Bad Boys Vs Bad Girls,inimigos?talvez Nã escrita por Nikkmoon


Capítulo 24
Cap23: Poço de mentiras


Notas iniciais do capítulo

Yo!
Gomen a incrível demora, mas o cap está ai.
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Cap23: Poço de mentiras



Sarah: Bom dia! – sorriu docemente ao entrar no quarto de hospital e ver sua paciente deitada na cama com a cara fechada.


Já haviam se passados sete dias desde que Tenten chegara ao hospital de madruga por causa do acidente de moto. Sete dias, dois destes em coma e os demais tendo overdose de branco e comida sem gosto. Não aguentava mais a cama, a comida, as enfermeiras, a bateria de exames e as duvidas que percorriam sua cabeça e insistiam em não deixá-la em paz. Tinha que fazer algo a respeito delas e faria, assim que pudesse levantar seu corpo daquela cama e sair correndo porta a fora.


Sarah: Você esta bem, querida? – perguntou, se aproximando da cama e vendo que a garota continuava com a mesma expressão fechada.


Pensativa, completamente absorta, matinha seus olhos chocolate fixos nas próprias mãos. Mãos que ainda continham no indicar um medidor de batimentos cardíacos,e em suas costas aranhões causados pela queda.


Sarah: Tenten? – toco-lhe no ombro, despertando-a do transe em que estava – Você está bem?


Tenten: Ah... Estou sim, só estou de saco cheio desse hospital – resmungou, desviando o olhar de suas mãos para a medica de cabelos róseos, que ao ouvir tal queixa não pode deixar de rir.


Sarah: Então tenho uma boa noticia para você: vai poder deixar esse hospital ainda hoje!


Tenten: Serio? – sorriu abertamente.


Sarah: Muito serio! Seus últimos exames não apresentaram nada e não vai precisar de fisioterapia como imaginávamos, você se recuperou incrivelmente bem – sorriu lhe entregando alguns envelopes – Aqui estão o seus exames, se quiser dar uma olhada.


A garota pegou os envelopes sem dar muita importância. Sarah a deixara sozinha por um momento, enquanto saia para conversar com outro medico. Tenten via o conteúdo dos envelopes sem dar muita importância, ate que achara um que prenderá totalmente sua atenção, o que continha resultados do seu exame sanguíneo.


Tenten: -O (O negativo)... – murmurou para si mesma, enquanto era invadida por lembranças de um passado que quase fora esquecido.


A Sra. Haruno voltara ao quarto, desta vez trazendo em mãos uma ficha, mas encontrara a mesma cena de antes: Tenten completamente absorta, perdida, desta vez olhando fixamente os exames.


Sarah: O que foi, Tenten? Ficou interessada por medicina, foi? Se for o caso, posso te arrumar um estagio aqui no hospital – riu de sua própria piada, era o mal de todos os médicos.


Tenten: Sarah... – ela havia ignorado por completo o que a Haruno havia dito, na verdade, nem tinha ao menos ouvido – Pais com o tipo sanguíneo O- e AB+, podem ter filhos O? – perguntou seria, olhando-a diretamente nos olhos esmeraldas.


Sarah: Uma perguntinha de aula de genética? O que foi? Lembrou que vai ter prova essa semana e quer ajuda? – riu, ainda estava no clima de sua ultima piada enquanto escrevia na ficha que havia trazido – Bem... Não, ou os filhos serão A ou B, não há como.. – de repente tomara consciência do que e para quem estava dizendo aquilo – Porque da pergunta, Tenten?


Tenten: Nada, quem sabe eu não siga mesmo a carreira de medica, não é? – sorriu, disfarçando totalmente o clima pesado que a envolvia. Mas Sarah não era tonta e sabia que Tenten também não era, ela não perguntaria isso por nada e temia que a garota acabasse fazendo algo. – Então, eu já posso ir embora? – disse quase se levantando da cama.


Sarah: Calminha, vou terminar de preencher isso, depois você pode se trocar e eu a levarei para o colégio.


Tenten: Ah Sarah, colégio? Eu já sou maior de idade, não posso ir embora sozinha? E já perdi mais da metade do período de hoje, posso muito bem ir amanha para lá.


Sarah: Avisarei a diretora que amanha você estará de volta, e pedirei para o Tomoko vir te buscar.


Tenten: Pra ela ou o motorista dela?


A medica não pode deixar de engolir em seco. Sabia que a amiga que conhecia desde o colegial não dava muito atenção a filha, não porque queria, mas sim porque se via muito ocupada com o trabalho.


Sarah: Não seja tão rude com ela, Tenten... De qualquer forma, vai ter alta hoje. Vai sair desse hospital e ir para casa! – a ênfase que colocou sobre a ultima palavra deixou claro que ela já sabia quais eram as intenções da garota.


Tenten: Tudo bem, qualquer coisa melhor do que ficar aqui – tentou parecer debochada, mas estava ansiosa demais para sair do hospital e tirar as duvidas que lhe perseguiam durante aqueles dias.




–--





O sinal para o almoço havia tocado a pouco tempo, como de costume o refeitório se tornara um divisor de grupos, com mesas restritas e quase inalteráveis. Em uma das mesas, apelidada por outros estudantes de “mesa das garotas malvadas”, o clima estava pesado. Nada era dito, o único som produzido por elas era o da boca mastigando os alimentos. Hinata nem mesmo esse som produzia, não tinha fome, apenas ficava cabisbaixa para não ter de olhar para a mesa que estava a sua frente. Na verdade, haviam mais duas mesas entre a que ela estava e aonde Naruto estava, mas mesmo estando do outro lado do refeitório isso não impedia o loiro de fitá-la intensamente.


De repente mais um som fora produzido pelas garotas, o som de Temari puxando o cadeira para se levantar. Como se fosse a coisa mais surpreendente do mundo, todos seguiam os passos da garota, enquanto ela atravessava o refeitório para ir ate a bancada aonde a comida era deixada, todos se calaram e a observaram. Temari ignorou os olhares sobre si, em especial um que a seguia desde que voltara ao colégio, pegou o copo de suco que fora buscar e voltou para o seu lugar, frustrando a expectativa de todos que a olhavam.


As garotas mais do que nunca havia se tornado alvo das conversas de corredores. Todos haviam visto o que acontecera aquela noite no baile, e os que não tiveram a oportunidade de ver, acabaram sabendo depois pelas bocas venenosas de muitas garotas e garotos. O caso era que toda a escola já sabia, não de toda e a verdade, o que fazia com que a historia se estendesse mais e se desenvolvesse de milhares maneiras absurdas.


