Três semanas se passaram.

Sally não saía de casa, ainda não comia direito nem conversava com ninguém.

Ela e Justin estavam se aproximando novamente aos poucos. Eles não conversavam se não fosse algo extremamente necessário, mas agora passavam o tempo juntos, abraçados em silêncio.

Sally continuava tentando entender o que Julius queria dizer ao soltar a frase "só tem preguiça de usar o que sabe". Ela também não entendia o que o que tinha de tão forte assim entre ela e Justin. O que poderia ser?

Ela cogitou parentesco, amizade. Mas tudo parecia simples demais. Coisas que ficariam em uma única vida. Não havia necessidade de mais ligações.

A idéia que freqüentava a mente da garota quase o tempo todo era de que os dois se amavam. Um amor puro e verdadeiro, como sempre acontecia em filmes e livros. Algo maior do que dor. Do que a morte.

Mas ai, ela se lembrava do garoto a rejeitando no dia em que brigaram.

A prova de que ela o amava. Sally estava completamente apaixonada por Justin. Mas era isso. Ela o amava e não tinha outra solução que não fosse sentir isso sozinha, calada.

– Chega.

Sally levantou o olhar do prato cheio de comida em sua frente até a mãe, de pé, com a expressão preocupada.

– Sally, pare com isso!

– O que foi que eu fiz? - Sally se levantou bruscamente, fazendo a luz da cozinha piscar e Justin aparecer em seu lado. - Eu sempre faço alguma coisa errada! Que diabos você quer de mim? O que é que eu fiz agora?

– Não. Sally! Sally sua mãe não está brigando com você. Não comece algo desnecessário! - Sally olhou pro garoto, indignada.

– Como não? - Sally começou a responder Justin, que pedia para ela parar. Que ela não mostrasse que ele estava ali de novo. Mas a garota não o ouvia, estava cansada de ter que esconder tudo. - A única coisa que ela faz é brigar comigo! Você sabe disso! Ela não me ama Justin! Não me ama!

Sally parou, respirando fundo. Quando finalmente entendeu o que tinha feito, soltou resmungos enquanto puxava os cabelos, nervosa. A mãe dela se aproximou, com medo.

– Justin... - Ela tinha a voz baixa. - Você disse Justin!

– Nã-não e-e-eu só-

– Você começou com isso de novo? Está ficando maluca de novo! Meu Deus! - A mãe se afastou, começando a chorar.

Sally procurava palavras pra explicar o que estava acontecendo.

– Eu não estou maluca! Eu não estou! Ele existe mãe! Porque é tão difícil acreditar em mim? Ele existe. Justin existe.

– Que idéia é essa menina? Você não tem mais idade para amigos imaginários.

– Ele existe! Justin não é um amigo imaginário. Ele... - Sally olhou para o garoto que estava apavorado. - Posso contar pra ela?

Justin fechou os olhos por dois segundos respirando fundo enquanto aceitava sua proposta, mesmo sabendo que isso resultaria em um castigo, e logo os abriu assentindo para a garota.

– Justin é um anjo, mãe.

– Anjo? Um anjo, Selena? Isso não existe!

– Existe sim! Ele é um anjo! É meu anjo! Ele está aqui pra me proteger! Pra me fazer bem, feliz. E eu o amo, mãe. Eu amo Justin e você não pode mudar isso. Ninguém pode!

A mãe da garota e o anjo paralisaram, tentando decodificar o que ela tinha pronunciado com tanta segurança.

Era isso? O amor que Sally sentia por Justin realmente acabava atraindo o garoto até ela? Por que estava claro na expressão dele o quão surpreso ele estava. Logo, era fácil saber que ele não sentia o mesmo por ela.

E ela que queria manter tudo em segredo, como pôde dizer tão facilmente?

– Você... Me ama?

– Você ainda tem dúvidas? - Sally atraiu o olhar da mãe.

– Sally! Porque deixou chegar a esse ponto? Eu nunca poderia me envolver com você!

As palavras confusas que o garoto soltava pareceram esmagar o coração da menina.

Era óbvio que ele não a amava. Nem teria motivos pra isso mesmo se pudesse amá-la.

Sally estava acordada esperando Justin.

Julius havia voltado para buscar o garoto, dizendo que eles precisavam resolver alguns assuntos.

