O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 24
Capítulo 24




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A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, atualmente, era palco de um aconchegante jantar natalino que contava com a presença dos professores, dos estudantes convidados de Beauxbatons e Durmstrang, assim como os seus respectivos diretores, e de alguns alunos que não haviam voltado para suas casas. O mais novo campeão a participar do Torneio Tribruxo, porém, encontrava-se longe da Grã-Bretanha aproveitando com seu pai esses merecidos dias de férias. E o cenário escolhido para passarem o natal era cheio de neve, pinheiros imensos, além de elegantes chalés de carvalho real disponibilizados pelo resort e integrados às estações de esqui.

Estavam nos Alpes Suíços.

Mais precisamente em um resort, numa vila mágica, que recebia sempre ilustres magos que decidiam passar as férias naquela região.

- Ele vai se machucar... – o mago mais poderoso de todos os tempos, Lord Voldemort, pensou em voz alta enquanto observava a louca descida de seu filho naquela perigosa prancha de madeira. E mesmo em cima de seu equipamento de esqui, Tom estava pronto para pegar a varinha e impedir que Harry se machucasse assim que este demonstrasse o menor indício de que fosse cair.

Mas Harry era perito naquela arte.

Um verdadeiro profissional no Snowboard.

E com um radiante sorriso nos lábios, após mais um perigoso salto, o menino aterrissou ao lado do pai:

- Por que essa cara de preocupação, papai?

- Não vou nem responder.

- Oh, vamos! Que tal apostar uma corrida?

O Lord, no entanto, revirou os olhos, estes protegidos pelos óculos especiais para esqui.

- Eu não tenho mais 14 anos, Harry.

- E você se divertia aos 14 anos? – perguntou com um sorriso malicioso.

- Ora, é claro.

- Ler todos os livros da biblioteca de Hogwarts não é o que eu chamo de diversão, papai.

- Bom, é uma questão de gosto.

Colocando os óculos em cima da cabeça, para abaixar um pouco os cabelos que estavam mais rebeldes do que nunca, Harry fez sua conhecida expressão de gatinho abandonado e murmurou:

- Vamos, papai, é só uma corridinha... Ou você está com medo de perder? – sussurrou as últimas palavras com verdadeira malícia. E o Lord, é claro, eriçou.

- Lord Voldemort nunca perde, meu caro.

- É o que vamos ver!

- Até a entrada do teleférico?

- Valendo!

Os dois, então, tomaram impulso e saíram deslizando pela montanha de neve que compunha aquele belo cenário, Harry em sua prancha de snowboard e Tom com seus esquis. O menino simplesmente adorava a velocidade, o vento gelado batendo no rosto, a adrenalina no sangue, era como se ele voasse na neve, num belíssimo traje de esqui branco com rajadas prateadas que serviam para aquecê-lo propriamente e confundi-lo com um relâmpago, e Tom, por sua vez, em seu elegante traje negro com rajadas verde-musgo, não estava disposto a perder. Mas Harry era tão Slytherin quanto seu próprio pai e com um sorrisinho malvado no rosto, simulou que estava prestes a cair, o que logo atraiu toda atenção e preocupação de seu pai, bem a tempo de ele tomar impulso numa rocha coberta de neve e aterrissar em frente à estação de esqui com um sorriso de vitória nos lábios.

- Você trapaceou – constatou o Lord, ligeiramente ofegante, quando parou ao lado do filho.

- Que calúnia, papai!

- Harry...

- Bom, talvez eu tenha feito uma pequena encenação.

- O que eu disse sobre enganar o seu pai?

- Não devo fazer tal coisa se não quiser receber um crucio.

- Muito bem – bagunçou ainda mais os cabelos revoltos.

- Mas eu ganhei!

- Cruc...!

- Certo! Certo! Parei!

Em meio a risadas, os dois seguiram de volta ao Chalé Deluxe especialmente reservado para eles, onde Nagini e Morgana provavelmente se digladiavam por qualquer bobagem, e onde mais tarde o Lord mandaria servir uma farta ceia de natal que contava com a marca da família Riddle: puro requinte, elegância e amor, um amor restrito e diferenciado, é claro, e que poucas pessoas podiam testemunhar.

E aquele natal, para Harry, era apenas mais um maravilhoso natal com sua família. Não poderia desejar mais nada, pois tinha seu pai e, assim, tinha tudo.

-x-

Mas tudo que é bom, é de conhecimento geral, dura pouco. E logo o pequeno Lord se viu novamente rodeado pelas paredes de pedra que forjavam a imponente estrutura do castelo de Hogwarts. As férias chegaram ao fim. Aquele irritante Torneio, porém, continuava. Em compensação, é claro, ele podia reencontrar seus amigos.