Mais uma vez o sinal tocou, mas agora para anunciar o fim do almoço. Aos poucos os grupos iam se retirando. Quando as “garotas malvadas” se levantaram, o dos garotos também. Foram cada qual para um canto, uns foram buscar seus livros, outros para o dormitório, e alguns simplesmente caminhar pelo colégio. Enquanto Hinata fugia de Naruto, Ino ia sem preocupações ate o dormitório, depois daquele estranho almoço queria cochilar um pouquinho antes do próximo período. Quando estava chegando perto do prédio, sentiu seu braço ser puxado para trás.


Ino: EI, ME LAGAR! – gritou, quase já ao ponto de bater em seu provável agressor.


Gaara: Calma, não vou fazer nada – soltou o braço da garota que parecia mais tranquila ao ver que era ele, ou.. nem tanto assim.


Ino: O que foi? To querendo ir pro meu quarto, se você não notou.


Gaara: Eu precisava falar contigo... – disse de cabeça erguida, sem demonstrar qualquer coisa alem de convicção, mas por dentro sentia-se completamente encabulado.


Ino: O que foi?


Um suspiro profundo e longo fora emitido pelo ruivo, não achava que seria tão difícil de fazer aquilo. Havia decidido que precisava falar com a Yamanaka desde que deixara Temari em casa e voltara para o colégio aquele dia sozinho, tinha consciência que precisava fazer aquilo também para tentar melhorar um pouco a forte tensão que os rodeava nos últimos dias. Sentia-se culpado, mas, uma parte dele simplesmente queria falar com ela sem estar sobre influencia da culpa ou da obrigação, simplesmente queria falar com ela sem xingamentos ou acusações.


Ino: Não vai dizer nada? – ela parecia visivelmente impaciente, e não era para menos, já fazia alguns logos minutos que o ruivo estava ali parado na sua frente sem dizer absolutamente nada – Ah, eu vou embora! – fez menção de se virar, mas parou ao ouvir finalmente a voz dele.


Gaara: Não, espera... – segurou novamente no braço dela, dessa vez sem força ou brutalidade – Eu queria... – travou, simplesmente não com seguia dizer, parecia que uma pedra bloqueava sua garganta e o som não podia sair – Er... – e tudo se tornara ainda mais difícil quando reparara nos olhos azuis dela, não havia reparado antes como eram tão fascinantemente hipnotizastes.


Ino: Vai falar ou não? – quase bradou, estava ficando sem jeito diante a forma que ele começou a fitá-la, nem sabia o porque de ter-lhe dado atenção, deveria simplesmente ter entrado no dormitório, mas queria ouvir o que ele tinha a dizer, mas ate agora a única coisa que havia conseguido eram palavras gaguejadas e sua pele quase ficando rubra.


Ele ainda se via hipnotizado pelo azul dos orbes dela, que só foi capas de sair de tal transe quando a garoto puxou o braço. Quando sentiu a movimentação dela, piscou algumas vezes e se deu conta que nada havia dito ainda, e se continuasse assim não diria nunca, teria que falar de uma vez só. Respirou fundo mais uma vez e tentou não olhar diretamente nos olhos dela.


Gaara: Eu queria te agradecer – a pedra que tapava sua garganta pareceu mais pesada e densa quando proferiu sua gratidão.


A Yamanaka não podia acreditar no que tinha ouvido, simplesmente não podia acreditar. Arregalou os olhos e piscou inúmeras vezes, enquanto sua boca abri-se ainda mais.


Ino: Como?


Gaara: Eu quero te agradecer... Graças ao que me disse e ao modo como falou comigo aquela vez sobre a Temari, eu pude notar o que estava fazendo errado e o quão estúpido estava sendo com ela. Foi graças a você que fui atrás dela e a encontrei, a encontrei e descobri que as coisas não eram do jeito que eu imaginava. Então.. Obrigado.


A garota estava pálida, completamente perplexa, por um momento achou que fosse desmaiar. Tinha ouvido direito? Estava sonhando? Era o que pensava, pois não conseguia encontrar nenhuma outra explicação para o que acabara de ouvir. [i] “Eu devo ter caído e batido a cabeça, só pode. Daqui a pouco vou começar a ver pôneis coloridos pulando e duendes verdes cantarolando”[/i]


Gaara: Ino? – chamou seu nome pela terceira vez, a garota parecia completamente surpresa, com os olhos arregalados e boquiaberta.


Quando sentiu seu corpo ser sacolejado e a voz de Gaara novamente adentrar por seus ouvidos, percebeu que definitivamente não era um sonho, ele realmente havia lhe agradecido.


Ino: Er.. Eu não fiz nada Gaara, você que a trouxe de volta – ela não tinha a mínima noção do que estava dizendo, ainda estava impressionada demais.


Gaara: Não... Você abriu os meus olhos, graças a você pude conversar novamente com a minha irmã... Obrigado – ele havia dito novamente, dessa vez sem que nenhuma pedra lhe tapasse a garganta – E me desculpe por antes... – soltou o braço dela e se retirou, já havia dito tudo que queria.


Enquanto ele se distanciava, Ino tentava entende tudo o que havia acontecido. Nada parecia fazer sentido. Quando finalmente o perdeu de vista, deixou o seu corpo cair sentado na grama. Era realmente difícil acreditar no que tinha ouvido, tanto pelas palavras quanto pela forma que aviam sido ditas.


Ino: Ele me agradeceu... e se desculpou... – sorriu bobamente ao lembrar das palavras dele – Eu abri os seus olhos... – sorriu novamente, não levantaria dali tão cedo, nem aquele sorriso bobo deixaria seus lábios precocemente.



–--



Fechou a janela do carro, não queria respirar a poluição que emanava dos outros carros. Havia acabado de , finalmente, sair do tal hospital em que passara tanto dias. O motorista de sua mãe viera lhe buscar, como já erra previsto por Tenten antes. Assim que entrou no carro, ele se pós logo a correr para o centro de Tókio aonde a garota tinha um apartamento. Mas não era para lá que Tenten queria ir, e nem iria. Esticou-se toda do banco de trás ate alcançar o porta-luvas, aonde pegou um bloquinho de papel e uma caneta, quando voltou a posição normal sentiu todo o corpo doer, mas se conteve apenas a torcer o cenho.


Quando o carro finalmente parou em um farol vermelho a garota embranqueceu. Flashs da noite do acidente preencheram sua mente, ela podia ver os carros, as luzes, podia ouvir a voz de desespero de Neji como se ele estivesse do seu lado. Balançou a cabeça inúmeras vezes disposta a se livrar das imagens e sons daquele maldito dia, e antes que o farol voltasse a abrir se pois a escrever no bloquinho de papel. Ao terminar estendeu o papel ao motorista.


Tenten: Quero que me leve aqui antes.


O homem que beirava seus 50 anos olhou com atenção para o endereço que lhe fora entregue. O lugar era muito longe de onde estavam, demorariam pelo menos 40 minutos para chegar, mas tinha ordens especificas da Sra. Mitsashi a cumprir: “faça o que Tenten pedir”.


