Amz escrita por MissBlackWolfie


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capitulo 10.

O sentimento familiar com esse lugar estava vindo do fundo da minha alma, sendo muito acolhedor, era algo nunca por mim sentindo anteriormente. Toda a confusão que havia dentro de mim, havia se acalmado substancialmente. O pulsar da minha inquietude estava agora tranqüilo junto com meus batimentos cardíacos, agora numa freqüência normal.

Dentro de mim havia algo diferente, não sabia muito bem se era aquela nova Clair, que vinha surgindo alguns momentos. Não, era somente isso, na verdade acredito que ela esteja presente dentro de mim. Contudo existia uma novidade no meu âmago. Será o quanto de coisas esquisitas podem ter dentro da gente? Sare que tem um limite? Ou será que eu estou ficando louca?

As mãos de Carlos ainda seguravam meu corpo, pelos meus braços. Isso me arrancando dos meus devaneios, afinal meu tigre enlouquecido por aquele homem se manifestou, comemorando a aproximidade dos nossos corpos. Sem duvida eu também compartilhava em parte com felicidade do felino.

Bufei irritada, não acreditava como isso ainda era possível, mas o sentimento por Carlos ainda era muito forte, para ser ignorado, principalmente agora que estávamos a centímetros um do outro. Mas Carlos parecia não compartilhar do meu desejo, e logo soltou um dos meus braços e ficou ao meu lado, assim me puxou e começamos andar em direção a praia.

Ernesto já estava de pé, quando nossos olhares se encontraram, consegui ver que ele estava preocupado comigo, apenas fechei os olhos e assenti, mostrando que eu estava bem. Então ele esperou a gente chegar perto para ficar do meu outro lado, reparei que seu olhar era atento aos movimentos de Carlos.

Enquanto caminhávamos o sentimento de familiaridade com aquele lugar estava sendo instaurado fortemente, não havia duvida que aqui era o meu lugar. Quando finalmente meus pés saíram por completo da água, senti o pingente aquecer, quase provocando uma queimadura na minha pele, e de novo veio uma luz forte dele, entretanto a luminosidade que ele estava emanando era tão intensa como um raio de sol.

Contudo agora ele fez algo diferente, a partir do pingente surgiu uma espécie de corrente elétrica, ela percorreu meu corpo indo em direção a areia. Quando ela chegou ao chão eu vi que areia pareceu levar um choque, apareceram vários pequenos raios, e todos saíram daquela corrente que o pingente tinha produzido, eles por sua vez correram em direção a mata. Havendo um estrondo típico de raios quando caiem na terra num dia de tempestade.

Depois disso a gota voltou a ficar quieta, entrando em um estado de um objeto inanimado. De tudo que eu tinha vivido nesses últimos dias, isso tinha sido o mais surreal.

-Nosso o que foi isso Clair? – pelo tom de voz do meu irmão, não era somente eu que tinha ficado impressionada com que acabará de acontecer.

-Não sei. – respondi com rastro de voz, porque eu ainda estava em estado de choque.

-Esse pingente é poderoso, deve valer uma boa quantia de valor. – Carlos me lançou um olhar cobiçoso, na verdade para o pingente.

Isso vez imediatamente minha inquietação, que estava calma dentro de mim, aparecer, aumentando sua pulsação, me deixando em estado de alerta. De novo meus sentidos pareciam atentos, meu corpo se preparando por um possível ataque.

Logo minha racionalidade dragônica questionou: “O que você poderá fazer com as mãos amarradas?”. Ela poderia até ter uma parcela de razão, como sempre tem, entretanto eu estava empenhada em defender aquela jóia junto com a minha inquietude. Afinal aquele objeto era meu, havia sido dado pela Lisa, já havia dentro de mim um sentimento de posse por ele.

Quando Carlos começou aproximar sua mão em direção a corrente, com a nítida intenção de puxá-lo do meu pescoço. Rapidamente afastei meu corpo, mas ele me puxou corpo para voltar ficar próxima a ele. Nesse momento só vi Ernesto se colocar a minha frente, em seguida ouvi Alex sacando arma e a engatilhando, poderia não estar vendo, pois as costas largas do meu irmão me impediam de confirmar que Alex estava apontando para meu irmão.

