E ele se foi. Edward simplesmente se foi. E quanto a mim? Desolada. Derrotada. Depressiva. O que preferir.

            Eu me encontrava tão alucinadamente triste que Charlie e Renée, meus pais, decidiram me internar na ala psiquiátrica do hospital de Forks, no qual Carlisle era funcionário e onde, em minha humilde opinião, enlouqueci de vez.

Passava tempo demais sozinha apenas com meus pensamentos e lembranças doloridas e confusas, lembrava de cada mísero detalhe: o jeito que ele me olhava sempre com cuidado e com o que eu sempre julgara ser amor; minha resposta imediata ao seu toque; seus beijos sempre controlados; sua pele fria como gelo e dura como mármore; sua família sempre tão afetiva...

A cada lembrança meu coração se apertava e se despedaçava. Toda noite eu imaginava Edward ao meu lado, me dizendo que voltaria para me buscar. Adormecia e sonhava com ele me dizendo que nunca me amou, nem nunca amará. Mas naquela noite tive um sonho bem diferente, sonhei com Alice me olhando preocupada.

“Bella, é você mesmo? O que aconteceu?” perguntava.

                Ri histericamente, pois em meus sonhos eles sempre sabiam como eu havia chegado ali.

“Alicinha! O que vai falar dessa vez? Que me visto mal? Que não sirvo para seu irmão? Velhas! Tente alguma coisa mais recente, essa já não me magoa mais. O que acha daquela vez que disse que preferia que eu tivesse morrido saltando do penhasco?”

“Eu nunca, se quer, pensaria alguma coisa assim! Você é minha melhor amiga, e eu amo você!” defendeu-se.

“Faça me rir, Cullen” fui cínica.

                Ela sacou o celular de um dos muitos bolsos de seu sobretudo, digitou alguns números incrivelmente rápido e colou o aparelho a orelha, falando rápido demais para que eu entendesse. Já estava acostumada com essas visitas, mágoas e palavras dolorosas que já nem me importava mais. Eu cantarolava algumas palavras sem nexo, balançando a cabeça conforme saíam de minha boca, muitas sem minha permissão.

“...Venha.” murmurou Alice encerrando a conversa.

“Falando com Edward e sua namorada?”

“Ele nunca mais namorou...” começou.

“Não namorou? Então ele está noivo! Essa é nova. Acredito que meus olhos estarão úmidos pela manhã. Conseguiu Alice, pode ir agora”

“Mas, Bella...”

               E então, ela não estava mais lá, como imaginei. A porta foi aberta ruidosamente e a enfermeira, Srta. Grunderberg, entrou trazendo uma camiseta branca nas grandes mãos. A camisa de força.

"Falando sozinha novamente, Swan?" grunhiu.

"Não... Eu..." tentei, sem sucesso.

            Srta. Grundenberg estalou os lábios furiosamente e deu um sorrisinho malígno.

"Bruce, me ajude aqui, sim?!" gritou a enfermeira, em sua voz rouca.

            Engoli seco. Bruce era o "ajudante" mais violento da ala e eu, com certeza, ia acordar com alguns hematomas. O grande homem adentrou a sala, mas se manteve nas sombras feitas pelos lugares onde a luz da lua não alcançava.

"Vamos, Bruce! Termine isso logo"

            Ele se aproximou de mim e segurou meu braço levemente. Assustei-me ao sentir sua mão que, ao invés de terrívelmente quente, era de um gelado conhecido.

"Oi, Bella" sussurou o grandalhão.

            Impossível. Não é, não pode ser. Eu murmurava em minha mente com os olhos cada vez mais arregalados, á medida que fui percebendo a realidade.

"Ande logo com isso, Bruce! Minha cama nos espera" disse a mulher.

            Emmett fez uma careta de desgosto, me pegou no colo e saltou pela janela, me deixando completamente sem reação. Assim que recuperei-me, protestei loucamente, enquanto ele me ignorava e seguia até a casa que me trazia várias lembranças. Adentramos a casa, eu ainda nos braços de Emmett. Esme nos esperava com um sorriso, assim como todos os outros.

"Bem vinda de volta, Bella"

            Eu estava certa de ter desmaiado enquanto Bruce me batia, e estar tendo uma alucinação. Ri histericamente enquanto me beliscava compulsivamente.

"Bella?" exclamou Edward.

"Alucinação, eu te peço: o Edward não, eu não aguento..."

"Você não está tendo alucinação nenhuma! Nós voltamos."

[...]

            As horas se passavam, e eu estava começando a pensar que podia estar em coma. Resolvi dormir e ver se acordava daquilo tudo. Adormeci rapidamente no confortável sofá dos Cullen. Sonhei com Edward e então tudo ficou escuro e por alguma razão, senti uma necessidade muito grande de gritar. E foi o que fiz.

            Acordei com um par de braços gelados á minha volta, abri meus olhos rapidamente, e me deparei com cabelos bronze chacoalhando, num movimento semelhante ao choro. Me desesperei, meu coração parou e recomeçou a batida, porém muito mais frenético.

"Edward? Não chore, por favor. Sei que foi se casar, mas não me importo! Eu amo você, cada celula do meu corpo ama você!"

            Ele me olhou nos olhos e eu vi um misto de tristeza e alegria.

"Bella... Eu nunca me casaria sem ser com você, meu amor! Isso não é uma alucinação. O que eu tenho que fazer para você acreditar?"

            Pensei durante alguns segundos, e logo me decidi. Algo que ele sempre negava, até mesmo em meus sonhos.

"Transforme-me."

            Ele hesitou por um instante, e por fim, me mordeu. Uma ardencia tomou conta de meu corpo, tornando dificil até a respiração. Sentia uma grande vontade de gritar, mas me contive. A dor era lacinante. Quando a dor parecia estar chegando ao fim, a queimação foi substituída por uma sensação de poder muito grande. Pude ouvir tudo a minha volta, até mesmo várias respirações no ambiente.

"Acha que fiz direito? Ela não gritou nem uma vez" disse uma voz maravilhosa. Edward.

            Tive que esperar alguns segundos antes de me mexer. Medo? Talvez. Pensei em levantar e olhar em volta, e antes mesmo do pensamento estar completo, eu já estava de pé e de olhos bem abertos. Os Cullen me olharam num misto de espanto e receio.

"Olá" tentei quebrar a tensão ali instalada.

"Bella?" chamou-me Edward.

"Sim, amor?"

            No instante seguinte eu já estava nos braços de Edward, o beijando. Era totalmente diferente das vagas lembranças que tinha de um beijo controlado. Esse beijo era apaixonado e totalmente sem limites.

"Bem vinda de volta, Bella" disse Alice, me abraçando.

            Passei a viver como uma Cullen, totalmente curada da loucura... Bem, não completamente, mas do jeito que era antes.

THE END.