Motorista: Claro, Senhorita – virou o volante do carro com destreza, seguindo direto para o novo endereço.


–--



Estava no laboratório de química, era fascinado pela matéria, mas simplesmente não conseguia se concentrar em nada. Ao seu lado Lee tentava todo sem jeito realizar uma reação, porem nada acontecia. Se Neji estivesse em seu estado normal já teria ajudado seu parceiro de laboratório e teriam terminado o trabalho, mas o Hyuuga estava absorto demais para prestar atenção no que estava acontecendo ao seu redor.


Lee: Neji... Da pra me ajudar aqui? – pediu desesperado enquanto via um dos tubos de ensaio borbulhar e começar a escorrer a solução pela mesa – Neji!! – chamou novamente, mas de nada adiantou, ele nem ao menos ouviu.


Os 30 segundos seguintes foram de total histeria. O liquido escorrera pela mesa e pingara em Lee, que entrou em completo desespero. O garoto de cabelo de tigela levantou num pulo e saiu gritando pelo laboratório, enquanto o professor tentava alcançá-lo o restante da sala ria, exceto por Neji que mesmo estando ao lado nem percebera o que havia acontecido. Enfiou a mão no bolso da calça e tirou o celular, checando pela milésima vez a mesma mensagem que havia recebido há alguns minutos atrás. [i] “Tenho que dar um jeito de fugir, eu preciso vê-la”[/i].



–--



Sentiu as mãos suarem em volta do clipes de papel, o segurava com tamanho desespero que parecia precisar dele para viver. Quando o carro parou, nem sequer esperou o chofer abrir a porta, saltou do veiculo com tamanha urgência que o motorista chegou a se assustar.


Correu em direção a porta da minúscula casa, a algumas horas atrás não conseguia nem caminhar direito por causa das dores do acidente, mas agora era diferente, tinha urgência e alguns músculos doloridos não a impediriam. Ajoelhou-se na calçada e desfez o clipes, analisou por um momento a fechadura da porta e enfiou o clipes lá dentro.


Parado ao lado do carro o chofer observava tudo. Havia dirigido por mais de duas horas ate chegar aquele bairro afastado e pobre, onde pequenas casinhas e conjuntos habitacionais compunham a paisagem. Não disse uma palavra quando Tenten mudara o percurso que deveria fazer, tinha ordens a seguir, era apenas um funcionário, e muito menos pode pronunciar um só som quando viu a garota arrombar a porta da pequena casa que parecia abandonada a anos. “Crianças mimadas.” Pensou. Não fazia idéia de quem era a casa ou o que uma garota rica como Tenten queria arrombando-a. “Deve ser mais um tentativa de chamar a atenção de Mitsashi-sama . Ah, crianças mimadas!”


“Finalmente” pensou a garota enquanto abria a porta com uma mão e com a outra guardava o clipes, que lhe serviu como ‘chave” para abrir a porta, dentro do bolsa da calça. Adentrou na pequena casa e logo o cheiro de mofo lhe atingiu as narinas, lhe causando um pequeno acesso de tosse e espirros. A casa pequena era composta apenas por 3 cômodos e não era limpa ou simplesmente aberta a anos, mas parecia tão familiar a Tenten como sempre fora. Tateou a parede ate encontrar o interruptor, sem nenhuma expectativa o apertou e a casa foi preenchida pelas luzes brancas das lâmpadas. “Ela ainda paga as contas daqui?”. Com o ambiente sendo completamente iluminado pode fechar a porta, não queria o motorista bisbilhotando o que fazia e depois fofocando para os outros funcionários.


Atravessou a sala/cozinha da casa com presa, o que a motivara ir ate lá estava no outro cômodo. Ao entrar no quarto parou por um instante. Tudo estava exatamente como lembrava, ninguém voltara aquela casa por pelo menos 10 anos, mas tudo estava exatamente como Tenten se lembrava. Uma cama de casal posta ao lado de uma outra pequena cama onde ela dormira por muitos anos, ao lado dos pais. Pensou por um momento em deitar ali, mesmo com toda a poeira e sujeira acumulada e descansar, deixar as lembranças da antiga casa e da velha vida lhe tomarem e dormir, mas não podia. Havia ido ate aquela velha casa por um lembrança, por um único motivo, e caminhou ate ele.


Do outro lado do quarto, do lado oposto as camas, havia um guarda-roupa velho quase caindo aos pedaços. Tenten abriu uma das portas e o que a motivara a ir ali estava no mesmo lugar que sempre lembrara; na parte de baixo, canto esquerdo. Agachou-se e puxou a enorme pasta para frente, abriu com cuidado. O pó havia se acumulado ali, junto com algumas traças, mas a garota não se importou com nada. Retirou os papeis da pasta e os analisou um a um. Havia uma infinidade de contas e outras dividas, alguns cartões e outros papeis sem importância, alem de exames médicos, e era um desses exames que Tenten procurava. “Bem... Não, ou os filhos serão A ou B, não há como... Porque da pergunta, Tenten?” Coçou o nariz por causa da poeira, estava olhando os papeis a pelo menos meia hora, já havia passado da metade deles quando finalmente encontrou o que procurava. O resultado de um exame sanguíneo, com os dizeres AB+ em um dos resultados e os níveis de glicose em outro. Largou os demais papeis no chão e levantou-se, tento em mãos apenas aquele exame. Leu com cuidado cada linha, havia 4 folhas grampeadas e em uma delas tinha que estar o que procurava. Enquanto lia o exame, a lembrança que renascera no hospital e a levou ate a antiga casa percorria sua mente.



Tinha 5 ou 6 anos e estava aprendendo a ler, tentava decifrar qualquer palavra, símbolo ou numero que via e divertia-se muito assim. Era sábado e a mãe finalmente estava em casa e poderiam brincar juntas. Fazia algum tempo desde que Tomoko começara a trabalhar demais, ficava em casa apenas nos sábados e Tenten sentia muito sua falta no restante na semana, enquanto ficava muito tempo na escola ou na casa de Sarah brincando com Sakura. Mas a garotinha ficava extremamente feliz quando os sábados chegavam e passava o dia todo com a mãe. Normalmente saiam e brincavam em uma pracinha perto dali, depois voltavam para casa e faziam um doce. Eram nos sábados que o cabelo de Tenten ficava mais bonito, pois a mãe tinha mais tempo para arrumá-los e aprendê-los nos costumeiros dois coques cada qual de um lado da cabeça.


Tomoko: Você fica muito bonita assim – ela sempre dizia ao terminar de prendê-los.


Tenten sorria para a mãe e realmente se sentia mais bonita com os cabelos daquele jeito, porque a mãe dizia que ficava. A mãe sempre os prendia assim antes de levá-la a escola, mas não ficavam tão bem presos e acabavam por se desfazer antes do dia terminar, Tenten se esforçava para tentar prendê-los de novo, mas ficavam tortos e frouxos.