-Carlos, não se atreva em por as mãos na minha irmã. – Ernesto falou entre dentes.

-Sai da minha frente seu brutamontes. – Carlos tinha a irritação no seu tom de voz, estava quase gritando.

-Me obrigue. – Desafiou meu irmão, que imediatamente inflou o peito.

-Vocês dois parem agora. – Gritou Alex. – Carlos, pare de ser burro, não coloque em risco tudo que podemos conseguir aqui, por uma ganância boba.

Os dois ainda estavam imóveis a minha frente, nenhum deles tinha relaxado. E assim Alex continuou.

-Ernesto você nem pense em chegar perto do meu filho.

-Então manda seu queridinho soltar minha irmã.– Nem havia percebido que a mão de Carlos ainda estava envolta do meu braço. – Solte agora.

A voz do meu irmão era tão raivosa quanto calma, aquilo o deixava mais assustador, eu já estava com medo dele, na verdade do que ele poderia fazer. Carlos em contra partida, parecia não temer as ameaças veladas do meu irmão. Aquilo era bastante estranho, afinal Carlos sempre teve medo de Ernesto. Logo meu dragão mostrou a mim a lógico daquele comportamento: “Ernesto esta com as mãos amarradas e ainda tem uma arma apontada para ele. Podemos dizer que Carlos esta com grande vantagem perante seu irmão”.

-Carlos pare agora. Solte o braço dela. – Alex agora estava se aproximando, ouvia seus passos na areia molhada. Minha audição realmente esta melhor do que antes, talvez a sensações corpóreas que eu havia sentindo quando estávamos chegando a ilha, não tinha sido somente loucura.

Nesse momento os dedos de Carlos foram soltando um a um do meu braço, ele ainda encarava o meu irmão, que por sua vez ainda encarava Carlos. Quando ele me soltou completamente Ernesto ficou na frente por completo, tapando toda minha visão. Contudo consegui ouvir Carlos e Alex se afastando, realmente minha audição estava muito apurada. Sem querer um sorriso escapou dos meus lábios, e que foi visto pelo meu irmão, que se virou sem eu perceber.

-Você está sorrindo da cara de perdedor do queridinho do papai? – O sarcasmo de Ernesto ainda era acido de raiva. Olhei para Carlos que tinha o ódio estampado no seu rosto.

-Não, é outra coisa, que depois te conto. – pois eu tinha visto que Alex atento a nossa conversa.

-Sim. Depois a gente conversa. – Ernesto também tinha notado a mesma coisa do que eu. – Você esta bastante atenta aqui, gosto disso.

Sorri para meu anjo da guarda de plantão na terra, que retribuiu com o mesmo gesto para mim. Voltamos a caminhar, agora Carlos e Alex estavam alguns metros na nossa frente e eu e Ernesto ficamos atrás um ao lado do outro. Minha inquietude ao ver o perigo, Carlos, se afastando voltou acompanhar o batimento tranqüilo do meu coração.

Areia era bastante fofa, fazia uma verdadeira massagem nos pés, as palmeiras e o restante da vegetação estavam próximas de nós. A brisa fazia meus fios de cabelo flutuarem suavemente pelas minhas costas. Todo aquele ambiente trazia uma calma e tranqüilidade, que fez meu corpo relaxar por completo, assim o sono começou me atingir, eu precisava descansa.

Meus olhos fechavam sem meu comando, não havia força dentro de mim para me manter acordada. Acredito que além do cansaço físico, afinal não dormir muito bem na lancha, havia também todo estresse emocional, aquilo tudo tinha consumido as minhas energias.

Ao chegar próxima a mata meus olhos ficaram maravilhados com tamanha beleza, mas eu ainda precisava dormir, então minha atenção voltou para buscar um local para que pudesse descansar. Assim quando eu vi uma castanheira, que ficava somente a três passos dentro da mata, meu corpo começou a suplicar que eu deitasse ali. Dessa forma atendi os anseios dele e fui direto para daquela árvore.

