POV Rose

Eu acordei e não sabia onde estava, mas era um lugar limpo. Completamente limpo. Não tinha nada naquele quarto além da cama em que eu estava com os braços e pernas atados a correias, uma cadeira, uma mesinha, grades nas janelas e uma porta que parecia de ferro.

Tinha também aquelas criaturas malignas, sombras negras, disformes, dando gargalhadas e sussurrando para mim: “Agora você é nossa! Só nossa! Nós já tomamos conta da sua mente e seu corpo também será nosso!”

Falavam isso o tempo todo, como se fosse uma reza maligna e eu estava apavorada, morrendo de medo. Ao que parece eu não tinha conseguido morrer. Merda. Eu tentei me soltar só pensando que eu tinha que sair dali para aquelas criaturas não me pegarem. Quando eu vi que não iria conseguir me soltar, eu chorei. Tentaram me trazer algo para comer, mas era um fantasma e ele era todo branco e tinha uma coisa nas mãos.

“Está na hora da senhorita se alimentar. Eu lhe trouxe uma sopa e vou te dar, tudo bem?” O fantasma ria para mim com aquela boca deformada. Quando eu os via antes, eles se pareciam com pessoas, mas esse se parecia com uma daquelas criaturas!

Eu tentei manter a minha boca bem fechada quando eu vi que dentro daquela vasilha que ele disse que tinha sopa, tinha uma coisa mole parecendo lodo e sangue. Eu chorei mais ainda quando ele enfiou na minha boca aquela coisa. Eu quase vomitei, mas nem isso eu consegui. Aquela criatura toda branca me fez comer mais um pouco colocando na minha boca e a segurando com a mão para eu não colocar para fora. Eu tentei cuspir aquele lodo com sangue, mas não consegui.

Ainda bem que a criatura desistiu de me dar aquilo e saiu do quarto, mas as criaturas escuras e disformes ainda estavam lá, rindo e sussurrando aquela espécie de mantra para mim. Eu estava com tanto medo que chorei e chorei e chorei. Ninguém aparecia ali para me ajudar. Eu queria gritar, mas acho que a minha voz não saía.

Foi quando eu vi a porta se abrindo e aquela coisa ou mulher com os cabelos em chamas entrou acompanhada de uma outra coisa ou homem. Ele me parecia familiar. Eu senti um pouco de confiança nele e a coisa com a cabeça em chamas caiu no chão.

De repente, parecia que todo o quarto estava em chamas e eu não conseguia gritar e aquelas coisas ou pessoas ou seja lá o que fossem nada faziam a não ser socorrer aquela coisa com a cabeça em chamas.

O homem me olhou e chegou perto de mim. Eu fiquei com medo, mas ele falou comigo suavemente e eu me senti em paz.

“Kiz, você vai ficar bem, eu prometo!” Ele disse, me deu um beijo na testa e saiu.

O que significava aquilo??? O que ele quis dizer com isso??? Porque eu estava atada na cama??? Aquelas criaturas iriam me pegar e ninguém fazia nada.

Não sei quanto tempo passou que eu estava em pleno pavor quando senti uma picada no braço e só escuridão, mas sem nenhuma criatura. Ótimo, acho que alguém teve misericórdia de mim!

Quando eu acordei, senti sede. Muita sede! Tinha um fantasma dentro do quarto e me olhou.

“Eu preciso de água. Estou com sede.” Eu disse e aquele fantasma me deu água. Parecia pura, mas mesmo que não fosse pura, eu tomaria do mesmo jeito. Eu estava mesmo com sede, parecia que estava ressecada.

“Você vai tomar uma medicação agora e vai se sentir melhor um pouco para que eu possa te ajudar a tomar um banho. Você vai se sentir mais calma!” O fantasma que parecia mulher sorriu. Não parecia que queria me ferir.

“Você veio me buscar??? Eu consegui morrer mesmo???” Ela me olhou de um jeito estranho.

“Não, você não está morta Rosemarie! Você está nesta clínica para se tratar e ficar bem. Seus pais estão preocupados com você. Você precisa reagir e nós vamos te ajudar, ok?!”

“E porque estas criaturas estranhas de sombras estão aqui dentro do meu quarto??? E porque diabos eu estou atada nesta cama???” Disse isso apontando com o rosto, já que eu não conseguia me mover, para as criaturas no quarto. Será que ela conseguia ver?

“Não tem criatura alguma aqui, Rosemarie. Isto é fruto de sua imaginação!”

“Rá, imaginação?! Eu estou então imaginando que estou vendo estas criaturas e que elas riem e sussurram o tempo todo que tomaram conta da minha mente e que tomarão o meu corpo também? Eu lhe pareço maluca, por acaso?!” Mostrei de novo, cada uma das criaturas para aquele fantasma que conversava comigo, mas ela olhou e não parecia ter visto nada, ou fingiu não ter visto, só para me confundir.

Ela me olhou e não disse mais nada. Será que ela acha que eu sou maluca?!

“Hey, me desate desta cama, eu não agüento mais ficar nesta posição, sem poder me mexer! Ah! E me responda, que lugar é este? Por que tem grades nas janelas e por que elas são tão altas e pequenas? Por que a porta parece de ferro?”

“Rosemarie, querida, deixe-me te explicar algumas coisas. Eu não posso soltar as suas correias porque você está descontrolada desde que chegou. Aqui é um sanatório e fica na Turquia, perto de Istambul. Por se tratar de um sanatório é que as portas são de metal e as janelas são altas, pequenas e possuem grades. Para evitar fugas dos pacientes!”

“Pacientes... PACIENTES???? Por acaso eu sou uma paciente de um hospício no meio da Turquia??? Por quê??? Eu não sou louca! Eu só tive uma anemia forte e como eu não tinha mais vontade nenhum de viver neste maldito mundo onde eu nunca sou a prioridade de ninguém, achei melhor morrer, mas sou tão incompetente que nem para isso eu servi! Nem para me matar! Há quantos malditos dias eu estou aqui???”

“Quarenta e cinco dias.”

Ela me aplicou mais uma injeção e só escuridão. De novo!