Mas aquele sábado fora diferente, não foi brincar com a mãe na pracinha, Tomoko a levara para o centro da cidade. Tenten se divertiu lendo as placas das lojas e se divertiu ainda mais quando a mãe lhe comprou um sorvete após entrarem em um prédio feio com cartazes com médicos repreensivos nas paredes. Voltaram para casa no final da tarde, Tomoko tinha um envelope consigo que Tenten não dera muita importância ate vê-la lendo o mesmo na cozinha.


Tenten: Posso ler também, Mamãe? – pediu, esticando o pequeno pescoço para tentar ver o papel em cima da mesa.


A expressão de Tomoko ao ler o papel não era das mais felizes, mas ao ver a filha ao seu lado mudou por completo sua expressão e sorriu, pegando a garotinha e a colocando sentada sobre a mesa.


Tenten: O que é isso? – perguntou, quando finalmente tinha os papeis em mãos.


Tomoko: O seu pai foi ao medico, lembra? Então, isso é um exame, para saber como o seu pai está.


Tenten: Papai esta doente? – perguntou assustada. Não gostava muito do pai, sempre mantinha uma feição mal humorada e gritava muito, aos domingos quando ele ficava em casa não era divertido. Sabia que era errado, mas ficava feliz por não vê-lo muito e por ele não ficar em casa nos sábados.


Tomoko: Não, claro que não querida. Mas precisamos ir ao medico com freqüência e fazer esses exames.


Tenten: Eu não gosto de médicos – disse seria, voltando sua atenção para o papel e fazendo a mãe rir.


A garotinha gaguejava as palavras que lia na folha de exames, eram grandes e complicadas demais, não fazia a mínima idéia do que eram e a todo momento perguntava para a mãe.


Tenten: AB.. que negocinho é esse? – mostrou a folha para a mãe.


Tomoko: Isso é um positivo, AB+.


Tenten: E o que é isso?


Tomoko pigarreou, como explicar para uma criança o que era aquilo? Abriu e fechou a boca algumas vezes, ate que uma explicações esdrúxula veio a sua cabeça.


Tomoko: O nosso sangue tem um nome, o do seu pai é AB+, o meu é O-, nomes diferentes porque somos pessoas diferentes. Só descobrimos qual é o nome quando fazemos esse exame.


Tenten: Qual é o nome do meu?


Tomoko: Quer ir no medico descobrir? – riu ao ver a cara de terror da filha ao ouvir tais palavras, apenas a possibilidade de ir ao medico a enchia de medo. Tenten simplesmente não respondeu a pergunta e voltou a ler.


Conforme Tenten lia, Tomoko se descobria cada vez mais encabulada tentando responder a filha o significado de tudo aquilo. Era constrangedor, porem estavam a se divertir com tudo aquilo, mas logo acabou quando Tenten inocentemente perguntou o que não devia.


Tenten: O que é est... esteri... estéril? – mostrou o papel para a mãe.


Os olhos de Tomoko se arregalaram e no estante seguinte o papel não estava mais nas mãos de Tenten. A mãe o arrancara com violência de suas mãos e correra para guardá-lo dentro da pasta no guarda-roupa. Tenten não conseguia entender, antes a mãe estava sorrindo e agora estava gritando a mandando dormir.



Virou mais uma pagina, estava na 3° daquele interminável exame. Agora as palavras não pareciam difíceis e nem precisava perguntar para alguém o que significavam, muito menos aquela que a fizera dormir mais cedo naquele sábado.


Tenten: Estéril... – não precisa ler o restante do exame, havia encontrado o que precisava.


Voltou a primeira pagina do exame e leu o que antes parecia não ter importância, o nome do paciente. “Morino Ibiki.” Tenten não tinha o sobrenome do pai. Suspirou profundamente, sentindo a raiva tomando conta de si. Uma lembrava quase feliz a levara ate ali, e sabia que aquela faria lembranças piores existirem.



–--


A histeria de algumas garotas na beira do campo era quase ensurdecedora. Era aula de Educação Física e a professora das meninas havia faltado, as obrigando a ficarem junto dos garotos. Eles jogavam futebol, correndo de um lado para o outro, suando em bicas enquanto uma dúzia de garotas gritam seus nomes.


Gai: Isso garotos, corram, corram!! EU POSSO SENTIR O FOGO DE VOCÊS! – gritava o professor junto as garotas na beira do campo, tão animado que só lhe faltava o uniforme e os pompons nas mãos.


Bando de idiotas”, pensou a Haruno. Estava sentada na grama do outro lado do campo, juntamente com as demais amigas. Eram obrigadas a ficar ali, não que realmente precisassem, normalmente seguiriam para o dormitório ou qualquer outra parte da escola. Mas não estavam em condições normais.


As quatro estavam sentadas ali há longos minutos, porem não tinham trocado mais do que duas ou três palavras. Ino estava olhando fixamente para o campo e vez ou outra um pequeno sorriso se formava em seus lábios, porem sutil demais para qualquer uma das amigas perceber. Ao seu lado, Temari nem se atrevia a olhar para o tal jogo, não lhe interessava nada daquilo e sabia que o Nara a fitava aonde quer que estivesse. Hinata também não queria olhar para o campo, abraçada as próprias pernas mantinha o olhar baixo, não queria estar ali, queria poder correr, mas não conseguia.


“Olha só pra ele... Correndo feito um vencedor...” a Haruno mantinha o olhar fixo no moreno, queria bater nele ate a mão doer e depois bater em si mesma pelas coisas que um dia pensou sentir. “Idiota” arrancou um tufo de grama da terra com a mão que queria desferir um soco no queixo do Uchiha. “Idiota, idiota, idiota!”


Gai: Uchiha, hora de sair. Hyuuga, entra! – gritou o professor escandalosamente na beira do campo.


Por um momento Sasuke passou bem em frente aos seus olhos, perto o bastante para ela conseguir ouvir a respiração forte dele. Ele não a olhou, apenas correu na direção do professor. “Tsc, é tão irritante.” Foi a ultima coisa que ele lhe disse. “Ele me acha tão irritante que nem olha pra mim...Como eu sou idiota!” esmurrou a terra com as duas mãos, com as duas mãos que queria bater em si mesma.


O garoto correu ate o professor quando esse lhe chamou. Durante todo o tempo viu e sentiu o olhar da Haruno sobre si, tão intenso que por certos momentos sentia-se sufocado. Mas quando passou por ela não sentiu isso, queria conferir a expressão no rosto dela, mas sabia que caso se virasse para olhar se depararia com os enormes olhos verdes.


Gai: Ótimo jogo, garoto – gritou mais uma vez ao vê-lo – agora descanse pro Hyuuga entrar.


Sasuke: O Neji não está.. – fez a observação sentando-se no banco.