Pansy havia passado o natal em Hogwarts e Harry suspeitava, pelo sorridente rosto da amiga e pela constante irritação de Blaise, que isto se devia a um famoso búlgaro que não parava de lançar olhares apaixonados para a menina. O herdeiro da fortuna Zabini passara o natal na Itália, numa mansão de seus familiares, mas seus pensamentos haviam ficado em Hogwarts. Theodore, por sua vez, desfrutara da solidão do seu quarto na mansão Nott tendo como companhia apenas os elfos domésticos, pois seu pai estava viajando pelo mundo a negócios e não queria levá-lo como carga, para ele, contudo, aquilo lhe era indiferente, apenas o presente que recebera de Harry com um cartão-postal desejando Feliz Natal trouxeram algum significado para aquela data e um sincero sorriso aos seus lábios. Enquanto isso, Draco e a família Malfoy haviam viajado para Paris, a convite de algum influente sócio de Lucius e o menino precisou aturar uma temporada de compras com sua mãe na Champs Élysées e noites de jantares intermináveis.

- Como estava a Suíça, mon amour?

- Ótima, Dray, você sabe que eu adoro esquiar – sorriu, deixando-se abraçar pelo namorado enquanto entravam no Salão Principal – E você sempre volta com esse sotaque quando vai para a França...

- Sotaque que você adora.

- Hum! Convencido... – mostrou a língua, divertido – Mas e você, Pansy, por que decidiu ficar em Hogwarts?

- Para passar um natal maravilhoso com o Victor, Harryzito! Ele é um verdadeiro gentleman! – a menina suspirou, mas seu sorriso logo desapareceu quando um enraivecido Blaise se levantou da mesa e saiu do salão.

- Não ligue para ele – aconselhou Harry.

- Não ligo – mentiu, adotando um falso sorriso e lançando um piscadela para o búlgaro que não deixava de encará-la.

Harry trocou um olhar com Draco, que balançou a cabeça negativamente, e depois olhou para Theodore, que repetiu o gesto do loiro. Eles esperavam apenas que Pansy e Blaise se dessem conta do óbvio logo, pois não valia a pena perder tempo quando seus sentimentos estavam tão evidentes.

- Você está pronto para a segunda prova no sábado?

- Ainda não, Theo, mas tenho certeza de que minha querida amiga Pansy me surpreenderá com boas notícias, não é mesmo? – sorriu significativamente para a menina, que apenas revirou os olhos e tirou um pequeno frasco de vidro do bolso.

- Fique sabendo que o imbecil do Blaise não me ajudou – murmurou irritada – Precisei roubar do armário do Snape sozinha!

- E é por isso que você é a melhor, Pan!

- Sou mesmo.

- Com essa planta eu vou fazer a prova em menos de uma hora – constatou satisfeito, guardando o frasco no bolso da túnica – e o Dumbledore mais uma vez vai ficar com a cara no chão.

As jovens serpentes, é claro, compartilharam um sorriso cheio de malícia, sorriso este que fez o diretor de Hogwarts estreitar os olhos desde o seu lugar.

-x-

O tão esperado dia da segunda prova do Torneio Tribruxo não demorou a chegar. Enquanto andava pelos gramados, ao lado de Blaise e Theodore, Harry viu as arquibancadas dispostas ao longo da margem oposta do Lago Negro, quase explodindo de tão lotadas, e que se refletiam nas águas embaixo; a algazarra excitada dos expectadores ecoava estranhamente pela superfície das águas. Seguindo pela outra margem do lago ele caminhava em direção aos juízes, sentados a uma mesa coberta com tecido dourado. Cedric, Fleur e Krum estavam parados ao lado da mesa, e o primeiro acenava para ele.

- Boa sorte – desejaram seus amigos, Theodore, é claro, lançando um olhar mortal a Cedric.

- Obrigado.

Eles, então, foram se juntar ao Lord, que se encontrava numa ala mais reservada da arquibancada, rodeado por alguns Comensais da Mortes e ao lado do casal Malfoy. Harry, no entanto, estava preocupado com Pansy e Draco, pois McGonagall os convocara depois do café da manhã e até agora os dois estavam sumidos.

- Isso é muito estranho, onde eles podem estar numa hora dessas? – murmurou preocupado, mas seus pensamentos foram interrompidos pelo sorridente diretor que chegava ao seu lado.

- Meus queridos! Que bom que estão todos aqui...

- "Ainda preciso agüentar isso" – revirou os olhos, ouvindo-o continuar:

-...Quando eu apitar vocês terão uma hora para recuperar o que foi tirado de vocês. Então, quando eu contar três. Um... dois... três!

