Kyoko estava no quarto, seguindo o conselho do chefe.

As lágrimas que derramava agora não era por pena dela mas sim porque era hora do almoço e não havia nenhum cliente que se atrevesse a passar pelos repórteres para comer os pratos deliciosos do chefe.

- Kyoko. - ela olhou para a mulher do chefe na porta mas não se levantou da cama - Está aqui uma pessoa para te ver.

Ao ver que ela não respondia, a mulher mandou-o entrar fazendo com que Kyoko se levantasse imediatamente.

- Tsuruga-san... - sussurrou Kyoko com os lábios a tremer. Tal como uma criança, quando o Ren esticou os braços, ela correu para ele e deixou-se envolver pelo conforto que o seu senpai lhe oferecia - Como é que isto aconteceu?

Ele afagou-lhe o cabelo e sentiu-se mal com ele mesmo. A culpa era toda dele. Ele devia saber que aquilo ia acontecer se ela fosse vista com ele na estreia.

- Mogami-san. - ele pôs-lhe a mão  por baixo do queixo até ela olhar para ele - Não devias ficar aqui. Até isto acalmar, não podes ficar em casa de alguma das tuas amigas?

- Não sei. - respondeu ela, afastando-se - Posso pedir à Moko-san mas ela tem uma familia muito grande se a Chiori-san me deixa ficar lá.

- Bem, tenta contactá-las e depois diz-me qual foi a resposta. - ele passou as costas da mão pela cara molhada dela - Havemos de arranjar uma solução, Mogami-san. Não te preocupes. Agora vai vestir-te. Eu vou estar à tua espera lá fora.

- Onde é que vamos?

- Se saires daqui os reporteres também saem. - disse Ren sabendo que ela se sentia mal por estar a causar problemas ao restaurante - Eu doi-te boleia até à LME. Lá estás a salvo.

Depois dela concordar, ele saiu e encostou-se à porta, suspirando. O que é que ia fazer agora? Eles nunca mais a iam largar. Não, enquanto ele se mantivesse ao lado dela mas, por outro lado, não conseguiria se afastar dela tão facilmente.

Teria que falar com o presidente sobre isso. Talvez uma viajem lhe fizesse bem mas iria deixá-la sozinha numa situação daquelas?

Ele afastou-se da porta e foi-se sentar numa das mesas do restaurante vazio, enquanto os papparazies continuavam a gritar lá fora.

Ren achava que odiava um bocado o presidente agora. Ele queria que ele se metesse num escândalo amoroso...o que é que ia fazer agora que aquilo tinha acontecido?

Ele olhou para cima depois de ver uma revista cair em cima da mesa com Kyoko na capa, vendo o chefe de Darumaya.

- O que é que tencionas fazer em relação a isto? Fugir como um rato? - perguntou o chefe como se conseguisse ver o ele estava a pensar - Ou ficar ao lado dela como um homem?

...

A viajem de carro até ao edificio da LME tinha sido silenciosa pois os dois estavam presos nos seus pensamentos.

Ren reflectia nas palavras que o chefe lhe dissera enquanto Kyoko procurava uma solução para o seu problema.

- Tsuruga-san. - disse ela finalmente, quando ele estacionou no parque privado da LME - Mais tarde, posso ir a sua casa?

Ele olhou para ela, não com surpresa mas a sofrer porque sabia que o que ia dizer a seguir ia magoá-la.

- Mogami-san, eu não acho que isso seja boa ideia. - Kyoko, que tinha estado a olhar para as suas mãos, olhou para ele que, apesar do que estava a dizer, continuava a olhá-la nos olhos - Aliás, acho que é melhor manteres-te afastada de mim por algum tempo. Eu vou tratar de tudo ainda hoje, mas ainda vai demorar um pouco até que tudo se acalme.

- Mas... - percebendo que ele não ia mudar de ideias, ela desviou os olhos e abriu a porta - Entendido, Tsuruga-san.

Ele viu-a a sair e encostou a cabeça ao volante, com vontade de desaparecer.

Mas Ren não era o único com essa vontade. Ao entrar na sala destinada à Secção Love Me, Kyoko percebia o que o seu senpai estava a fazer, mas o seu coração doí-lhe.

De repente lembrou-se.

Já não se tinha sentido assim antes? Infeliz por ter sido posta de parte como se nunca tivesse sido importante para aquela pessoa especial.

Não. Lembrava-se que, da última vez, esse sentimento tinha sido acompanhado por uma sensação de traição e raiva.

Lentamente, começou a vestir a farda da Secção Love Me e lembrou-se quando se sentira assim pela última vez, parando com o choque ao ver o nome Shotaro na sua cabeça.

Sim, ela lembrava-se. Da raiva, da traição, da solidão que sentira no momento por ter sido abandonada pela pessoa que amava, pela sua pessoa especial...deixando o fecho por fechar sem reparar quando Kanae e Chiori entraram.

- Kyoko. - Kanae sentou-se ao lado da amiga que estava completamente branca - Eu já sei de tudo. Estás bem?

