7. Fogo nas veias

Era pior do que a fogueira!

Depois da mordida daquele insano, eu com certeza preferiria a fogueira, iria doer menos.

Na verdade, eu ainda acreditava que estava na fogueira, pois as chamas me consumiam mais a cada instante e não me largavam.

Eu ouvia Jane implorar pela morte e ouvia meus próprios gritos também implorando para morrer.

O fogo em minhas veias era avassalador.  Tinha certeza que já estava em uma pilha de carvão, mas não era isso que meus gritos me diziam. Com certeza eu ainda estava vivo.

Ninguém falava nada conosco, não nos diziam quando iriam nos matar, quando aquela tortura iria acabar.

Eu esperava que fosse rápido, mas até agora não tinha sido nem um pouquinho.

Não sabia quantas horas, dias ou até mesmo semanas haviam se passado, só sabia que o fogo me consumia e ardia em minhas veias.

Até que uma hora a dor largou os meus dedos das mãos e dos pés. Depois os tornozelos e as outras partes de meu corpo.

Mas, a dor ficou toda concentrada em meu coração. Ela se duplificou, não se triplicou.

Eu quase não conseguia mais respirar devido essa dor que, parecia que iria arrancar meu coração.

Meus gritos ficaram mais altos. Os de Jane também.

O que, diabo, tinham feito conosco?

A resposta viria logo a seguir, mas por enquanto eu só pensava na dor.

Até que tudo acabou. Tudo acabou e eu pude respirar.

Abri os olhos e fiquei em estado divino. Eu podia ver tudo.

Ouvi Jane arfar, sabendo que ela estava no mesmo estado que eu estava.

Dava para se ver cada grão de poeira, cada partícula...

— Ah, que bom que vocês já se transformaram! - exclamou uma voz “simpática” atrás de nós.

Jane e eu viramo-nos para aquela voz.

Fora um homem que falara. Ele era totalmente branco, seus olhos eram vermelhos, mas com uma película branca, e seus cabelos eram negros.

— Quem é você? - perguntou Jane. Sua voz estava como um replicar de sinos.

Virei-me para ela, espantado com que vi.

Sua pele estava branca e seus olhos eram vermelhos, como os do homem, só que sem a película leitosa. Ela estava perfeita, muito bela.

— Ah, perdoe-me, sou Aro Volturi. Um vampiro da realeza.

Jane e eu nos entreolhamos. Pelo jeito como ela me olhou, eu também estava diferente.

 — Vampiros? - balancei a cabeça tentando não ligar em como minha voz estava mais aveludada e sedutora. - Vampiros não existem.

— Ah, não?! - Aro estava divertido. - Bem, tenho que dizer que sim, vampiros existem e que vocês são vampiros.

Com essa fala ele virou um espelho para nós.

Reparei em minha imagem.

Eu estava muito belo. Sem nenhum defeito.

Minha pele era branca como a da Jane e meus olhos também eram vermelhos vivos.

— Impossível! - deixei escapar.

Aro riu.

— Nada é impossível, meu caro Alec!

Como ele sabia meu nome?

— Sei seus nomes por que eu sei de tudo. Sou o chefe dos vampiros. Eu e meus outros dois irmãos.  - ele sorriu - Marcus e Caius.

Eu ia soltar mais algum murmúrio, quando minha garganta queimou.

— Devem estar com sede. - ele sorriu e virou-se para trás. - Demetri, Feliz, tragam alguns petiscos para os dois.

Ele riu novamente, enquanto dois caras vinham até nós com humanos desacordados nos braços.

Reconheci o grandão. Fora ele que nos tinha transformado.

Eles nos jogaram os humanos e o cheiro entrou pelas minhas narinas.

Era um cheiro delicioso! Dava água na boca.

Sem muito pensar, mordi o pescoço da mulher que fora dada a mim e lhe suguei todo o sangue.

Era uma ótima sensação para minha garganta ressecada e ardida.

Pelo canto dos olhos vi que minha irmã fazia a mesma coisa.

  Assim que havia tomado a última gota sangue, larguei minha presa no chão, para só depois reparar em quem era.

Michaella.

Levei minha mão à boca. Deus! Era minha melhora amiga! Eu matara minha melhor amiga.

— Meu Deus! - Jane sussurrou. - É Michaella. Você a matou, Alec!

Eu não conseguia dizer nada, estava chocado demais.

— Conheciam a humana? - perguntou Aro. - É apenas uma pequena coincidência.

Ele riu e passou o braço por meus ombros e os de Jane.

— Tenho muitas coisas para explicar a vocês, meus precisos... Muitas coisas. - e com isso nos tirou de lá, sem ao menos lançar um olhar de piedade para as nossas vitimas.

Um mês se passara desde a minha transformação.

Jane e eu já sabíamos tudo que precisávamos e nos tornamos quase do núcleo da realeza. Éramos os preciosos de Aro.

Junto com nossa antiga imagem de humanos, a transformação nos levou também quase todos os sentimentos que tínhamos.

Tornamos-nos vampiros perigosos e cruéis. Fazíamos a justiça na guarda, acabávamos com vampiros e humanos.

Nenhuma dessas características era de fato nossa. Elas eram a consequência de nossa amargura.

Nunca mais vimos nossa irmã Karina, mas era melhor assim, mesmo, pois provavelmente, iríamos machucá-la.

Mais meses se passavam e mais amargurado eu ficava.

Mas, teria que conviver com a quase solidão da guarda, por que ficaria com os Volturi por toda a eternidade.

Eu agora era Alec Volturi.