A imagem de quando Justin soube que ela o amava ficava repetindo em sua mente. O modo como ele desviou o olhar e levou as mãos até os cabelos, os puxando.

Logo, a menina não conseguiu mais segurar o choro e correu até o banheiro, para que a mãe não a ouvisse.

Sentou-se no chão, chorando de uma forma desesperada.

– Por que você não me ama? Por quê? - Sally sussurrava enquanto puxava os cabelos.

Os minutos se passavam e Sally acabou deitando no chão, enquanto continuava chorando.

– Oi Sally. - A pequena menina virou para o lado, vendo um garoto de olhos verdes, cabelo em um tom preto, com um corte um tanto quanto peculiar ao lado de sua amiga.

– Oi Tina. Tudo bem?

– Tudo. Olha, esse é o meu primo, Tom. Ele é novo. Fica aqui com ele que eu vou chamar o Luke pra apresentar eles.

– Tá. Oi Tom. - A menina sorriu, tirando a mochila do balanço ao seu lado para que o menino pudesse se sentar.

– Obrigado, mas posso embalar você. O que acha? - Tom pegou a mochila da menina, largando no mesmo balanço de antes, agora com sua mochila também.

Ele foi para trás dela, esperando ela se ajeitar e começou a embalá-la com cuidado.

– De onde você é?

– Daqui. - Tom riu. - Meus pais se mudaram pra perto da Tina, ai vou estudar aqui.

– Ah. Que bom. É de que turma?

– Da segunda. Você ainda tá no pré?

– Sim. - Sally baixou a cabeça, desanimada. O balanço foi parando aos poucos.

– Não fica assim. A segunda é difícil!

– Muito? - Sally se espantou olhando o menino em sua frente.

– Sim. Mas eu sou forte, vou agüentar. - Tom cruzou os braços, cheio de drama, fazendo a menina rir, jogando a cabeça pra trás.

Sally se desequilibrou, e Tom rapidamente a segurou, evitando a queda.

Sally sorriu, agradecendo, enquanto desviava o olhar até Tina que andava em sua direção, acompanhada de dois garotos. Ao lado dela, alguns passos atrás, Justin estava parado, de braços cruzados, nem um pouco feliz com a situação.

– Sally? Filha você tá acordada? - Sally arregalou os olhos, se livrando as lembranças enquanto se levantava o mais rápido que conseguia, correndo para a pia, tentando lavar o rosto.

– Sally?

– Já vou! - Sally ergueu os olhos até o espelho, encarando a porta atrás de si.

Soltou um grito ao ver Brian sorrindo de uma forma maníaca.

A mãe dela começou a forçar a porta do quarto, que estava trancada. Sally fechou a porta do banheiro, chorando desesperadamente.

A luz piscou e segundos depois a porta do banheiro foi forçada, enquanto alguém chamava seu nome, o repetindo várias vezes, esperando ela destrancar a mesma.

– Abre pra ela, Sally. – A garota soltou um grito ao ver Justin ao seu lado.

– Filha? O que foi Sally? Sally! Filha, abre!

– Como ela...? – Sally olhou para o garoto, assustada.

– Abre. – A garota balançou a cabeça, negando.

– O Brian. Ele vai...

– Não Sally. – Justin passou o braço pelo ombro da garota. – Eu to aqui. Agora abre a porta.

Sally respirou fundo, levando a mão até a chave, a girando devagar.

Sua mãe abriu a porta, e entrou rapidamente, vendo a garota assustada, chorando, enquanto se encolhia com medo.

– Filha. O que houve? – A mulher se aproximou, puxando a filha para um abraço.

– Nada. Eu to bem.

– Sally. Conversa com ela.

– Filha. - A garota se soltou da mãe, olhando devagar para o quarto.

Ela ficou alguns segundos observando o local, esperando os olhos de Brian surgirem em algum canto. Mas nada surgiu. Onde ele estaria?

– Baby? Que foi? - Justin chamou a atenção da garota. Fazendo com que ela se aproximasse dele.

A mãe dela apenas a observava, preocupada.

Sally começou a tremer mais forte, não conseguia decidir seu olhar entre Justin e sua mãe, quanto finalmente criou coragem, respirando fundo.

A voz rouca da garota sussurrou, deixando todos no local, arrepiados.

– Brian.