Capítulo X 

Bella se despediu do senhor Lazaro segurando duas notas em sua mão.

Agradeceu o velho senhor o quanto pode, e o mesmo tinha se recusado a receber o pequeno pagamento pelos seus serviços. Com medo de ofendê-lo se continuasse insistindo Bella o agradeceu mais uma vez e o acompanhou até o elevador.

De banho já tomado, os cabelos molhados presos em um coque mal feito e o rosto desprovido de qualquer tipo de maquiagem, Bella se sentou na cama avistando a gaveta da escrivaninha agora aberta, não tinha visto o que tinha lá mais havia uma ansiedade considerável para que fizesse isso.

Ela tinha dormido na sala na noite anterior, seu quarto tinha se tornado um cômodo tão estranho que não conseguia pregar os olhos deitada sobre os lençóis de sua cama. Sua cabeça tão distraída com os acontecimentos da manhã demorava a se concentrar novamente.

Quando tinha saído do hospital sem rumo e com tantas perguntas a serem feitas que desconfiou que várias tinham apenas uma resposta, um único nome, e esse nome era Edward Masen...

Com o coração aos saltos abriu por completo a gaveta, retirando dali um grande envelope... “Charlie e Alice” com letras grandes escritas na frente dele. Retirou de lá várias folhas, deixando o envelope de lado para então se dar conta de que eram folhas de seu seguro de vida, ações, diversos documentos que asseguravam que seu pai e sua irmã receberiam tudo que era dela após sua morte.

Se levantou da cama um tanto assustada, a janela bateu-lhe causando um certo pânico, o dia tão claro parecia ter se tornar gélido e escuro.

Voltou sua atenção para mais duas folhas em suas mãos, identificou de pronto como sua própria letra, seu coração deu um salto ao começar ler a enorme carta...

Papai e Alice,

Há pouco tempo descobri que não tenho muito tempo de vida. Nesse exato momento já devo estar em um lugar claro e bonito com Renee, por isso peço que poupem suas lágrimas e se lembrem de mim com a felicidade da qual sei que vou me lembrar todos os dias de vocês.

Saiba papai que foi a melhor pai do mundo, saiba Alice que melhor amiga como você jamais encontrarei, perguntas não me atormentam nesse instante, e nem sinto dores como dizem que sentimos, me sinto em paz e animada para curtir intensamente os dias que antecedem minha morte.

Recebi uma estranha proposta de um estranho e misterioso homem que faz meu coração bater tão rápido que sei que vou partir após conhecer os sentimentos intensos dos quais sempre me falou que existiam papai.

Eu gostaria de poder dizer que sinto muito, mas há leis na vida que desafiam nossa capacidade de escolha, e há coisas da vida que se eu contasse a vocês jamais acreditariam... Deixo a vocês tudo o que possuo, vendam meu apartamento, doe minhas roupas e guarde minhas recordações e fotos em uma caixa, quando se acharem fortes o suficiente para voltarem a me ver sem a dor rasgar-lhes o peito, abram essa caixa, me mandem mensagens, eu prometo que as escutarei.

Sei que é estranho me ouvir dizer coisas tão simples quando se sabe que está a beira da morte, mas de forma nenhuma papai, procure o culpado por isso quando a escolha de vida ou morte cabe a um homem como nós e não há uma força divina da qual acreditamos.

Sinta saudades, jamais dor. Saiba que vivi a partir de hoje momentos tão intensos que jamais teria vivido durante toda a minha vida se não tivesse conhecimento sobre a minha morte, saiba que tenho a certeza que me sentirei completa, adorada e acima de tudo amada...

Eu não estou sozinha papai, meu doce estranho me levará até o corredor, não sinto medo, me sinto curiosa, me sinto excitada para a onda de inovações da qual minha vida passará até o grande dia, meu corpo e espírito estão em paz, e o que lamento talvez, é que eu tenha que morrer para poder viver intensamente.

Amo você papai, sem mais nem mesmo é o homem da minha vida.
Amo você Alice, tão bela, tão simples e tão metade do meu ser.


Prestes a descobrir um novo mundo...

Até quem sabe algum dia.

Bella.

Bella deixou as folhas de papel caírem de suas mãos, conforme um vento frio entrava pela janela, as duas folhas voaram pelo quarto até repousarem em algum lugar no chão.