Quando passei direto pelos três, eles ficaram visivelmente assustados, ouvir até Ernesto me chamar, contudo não queria e nem conseguia atendê-lo. Ao chegar aos pés da castanheira, observei que tinha uma pedra pequena, onde seria sem duvida o meu travesseiro. Então ajoelhei e quando estava já quase deitando, ouvi Alex esbravejar.

-O que você pensa que está fazendo? – Seu olhar era incrédulo para mim.

-Eu preciso descansar. – Meus olhos já tinham fechado.

-Precisamos procurar por elas. – Mesmo visivelmente cansado, sua ganância parecia lhe dar a energia necessária para continuar. – Achar o tesouro.

-Pai, nós precisamos descansar também. – Carlos falou entre um bocejo, que fez eu imediatamente bocejar também. – O senhor não esta cansado?

-Estou, você tem razão. Vamos descansar um pouco. – Alex disse um pouco contrariado, mas logo acompanhou o filho em outro bocejo.

No meio daquela conversa, sem falar nada meu irmão passou pelos dois, que o olharam desconfiado, mas quando viram que ele direcionava seus passos para minha direção, relaxaram. Ernesto se ajoelhou e escorou o corpo no tronco, eu estava quase ao seu lado, já deita, com a cabeça na minha pedra-travesseiro.

Um pouco afastado de nós, vi Carlos indo a direção a lancha, e Alex olhando ao redor, buscando um bom local para eles. Alguns minutos depois Carlos tinha voltado com a bagagem deles e a nossa sacola. Contudo ele não a trouxe, deixou de lado e foi arrumar o saco de dormir para ele e o pai.  

     

Depois de ver que todos estavam acomodados, virei de barriga para cima e deixei o sono me possuir. Entretanto, como todas as vezes que eu vou dormir, meus devaneios me invadiram. E assim comecei a pensar algumas coisas, sabia que a inconsciência uma hora me dominaria em meios aos meus pensamentos.

A velha Clair é muito mais forte do que a nova. Então ouvi meu dragão soltar a frase da razão: “Velhos hábitos demoram a serem erradicados”. Como sempre ele estava certo. Não posso negar toda a construção de vida que possui. Meus dezenove anos não podem ser descartados ou simplesmente substituídos, de um dia para outro, por uma nova postura.  

Não conseguia negar que Carlos, aquele monstro, tinha o meu amor. Mesmo sabendo que não era o melhor para mim, entretanto ode ser tanto quanto clichê, mas a frase : No coração a gente não manda. Se aplica perfeitamente na minha historia, eu sabia o quanto a índole e o caráter dele era duvidoso, porém eu simplesmente o amava.

Ao pensar isso tudo fui tragada para o mundo dos sonhos. Que hoje tinha me abrilhantavam com os olhos de Lisa, e como trilha sonora havia ela dizendo que era para eu confiar em mim. Suas palavras eram confortantes para mim, me sentia amada de alguma maneira.

Porém no meio do sono, senti um arrepio atravessar meu corpo, fazendo eu abrir meus olhos. Que logo focalizaram no meio da copa da arvore que estava a minha frente, dois pontos amarelos brilhantes, pareciam olhos de um animal. Contudo o meu corpo ainda parecia querer mais algumas horas de sono, dessa forma o mar da inconsciência me puxou para suas profundezas. 

Agora meu sonho era com várias imagens que passavam freneticamente na minha frente. Não conseguia distingue nada especifico, contudo quando elas pareciam estar numa velocidade absurda, onde todo era somente um borrão, uma cena parou e ficou em câmera lenta.

Nela havia eu, com apenas uns quatro a cinco anos de idade, e uma mulher com os olhos iguais aos meus, logo identifiquei quem era, minha mãe. Assim sem perceber nada a minha volta, corri em sua direção, ela logo abriu os braços para mim. Quando nossos corpos se encontraram, enterrei meu rosto no seu pescoço, senti o cheiro idêntico do seu vestido que eu tinha guardado, era o meu verdadeiro tesouro, nada era mias valioso do que ele. Suas mãos gentis passavam no meu cabelo, e diziam que tudo ficaria bem agora, eu tinha encontrado o meu destino.

