Saga Sillentya: Espelho do Destino escrita por Sunshine girl


Capítulo 2
I - Indo ao Encontro do Destino


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Eu sei que tinha dito que só voltaria a postar no máximo semana que vem, mas como alguns me pediram para retornar mais cedo, aqui estou, trazendo o 1º capitulo dessa nova fase para vcs!

Boa leitura!!!



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Capítulo I – Indo ao Encontro do Destino

O sol brilhava em seus olhos castanhos, centelhas douradas que se misturavam ao oceano acastanhado e belo de suas íris.

O vento brincava com meus cabelos, agitava a vegetação rasteira ao nosso redor, diluindo no ar o inebriante perfume das flores naquela primavera. Sorvi o cheiro maravilhoso de sua pele, tocando com o indicador em seus lábios carnudos e tão convidativos.

Era inacreditável.Quando eu tinha a absoluta certeza de que estava sonhando, de que a qualquer momento, Aidan ia deixar-me novamente, ele apertava-me ainda mais em seus braços, unindo nossos corpos de forma plena e mágica.

Minha mão agarrou o tecido de sua camisa, e eu enterrei minha face em seu ombro, satisfeita por ele ser real. Por ele estar comigo, mais uma vez...

Ele aninhou-me ainda mais em seu peitoral largo, cobrindo meu pescoço de beijos. E eu sorri, completamente entorpecida por sua presença arrebatadora. Eu nunca mais seria separada dele novamente. Nada seria capaz de tirar-me dele.

- Eu te amo... – sussurrei em seu ombro, alegrando-me por não existir verdade mais inegável que esta na face da terra. Meu amor por ele...

Ele girou sua face, descendo os lábios para meu ombro esquerdo, roçando os lábios de forma tão carinhosa, no exato local onde minha marca de nascença costuma ficar, cravada em minha pele, o desenho da fênix, o selo da fênix... Aquele que suprimi todos os meus poderes e limita-me a forma humana.

Suas mãos deslizavam pelas minhas costas, apertando-me contra o seu corpo quente e forte. Senti-me completa então, como não me sentia há meses, desde que ele...

Desde que ele deixara-me...

Não me surpreendi quando ele sustentou todo o peso de meu corpo com apenas um dos braços, e usou o outro para curvar-se, pousando-me em meio à relva delicadamente umedecida pelo orvalho da manhã.

E encontrei seus olhos, seus olhos tão castanhos, tão profundos, e encaravam-me daquela mesma maneira, fixos, concentrados, era o olhar que eu estava acostumada a receber de sua parte, o olhar que penetrava meu corpo e enxergava diretamente a minha alma.

Aidan costumava distrair-se com muita facilidade quando me encarava daquela maneira, pois assim eu descobria que seus pensamentos divagavam, caminhando para longe de mim. Mas... Naquela manhã primaveril, ele estava diferente, de alguma forma que eu não conseguia explicar. Naquela manhã, Aidan parecia completamente concentrado e focado em mim, era como se o seu mundo agora girasse em torno do meu ser.

Observei com os olhos semicerrados, o sol refletir nos fios negros como a meia-noite de seu cabelo e em seu sutil bronzeado. Ele cercou-me com seus braços, e seus olhos tornaram a me sondar, um meio-sorriso formava-se em seus lábios.

Sorri-lhe em resposta, era algo completamente instintivo e deixei que meus olhos pousassem em seu semblante sereno e indecifrável.

- Por que está sorrindo? – perguntei-lhe, um pouco encabulada pela forma estonteante que era observada e analisada, minuciosamente, por seus olhos castanhos.

Ele riu de leve, desviando os olhos para os raios dourados do sol que despontavam no horizonte, ainda nas primeiras horas da manhã, tão cálidos e sutis, como o calor suave que emana da brasa de uma fogueira, assim como o calor que o corpo dele transmitia para o meu.

- Não posso sorrir? – ele devolveu minha pergunta com outra e eu retorci meus lábios para o canto.