- Moko-san, já sabes? - Kyoko levantou-se e olhou para as duas colegas da Secção Love Me - Mas eu só me sinto assim porque ele é o meu senpai! - gritou ela esquecendo-se completamente do escândalo amoroso que estava em todas as revistas - Só porque ele é o meu senpai!

- Eh? - o menbro mais novo da Secção olhou para Kanae um bocado confusa - Estámos a falar da mesma coisa?

Kanae encolheu os ombros e olhou para a amiga que entrava em pânico, discutindo com ela própria. - Acho que não. - quando Kyoko começou a vasculhar o seu cacifo e dirigiu-se para um canto da sala, Kanae franziu as sobrancelhas ouvindo-a a sussurrar - Kyoko, queres vir comer um gelado comigo.

Ao ver que ela não respondia, Kanae aproximou-se vendo-a a segurar um mini-boneco do Ren com a roupa que ele tinha usado na estreia.

- Só como senpai. Só como senpai. Só como senpai... - murmurava Kyoko olhando fixamente para o boneco que tinha feito na noite passada - Só respeito. Só respeito. Só respeito...

- Kyoko...

- E então, se eu gostar dele!? - gritou Kyoko virando-se repentinamente para a amiga que se retesou com medo - Mais de metade das mulheres deste país gostam dele, não é!? Não há nada de mal nisso! Isso não quer dizer que o ame!!!

Ela pôs uma mão na boca, percebendo o que tinha acabado de dizer e um pouco magoada com as suas palavras

- Moko-san. - murmurou Kyoko com uma aura negra a crescer  à volta dela - Nenhuma das palavras que  eu acabei de balbuciar pode sair desta sala, entendido?

- Entendido. - concordou Kanae sentindo alguma coisa a cercá-la.

Deixando Kanae e Chiori sozinhas, Kyoko saiu da sala com passos pesados.

- O que foi aquilo? - perguntou Kanae encostando-se aos cacifos - De quem é que ela estava a falar?

Chiori pegou no boneco de Ren que Kyoko tinha deixado cair, raparando em cada pequeno promenor.

Olhou para Kanae e sorriu. - Parece que alguém andou muito atenta ao seu par, ontem à noite.

...

Kyoko entrou no gabinete de novos talentos e dirigiu-se ao homem que a tinha ajudado desde o começo.

- Bom dia, Sawara-san. - cumprimentou Kyoko fazendo uma vênia - Precisava de falar consigo.

- Ah, sim. - disse Sawara-san tirando duas revistas da gaveta e pousando-as em cima da mesa - A nova namorada do Ren.

- Sawara-san. - ela sentou-se, afundando-se na cadeira - Como é que eu faço para parar isto?

- Não fazes nada. - respondeu o homem surpreendendo Kyoko - Olha, eu não vou dizer que o Ren não precisava disto, mas pelos vistos tu estás a sofrer as concequências e ele não gosta disso, por isso o Ren pediu uma entrevista para esclarecer tudo.

Ela suspirou, deprimida por estar a dar trabalho a Tsuruga-san, até dar com uma capa amarela que a fez sorrir.

- Tenho outro trabalho? - perguntou ela sabendo que só os seus trabalhos iam parar às mãos dele - Posso ver? - ao ver o titulo os seus olhos brilharam - É um romance?

- Sim. - confirmou Sawara sorrindo pela felecidade dela. Mas pegou no guião e guardou-o dentro da gaveta - Mas o presidente pediu manter segredo até falar contigo, por isso não te posso falar dele.

- O quê? Mas porquê? - ao vê-lo abanar a cabeça ela voltou ao seu mundo de depressão - Este dia não está a correr bem.

- Não fiques assim. - pediu ele levantando-se e dando a volta à mesa para ir até ela - O presidente pediu para falar contigo amanhã às nove horas. Até lá, só tens que aguardar ansiosamente.

- Sim, senhor. - disse ela saindo da sala com os demôniozinhos atrás dela.

Entretando, Sawara-san sentou-se novamente e abriu a caveta para dar uma espreitadela ao guião.

Perguntava-se porque é que o presidente tinha pedido para falar com o Ren sobre aquele trabalho, antes de falar com a Kyoko.

...

A tarde já ia a meio mas o dia cansativo de Ren ainda não tinha acabado. Apesar de ter conseguido fugir dos papparazies, de uma maneira ou de outra, Ren tinha uma entrevista para dar e uma visita à LME antes de voltar para casa para uma noite em branco.

A cara dela não lhe saia da cabeça.

Ele tinha-a magoado de uma maneira que não tinha perdão. Sabia que ela estaria a torturar-se nesse preciso momento, perguntando-se o que teria feito para merecer aquilo do seu senpai.

Senpai.

E o que é que ele tinha feito para merecer aquilo? Se tudo fosse como ele queria, ele estaria ali para confirmar os rumores e a sua relação com Kyoko.

