Além do Alcance do Nosso Olhar

                Eu estava sentada na praia do Acampamento Meio-Sangue enquanto olhava a lua quando ele chegou.

                Ele sentou-se ao meu lado e se pôs a observar a lua assim como eu fazia.

                Ficamos assim durante muito tempo até que...

                -Sabe o que eu mais gosto em não saber de tudo sabidinha? –ele perguntou.

                -Não. O que Percy? –perguntei em resposta.

                -Eu gosto de saber que eu não sei de tudo, mas sei que além do alcance do nosso olhar sempre têm alguma coisa. –ele respondeu me encarando por alguns segundos para logo em seguida voltar a olhar a lua.

                -Me dê um exemplo, Percy. Dê-me um exemplo do que existe além do alcance do nosso olhar. –pedi.

                -Sabe Annabeth, nem sempre é possível saber... Mas às vezes podemos ter uma pequena idéia.

                Confirmei com a cabeça e voltei a observar a lua.

                Eu gostava muito de Percy. Sempre fomos grandes amigos e tudo o mais, mas eu sempre escondi, ou pelo menos tentei esconder, que eu sentia algo por ele. E a cada dia que se passa o que eu sinto fica cada vez maior. Está quase impossível de controlar o que eu sinto por ele. Às vezes tenho vontade de prensá-lo contra a parede e beijá-lo apaixonadamente. E odeio admitir, mas estou sentindo isso neste exato momento. Como eu queria saber se ele sentia o mesmo por mim...

                -Gostaria de saber o que tem além do alcance do meu olhar... –soltei sem querer.

                Percy riu e pareceu se divertir com a situação. Ele parou de rir e pensou um pouco se devia ou não me contar.

                -Sabe... Além do alcance do olhar de Thalia está tudo o que ela está perdendo na Caçada. Além do alcance do olhar do Nico está tudo o que ele pode fazer se for mais amigável. Além do alcance do olhar de Grover está tudo que os seres humanos fazem para tentar salvar o que resta da natureza. Além do alcance do olhar de cada um existe algo que esta pessoa não consegue ver. E isso costuma incomodar as pessoas a sua volta, afinal, ver que uma pessoa não consegue ver alguma coisa tão obvia e importante para nós nos acaba por nos incomodar e muito. Mas nada me incomoda mais do que está fora do alcance do seu olhar, Annabeth.

                Ele se levantou pronto para voltar para o seu chalé. Bateu as mãos na calça jeans para poder tirar à areia e em seguida disse:

                -Boa noite, Annie.

                E então ele virou as costas pronto para ir embora quando eu o chamei de volta e perguntei:

                -O que tem além do alcance do seu olhar Percy?

                Ele olhou para mim com um misto de interesse e curiosidade e só depois respondeu:

                -Na verdade eu não sei. Está além do alcance do MEU olhar lembra? Eu simplesmente não sei. –disse ele dando de ombros.

                -E você não tem curiosidade de saber Percy? –não consegui agüentar e perguntei.

                -Bem... Ter eu tenho sim, mas acho que tenho medo de saber, entende? Medo de não estar pronto para isso. De não ser à hora certa.

                -E como a gente sabe se é ou não à hora certa?

                -Bem... Mesmo que a gente não esteja preparado... Não é a gente que tem que decidir a hora certa e sim outra pessoa bem próxima de nós. Alguém que saiba o que é e ache que devemos saber.

                -Hum...

                Ficamos um tempo nos encarando até que eu decidi que era hora dele saber.

                -Percy? –chamei

                -Sim?

                -Eu sei o que tem além do alcance do seu olhar... –sussurrei

                -Vai me contar ou acha que não está na hora?

                Eu confirmei com a cabeça e disse:

                -Está na hora de você saber...

                Ficamos mais um tempo nos encarando enquanto eu pensava como diria isso a ele. E então me ocorreu uma coisa.

                -Percy, eu estava pensando...

                -Sim?

                -Ao invés de eu te contar...

                -Sim?

                -Eu poderia te mostrar?

                -Sim.

                -Afinal, algumas coisas só podem ser bem entendidas quando são mostradas.

                -Sim. –ele disse mais uma vez fechando os olhos.

                Fechei os meus também e cheguei mais perto dele. Encostei minha testa na dele e ficamos ali durante um tempo até que eu acabei com a distancia que nos separava.

                O beijo foi calmo e apaixonado. Mas ao mesmo tempo cheio de uma saudade que não deveria existir. Pelo menos não mais.

                Quando o ar se fez necessário nos separamos ofegantes.

                -Além do alcance do seu olhar tem o meu amor por você! –dissemos nós dois juntos para logo em seguida voltarmos a nos beijar.

                É bom conseguir ver o que antes era impossível. Pensei comigo mesma antes de me entregar completamente a ele.