- Só se eu puder tomar conhecimento de tamanha felicidade... – rebati, e ele sorriu-me novamente, desta vez, expondo uma fileira de dentes impecáveis, seu sorriso era, definitivamente, algo arrebatador, nem mesmo parecia humano.

- Só existe um motivo que me faça sorrir dessa maneira. – confessou-me ele, os olhos calorosos.

Eu sorri em resposta, fingindo-me de desentendida, mas no fundo, bancando a presunçosa.

- E que motivo é esse?

Ele alargou o sorriso nos lábios, e lançou-me um olhar tão intenso que eu ruborizei no mesmo instante. Aidan tombou sua face até a minha, roçando seu nariz no meu, provocando-me com seus lábios tão próximos aos meus, e então recuou...

- Você. – confessou-me ele, a voz brincalhona, mas os olhos eram sérios e penetrantes.

Sorri automaticamente, e minhas mãos envolveram seus ombros, trazendo-o para perto de mim novamente, até que nossas respirações tornaram-se uma só. Nossos corações batiam ritmados, o mesmo compasso, uma língua silenciosa que apenas eles conseguiam falar.

Ele curvou sua face até a minha, seus olhos, sérios, fixaram-se em meus lábios, e protelaram tanto ali, que quando de fato ele os tomou para si, conseguira causar um verdadeiro reboliço dentro de mim. Meu estômago agitou-se violentamente, meu coração acelerava em meu peito, bombeando o sangue por todo o meu corpo a toda velocidade, e um calor abrasador dominou-me no mesmo instante.

Levei minhas mãos até sua face, segurando-a, enquanto seus lábios moviam-se sutil e delicadamente nos meus, suas mãos, embora me tocassem de maneira suave, demonstravam firmeza e confiança, e eu entreguei-me completamente a aquele beijo apaixonado que trocávamos sob os raios cintilantes e dourados do sol, naquela doce manhã primaveril.

Era incrível, tantos meses já haviam se passado e eu fui capaz de memorizar o gosto inebriante que seus lábios tinham, a maciez que eles possuíam, movendo-se nos meus. Seu hálito quente na ponta de minha língua.

Estremeci internamente quando sua língua escorregou por meus dentes, e ele aumentou a intensidade de nosso toque, tornando-se algo quase desesperado, faminto. Suas mãos enrijeceram em meu corpo, e então eu vi que havia algo de errado.

Seus toques tornaram-se algo desesperador dentro de segundos, a força empregada por seus braços ao meu redor crescia, quase me sufocando. Seus lábios tornavam-se cada vez mais urgentes nos meus, causando o meu espanto.

Tentei empurrá-lo de cima de mim, perguntar o que havia de errado, mas de repente, ele não estava mais lá; eu estava completamente só, e o ambiente mudou ao meu redor. O perfume delicado das flores que brotavam em meio à relva desapareceu, o ar tornou-se gélido, abruptamente, e embaixo de meu corpo já não havia mais a mata nativa, havia algo gelado e inconsistente; era água.

Abri meus olhos, vendo o cenário desolador desenrolar-se diante de meus olhos incrédulos. Tudo havia sido engolfado por uma enorme bolha de tinta negra, já não havia mais nada, apenas a escuridão, apenas o vazio, e a piscina rasa sobre mim.

Sentei-me em meio a tanta água, lançando meus olhos até o horizonte, procurando o fim daquele pesadelo horrendo, mas não encontrei nada.

Levantei-me daquela piscina, vendo que a água batia em meus tornozelos, algo duro e estável estava sob meus pés, então presumi que era seguro caminhar.

- Aidan? – chamei-o, fixando meus olhos nas densas penumbras, tentando encontrar sua silhueta.

Tremendo de frio pelas roupas encharcadas, procurei por Aidan. Ele não podia ter me abandonado mais uma vez, ele não tinha o direito de me magoar daquela maneira... Ou teria?

Cruzei os braços sobre o peito, tentando estabilizar os tremores violentos que agitavam meu corpo, e batendo os dentes uns contra os outros, comecei a vagar, perambulado como um fantasma por aquele lugar desconhecido.