Eu não conseguia falar nada, eu era apenas uma criança curtindo ao abraço da mãe, ouvindo tudo atentamente para usufruir a emoção de escutar a voz de uma pessoa tão amada. Afastei meu tronco e a encarei e disse as palavras que sempre quis dizer: “Eu te amo mãe!”. Seus olhos ficaram brilhantes devidos as lagrimas que ali apareceram. Ela encostou nossas testas e falou o que sempre quis ouvir dela: “Eu sempre te amei e sempre te amarei”. Ela me lançou um sorriso lindo, igual de Ernesto.

De repente tudo voltou acelerar e inúmeras cenas confusas começaram a correr. Aquilo me irritou e logo acordei sobressaltada. Com a respiração ofegante, eu não estava acreditando o sonho que acabará de ter. Aquilo foi uma lembrança ou um recado? Não sabia sinceramente a reposta, e pelo visto nem minhas criaturas internas queriam opinar, pois elas estavam caladas. Tudo isso havia acabado com meu sono.

Quando levantei senti meu corpo dolorido, rodeia minha cabeça, pude sentir os ossos se estalando do meu pescoço. Deixando bem claro que a escolha do meu travesseiro não os agradou. Passei a mão nos meus cabelos, que tinham um pouco de areia, assim sacudi os fios, alguns grãos saltaram. Olhei para baixo, minhas roupas estavam bem sujas e pensei: “Eu preciso de um banho”.

Olhei a minha volta, Carlos e Alex tinham acabado de acordar também, quando eu ia virar meu rosto para procurar meu irmão, o percebi já ao meu lado. Nós dois estávamos sentados na areia. Tomei um pequeno susto, que o fez rir da minha cara.

-Te assustei? – ele falou brincalhão.

-Imagina. – respondi olhando debochado para ele, que continuou rir de mim.

Entretanto comecei a eu sentir umas coisas estranhas, que fez meu rosto ficar sério, isso assustou meu irmão. Meus sentidos estavam me alertando para algo, eles estavam atentos. Havia algo na mata, eu ouvi e vi os arbustos se mexerem na minha frente.

-Alguém está nos observando. – Nem eu reconhecia minha voz nesse tom sério.

-Também estou sentindo. – Ernesto falou também sério, mas continuou. – Você parece mais atenta aqui. Estou certo?

-Sim, meus sentidos estão mais aguçados. – respondi olhando ainda para o muro verde a nossa frente. – Não sei o que esta acontecendo comigo.

-Você está diferente. Parece que o ar desse lugar deixou você mais...

Antes que Ernesto pudesse completar ouvimos a voz, ainda rouca de sono, de Carlos.

-Mais sensual? – ele estava caminhando em nossa direção, com sorriso debochado no rosto, mas extremante irresistível.

Aquela frase me pegou de supressa, era algo nunca por mim imaginado ser falado por Carlos para mim. Aquilo fez meu felino acordar e começar a pular, dar verdadeiras piruetas de felicidade. E logo senti meu rosto corar, para disfarçar encarei o chão.

-Ah, esqueci que tínhamos guias em nosso passeio. – Ernesto disse repleto de cinismo. – Olha vou reclamar com a agencia de viagem sobre o tratamento empregado a nós.     

Ao dizer isso Ernesto começou a balançar os braços mostrando os nós que ainda prendia os seus pulsos. Seus olhar era travesso e ao mesmo tempo desafiador. E pelo bufar que ouvi vindo de Carlos, meu irmão tinha conseguido o objetivo de irritá-lo.

-Você sempre tem que fazer piadinha de tudo. – Carlos estava aproximando de nós. – Sempre foi somente um saco de músculo e mais nada.

Carlos estava muito próximo de Ernesto, que o encarava diretamente nos olhos sem medo. Aquela postura do meu irmão estava irritando muito Carlos, que voltou a falar.

-Você sempre se achou engraçado. Mas não passa de um inútil. – Nesse momento ele pegou o cabelo do meu irmão e jogando a cabeça dele para trás.

Ao ver aquela cena, meu sangue ferveu como um vulcão dentro de mim, meu rosto ficou quente de raiva. Minha inquietação prontamente me acompanhou na minha irritação. Não ia permitir Carlos destratar meu irmão. Assim comecei agitar meus pulsos na corda, levei a minha boca tentando desfazer o nó nos meus dentes, contudo sabia que era inútil. Dessa forma fiz a única coisa que poderia ser feita naquela situação. Sem pensar joguei meu corpo contra Carlos.