Sorrindo para si mesmo enquanto as maquilhadores tratavam da sua pele, Ren pensava que se a sua relação estivesse onde ele queria, não se importaria de ser chamado de senpai.

- Hum...Tsuruga-sama. - chamou a cabeleireira a corar - Já está tudo pronto.

- Ah, obrigado. - Ren acordou da sua fantasia e levantou-se, preparando-se mentalmente para a entrevista.

Enquanto Ren respondia cuidadosamente a cada pergunta e o sol se começava a pôr, Kyoko assistia ao programa na LME.

"Então, Ren-san. Muito obrigada por ter-nos escolhido para esta reportagem inédita. Está confortável?"

"Muito obrigado por me receber."

Quando ele sorriu toda a plateia feminina começou a gritar pelo seu nome, fazendo com que Kyoko se lembrasse o quanto ele era famoso.

"Desde ontem à noite a mídia tem andado entretida com o facto de ter aparecido com a sua nova namorada na estreia. O que queremos saber é se há mesmo alguém no seu coração."

"Se há alguém no meu coração? Sim, várias pessoas. Amigos, familia, colegas...Mas a rapariga de ontem à noite é a minha kouhai, não a minha namorada. Aliás, ela trabalhou comigo em Dark Moon."

"Ah, sim! Ela fez o papel de Mio, não é? Então podemos assumir que ela é apenas uma colega?"

"Sim, mas eu chamaria-a de amiga. No máximo, uma boa amiga, mas nada mais do que isso."

"Então, isso são boas noticias para todas as mulheres do Japão, certo?"

Ren apenas sorriu, mas Kyoko sabia que, apenas com aquele sorriso, mais ninguém iria falar de alguma ligação entre eles.

Por alguma razão, isso não a agradou tanto como ela esperava. Mas pelo menos o nome do seu senpai não iria ficar manchado com uma actriz principiante como ela.

E mesmo que ela admitisse que podia ter um fraquinho por ele, do que é que adiantava? Ele já tinha alguém de quem gostava. Só não a tinha levado à estreia porque ela era uma colegial e ele tinha um problema com a diferença de idades.

Ela desligou sem acabar de ver a reportagem e foi ter com Moko-san que tinha aceitado deixá-la passar a noite em sua casa.

Como Tsuruga-san ou sem Tsuruga-san, ela já tinha decidido desistir do amor, de qualquer maneira.

...

Ren estava a entrar na LME com uma colossal dor de cabeça.

Queria realmente ir para casa mas agora estava na hora da sua reunião com o presidente. Perguntava-se porque é que não tinha um bom pressentimento em relação.

Ao entrar na sala do presidente, viu Lori vestido de chefe da máfia, com um charuto na boca, um chapéu na cabeça e os pés em cima da mesa.

Sawara-san também estava lá e Jely ao lado do presidente.

- Senta-te, Ren. - pediu Sawara-san - Não demoramos muito tempo.

- Se é sobre os rumores, já tratei disso. - começou Ren, sentando-se à frente de Lori - Onde é que está Yashiro-san?

- Ele também é um problema. - respondeu Jely pondo uma mão no ombro de Lori - O Darling e eu achamos que devemos falar contigo  antes do tomarmos qualquer decisão.

- Ren, é sobre um novo trabalho. - explicou Sawara-san - Um trabalho essencial para a Kyoko sair da Secção Love Me e se tornar numa actriz independente.

- Isso é óptimo, não é? - perguntou Ren olhando para a cara preocupada do presidente - Não é?

- Ren. - Lori falava com um sotaque russo - Sabemos que se dissermos isto à Kyoko ela vai aceitar este trabalho mas o problema és tu.

- Sou? - Ren cada vez estava mais confuso - Porquê? Eu também faço parte do elenco?

- De forma alguma, Ren-kun. Mas sabemos o quanto te preocupas com a Kyoko-chan. - disse Jely - E sabemos o quanto ela respeita a tua opinião. Por isso precisamos que a convenças a aceitar este trabalho porque é uma oportunidade única para ela.

- Ren. - Lori atirou-lhe o guião - Dá uma olhadela a isso.

Ren so demorou alguns segundos até perceber qual era o motivo para tanto alvoroço e a reacção foi a esperada.

- O que é isto? - perguntou Ren atirando o guião para cima da mesa - Alguma brincadeira?

- Ren-kun, esta é uma grande oportunidade para ela. - apelou Jely quando o viu levantar-se.

Ao vê-lo dirigir-se para a porta, o presidente levantou-se. - Não estás a pensar, Ren. Ela precisa deste trabalho.

Ren virou-se, olhando para o presidente com uma cara que Lori já não via há algum tempo...a cara de Kuon.

- Estavam à espera que eu lhe dissesse para aceitar o trabalho? - Ren abanou a cabeça - Pelo contrário. Se ela aceitar o trabalho, farei de tudo para a convencer a não fazê-lo.

Enquanto Ren saia com um estrondo, Lori pegava no guião e suspirava, deixando-se cair no sofá.

- Eu sabia que este filme ia-me dar problemas.