A movimentação serena das águas sob meus pés enquanto eu caminhava era o único ruído a romper o silêncio mortal que naquele instante predominava. Mas não fazia diferença, aquele ambiente dava-me arrepios de qualquer forma.

Detive-me em meu trajeto apenas quando um soluço sobressaltou-me. Eu estaquei, os olhos esbugalhados, a respiração dificultosa, os músculos enrijecidos pelo medo, principalmente, quando surgindo da escuridão tenebrosa, uma figura muito familiar a mim apareceu.

A menina materializou-se bem diante de mim, a poucos metros de onde me encontrava, petrificada, o coração na boca. Mesmo envolta em densas penumbras eu podia reconhecer seus traços, aliás, seria ridículo se eu não os reconhecesse. Traços como o cabelo negro e comprido, caindo naturalmente em seus ombros, ocultando-lhe uma parte do semblante, enquanto este pendia para baixo, os olhos encarando fixamente o seu próprio reflexo em tal piscina negra.

Ela vestia uma saia rodada azul-escura, um casaquinho negro, meias que iam até seus joelhos e sapatinhos. E imediatamente, eu reconheci aquelas peças de roupa, afinal, pertenceram a mim em minha solitária infância.

A menina fungou e seu corpo enrijeceu, suas mãozinhas cerraram-se, repousadas à lateral de seu pequeno corpo.

Claro que eu sabia quem ela era, não precisava olhá-la nos olhos para confirmar minhas próprias suspeitas, mas mesmo assim, mesmo sabendo já quem realmente ela era, foi um choque, para mim, quando ela sustentou seu olhar, a face chorosa encarando-me.

O meu próprio semblante há muitos anos atrás...

- Por quê? – perguntou-me ela, ainda chorosa.

Estaquei onde estava, incapaz de realizar o mínimo movimento, o mínimo arfar de meus pulmões, já completamente sem ar.

- Por que você permitiu isso? – sua voz inocente e doce ecoou por todo o espaço vazio a nossa volta, reverberando em meus ouvidos como uma sinfonia mórbida.

Ela tombou o rosto para baixo novamente, encarando seu próprio reflexo no lago de águas negras abaixo de si, uma lágrima escorregou de seus olhos negros e cintilantes, pingou nelas, produzindo várias ondulações que distorceram sua imagem refletida.

- Você não devia ter permitido isso... Isso nunca deveria ter acontecido... Ele não devia ter morrido no nosso lugar... – sussurrava ela para mim, para si mesma, parecendo-me muito perturbada.

Meu pé moveu-se por instinto, e ela tornou a me encarar, alarmada, os olhos esbugalhados, os lábios comprimidos em uma linha rígida, e tentou recuar.

Eu abri meus lábios, procurava em minha cabeça algo que pudesse dizer a ela, mas como não encontrei nada, ela voltou a se pronunciar.

- O sacrifício foi feito...

- Que... sacrifício? – eu perguntei a ela, tentando reaproximar-me novamente, mas ela manteve-se impassível, imóvel, como uma estátua.

- Ele nos amava... – sussurrou ela, tombando a face para o lado – Ele nos amava a ponto de se sacrificar...

E depois, seus olhos, antes gentis e amáveis, tornaram-se hostis e amargurados, enquanto ela sustentava seu olhar novamente, fixando-o no meu.

- A culpa disso tudo é nossa... Isso é inegável.

Não me importei com a aparente hostilidade em seu olhar, dei mais alguns passos em sua direção, e mais uma vez ela não se moveu.

- Do que você está falando? Diga-me, por favor...

Ela ignorou-me, cerrou seus olhos atormentados e muito que deliberadamente, levantou seus braços na minha direção, os punhos pequenos ainda cerrados, a pele pálida de alabastro cintilando na escuridão. Ela parecia quase uma figura fantasmagórica naquele momento.

E então, ela abriu as mãos, os dedos estendidos, enquanto ela virava a palma de suas mãos para mim, espalmando-as, demonstrando o que havia ali.

Eu recuei, chocada, assustada, acuada como um animal indefeso, ao ver o líquido carmim e espesso impregnado nas palmas delicadas e pequenas de suas mãozinhas. Eu caí, desolada, sentindo como se algo tivesse me golpeado com força.

