A chuva continuava a cair sob a cidade e os dois continuavam na sala em silêncio. Draco as vezes olhava disfarçadamente Hermione, enquanto via seu cabelo secar e ficar volumoso. Ele gostou de tê-la visto assim, tão natural, diferente de todas as mulheres que o cercavam e completamente diferente do estereótipo de secretária ranzinza que ela mantinha no dia-a-dia. Gostou tanto que até pensou em dar ordem para que ela nunca mais usasse aquele coque sem graça.

Hermione estava incomodada por estar ali, não que nunca houvesse ficado sozinha com um homem, porém, nunca foi com “aquele” homem, que além de ser seu chefe, era arrogante e insensível. Mas será que ele era mesmo assim? Havia sido gentil com ela, apesar do sarcasmo.

_Porque você usa aquele coque sem graça? – ele perguntou de repente.

_Hã... – pega de surpresa, não soube o que responder. Parou um tempo para pensar e então disse. – Bem, uso porque é prático.

_Tá, inventa outra. Coques são tudo, menos práticos. Ainda mais um tão certinho como o seu.

_Ok. Acho que uso porque é mais prático para diminuir o volume do meu cabelo. – nisso ela inconscientemente passou as mãos pelos cabelos e segurou-os de lado.

_E por que isso?

_Não gosto deles. Soltos eles ficam feios. – disse constrangida como se houvesse acabado de contar algum segredo infame.

_Não acho isso. Eles ficam muito bonitos ao natural.

Hermione ficou vermelha com o elogiou inesperado. Como assim aquele homem estava elogiando seu rebelde cabelo castanho?

Draco levantou-se e serviu dois copos com bebida e entregou um a garota:

_Pegue, me faça companhia.

Ela pegou o copo e bebeu em um só gole.

_Nossa, vai com calma, Granger.

_Tudo bem... – disse. “Droga. Estou na casa do meu chefe e ao invés de manter a compostura, bebo tudo em um só gole.” Pensou.

Draco riu da expressão de Hermione, que ficou confusa.

_Nunca imaginei que a minha secretária estressada pudesse ficar vermelha.

_Estressada?

_É, todos os dias parece que você acordou do lado errado da cama.

_Bem, não dá para ficar de bom humor no seu escritório. – respondeu ferina, mas logo se arrependeu quando viu o sorriso sumir do rosto do loiro. – Ah, me desculpe, eu...

_É, eu sei. Não precisa se desculpar.

O silêncio voltou a reinar no ambiente. Ela não falava por medo de dizer alguma bobagem, ele por estar absorto em seus pensamentos. De repente, ele se levantou e colocou uma música para tocar. Foi até ela e lhe estendeu a mão como que a convidando. Sem perceber ela aceitou e só se deu conta do que estava acontecendo quando já estava nos braços dele sentindo seu perfume.

Draco encostou seu rosto no cabelo dela e sentiu a textura e o cheiro. Era o cheiro do shampoo que ele usava, mas que se tornava completamente diferente naqueles cabelos castanhos.

_Entenda isso como um pedido de desculpas pelo modo como sou no escritório. – disse baixinho no ouvido dela.

Ela arrepiou-se ao sentir o seu hálito e ao ouvir aquela voz sussurrada. É, desse jeito ela podia perdoar até se ele a obrigasse a trabalhar 24h por dia, contando feriados e fins de semana. Estava sendo louca? Provavelmente, mas no outro dia quando fosse recebido pelo mesmo chefe frio e arrogante poderia pensar que essa noite havia sido um sonho. Então seria melhor não pensar que existia um mundo além daquele lugar e momento.

Dançaram duas músicas e então ele a soltou e beijou sua mão:

_Boa noite, durma bem. – e saiu na direção de seu quarto.

Ela permaneceu ali, parada, tentando pensar no que faria a seguir. Por fim, conseguiu se mover na direção do quarto de hospedes, entrou, fechou a porta e deitou-se na cama, abraçando o moletom que vestia só para continuar sentindo o perfume dele.

A noite não tinha terminado ainda quando Hermione acordou assustada com os trovões que se faziam ouvir. Levantou para tomar água e quando passou pela sala viu que Draco estava deitado no sofá, aparentemente dormindo. Num impulso caminhou até ele, ajoelhou-se ao seu lado e aproximou seu rosto. Sentiu o cheiro de bebida e intuiu que ele havia bebido uma boa quantidade de uísque.

Sem pensar, ela se aproxima ainda mais e lhe beija de leve a boca. Com surpresa se vê correspondida por aquele homem e por alguns segundos permanece ali sentindo o calor dos lábios dele. Temendo acordá-lo, se afasta e corre em direção ao quarto o mais silenciosamente possível. Infelizmente, ela se afasta antes que possa ouvir o murmúrio que ele solta em meio a seus sonhos.