O baque do encontro dos nossos corpos fez ele soltar meu irmão e ainda caiu para trás, comigo em cima dele. Nesse momento ouvimos o grito de Alex.

-Vocês podem parar de brigar. – Seu rosto estava vermelho de raiva.

Quando eu tentei levantar, sem encarar Carlos, porque talvez pudesse fazer algo mais impensável ainda, como me entregar o amor que sentia por aquele ser nojento. Mas não estava obtendo sucesso, entretanto mais uma vez meu irmão me salvou, puxando-me pela roupa. Em um puxão preciso, onde cai sentada em cima dele, porem isso não o incomodou nem um pouco. Agradeci com um gesto.

-Vocês não perceberam que não estamos sozinhos. – Alex ainda gritava conosco.

Quando virei meu rosto em direção a mata, pude ver que a minha suspeita anterior se confirmou, alguém nos observava, na verdade era mais de uma pessoa, era um grupo de homens. Eles saíram um a um do manto verde, cada um tinha traços e cores de pele diferente, não pareciam pertencer uma única raça, mas sim uma grande mistura delas.

Era um grupo de seis homens, todo pareciam ter a idade de vinte poucos anos, contudo tinham biótipos bem distintos. Encarava incrédula aqueles rapazes, cada um tinha um tipo único de beleza. Vestiam somente uma bermuda bege clara de algodão, era do tipo folgada, prendia um pouco no cós e na panturrilha, me lembrou as vestimentas usadas por Aladim nas Arábia, as vi nas ilustrações de um livro. Alguns deles tinham pequenas argolas de prata nas orelhas, outros usavam tatuagens, extremamente ricas em detalhes e contornos.

Os olhos deles estavam atentos aos nossos movimentos, eles não falavam nada, somente nos encaravam. Os seus passos eram cautelosos, acredito que analisavam se apresentávamos algum perigo.

Ao continuar observando eles, notei que cada tinha um tipo de arma na mão. Um tinha uma lança, outro um bastão, já outro tinha em uma das mãos uma adaga, outros dois pareciam empunhar pequenas espadas. E o ultimo, que estava na frente do grupo, parecia um tipo de líder, não aparentava ter nenhuma arma, isso me deixou intrigada. Na verdade não só isso, ele parecia ter uma áurea superior, além de se incrivelmente bonito.

No momento em que eu começava analisar o possível líder, ouvi Alex pigarrear alto. Imediatamente o encarei, pude então ver uma coisa inédita, o patriarca da família Fonseca com medo. O temor que suas afeições desenhavam em seu rosto, demonstrava claramente que aquela situação não estava agradando em nada a ele. Não posso negar que aquilo trouxe-me um pouco de satisfação, afinal eu já havia sofrido bastante em suas mãos, agora parecia que ele temia que isso poderia acontecer com ele.

Em seguida escutei a voz do rapaz que estava à frente do grupo.

-Bom dia. – sua voz era grave, demonstrando certa autoridade. – Nós somos os primeiros filhos da terra e vocês?

Ele passou os olhos primeiro em Alex e Carlos, que estava praticamente se encolhendo atrás do pai, mas seu rosto tentava não demonstrar o seu medo, empinando o nariz em direção aos rapazes, mostrando um certo ar de arrogância. De certa maneira fiquei fascinada com tamanha fragilidade de Carlos, sempre se mostrou tão forte perante mim. Entretanto minha inquietude e meu dragão riram daquilo, achavam uma cena no mínimo patética, já meu felino, obviamente ficou compadecida com ele, seu desejo era reconfortá-lo. Mas o lindo rapaz continuou a percorrer com os olhos a sua volta e logo encontraram os meus. 

Meu coração parou de bater por um segundo e junto minha respiração suspendeu a minha inspiração. Seus olhos eram azuis escuros, do mesmo tom que você ver no alto-mar, parecia que ali havia uma parte do oceano, possuia o mesmo brilho de quando o luar prateado encosta na superfície da água salgada. Fui invadida por uma sensação muito nítida de conforto, afinal eu sempre amei o mar, era o meu lar em meio ao inferno da minha vida, e ali naquele rapaz havia encontrado de certa forma aquilo.