Gai: Como não? – o professor estava tão animado torcendo com as garotas que nem notara a ausência de alguns alunos. Ia se prontificar a procurá-los, mas ao ouvir “gol” esqueceu-se completamente e voltou a gritar.



–--


Tirou os óculos e os pousou sobre a mesa. A cabeça latejava e os analgésicos da gaveta haviam se esgotado. Apertou as têmporas com força, chamaria sua secretaria para lhe arrumar uma boa dose de remédio, mas não queria ouvir mais nenhum bit ou ver mais alguém depois de ficar três horas em uma reunião.


Soltou o coque do alto da cabeça, deixando uma pequena cascata castanho-chocolate caírem sobre os ombros. Estava exausta depois da longa combinação e novos investimentos com os americanos, para uma nova filial de sua empresa na América. Mas Tomoko não poderia se queixar, eram tempos mais fáceis do que antes.


Mitsashi Tomoko conseguiu em 12 anos consolidar sua empresa de cosméticos. Foi um começo difícil e sem muitas expectativas, não tinha dinheiro o suficiente e tudo que tinha eram misturas caseiras que vendia pelo baixo em que vivia. “Tive muita sorte”, era o que costumava dizer, mas que em nada tivera a ver com sorte. Se esforçara ao maximo, trabalhava em dois empregos e quando chegava em casa se dedicava a fazer os cremes, óleos e colônias; já recebendo o nome de Mitsashi Style, que posteriormente veio a ser o nome da empresa. Tudo cresceu gradativamente e de forma assombrosa, se firmou no Japão e conseguiu status tão ou mais elevados do que suas concorrentes, possibilitando assim se arriscar em um investimento Europeu, e mais recentemente, um Americano.


Tomoko: Droga – praguejou. Não aguentava mais a dor de cabeça, teria que pedir a secretaria para buscar-lhe algo.


Antes que pudesse pegar o telefone e chamar a secretaria, ela apareceu em sua sala com uma forte batida de porta, mas não fora a mulher responsável pela abrupta entrada.


Tenten: Não vai me receber, Mamãe? – a garota estava bufante, mas ainda tinha fôlego para despejar todo o desprezo que podia na ultima palavra.


Enquanto Tenten respirava pesadamente, a garota ao seu lado falava mais palavras por minuto do que era possível imaginar. A nova secretaria se desculpava inúmeras vezes pelo inconveniente, cuspindo tudo de uma vez, tornando quase impossível compreender tudo que dizia.


Tomoko: Tudo bem, Miyako, pode ir – quando a garota saiu, deixando as duas Mitsashi sozinhas no cômodo, a mais velha deu um longo suspiro, pesado e dolorido. A cabeça doía, mas não chegava nem perto da dor que sentiria com aquela visita. Apoiou os cotovelos sobre a mesa e enfiou a cabeça entre as mãos, massageando o couro cabeludo – Você deveria estar em casa descansando, Tenten.


Tenten: Eu fui pra casa – largou um envelope, que Tomoko nem notara que trazia consigo, em cima de sua mesa.


Os olhos da mulher se arregalaram ao reconhecer o nome da clinica medica impressa no envelope. Se endireitou na cadeira, sem ter coragem o suficiente para pegar o envelope, não queria acreditar no que estava prestes a acontecer. Olhou para a filha, os olhos castanhos sérios repletos de algo entre amargura e raiva. Tenten desde pequena tivera um olhar inteligente, mesmo depois de ter começado a rodear os olhos de preto, mantinha aquele olhar brilhante, grande, inteligente e agradável. Mas agora os olhos estavam apertados, marcados pelas sobrancelhas finas se curvando com raiva, estavam opacos, instintivos.


Tenten: Você se lembra disso, não? – sem nenhuma movimentação da mãe para pegar o envelope, ela mesma o abrira colocando novamente a frente da mãe o exame aberto na terceira pagina – Agora eu já sei o que a palavra significa...


Tomoko ainda estava inerte, apenas observando a filha. Havia evitado aquele dialogo durante todos aqueles anos, tivera excito no processo devido ao pouco – quase nenhum – tempo que passava com Tenten. Mas agora, a observando de perto, notara pela primeira vez, ou pelo menos se deixara notar, como a garota havia crescido e se parecia com ela. O rosto delicado, quase o mesmo tom de pele, o corpo elegante, os mesmos olhos grandes no tom de chocolate, alem dos cabelos. Cabelos que Tenten sempre prendia do mesmo jeito, da mesma maneira que ela mesma os amarrava quando a filha era menor. Mas aquela não era a Tenten que ela arrumava para sair... Desde quando ela havia mudado tanto?


Tenten: Vamos, diga! Me diz tudo que você escondeu esse tempo todo de mim! – bradou, fazendo Tomoko sair do devaneio de “como perdi minha garotinha?”


Tomoko: Tenten... – suspirou, sentindo a cabeça latejar mais forte – Não é hora pra isso.


Tenten: É hora sim, na verdade, já passou da hora há muito tempo – estava quase gritando, sentia o corpo todo doer, mas a indignação era maior – O Ibiki não é meu pai, então quem é? Porque não me contou antes?


Tomoko: Eu fiz o que foi melhor para você, filha – tentava manter a calma, mas ver a filha quase histérica a sua frente a deixava completamente desnorteada.


Tenten: O melhor pra mim? Você acha realmente que vem fazendo o melhor pra mim? Eu o odiava e me culpava por isso. Eu era pequena e imaginava o quão errado era odiar o próprio pai, e por mais que eu quisesse, não conseguia parar... Mas eu não precisava ter convivido com aquela culpa.


Tomoko: Ele não era de todo mal...


Tenten: Você dizia isso quando ele te batia?


Por um momento Tomoko desviou o olhar. O estalar de lábios da filha para pronunciar as palavras a fez lembrar claramente das muitas vezes em que a mão forte de Ibiki lhe atingira a face fazendo-a queimar, como sentia naquele exato momento. Juntou as mãos em baixo da mesa, precisava segurar em algo, se firmar para ter forças para continuar com aquilo.


Tomoko: Foi graças a ele que consegui cuidar de você quando era pequena...


Tenten: Não... Você sabia, você sabia que não precisava dele... – o tom de voz abaixou, tornou-se quase afável.


Tomoko: Você não entende...


Tenten: Então me conta! Me explica tudo, o por que. Porque você o suportava? Meu pai não me queria? Me conta, eu preciso saber! – esmurrou a mesa a sua frente, implorando desesperadamente.


Por baixo da mesa, Tomoko apertou com força uma mão contra a outra. Os olhos de Tenten haviam voltado a serem grandes, grandes e úmidos. Não suportaria caso visse a filha chorar, e não sabia se aguentaria ficar sem chorar. Queria levantar e abraçá-la, pedir para esquecer de tudo aquilo.


A garota segurou forte a beirada da mesa e flexionou os joelhos, ficando quase na mesma altura que a mãe sentada na cadeira. Queria olhá-la nos olhos, não queria mais ser enganada, queria apenas a verdade.