Seus olhos abriram-se novamente, os lábios foram escancarados, enquanto mais e mais lágrimas eram vertidas, uma tristeza imensurável dominou-me naquele instante.

- O sangue do papai está nas nossas mãos... O sangue que jorrou de seu sacrifício. Somos culpadas, eu sou culpada, você é culpada! – esbravejou ela, irritada e tensa, o tom de voz subindo várias oitavas.

Eu não consegui impedir que as lágrimas acumulassem-se em meus olhos, fazendo-os arder, embaçando minha vista, enquanto eu trincava os dentes com força e forçava meu cérebro a compreender do que ela estava falando.

Mas não havia mais tempo, o prazo havia esgotado, e eu caí em uma armadilha.

A água ao meu redor agitou-se bruscamente, e o chão sobre meus pés abriu-se, enquanto eu desabei, sem amparo algum, na fenda que havia sido aberta, revelando mais água negra ainda.

Meu corpo pendeu para o fundo, mas eu não me entreguei, lutei contra a força esmagadora que me puxava para as profundezas desconhecidas, agitando meus braços ao meu redor, tentando desesperadamente subir à superfície.

Cerrei meus lábios, mantendo intacto o pouco de oxigênio que restara. Por fim, a força deixou de atuar sobre mim, e eu pude emergir, mas antes que sequer conseguisse, uma barreira impediu-me, uma imensa placa de vidro separava-me da superfície, mantendo-me ali, enquanto meus olhos pasmados observavam a menina acima de eu encarar-me, imóvel, seus olhos incisivos e frios, a expressão indiferente enquanto eu me afogava, batendo meus punhos contra a grossa placa de vidro.

Mas era inútil. Meus esforços jamais renderiam frutos, e eu apenas cerrei meus olhos, desolada, gritando desesperadamente embaixo da água negra e gelada enquanto eu me entregava para os braços da morte, mais uma vez...

Meus olhos abriram-se de uma vez só pelo choque, minha vista ardeu imediatamente pelas luzes suaves, mas ainda assim dolorosas aos meus olhos que antes só enxergavam escuridão.

Pisquei para me acostumar à claridade da cabine do avião e remexi-me no assento, percebendo então, pela primeira vez, o cheiro maravilhoso que preenchia minhas narinas, um sinal que claramente indicava que eu estava muito mais próxima do que realmente deveria estar de um certo alguém.

Sorvi o cheiro com uma intensidade ainda maior, confirmando minhas próprias suspeitas. E então, tornei a abrir meus olhos sensíveis enquanto me afastava do ombro de Christian, no qual havia adormecido.

Esfreguei um pouco os olhos e olhei em derredor, vi os passageiros da primeira classe quase tão ou até mais sonolentos do que eu. Algumas aeromoças serviam aperitivos nos carrinhos de metal reluzente, ofereciam travesseiros e acomodavam-nos melhor.

Claro que eu me lembrava de como havia parado ali. Depois de algumas horas viajando no Porsche negro que Christian milagrosamente arrumara, nós chegamos a Manchester, a maior cidade do estado inteiro de New Hampshire, e a mais próxima que possuía um aeroporto.

Christian logo mostrou toda a sua influência, comprou passagens para Nova York para nós dois, e fazendo uma curta ligação do hotel onde estávamos hospedados ainda em Manchester para um contato misterioso, que nos aguardaria na cidade que nunca dorme, ele conseguiu vistos e passagens para a Itália.

Assim que chegamos em Nova York, Christian apresentou-me o seu “contato”, não me surpreendi quando ele avisou-me de que se tratava de um Mediador, que hoje vive tranqüilamente, longe de todas as regras impostas por Sillentya – assim como Michael – só que Richard Thompson é na verdade uma figura bem mais influente e trabalha na embaixada americana na Itália, e prestou um favor a Christian arrumando os vistos e passagens de última hora, para quem obviamente estava fugindo da América.