Não sei quanto tempo passou durante o nosso encontro de olhares, só fui tirada dele por um pigarro alto de Ernesto, isso fez o homem repousar seus olhos no meu irmão, em contra partida lancei um olhar de fúria para ele. Que me encarou assustado, eu bufei irritada e revirei meus olhos.

-Você realmente esta estranha. – a voz de Ernesto era um misto de irritação e deboche.

Fingi não ter escutado o comentário dele, voltei minha atenção aquele homem, que me despertou uma sensação esquisita dentro de mim. Ele agora caminhava em direção dos Fonsecas, seu andar era calmo, a tranqüilidade estava na sua expressão. Porém os dois pareciam muito apreensivos com a aproximação do líder do grupo, podia ate ver que as pernas de Carlos tremiam levemente.

O grupo de homens ainda estava parado, estavam atentos a qualquer ação nossa, alguns encravam a mim, Ernesto e outros estavam com os olhos nos Fonsecas. Havia uma tensão no ar, isso era perceptível.  

À parte dessa movimentação toda, senti alguém de novo me observando, que não estava naquele grupo de homens, mas sim no meio das copas das arvores. Assim encarei mais uma vez aquela mata a minha frente. A minha visão buscava uma resposta entre as folhas, fiquei perdida por algum tempo, mas logo vi duas contas cinzas, que se mexiam com muita habilidade entre aquele emaranhado verde. Porém não conseguia ver mais do que um vulto.

Minha inquietação se agitou junto com o dono daquele dois pontos claros que se moviam. De repente eles sumiram, criando a mim uma frustração, queria saber quem era aquela pessoa. Logo minha mente me lembrou do relato de Alex sobre uma das meninas terem olhos cinzas e também da descrição da criança nascia do ventre de Sarah, através do seu diário. O nome dela era Lunna certo? Será que era ela? 

Assustei comigo mesma, era impressionante como estava extremamente perspicaz nessa ilha, parecia que estava mais alerta tudo, minha mente trabalhava mais rápido que seu normal, e meus sentidos tinham ficado muito mais refinados.

Fechei os olhos, tentado aguçar minha audição, e pude dessa forma escutar o pé do líder dos homens encontrar areia fofa, podia contar seus passos em direção Carlos e Alex. Tudo era muito estranho, algo muito doido tinha acontecido comigo. Sei que nunca fui normal, mas isso estava ficando cada momento mais diferente e anormal do meu padrão.

Ainda havia peças vagando dentro de mim, contudo as que já estavam em seu lugar montavam algo que não conseguia identificar o que era. Mas mesmo assim isso tinha diminuído um pouco a minha confusão interna. Porem ainda havia muita coisa ainda acontecendo dentro de mim.

Quando ouvi os passos do homem cessarem, automaticamente minhas pálpebras abriram, queria ver o que ele faria com Carlos e Alex. Nesse momento passei a analisar mais aquele ser intrigante. Além dos olhos azuis escuros, ele era branco queimado de sol, sua pele tinha uma cor semelhante aos dos surfistas que freqüentavam as praias de Jilas. O seu cabelo tinha cachos grandes, pareciam bastante macios, era semelhante dos anjos retratados nos quadro da renascença, e sua cor era castanho claro, com algumas pontas mais claras. Seu corpo era mais musculoso que de Ernesto, mas nada exagerado, todos os seus músculos eram definidos com perfeição, era praticamente uma aula de anatomia ao vivo.

Antes que ficasse mais um pouco perdida em minhas observações sobre homem, o escutei falar com Alex.

-Quem são vocês? – a voz dele firme, contudo ainda gentil.

-Meu nome é Alex Fonseca. – ele esticou a mão para o rapaz, que o cumprimentou. - E esse é meu filho Carlos.

Que somente assentiu com a cabeça, era visível o incomodo que ele sentia em chegar perto do homem a sua frente, porém ele ainda tentava disfarçar mantendo uma postura esnobe, com uma pitada de indiferença. Porém aquilo pareceu não funcionar muito bem, pois aquilo fez um sorriso pequeno escapar dos lábios do homem.