Tomoko: Se você quer tanto saber, eu lhe digo – desviou os olhos para suas mãos por um momento, era uma mulher adulta e bem sucedida, mas com a filha a olhando daquele jeito sentia-se completamente indefesa – Bem.. – engoliu em seco e voltou a olhar a filha – Eu e a Sarah somos amigas antigas, desde a época do colégio, e foi no ultimo ano que comecei a namorar o seu pai biológico. Nós três andávamos sempre juntos, ate terminarmos o colégio. Sarah e eu fomos para a mesma faculdade, ela fazendo medicina e eu química, mas ele foi cuidar dos negócios da família. A família dele era muito rígida, com um grande negocio a liderar não queriam que seu primogênito namorasse com qualquer uma, e desde que souberam do namoro tentaram arrumar uma boa noiva para ele, isso ainda era muito comum alguns anos atrás – fez uma pausa, umedeceu os lábios. Tenten a olhava seria, sem nem ao menos piscar, absorvendo cada palavra – Quase ate me formar o via com frequência ainda, saímos juntos e conversamos sempre. Um ano antes de terminar a faculdade ele me mandou flores durante a aula, era um buquê muito bonito de azaléias com um cartão escrito por ele mesmo, que dizia: “Me casei há um meses atrás, ela está grávida. Você sabe o quanto eu não queria isso. Sinto muito. Te amo”.


Os sussurros de Tomoko eram os únicos sons emitidos no recinto. O sofrimento da mulher para relembrar de acontecimentos há muito deixados apenas no passado, era quase palpável. Tenten apertava cada vez mais a beirada da mesa, se inclinando cada vez mais para frente, em direção a mãe.


Tomoko: Não sei se você consegue compreender o quão forte era o meu sentimento por ele, o quanto eu o amava – Tenten por um momento achou que poderia entender o que a mãe queria dizer – Eu sabia o que ia acontecer, mas não pude deixar de ficar completamente abalada com a noticia. Foi difícil terminar a faculdade, mas peguei meu diploma um ano depois. Durante os dois anos seguintes que comecei a trabalhar, não me envolvi com ninguém. Sarah insistia em me apresentar amigos de faculdade, médicos recém formados, ela mesma estava noiva e não queria me ver sozinha, mas não obteve muito sucesso. Alguns meses depois ela organizou uma reunião em sua casa, pelo seu noivado, e foi quando o vi novamente. Os três anos que passamos afastados pareceu não significar nada, nem a esposa dele; conversamos, bebemos mais do que deveríamos e acabamos indo parar em um hotel.

“Um mês depois me descobri grávida de você, fiquei eufórica e queria contar para ele, mas foi então que a ficha caiu. Tentei esconder a gravidez de meus pais, mas não adiantou, eles me colocaram para fora. Uma filha solteira grávida? Inaceitável! Fiquei com Sarah por um tempo, mas ela estava preste a se casar, não poderia ficar na casa dela, foi quando conheci Ibike...”


Um suspiro longo e pesaroso tomou conta da sala, para então o silencio se fazer. O restante da historia Tenten podia muito bem imaginar, não era necessário contar, ela já conhecia. Tomoko sentia-se completamente desconfortável, Tenten não pronunciara uma única palavra, tinha medo dela dar meia volta e nunca mais olhá-la nos olhos novamente. Mais um suspiro foi exalado, desta vez por Tenten.


Tenten: Ele não sabe que eu existo? – se debruçou mais sobre a mesa.


Tomoko: Sabe... – Tenten abaixou a cabeça, seu coração começou a bater descompassado quase fazendo com que levanta-se – Mas não pense que ele não quis conhecê-la, não. Ele soube logo depois que você nasceu, já morava com Ibiki e já tinha te registrado. Ele insistiu, queria que você levasse o nome dele, queria se separar da mulher para irmos viver com ele, mas eu neguei. A esposa dele estava grávida do segundo filho, seria a ruína dele se algo do tipo acontecesse, e eu não poderia deixar que alguma coisa o prejudicasse. Permiti que a visse algumas vezes, quando ainda era muito pequena, mas logo o proibi. Não aceitava o dinheiro que me mandava, nem nada do tipo...


Novamente o silencio. Tenten parecia ter dificuldade para digerir tudo aquilo, e Tomoko ainda mais para lhe enfiar tudo goela abaixo. A Mitsashi mais nova voltou a encarar a mãe, os olhos novamente opacos.


Tenten: Quem é ele? – articulou cada palavra com clareza, não queria repetir, não queria rodeios, apenas o nome.


Tomoko: Fugaku... – mordeu o lábio, tinha medo do que poderia acontecer – Uchiha Fugaku.


Tenten: UCHIHA? – berrou socando a mesa, fazendo Tomoko se levantar no mesmo instante – Porque você nunca me disse? – a revelação do nome de seu pai fez com que toda a calma que estava tentando mande fosse embora.


Tomoko: Por isso, eu tinha medo da sua reação ao saber, e...


Tenten: Eu tinha o direito de saber, você me negou meu pai biológico, me deixou sendo cuidada por aquele monstro! Deixou nós duas a mercê dele, por pura vaidade! – berrava cada palavra com ódio.


Tomoko: Vaidade? Fiz isso porque achei que seria melhor para você, imagine como seria para você crescer sendo detestada por seus avôs paternos e maternos, tento de conviver com os olhares tortos de todos os outros...


Tenten: Eu viveria bem! Seria melhor do que ter que viver com Ibiki, melhor do que conviver com a sua ausência! Você acha que foi uma boa mãe ao fazer isso? MAS NÃO FOI! O pior é saber que você me abandonou por causa dele! FOI TUDO POR ELE, NÃO MINTA! – cuspia cada palavra com desprezo, tinha o rosto molhado por algumas lagrimas que escorreram por causa da raiva. Tudo que havia prendido, guardado pra si, estava sendo liberado em forma de ódio.


Tomoko: Filha... – a voz saiu falhada, esganiçada. Não aguentava mais, o choro a tomara por completo.


Tenten: CALA A BOCA! Já ouvi o que deveria ter ouvido – saiu da sala batendo a porta, com uma onda de raiva ao seu redor.


Quando a filha saiu, Tomoko caiu sobre a cadeira. Chorou compulsivamente, a alma lhe doía. Cada palavra a atingiu com força, fazendo com que tudo que ela tentava lutar há anos não servisse de nada. Sua própria filha a odiava, estava certa disso. A odiava desde o começo, nada que fizera dera certo, apenas piorara. “Nunca fiz nada de bom pra ela, nunca...” Sentia o peito se contrair freneticamente, não poderia conviver com aquela situação. O aperto. A dor. A culpa.


