A noite ia se aproximando e este era um motivo para chegar em casa. A onda de estresse já percorrendo meu corpo. Ao chegarmos lá senti logo a atmosfera tensa e pesada, fato que confirma mais uma vez que algo errado estava acontecendo. Tio Emm e tia Rose assistiam, ou fingiam estar assistindo, a algum programa de TV. Tia Alice estava sentada debaixo da escada de olhos fechados massageando sua têmpora com a ponta dos dedos, conheço bem esta postura e com certeza ela se concentrava para ver algo. O vovô devia estar em seu escritório, pois na sala ele não estava. Tio Jazz também não estava lá, provavelmente o clima o deixara nervoso o suficiente para não ficar ali. Os sons que vinham da cozinha comprovaram que vovó estava lá e o meu jantar também. Droga.

            Mamãe e papai já me aguardavam. Provavelmente queriam checar se cheguei inteira sem um fio de cabelo fora do lugar. Jake me trouxe na mais absoluta perfeição, então não havia muito o que fazer.

            - E então minha linda, como foi o passeio a La Push? – perguntou mamãe após um sessão de beijos e um abraço apertado.

            - Ah mamãe foi incrível, ficamos na praia admirando o mar, Jake me contou velhas histórias de quando você era humana.

            Mamãe reprimiu uma careta e falava enquanto olhava para Jake.

             - Espero que ele não tenha me detonado. Sabe sou muito mais eu agora.

            - Ah, mas eu gostava de quando você ficava ruborizada quando eu fazia isso. – disse papai enquanto abraçava a mamãe pela cintura, a olhou a poucos centímetros dos lábios dela e acariciava seus lábios com a ponta dos dedos.

            Mamãe se limitou a sorrir para ele e afastou seu rosto com certa dificuldade. Mamãe não era de demonstrações públicas de afeto com o papai, acho que tinha vergonha.

            - Acho que na verdade você realmente gostava era de ouvir as abobrinhas que dizia quando estava dormindo. – ela revirou os olhos para ele.

            - Na verdade Bells eu só comentei sobre seu problema com o equilíbrio em superfície e o seu ímã para o perigo. – riu Jake.

            - Superfícies não são mais um problema para mim. – mamãe deu nos ombros.

            - Mas em compensação o ímã... – papai falou tão baixinho que parecia mais um comentário feito para si mesmo.

            Mamãe fingiu não ter ouvido.

            - Filha sua avó teve uns contratempos, mas logo logo o jantar estará pronto. – sorriu mamãe.

            Fiz uma careta. Jake fuzilava papai com o olhar.

            - Depois Jacob, depois. – papai disse.

            Eu odeio quando o papai faz isso. Sinto-me totalmente deslocada. Ele lê mentes eu não.

            Papai ouviu claro e deu aquele sorriso torto. Jacob esperava ansiosamente pelo jantar, mas eu não. Por mim sairia correndo agora mesmo desta sala, lá na floresta acho que coisa muito melhor.

            - Nem pense nisso Renesmee. – alertou papai.

            Não tinha como fugir então derrotada me sentei no sofá. Jake imitou minha ação. Tia Rose se afastou um pouco, franzindo o rosto, a relação entre ela e Jake era de repulsa mútua. Tio Emm ria baixinho, ela adora as minhas cenas das horas de refeições. Se é que isto é refeição.

            E o silêncio reinou.

            E esse climão todo? Dá para alguém me explicar? Tentei me comunicar com o papai. Frazi o cenho e o olhei.

            “Eu sei que escondendo alguma coisa de mim.”

            Papai formou uma linha rígida em seus lábios e mantinha o olhar distante. Como se não estivesse presente ali.

            Respirei fundo.

            “Papai eu sei que você está me ouvindo!”

            Não houve reação da parte dele. Agora ele queria brincar de ser estátua e deu sinais de que ficaria assim por um bom tempo.

            Suspirei. E fiquei de braços cruzados, carrancuda.

            Jake preferiu se reservar ao silêncio e manteve o foco atento à tela plana.

            Não demorou muito e vovó anunciou que o jantar estava servido.

            Fiz uma careta. Tio Emm que agora me encarava abertamente, já esboçava um sorriso debochado em sua face daí lancei um olhar furioso para ele, mostrei a língua e depois virei a cara. Agora titio provocava grandes vibrações lá dentro com suas gargalhadas.

            Fui me arrastando até a cozinha, poderia até chegar mais rápido, bem mais rápido se quisesse. Mas não sou masoquista.

            - Não precisa ser tão melodramática, você não está indo a uma forca. – respondeu papai.

            Ignorei o comentário.

Ninguém me entendi nessa casa, pensei pesarosa.

Jurei ter ouvido um rosnado vindo lá da sala.

Jake estava sentado a mesa já estava com os talheres a mão. Pronto para atacar aquele prato.

- Puxa você demorou Ness... Achei que teria de apostar comigo mesmo. – ele revirou os olhos.

Me sentei com muita má vontade.

- Não quero apostar hoje. – disse secamente.

- Você está protelando Ness. – ele brincou.

E como nos tempos de menina coloquei uma das minhas mãos no rosto de Jake.

Mostrei a ele que eu ia perder a aposta e iria ficar mais chateada do que já estou. Eu sei que ele odeia me ver triste e jamais iria me magoar.