-E vocês quem são? – Ele agora vinha cainhando em nossa direção.

Vendo aquele homem andando ao encontro de mim e de Ernesto senti algo diferente dentro de mim, não sei como ainda é possível eu ter mais algum tipo de sensação nova. Afinal eu sou um poço de confusão mental e de emoções. Entretanto agora era como me estomago tivesse revoltado com alguma coisa, minhas mãos suavam frio.

Sem duvida era um tipo de nervoso, já tinha lido sobre isso e também já tinha sentido as vezes que Carlos tentava se aproximar de mim. Mas eu não entendia muito bem o por que daquelas reações físicas por esse homem.

-Meu nome é Ernesto, sou irmão dela. – Notei uma certa irritação no tom de voz do meu irmão.- Você fica ai perguntando o nome de todo mundo e não fala o seu?

-Me chamo Ian. – o rapaz estava achando graça do meu irmão.

A seguir ele se agachou na minha frente, nossos olhos estavam na mesma altura, foi inevitável não encará-los, fazendo meu nervosismo ficar mais forte. Percebi todo meu sangue concentrar no meu rosto, fazendo o ficar quente. E quanto mais eu pensava como era ridícula a minha situação, mais a minha vergonha aumentava.

Sem raciocinar abaixei meus olhos e comecei a fitar o chão, não queria que ele me visse como boba. Contudo meu dragão foi cruel comigo, e falou: “Você agindo como uma menina de dois anos envergonhada, vai ser difícil ele ter uma opinião positiva sobre você”. Odeio quando ele faz isso comigo, e como sempre ele estava certo. Mas meu felino me perguntou algo para nós dois: “Por que vocês se importam com a opinião dele?” Eu não tinha resposta para essa pergunta, mas meu dragão ia responder quando senti sua mão encostar-se ao meu queixo levantando meu rosto, para olhar diretamente no seu mar particular.    

-Qual é o seu nome? – Sua voz detinha suavidade e delicadeza.

-Han... Meu nome é... – As palavras não vinham na minha mente com clareza. Queria morrer por causa disso. Meu dragão gritou para eu falar meu nome, não ficar com cara de pateta na frente de Ian – é Clair.        

-Pensei que você tivesse esquecido seu nome, maninha. – falou meu irmão despontando toda sua impaciência com a situação.

-É um nome lindo. – Me surpreendendo ele conseguiu ficar mais lindo, simplesmente sorriu para mim.

-Obrigada. – Somente um rastro de voz saiu da minha garganta.

Ian demonstrava estar me analisando também, talvez isso fosse impressão minha, era uma esperança ridícula que um homem lindo desse poderia se interessar por mim, sem duvida isso não era possível. Seus olhos ainda atentos aos meus ele me perguntou.

-O que vocês vieram fazer aqui?

-Não sei. - Minha voz tentava encontrar estabilidade, mas ainda assim manteve-se trêmula.

-Você não sabe? – Seu olhar agora era intrigado para mim.

Não poderia contar para ele toda a loucura que era aquilo tudo, afinal ele acharia que eu sou o ser mais estranho dali. Não queria assustá-lo com a pessoa louca que sou, com todos os seres raivosos dentro de mim, junto com a minha inquietação e as minhas divagações. Sem contar aquela situação de que nem eu sei direito o por que da minha vinda a essa ilha. 

-Nós viemos em uma expedição de pesquisa cientifica. – disse Alex logo atrás de Ian.

-A pergunta não foi direcionada a você. – A maneira tranqüila que ele falou sobre seus ombros transformava aquilo um pouco assustador.

Quando ele voltou sua atenção para mim, notei que seu olhar repousar nas minhas mãos amarradas com cordas. Ele passou dedo e puxou levemente o nó, para certificar que realmente estava amarrado. Assim ele chamou um dos rapazes sobre seu ombro e continuou agachado na minha frente.

-Tiago, me dê o seu punhal.

