Acordei com o som da campanhia tocando. Levantei-me e me vesti do mesmo modo que eu fazia todas as manhãs. Meu short e a minha blusa de lã faziam uma estranha combinação com o clima frio de Nova York.

Desci as escadas ainda penteando meus fios de cabelo loiros. Coloquei a escova na estante e abri a porta.

Vê-lo ali me fez voltar mentalmente a dezembro, um mês que eu nunca vou esquecer.

-Oi! –ele me disse. Uma coisa que não mudou com o tempo, foi o sorriso cativante dele.

-Oi... –eu respondi meio sem graça. –Entre, por favor! –abri a porta e dei espaço para ele passar por ela.

Bill ficou parado ao lado do sofá me olhando fechar a porta.

-Por favor, sente-se! –apontei para o sofá. Tê-lo me olhando me incomodava um pouco. –Eu não fiz nada para comer, mas...

-Estou bem assim! Não se preocupe! –ele disse em um tom gentil.

-Fico feliz que você tenha arrumado m tempo para vir aqui! –sorri para ele. –Como vai a vida, Bill? E o Tom, está bem? Tem tempo que eu não vejo sua família!

-Eles estão ótimos! O Tom está do mesmo jeito de sempre! –ele sorriu ao dizer o nome do irmão. –Estamos nos preparando para uma turnê mundial! Em dezembro tocamos em Tóquio! –ele estava muito feliz por isso.

-Que bom que você está ocupado com seus sonhos! Fico feliz por você! –tentei disfarçar meu incomodo quando ele disse a palavra “dezembro”.

Calamos-nos após meu comentário. Ele estava na defensiva. Só respondia o que eu perguntava e se eu perguntava.

Por mais que eu não quisesse admitir, ele estava assim por minha causa. A ultima vez que nos vimos, ele me deu flores e eu as deixei lá, morrendo.

-Bill... –ele me olhou. Eu sabia que as lembranças daquele dezembro que passamos juntos estavam tão claras na memória dele quanto na minha e eu também sabia que elas o incomodavam. –Eu sinto muito por aquela noite! Eu juro que sinto, me desculpe por ter ido embora daquele jeito, foi sem querer! –eu disse tudo o que estava entalado na minha garganta todo esse tempo.

-Não faz mau... –ele respondeu. –Isso quase não me machuca mais!

-Eu volto mentalmente a dezembro toda vez que há algo errado comigo e isso faz com que eu me sinta bem... –admiti. Eu estava aqui, engolindo o meu orgulho próprio tentando fazê-lo entender que eu sentia muito.

Ele não respondeu. Eu não sabia o que eu queria exatamente que ele me dissesse. Talvez que ele voltasse também a dezembro com eu? Ou que ele me queria de volta?

Como o silencio entre nós voltou, fechei meus olhos e tentei sair dessa sala. Eu não tenho dormido bem de uns dias para cá. A imagem de como eu fui embora não me sai dos meus pensamentos. A culpa se misturava a lagrimas e isso levava meu sono embora.

Quando o aniversario dele chegou, eu não liguei. Eu fui uma covarde! Fiquei com medo do que ele me diria e sem querer, eu pensei no verão, em todas as lindas vezes que eu o vi rindo para mim no banco do passageiro.

Acho que foi no outono que eu descobri que o amava e então veio o frio. Foram dias sem se falar, sem se ver, sem se tocar... Ele não ligou e eu resolvi também não ligar. Esses dias “escuros” invadiram a minha vida e o medo tomou conta da minha mente.

Ele deu todo o amor que ele podia me dar e em troca eu apenas dei um adeus.

-Bill, eu sinto sua falta, falta do seu sorriso, dos seus abraços! Isso foi tão bom, você foi tão certo para mim! Lembro-me daquela vez que você me viu cair aos pedaços, pela primeira vez você me viu chorar... Obrigada por ter recolhido os pedaços e por ter colocado-os de volta no lugar, isso foi muito importante para mim1 –eu disse sem pensar. Não havia ninguém mais ali alem do meu e do coração dele, então que mau havia em me abrir? –Se nos amássemos de novo... –eu o olhei. A distância entre um sofá e outro parecia bem maior. –Eu juro que eu te amaria de novo, é eu amaria! Eu voltaria no passado e mudaria tudo! –meus olhos começaram a lacrimejar. Ele apenas me assistia sem dizer uma palavra sequer. –Mas eu não posso fazer isso! Não tem como esquecer tudo, me desculpe Bill! Eu só... –me levantei e sentei ao lado dele no outro sofá que estava na frente do que eu estava sentada.

-Não há mais voltas, Lih! Agora eu já estou vivendo a minha vida de novo! Não estou pronto e não quero me apaixonar de novo! –ele passou os dedos sutilmente pela minha face. –Me desculpe, querida! –ele beijou minha bochecha e se levantou. –Se isso te faz se sentir melhor, eu também volto a dezembro. –Ele abriu a porta. –Eu volto a dezembro toda hora! –ele saiu e fechou a porta.