Algumas horas depois, nós dois embarcávamos no Boeing 747 da empresa norte-americana Continental Airlines, no Aeroporto Internacional de Newark, com destino a capital italiana, um longo vôo com nove longas e tediosas horas, sentada em um assento na cabine de um avião.

Claro que eu achara um exagero da parte dele pedir a Richard que arrumasse passagens na primeira classe, afinal eu não estava habituada a nada tão luxuoso, e achava aquilo tudo muito supérfluo e desnecessário, mas Christian garantiu-me que a primeira classe era melhor... E eu não tive como discutir com ele.

Tombei minha face de lado, encarando-o pela primeira vez, vendo a satisfação que provinha de seus olhos por eu ter, provavelmente, adormecido em seu ombro. Humf, cínico...

Esfreguei os olhos novamente, totalmente ciente de que poderia desmaiar a qualquer momento pelo cansaço, mas ainda assim preferia permanecer desperta, não queria que pesadelos como o que eu acabara de ter repetissem-se na minha cabeça.

- Onde estamos? – perguntei, alongando-me um pouco na poltrona luxuosa e larga.

Ele sorriu de canto, tombou sua face na minha direção, sussurrando em meu ouvido, consciente dos passageiros que cochilavam ao nosso redor.

- Em algum lugar sobre o oceano Atlântico do Norte. Não se preocupe, estamos quase chegando.

Estralei os ossos das articulações, e ele notou o meu aparente desconforto, eu nunca havia ficado tanto tempo na mesma posição.

- Quer alguma coisa? Eu só dizer que eu peço a aeromoça. – ofereceu-se ele, cordialmente.

Meneei a cabeça para os lados, não estava com fome, não queria voltar a dormir, só queria entreter aquelas longas horas que ainda nos restavam até que o avião pousasse no Aeroporto de Fiumicino em Roma.

- Não, estou bem... – respondi-lhe, e tornei a encará-lo, arrependo-me imediatamente, lá estava o sorriso safado emoldurando seus lábios, enquanto seus olhos analisavam-me minuciosamente.

- O que foi? – perguntei a ele, encabulada, quase corando, pela intensidade de seus olhos sobre mim.

Ele soltou uma pequena risada baixa e piscou várias vezes os olhos azuis como lápis-lazúli.

- Você fica linda enquanto dorme... – sussurrou ele, lançando todo seu charme e galanteio sobre mim, desviei os olhos, ruborizando, e xinguei-me internamente por ter adormecido em seu ombro tão macio e forte e com um cheiro tão bom... – Parece até mesmo um anjo de luz.

Transformei minha expressão em uma carranca mal humorada e ele desistiu, ajeitou-se na poltrona, seus olhos fixando-se no nada, e eu me arrependi de ter sido tão dura com ele.

- Er, Christian... – chamei-o novamente, enquanto ele fazia um pouco de drama, enrolando para tornar sua atenção para mim.

Ele relutou por vários segundos e eu soltei um suspiro de impaciência, fazendo com ele voltasse a me encarar, os olhos azuis cheios de expectativa.

- Sim?

Hesitei por alguns segundos, vasculhando meu cérebro até encontrar a maneira ideal de iniciar aquele assunto com ele.

- Como exatamente é... Lucius?

Ele sorriu em resposta, girou o tronco para o lado, tornando a sua atenção para mim.

- Ele é um homem de coração nobre e valoroso. Uma das pessoas mais descentes que já conheci.

- E ele sabe sobre mim?

Ele revirou os olhos dramaticamente e ajeitou uma mecha de cabelo teimosa, colocando-a atrás de minha orelha – eu quase corei com seu toque aparentemente despreocupado.

- Eu enviei uma carta a ele, Agatha, dias antes de embarcarmos nesse avião, avisando com antecedência de nossa chegada, não se preocupe, você está entre amigos agora.

Suspirei pesadamente, imaginando como seria minha vida daqui em diante, longe de minha mãe, longe de minha cidade natal, de John, de meus amigos, do ambiente escolar... Tudo parecia tão distante agora para mim, como se eu estivesse viajando para uma outra dimensão, ao invés de outro continente.