Passou as mãos pelo rosto, enxugando, por alguns instantes, as lagrimas. Pegou as chaves do carro, não poderia ficar ali, não mais. Saiu de sua sala apresada, quando a secretaria lhe perguntou onde ia, nada respondeu. Entrou em seu carro particular e deu a partida – as lagrimas já a tinha tomado novamente – precisa ir embora.



–--



Entrou no quarto escuro trazendo nas mãos a chuteira que estava usando a pouco, tinha perdido o jogo, era difícil correr e chutar um bola quando se olha apenas para um lado do campo. O loiro tateou a parede ate encontrar o interruptor, quando este foi ligado e o cômodo preenchido com a luz, quase dera um pulo tamanho o susto por se deparar com Shikamaru sentado em sua cama com os olhos esbugalhados.


Colocou o par de chuteiras em baixo da cama e andou ate o amigo. Não se lembrava de ter visto o garoto no vestiário, mesmo porque não havia necessidade já que ele não jogara mais do que 5 minutos, e o tempo em que esteve em campo apenas caminhou.


Naruto: Você está bem? – parou na frente do moreno, que piscara pela primeira vez.


Era uma pergunta estúpida, sabia. Ninguém estava bem e não era necessário perguntar, ate mesmo Sasuke estava abalado, tentava manter a pose, mas era inútil. Olhou mais uma vez para o Nara, ainda estava com as roupas que usara durante o jogo, provavelmente saira do campo quando foi substituído e subiu direto para o quarto. A expressão perdida do amigo o deixava pior do que estava, se nem Shikamaru conseguia pensar em algo para resolver aquela situação, imagina ele.


Naruto: Sabe, um dia desses o Sasuke me deu um conselho... – sentou-se na cama do Nara, os orbes azuis fixos nos próprios joelhos – Talvez ele tenha dito pra você também, para todos nós... Era fácil de segui-lo, difícil de fazer... Eu queria saber o que fazer para acabar com tudo isso, queria saber o que fazer para as coisas ficarem bens de novo... – apertou a borda da cama, era horrível se sentir impotente. Queria poder ajudar os amigos, queria vê-los sorrir, se xingarem e se divertirem juntos como antes. Mas precisava ajudar Hinata a ficar bem também, queria ficar bem com ela, precisa se ajudar Precisava de ajuda.


Shikamaru:Eu não sei o que fazer também – disse subitamente, levantando-se – Mas sei por onde começar, e já esta na hora de fazê-lo.


Naruto: Fazer o que?


Shikamaru: Talvez a coisa mais estúpida e menos significativa – olhou com pesar o loiro e foi para o banheiro, trancando a porta.


Naruto não fazia a mínima idéia do que o Nara falava, mas tinha quase certeza que nada tinha a ver com os outros. Mas queria ele saber o que fazer, mesmo a coisa mais insignificante que fosse, desde gerasse algum resultado. “Maldita cabeça!”



–--



Parou em um cruzamento, mais uma vez se deparara com um farol fechado para os pedestres. “Merda!


Quando saiu do prédio de sua mãe ignorou completamente o motorista e o carro, e saiu andando. O pobre homem perguntou onde ia, em resposta foi apenas xingado. Por alguns quarteirões o carro a seguiu de perto, mas logo desapareceu, talvez estivesse a seguindo ainda, mas não importava.


Sua cabeça fervia, queria andar ate chegar longe o bastante para que os problemas não a seguissem. Sentia-se enganada, idiota por nunca ter notado nada antes, estúpida e machucada. Andou pelas ruas do centro esbarrando nas pessoas que passavam, havia derrubado compras e pastas, não que fosse sua intenção descontar nos que passavam sua raiva, apenas era difícil ver algo à frente quando se está olhando para baixo com os olhos marejados. Sentia tanta raiva que não conseguia deixar as lagrimas escorrerem, sentiria-se ainda pior se caísse dos gracejos da franqueza e se debulhasse em lagrimas.


Parou de caminhar mais uma vez, não por um farol vermelho, mas sim por causa da dor. Já não bastava estar ferida por dentro, as escoriações do acidente ainda a debilitavam. Parou em um restaurante e sentou-se em uma das mesas vazias do lado de fora, logo um garçom sorridente apareceu lhe oferecendo o cardápio. Tenten o ignorou, apenas esperando que sumi-se de sua vista para poder se lamentar em paz. Quando finalmente ficou sozinha colocou os cotovelos sobre a mesa e agarrou a cabeça com as duas mãos, latejava e como latejava, suas costas e pernas também doíam. Resmungava qualquer coisa inteligível, desejando poder se livrar das dores e dos problemas. O mundo parecia ter desmoronado e a caído todo em cima de suas costas, esmagando seu peito contra o asfalto, a impedindo de respirar.


Tenten: Merda, merda, merda! – praguejou ainda com a cabeça entre as mãos. Sentia tanta raiva, tanto ódio por tudo que havia acontecido e poderia bater, apenas para se aliviar temporariamente, no primeiro que aparecesse. E infelizmente apareceu.


Sentiu uma mão fria lhe tocar o ombro, mas quando levantou a cabeça e olhou para trás não viu ninguém. Sentiu-se idiota, provavelmente tinha imaginado, mas não tinha. Quando virou novamente o pescoço, dessa vez parar frente, se deparou com duas orbes peroladas enormes a sua frente.


Neji: Demorei para te encontrar, sua louca – disse ríspido, colocando uma das mãos frias sobre a mesa – Você deveria estar em casa, não em uma espelunca como esta.


Por alguns instantes a morena ficou sem reação, como ele havia lhe encontrado? Porque estava ali? Eram algumas das perguntas que lhe invadiam a mente após o aparecimento do Hyuuga.


Tenten: Era só o que me faltava – disse por fim, as coisas já estavam ruins e com o Hyuuga por perto a tendência era piorar. Sua cabeça já estava confusa o bastante com o que tinha acabado de acontecer, não precisa dele para tornar as coisas ainda mais confusas e enlouquecedoras – Vai embora, Hyuuga – tentou parecer ríspida, mas não conseguiu, enfiou a cabeça de novo entre as mãos para não precisar olhá-lo.


Eu fujo da escola, corro metade da cidade, corro atrás de um carro... Pra ela me tratar assim” um meio sorriso surgiu nos lábios finos do Hyuuga, mas Tenten não pode vê-lo para sorte dele. “Ah, Neji, o que está acontecendo com você?


Neji: Vamos, você precisa ir para casa – sua voz soou carinhosa e macia, mais do que queria que parecesse.


Novamente a garota ficou em silencio, a cabeça entre as mãos como se quisesse esmagá-la. Neji engoliu em seco, quase como se pudesse sentir a dor dela. Inconscientemente levantou estendeu a mão, mas antes que pudesse tocá-la, ela levantou a cabeça, os olhos castanhos grandes, marejados, piedosos.


Tenten: Me deixa em paz, por favor – pediu, e sem esperar qualquer reação se levantou, meio cambaleante, e saiu andando novamente.