Com os olhos atormentados pelas lágrimas, arregalados pela surpresa e medo sentiu suas pernas falharem, perdeu o equilíbrio caindo sentada no chão, com uma sensação tão estranha que seria capaz de jurar que tinha mil olhos a observando...

Bella – Oh Meu Deus!!!

Murmurou levando as mãos trêmulas como todo resto de seu corpo sobre os lábios pálidos.

Bella – Oh Meu Deus...

Repetiu tentando a todo custo digerir tudo o que tinha lido, quando que ela tinha escrito aquela carta? Porque ela escreveu aquela carta? Quem era o estranho do qual se referia? Como podia saber em vida que sua morte estava tão próxima?

O vento novamente remexeu as folhas no chão, que voaram mais uma vez até que a parede as bloqueassem.

Um pequeno papel parou ao seu lado, conseguiu enxergar o conteúdo:

‘Edward, 8965 – 4712. É o bastante?’

Tirando força e coragem de onde não existiam levantou-se, correndo até o telefone com o papel na mão. Discou o número que estava escrito no papel, com a boca seca e o coração tão alterado que pensou que a qualquer momento, ele saltaria de sua boca indo parar direto no chão.

Esperou o toque que indicava que a ligação completava a chamada...

Apertou os olhos fortemente, com sua mente tão confusa e fora de controle que questionou que certamente estava enlouquecendo.

– Mais é claro que é... Você é meu homem, minha vida, meu sorriso, minha alegria... Minha felicidade mais sincera, meu prazer... Ah senhor Killer, eu me entrego de corpo e alma em suas mãos!!!

Bella – Oh Deus!! O que está acontecendo??

Edward terminou de beber a sua segunda xícara de café só naquela tarde.

O estranho era que sempre havia detestado café, porém agora o gosto lhe soava tão familiar como se estivesse bebido e gostado de café durante toda a vida.

Vestido apenas com uma calça preta de moletom, ele detestava hotéis, eram sempre frios e pareciam na verdade prisões. Tânia os adorava, o conforto, o luxo e a sofisticação que Edward só se permitiu ter depois de tantos anos de trabalho duro.

Era arquiteto, e vida de arquiteto recém formado como tinha vivido há anos atrás, não era nada, nada fácil. Sua condição agora de vida proporcionava a ele bastante conforto e regalias.

Caminhou para a sala sentando-se em seu sofá, abriu sua agenda viu que tinha tantos serviços cancelados e acumulados que na certa lhe dariam um grande trabalho. Tinha passado mais de um mês sem trabalhar, e um mês de trabalho perdido afetava e muito em suas finanças, não era nenhum milionário que pudesse se dar ao luxo de tirar férias de 1 mês.

Pegou o telefone, prestes a começar ligar para um por um de seus clientes cancelados pedindo desculpas pessoalmente pelo transtorno, sua secretária já tinha feito tal fato, explicando o que tinha acontecido com ele.

Kelly estava com ele desde do início e ligava a cada 1 hora para saber se estava tudo bem, e claro para informar como o bem considerável escritório de Edward caminhava. Mas sentia que devia isso as pessoas que contratavam o seu trabalho, com todos os números e nomes em mão, deixados em cima da cama por Tânia como tinha pedido.

Prestes a discar o primeiro número o telefone tocou...

Franziu a testa achando engraçado que Kelly ou Tânia ligasse assim tão depressa novamente, demorou a atender o telefone perdido em seus pensamentos e quando deu por si, apertou rapidamente o botão levando diretamente ao ouvido...

Ed – Edward falando... - silêncio.

– Alô? Alô? Quem é?

Franziu a testa se levantando, ouvindo a respiração assustada do outro lado da linha...

Seu corpo se arrepiou imediatamente e ofegou em busca de ar, sabendo que seu corpo só emitia tal reação quando...

Ed – Bella?

Bella – E-eu preciso... Eu preciso falar com você.

Em segundos a ligação foi desligada, ele tinha um endereço. Ele tinha tantas perguntas, ele tinha diversos sentimentos tão confusos e estranhos como quando tinha saído do hospital.