- Parece tão simples para você – confessei, um pouco triste –, gostaria de ter essa mesma certeza.

- Que certeza? – perguntou-me ele, unindo as sobrancelhas, confuso.

- A de que tudo ficará bem. – sussurrei, tentando exprimir toda aquele aperto que havia sentido nos últimos dias.

Christian afagou meu rosto com seu polegar, franzindo o cenho enquanto a seriedade dominava seus olhos.

- Agatha, eu jamais permitiria que alguma coisa acontecesse a você.

Sorri um pouco, tentando disfarçar meus temores e minhas incertezas de Christian, soterrando-os no fundo de meu coração, embora algo ainda estivesse me incomodando. Uma sensação estranha...

Sacudi a cabeça, reordenando meus pensamentos e dispersando aquela nuvem cinzenta que agora pairava sobre a minha cabeça. Tolice, pensei comigo mesma. Afinal, o que podia dar errado?

Ajeitei-me na poltrona novamente, enquanto a comissária de bordo, uma loura alta e experiente retornava da cabine do piloto, cochichava algumas palavras com as aeromoças, e estas desapareceram de minha vista em questão de segundos.

Uma luz vermelha piscou na parede da cabine, e depois uma voz masculina ressoava em um alto-falante, exigindo a atenção dos demais sonolentos passageiros.

- Atenção, senhores passageiros, pedimos que permaneçam em seus assentos e apertem seus cintos de segurança, passaremos por uma pequena e breve turbulência, pedimos desculpas pelo pequeno incoveniente e agradecemos a cooperação.

Enrijeci no mesmo instante, enquanto uma gelidez inundava-me dos pés à cabeça, claro que eu estava nervosa, era a primeira vez que viajava de avião, não, era a primeira vez que viajava para tão longe assim, e se isso já não fosse o suficiente para me deixar nervosa, agora teríamos uma turbulência.

Olhei pela janela, vendo as grossas e escuras nuvens, o céu de um azul tão profundo quanto os olhos do garoto que agora estava sentado ao meu lado, e vieram as primeiras tremedeiras.

O avião foi levemente sacudido no inicio, depois os tremores aumentaram gradativamente, até que as próprias poltronas começassem a se sacudir. A fuselagem parecia não ser capaz de resistir a tantos sacolejos seguidos e tão intensos, mas essa era só a minha impressão.

Os demais passageiros agarraram-se aos seus assentos e eu finquei meus dedos no apoio da poltrona, respirando lenta e profundamente.

Senti quando uma mão quente sobrepôs-se a minha, entrelaçando seus dedos nos meus, girei minha face, vendo Christian lançar-me um sorriso confiante e que me transmitiu paz e segurança.

- Acalme-se. – pediu-me ele, ainda sorrindo – Tudo dará certo.

Assenti, muda, e então tentei relaxar, embora os tremores ainda estivessem presentes e sacolejando todo o avião. Eu sabia que só podia ser um sinal aquilo, um aviso do destino.

Que eu precisaria enfrentar as tormentas, as noites tempestuosas e medonhas, para no fim, encontrar o refúgio de paz e águas mansas. Que eu precisaria atravessar o olho do furacão, antes que pudesse alcançar o mar calmo.

E seja o que for que me aguardasse nessa nova fase de minha vida, eu tinha a certeza de que a peitaria, sem o menor temor, sem a menor hesitação, afinal, pela primeira vez, eu estaria entre os meus semelhantes, estaria entre amigos.


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Notas finais do capítulo

Rá, essa Agatha hein! Que chique, andando de avião e com um Christian ao lado! *ooooo calor* rsrsrsrsrsrsEsse sonho dela no começo foi bem sinistro mesmo... E possui um significado! Logo descobriremos a história por trás desse tal "sacrifício" que o pai dela fez no passado...Mas ela já está com um mal pressentimento em relação a essa viagem... Menina esperta!Próximo capítulo, Ephemera finalmente aparecerá, conheceremos alguns personagens Elementais, e o retorno de Aidan Satoya se aproxima! *tenso*Reviews??Até lá!Beijinhos!!!