesar. Com certeza, o médico já tinha dito aquilo para eles também.

Olhei rapidamente para a minha fisionomia através do retrovisor do carro. Havia um tempo que eu não me olhava no espelho. Eu tinha emagrecido muito, havia um pouco de pele excedente na barriga, por exemplo, eu estava mais pálido do que nunca porque o tratamento não me deixava pegar sol e meu cabelo andava um pouco fraco. Meu maior medo era que ele caísse. Aí sim, eu pareceria uma caveira. Não que eu me importasse com o físico, mas talvez uma boa aparência diminuiria os olhares de pena destinados a mim.

Coitado! Tão novo. Tão bonito. Tão desmerecedor. Tão doente. Tão... Tão...

Minha cabeça ia explodir. Era madrugada e eu não conseguia dormir. Pensava demais na vida, ou melhor, na morte. Além de não querer sofrer, eu não queria que os outros sofressem. Eu sabia que me ver piorando a cada dia – e isso iria acontecer – acabaria com Esme, Alice, Emmett e Carlisle. Acabaria com a minha família.

Não era questão de suportar ou não a dor, era de deixá-los verem o meu sofrimento ou não.

Não!

Fui até o banheiro, procurando qualquer remédio que pudesse me acalmar de vez. O armário estava vazio. Com certeza, Carlisle já tinha pensado nisso. Grunhi, indo até a cozinha procurar o que eu com certeza acharia. Fitei a faca afiada a minha frente, com um olhar masoquista.

Apontei-as para o meu pulso, jogando toda a força que eu tinha naquele corte. Amaldiçoei minhas cordas vocais por produzirem um som agudo e alto de dor, que eu sentia, mas devia ter reprimido. Cai de joelhos, sentindo como se tivesse arrancado minha própria mão. Mas ela ainda estava lá, ensanguentada.

Esme apareceu a minha frente de camisola, chocada com a cena. Sua mão tapava a boca, que gritou ‘socorro’, e logo depois lágrimas nublaram seu rosto.

Eu não queria estar vivo para ver aquilo.


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Notas finais do capítulo

Capitulo forte, hum? :/ De começo, a história que eu queria postar era apenas isso, sobre como ele se sentia e como tentou se matar, mas depois percebi que o ponto de vista do Edward é bastante interessante. Ainda mais quando ele se apaixonada pela Bella. Então, surgiu OPDA.

Não sei se vocês sabem, mas eu sei bastante sobre o que o Edward esta passando porque o meu pai teve câncer e os sintomas e tudo mais são muito parecidos com os da leucemia. Vocês vão ver o tipo de comida que o Edward vai preferir, as oscilações de humor dele e as vezes em que ele passará mal. Tudo isso faz parte da doença.

Se, como o Edward, vocês querem uma esperança, tenho algo a dizer. O médico chegou para o meu pai uma vez e disse que não acreditava que ele se curaria. Isso tem cinco anos e eu nem preciso dizer que ele esta forte como um touro, certo?

Até qualquer dia. Estou preparando alguns capítulos e meu objetivo é escrever a mesma história de APC, só que em menos capítulos. Fiquem de olho, eu voltarei para postar a qualquer hora. :)

Cáh