Vestiu-se apressadamente, agradecendo por já ter tomado um longo banho assim que tinha chegado, pegando pela primeira vez seus documentos colocando-os imediatamente no bolso da calça, saindo tão rápido do quase apartamento que deixou o celular tocando em cima da cama, nem se importando com quem poderia ser.

O Táxi estacionou na porta de um condomínio de grande porte, deu algumas notas ao motorista agradecendo.

Taxista – Imagina senhor Edward, e a menina Bella? Não voltou a beber daquela forma não é mesmo?

Edward olhou com uma cara espantada para o taxista se perguntando:

‘Como é que ele sabia seu nome???’

‘Sobre o que ele falava???’


Não teve tempo de perguntar, o táxi se pôs em movimento logo depois que fechou a porta.

Edward ficou ali por longos segundos, com a cabeça baixa olhando o chão..

– Conhece Bella?
O taxista olhou para Bella e abriu um sorriso, o jeito que ela dormia com a cabeça no peitoral de Edward, com os cabelos todo espalhado pelo rosto em um sono profundo era hilário!

Táxi – Sim, desde que ela se mudou, não é sempre que ela pode dirigir, as dores de...

Ergueu a cabeça olhando a portaria do grande condomínio, deu passos inseguros até o porteiro que de automático autorizou sua entrada.

Porteiro – Sabe onde fica?

Ed – Sim, sei onde fica.

‘Com ele sabia? Perguntava-se durante todo o trajeto... ’

Respondeu de imediato, caminhando pelo condomínio até chegar no último prédio.

Seus dedos digitaram alguns números e o elevador se colocou em movimento, ao chegar no andar tocou a campainha e a porta logo se abriu.

Bella estava lá com o mesmo olhar assustado e com algumas folhas de papel na mão, ela deixou a porta se abrir ainda mais, dando passagem silenciosamente para que ele entrasse e foi o que ele fez.
Ela fechou a porta após observar que não tinha ninguém no corredor apertou os olhos para então se virar os abrindo.

Bella – Como veio até aqui?

Ele franziu a testa tentando entender a pergunta.

Ed – De táxi. Aliás, o taxista sabia o meu nome e...

Bella – Não. Estou perguntando como subiu até o meu apartamento...O porteiro te acompanhou?

Ed – Não, ele... – passou a mão pelos cabelos em sinal de puro nervosismo.

– Aonde que chegar?

Bella – Já esteve aqui antes?


Ed – Não, nunca estive aqui antes.

Bella – Então como sabia que o meu prédio era o ultimo? O porteiro te falou qual era?

Ed – Não...

Bella - Como sabia qual era o andar? O elevador só sobe com a senha de cada apartamento, como sabia a senha?

Ele negou com a cabeça em total confusão.

Bella

Bella– Eu não sei... Eu não sei!

Levou a mão sobre os lábios,

Bella – Está tudo tão confuso e eu, e eu juro por Deus que tenho ouvido a sua voz também! Enquanto esperava por você notei que há coisas estranhas na minha casa... Não sei que ligação você tem com isso, mas algo você tem, eu sei que tem, eu o sinto!

Ed – Fique calma! Fique calma vai ver que...

Ouviu gargalhadas vindas da cozinha...

Ed – Tem alguém aqui?

Bella negou com a cabeça.

– Tem certeza, estou ouvindo...

Se calou rapidamente.

Bella – Achei uma carta, uma carta feita por mim mesma em uma gaveta da minha escrivaninha da qual não me lembrava de ter posto a chave, era uma carta de despedida.

Levantou a mão mostrando as duas folhas de papel.

Bella– Aqui eu digo que vou morrer, e falo sobre um misterioso homem que... Não encontrou mais explicações.

– Escute, há algo estranho acontecendo, é como se existissem coisas das quais foram apagadas da minha vida, da minha memória... Alguém esteve na minha casa.

Caminhou até as escadas subindo, Edward logo a seguiu até entrarem em um quarto que parecia ser de hóspedes.

A cama estava desarrumada, no banheiro continha coisas também desorganizadas como se alguém estivesse estado ali recentemente, por cima de uma poltrona estava...

Ed – Esse casaco é meu, meu... sobretudo!

Apontou para o casaco que estava em cima da poltrona o pegando, olhou Bella com a testa franzida em uma enorme confusão.