Prontamente o rapaz ruivo, que estava no grupo nos observando, veio na direção de Ian, seu andar já era mais forte e determinado. Ele era uma dos rapazes mais alto, perdendo somente para outro rapaz negro. Esse rapaz era repleto de sardas que combinavam com tom do seu cabelo, pareciam que vários pontos de ferrugens pintavam seu corpo.

Quando ele se aproximou tirou do cós da bermuda um punhal de prata, que brilha absurdamente com encontro dos raios do sol, isso me hipnotizou por alguns segundos, mas Ian logo o pegou e encostou a lâmina afiada na corda, que cortou e caiu na areia.   Quando minhas mãos ficaram livres senti um alivio imenso, passei meus dedos pelos meus pulsos que estavam vermelhos e marcados, tinham alguns pontos roxeados na minha pele.

-Bem melhor assim. – Disse Ian com um sorriso para mim, só consegui assenti com a minha cabeça.

Ele ofereceu a mão para mim, logo estendi a minha, quando nossas peles se tocaram senti uma corrente elétrica correr apressadamente das pontas dos meus dedos em direção ao restante do meu corpo. Fique tensa com aquilo, só havia sentido algo similar com isso com os toques rudes de Carlos. Engoli o nervoso que se alojou na minha garganta. Meu tigre ficou interessado pelas minhas emoções, notei sua agitação pela sensação provocada pelo toque do líder.

Ian se levantou me levando junto com ele, seus olhos estavam repousados em mim podia sentir, meu felino tinha me avisado. Contudo não conseguia encará-lo, tudo era muito confuso para mim, todavia não podia ter mais confusões emocionais por agora.  Depois de ficarmos de pé, ele soltou a minha mão, senti um pequeno vazio por causa disso. Ele se virou para Ernesto e cortou as cordas que prendiam seus pulsos, quando meu irmão se libertou ele agradeceu.

Ao ver cena da nossa libertação, escutei Alex bufar irritado, eu sabia que aquilo o incomodava imensamente. Ernesto lançava um olhar debochado e vitorioso para os dois Fonsecas. Ian percebeu a provocação do meu irmão e lançou uma pergunta para Alex.

-Por que eles dois estavam amarrados?

-Porque eles são meus escravos. – Alex disse com uma calma que no mínimo era irritante.

-Você podia ser mais discreto e dizer que viemos aqui para carregar suas bagagens. – Falou meu irmão com sua ironia característica. – Ficava menos feio para você, Alex.

-Ernesto fique calado que é melhor. – Carlos ameaçava meu irmão com raiva.

-Carlos se controla porque agora nada e ninguém pode impedir de eu finalmente acabar com a sua raça.

-Eu não tenho medo de você. – Carlos conseguia ser mais petulante que meu irmão.

-Acho bom você ter medo de mim, afinal você lembra da surra que levou no quarto dos seus pais. – Agora Ernesto estalava os nós dos dedos e caminhava em direção de Carlos. Mas eu o impedi segurando sua mão.

-Ernesto não é hora para isso. – Falei com toda seriedade que existia em mim.

Meu irmão me encarou por alguns segundos, notei que ele deliberava se acatava a minha idéia ou se fazia o que sempre quis fazer com Carlos.  Mas para minha alegria ele respirou fundo e ficou ao meu lado. Porém o clima tenso ficou pairando ar, os olhares de ódio trocados por eles não facilitavam em nada a diminuição da tensão. Contudo a voz grave de Ian rompeu aquele cenário.

-Aqui ninguém é escravo de ninguém. – Seu olhar era severo para Alex. – Enquanto vocês estiverem aqui, todos serão livres.

-Não pretendemos ir embora daqui. – Disse meu irmão para Ian. – Queremos viver aqui.

-Ótimo. – Agora o olhar de Ian era interessado em mim. – Se vocês vão ficar aqui, tem que conhecer o Chefe. Sigam-me.

Sem falar mais nada Ian passou a nossa frente e continuou caminhando em direção ao grupo de rapazes que estavam a sua espera, quando ele se aproximou deles, simplesmente eles abriram espaço para ele ficar na frente, fizeram um semi-circulo. Ernesto pegou nossa sacola e depois a minha mão. Juntos seguimos o líder do grupo, atravessamos os olhares daqueles rapazes, Carlos e Alex logo vieram atrás de nós.


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