Depois que cresci e agora com o corpo de uma jovem, deixei de utilizar com tanta frequência o meu poder de transmitir pensamentos. Era uma coisa que fazia quando menina e ainda não sabia me expressar bem por meio das palavras. Porém, quando estou chateada prefiro mostrar as coisas.

Pegava os pedaços grandes da lasanha e engolia-os inteiro. Não há muito o que degustar nestas gororobas. Mas a vovó fazia com tanto gosto que engulo também por ela para não decepcioná-la.

Meus pensamentos estavam insolentes. Mas eu tenho o direito de saber o que está acontecendo. Droga! Estava furiosa. Nem notei que havia distorcido o talher que estava em minhas mãos. Ai! A vovó adora este faqueiro.

Jake agora me observava apreensivo.

E então todos chegaram naquela velocidade inumana e se sentaram a mesa. Tio Jazz também, mas estava no canto. Parecia estar esperando algo acontecer para que tomasse as rédeas.

- Explicaremos tudo filha. – disse papai.

Fez-se o silêncio olhei de rosto em rosto. Todos tensos exceto pelo tio Emm, ele nunca levava nada a sério.

- E então qual foi a visão tia Alice? – perguntei indiferente, mexendo em uma mecha do meu cabelo. Procurei tentar não demonstrar a curiosidade que sentia.

- Teremos visitantes chegando daqui 2 dias Nessie, desculpa não te contar estava tentando te proteger. – suspirou tia Alice.

Ela parecia arrependida. Será que os visitantes eram quem eu realmente estava pensando? Olhei para o papai.

São eles papai? Os Volturi?

Papai confirmou.

- Mas querida não é nada com o que você possa se preocupar. – disse tia Alice.

Minha garganta se fechou. Eu iria ter que passar por aquilo tudo de novo? O medo, a angústia, ansiedade, o terror? Tudo culpa minha, eu como sempre causando problemas e colocando quem amo em perigo. Isso não era justo. Qual é o problema agora? Da primeira vez foi porque nasci, mas eu não sou má daí eles cederam. Estava me comportando bem, não ia mais crescer, só alimentava de sangue animal vivam bem entre os humanos, alguns humanos. Mal notei quando tia Rose já me acalentava em seus braços, apesar das desavenças dela com Jake ela me amava tanto quanto a mamãe. Estava com os olhos cegos pela água salgada.

- Minha querida não chore, olha somos fortes o suficiente para impedir que eles toquem em um só fio de cabelo seu.

Queria muito acreditar nestas palavras da tia Rose. Fortes? Como é eles iriam lutar por mim? Isso já é demais.

- Isso... – minha voz falhou. – Não é justo, não quero ninguém se ferindo por minha causa.

- Vai ser só um entretenimento sobrinha, um exercício... – Tio Emm parecia feliz com a idéia.

Minha voz já se fora, não conseguia dizer nada, as lágrimas caiam descontroladamente. E depois me senti leve e uma onda foi me levando para a escuridão lentamente. Tio Jazz é terrível, eu não quero dormir.

Toquei o rosto da tia Rose pedindo e implorando que o tio Jazz parasse com isso. Ela não disse nada só cantava a antiga canção de ninar.

Cai na inconsciência.

“Ora ora Renesmee, que presença agradável!” – exclamava Aro satisfeito.

Vi um reflexo meu rapidamente enquanto passava por um objeto translúcido, estava trajando um manto negro. Como o deles. Daí vieram as lágrimas, apareciam tolas em minha face. Os demais observavam pareciam satisfeitos com a minha reação. A dor deles era o prazer deles. Senti uma mão fria, mais fria do que era acostumada, sobre meu ombro.

“Você fez a escolha certa criança.” – era uma voz linda, parecia música.

“Mas o papai, a mamãe, tia Rose, Jake...” – comecei.

“Passado Renesmee, pense por um lado eles estão bem, vivos.” – Aro sorriu calorosamente. – “E agora vamos tenho muita curiosidade sobre você.” – ele deixou o da voz bonita para trás e me conduziu para a frente de Marcus e Caius, a guarda sempre lá presente, faziam escolta.

Fiquei lá de frente a eles. Me sentindo um animal de zoológico interessante e divertido para eles.

Aro se sentou ao lados dos demais lançando um olhar a loira baixinha que tinha carinha de anjo. Já conhecia ela de outros tempos sabia que era perigosa.

E depois a dor, uma dor muito forte.

- RENESMEE!RENESMEE! – alguém gritava desesperado.

Abri os olhos lentamente senti um alívio era só um sonho. Mas que poderia estar perto de se realizar. Ao meu redor oito vampiros apavorados me olhando.

- Ela está bem? – ouvi uma voz rouca ansiosa. – Preciso vê-la.

Os oito vampiros se afastavam.

Jake veio ao meu encontro. Olhou-me parecendo aliviado. Seus olhos estavam brilhando, mas com lágrimas que queriam cair.

- Ora Ness, você me assustou por um momento pensei que você estava sentindo alguma coisa. – depois ele sorriu.

Estendi a mão para ele. E ele já sabia o que era que queria. Toquei em seu rosto. Mostrei o sonho para ele. Estava com medo. Ele ficou com a face rígida. Suas mãos estavam um pouco trêmulas. Mau sinal.

- Não é real... Não há com o que se preocupar! – ele disse por fim. Ele olhou para os demais presentes e falou. – Era um sonho.

Olhei para a janela ainda estava escuro.