Palavras e sussurros voltaram a invadir a mente dele, quando por fim o silêncio se fez novamente Edward chegou a conclusão de que...

Ed – Eu...

Murmurou observando a grande cama revirada, subiu o olhar para os olhos cristalinos e assustados de Bella.

Ed – Eu estive aqui.

Bella – Está maluco? Quando veio na minha casa se nem ao menos te conhecia direito? Nos encontramos em Londres não no México, isso não tem lógica!

Jogou as mãos para o alto.

Edward negou com a cabeça caminhando até a cama, Bella respirou fundo encostando-se na parede, a mesma coisa que prendia a atenção de Edward prendia a sua, a cama.

Ele fechou os olhos por alguns instantes tocando, sentindo o lençol e tirando a mão tão rapidamente como se ele desse algum choque, Bella respirou fundo...

Bella – O que está fazendo?

Ele se virou, sem dizer mais nenhuma palavra saiu do quarto, caminhando mais a frente, Bella o seguiu para encontrar ele em seu quarto, diante de sua cama e da porta do banheiro.

Bella - Não pode ir entrando assim, invadir a casa das pessoas e...

Se calou, com os olhos arregalados, notou o sol da tarde iluminando todo o corpo dele, dando o aspecto de algo irreal e indescritivelmente belo.

Edward olhou para algo no banheiro, que deveria ser sua banheira, e logo depois a cama com os lençóis ainda desorganizados, emaranhados...

Bella – Como pode ter estado na minha casa...

Engoliu a saliva confessando por fim.

Bella – Dormido na minha cama, se nem ao menos te conheço...

Ele olhou para ela negando com a cabeça.

Ed – Não sei... Tem se lembrado de algo? Cenas, vozes, sussurros?

Bella mentiu negando com a cabeça.

Ed – Está mentindo.

Ela arregalou os olhos se aproximando.

Bella – Porque mentiria? Aliás, porque não mentiria? Eu não te conheço, só sei o seu nome porque li em sua ficha médica...

Ele deu as costas para ela com um suspiro de derrota

Ed – Edward Masen, sou arquiteto, natural do México, mas moro em Londres e...

Bella – É casado.

Escapou de seus lábios murmurando logo em seguida uma praga, por não conseguir segurar sua maldita língua.

Ed – Não Bella, Não mais! Eu não me considero um homem casado... Chamou-me aqui não foi? – se aproximou dela.

– Então pare de me tratar como um intruso em seu habitat natural, quando foi você quem me ligou!

Bella arregalou os olhos surpresa pelo tom daquele petulante.

Ed – Quero saber o que está acontecendo tanto quando você! Acredite acordar quase morto em um lugar completamente diferente do qual havia estado é tão assustador como não saber como eu fiz para vir parar aqui.

Bella – É realmente tinha me esquecido de quanto é arrogante e intrometido.

Ed – E eu? Tinha me esquecido de como é mimada! É uma das casas de seu papai?

Sorriu irônico, Bella abriu a boca incrédula.

Bella – Eu não sou mimada!

Ele olhou para ela de cima em baixo como se estivesse despindo-a com olhar.

Ed – Tem razão, se fosse mimada eu não teria dormido com você.

Bella soltou uma gargalhada estrondosa de puro sarcasmo.

‘Quem Diabos ele pensava que era?’

Bella – Ah claro! E quem foi que disse que eu dormi com você? Não faria isso nem se você fosse o último homem do mundo senhor Masen!

Ele sorriu brandamente para mulher em sua frente.

Ed – Foi só uma brincadeira Bella, tinha me esquecido de como suas bochechas ficam estupidamente belas e coradas quando sente vergonha...

Bella bufou...

Bella – Ok cometi um erro em te chamar! Agora se me der licença, tenho coisas para fazer...

Os olhos dele se voltaram imediatamente para o corpo dela, para depois subir para os olhos agora levemente maquiados e relaxados.

O ar faltou nos pulmões de Bella e seus olhos se desviaram dos dele olhando para cama, para que logo depois sua cabeça latejasse compulsivamente.

Bella – Só pode ser loucura... É impossível que isto esteja acontecendo, eu... Só posso estar ficando louca!

Continua…