Era um dia frio de outono, quase fim de tarde e uma garoa fina tinha começado a cair. Tenten saiu caminhando de baixo dela sem nem aos menos se importar ou se dar conta. Caminhava lentamente para longe do restaurante e de seu carro estacionado na frente dele, ouvindo os passos de Neji atrás de si, não podia ficar olhando para ele.


Neji: Tenten – ele a chamou pelo nome, parando na sua frente impedindo-a de prosseguir – O que houve? – sua voz foi apenas um sussurro preocupado e perdido.


Ela queria chorar, quem sabe assim ele a abraçasse e aquecesse seu corpo frio e molhado da chuva. Mas não chorou, apenas lhe fitou da mesma maneira piedosa de antes.


Tenten: Já pedi para me deixar em paz...


Neji: Eu deixo, quando você estiver em casa, longe da chuva – não deixou que ela falasse, apenas a puxou com delicadeza para dentro do carro.


Tenten não reagiu, deixou que ele a guiasse e se senta-se ao seu lado no banco de trás do carro. Neji pediu ao motorista de Tenten que os levasse para a casa dela, e o carro partiu em disparada pelo asfalto molhado. Nada foi dito durante o percurso. Quando chegaram a um prédio residencial alto e o carro estacionou no subsolo dele, o motorista entregou um pequeno molho de chaves a Neji. O garoto abriu a porta para Tenten, os dois subiram de elevador ate o apartamento dela, previamente indicado pelo motorista. Quando chegaram ao cômodo os sapatos molhados deixaram marcas no piso claro, deixando para trás uma pequena trilha por onde haviam passado. O apartamento era enorme e não parecia pertencer a Tenten, as paredes eram pintadas de um rosa claro, os moveis eram arrojados demais, a sala era arejada e iluminada demais.


Neji: Esse apartamento é realmente seu? – disse analisando o local pela segunda vez, eram exageros demais que não seriam cometidos por ela.


Tenten: Sim, não fui eu que o decorrei, ele foi inteiramente presente da minha querida mamãe – disse com desprezo, passando os dedos pela mesinha de centro da sala – Eu não costumo vir aqui, presentes dados por culpa não me agradam....


O Hyuuga se sentiu desconfortável, o apartamento parecia impecável, provavelmente a mãe de Tenten o mantinha assim para quando a filha quisesse usá-lo mas ela não apreciava isso. Tinha visto, mesmo que muito pouco, como mãe e filha se relacionavam e pelas informações dadas pelo motorista, tinha quase certeza que ela estava mal daquele jeito por causa da mãe.


Neji: Bem, está em casa agora, vou te deixar em paz – pousou o pequeno molho de chaves em cima da mesinha que antes Tenten passara os dedos – Cuide-se.


Estava preste a sair, fazendo uma nova trilha molhada pelo chão de cerâmica, quando ela o chamou.


Tenten: Espera – saiu apresada por um corredor, voltando logo em seguida com duas toalhas em mãos, jogou uma para ele – Seque-se antes de ir – e então soltou os cabelos.


Era estranho ao Hyuuga notar como ela ficava bonita com os cabelos soltos e molhados, parecia muito diferente e isso o deixava desconfortável. Passou a toalha no rosto vendo Tenten sentar-se no sofá e enrolar os cabelos na toalha branca, caminhou ate o sofá em que ela estava, sentando-se ao seu lado. Estava lutando com o desejo imenso de não ir embora.


Colocou a toalha sobre os ombros, impedindo que o cabelo molhado pingasse no sofá cor creme. Quando Tenten notou que ele a observava virou o rosto, tirou a toalha da cabeça e tentou arrumar o cabelo úmido da melhor forma que pode.


Tenten: Como você me achou? – ela perguntou antes que ele tivesse chance de perguntar o que queria. Sentiu-se completamente encabulado, como poderia dizer a ela que ficou completamente desesperado quando soube que tinha recebido alta e que saiu feito louco da escola para poder ver se estava bem mesmo depois dela ter-lhe jogado sopa quente?


O garoto engoliu em seco, sentia Tenten vulnerável a sua frente e de uma forma sutil se aproximou, sentando mais perto dela. Mas quando se aproximou sentiu algo estranho na almofada abaixo de si, foi quando um estalo metálico se fez ouvir e a televisão embutida na parede ligou. Enfiou a mão debaixo da perna e pegou o controle remoto, Tenten o olhou e deu um pequeno sorriso, estavam próximos demais.


Neji: Eu... – não pode terminar de falar, a voz na mulher na televisão soou mais alta fazendo o pequeno sorriso de Tenten desaparecer.


Informamos – começou a ancora do jornal – Um acidente violento em Tókio envolvendo dois carros deixou a famosa empresaria Tomoko Mitsashi em estado grave. Segundo informações, a empresaria dirigia sem cinto de segurança em alta velocidade quando entrou na contra mão e bateu de frente em outro carro. O motorista do segundo veiculo sofreu escoriações, mas passa bem, mas o estado da empresaria é critico....


Antes da mulher terminar de dar a noticia, Tenten saiu em disparada na direção da porta. Neji estava boquiaberto, quando o nome de Tomoko foi pronunciado sua foto apareceu, tão bonita e idêntica a Tenten quando foi visitá-la no hospital.


Neji: TENTEN! – gritou por ela quando se deu conta que não estava mais ali.


Tenten corria mais depressa do que jamais imaginou correr, de repente a dor no corpo sumiu e descia as escadas de dois em dois degraus porque o elevador estava em outro andar e não podia esperá-lo. Dessa vez não conseguiu impedir que as lagrimas caíssem, estava desesperada e o ar lhe fugia dos pulmões.


Tenten: Mãe, por favor, não... – chorou enquanto saia pela escada de emergência em direção a rua.


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Notas finais do capítulo

Yoo, minna!
Peço novamente desculpas, sei que fiquei muuito tempo sem postar, mas tive problemas pessoas e fiquei desmotivada a escrever. Mas quero retomar minhas atividades com fanfics, quero terminar essa o quanto antes e tenho vários projetos para oneshots e outras fanfics.
A fic entrou no seu ponto critico (esperei muito tempo para chegar nessa parte HO-HO), o climax está ai e espero que o tenham curtido e não tenham abandonado a leitura. Muita coisa ainda esta pra acontecer.

No próximo capitulo de Bad Boys Vs. Bad Girls, inimigos talvez não...
Tenten se encontrada vulneravel demais e o apoio que precisa vem de onde menos espera. Naruto tenta novamente lutar pelo que quer e Shikamaru quer honrar um passado que não viveu para garantir um futuro incerto. Para saber mais, so esperar o 24° cap: 'Verdades'

Obrigada aos que esperaram a minha volta. Reviews são muito bem vindos.
Ate o proximo cap.
Bjos!