Começava a segunda prova do Torneio Tribruxo.

O apito produziu um som agudo no ar frio e parado; as arquibancadas explodiram em vivas e aplausos; sem se virar para ver o que os outros campeões estavam fazendo, Harry descalçou os sapatos e as meias, tirou o frasco do bolso, engoliu a solução verde e viscosa de guelricho e mergulhou no lago. O lago em questão estava tão frio que ele sentiu a pele arder, mas apertou os punhos com força e continuou a nadar mais para o fundo, o guelricho não demoraria a dar resultado. Em questão de segundos, Harry teve a sensação de que uma almofada invisível estava cobrindo sua boca e seu nariz. Uma dor aguda, então, percorreu seu pescoço e quando levou as mãos à garganta ele sentiu duas grandes aberturas abaixo das orelhas... Ganhara guelras.

O primeiro gole de água gelada do lago lhe pareceu um sopro de vida.

Sorriu. E ao estender as mãos para frente percebeu que entre os dedos haviam surgidos membranas, os pés tinham se alongado e também possuíam membranas que lhe garantiam a agilidade de um peixe. Assim, ele mergulhou ainda mais fundo no lago, disposto a terminar logo aquela prova ridícula, precisava apenas encontrar o que haviam lhe tirado.

Sua vassoura, talvez? Ou a sua coleção de peças em prata de lei que compunham o seu Xadrez de Bruxo? Bom, ele ainda não sabia o que era, mas estava prestes a descobrir.

O silêncio logo pesou em seus ouvidos ao nadar por uma paisagem estranha, escura e enevoada. Só conseguia ver três metros ao redor, por isso à medida que se deslocava novos cenários pareciam surgir repentinamente; florestas ondulantes de plantas estranhas e escuras, extensões de lodo coalhadas de pedras lisas e brilhantes. Nem o 'Lumos' de sua varinha parecia ajudar em meio aquela escuridão. Ele nadava cada vez mais para o fundo e para o centro do lago, os olhos abertos, tentando distinguir qualquer pista que pudesse ajudar. Pequenos peixes passavam velozes por ele como flechas prateadas. Uma ou duas vezes ele viu um vulto maior nadando mais adiante, mas quando se aproximava, desaparecia.

Não viu nem sinal dos outros campeões.

E continuou a nadar por uns vinte minutos ou assim lhe pareceu. Atravessava agora grandes extensões de lodo escuro, que redemoinhavam sujando a água agitada por ele. Então, finalmente, ouviu um trecho da música misteriosa dos sereianos:

"Por uma hora inteira deve buscar,
Aquilo que mais falta lhe fará..."

Harry nadou mais rápido e não tardou a ver um grande penhasco emergindo na água lodosa à frente. Nele havia pinturas de sereianos: carregavam lanças e caçavam algo que parecia ser uma lula gigante. Assim, deixando o penhasco para trás, Harry seguiu a música dos sereianos:

"...Já se passou meia hora, por isso não tarde,
Ou o que você busca permanecerá aqui".

Um punhado de casas toscas de pedra, manchadas de algas, tomou forma de repente em meio a névoa que rodeava o garoto. Aqui e ali, às janelas escuras, Harry viu rostos. E ele percebeu que os sereianos não se pareciam nem um pouco com a sereia do quadro no banheiro dos monitores. Eles tinham, na verdade, peles acinzentadas e longos cabelos desgranhados e verdes, seus olhos eram amarelos, como seus dentes, e eles usavam grossas codas no pescoço.

Harry continuou a nadar, sob os olhares desconfiados dos sereianos, olhando para os lados, e logo ele se deparou com a versão local de uma praça de povoado. Um coro cantava no centro, chamando os campeões e, por trás, erguia-se uma estátua tosca; um gigantesco sereiano esculpido num pedregulho. Quatro pessoas estavam firmemente amarradas à cauda da estátua.

- "O que mais falta me fará..." – repetiu as palavras da música em sua mente, com um pequeno sorriso, observando o conhecido rosto aristocrático adormecido.

Draco estava amarrado entre Pansy e um garoto Hufflepuff que sempre andava com o grupo de Cedric e ao que Harry observou, parecia ser o seu melhor amigo. Havia ainda uma garota que não aparentava ter mais de oito anos e cujas nuvens de cabelos prateados deu a Harry a certeza de que era irmã de Fleur Delacour. Os quatro pareciam profundamente adormecidos. Suas cabeças balançavam suavemente sobre os ombros e um fluxo contínuo de pequenas bolhas saía de suas bocas.

Ele, então, correu em direção aos reféns, mantendo o olhar desafiante para os sereianos como se esperasse que eles fossem impedí-lo, mas isso não aconteceu. Com um simples 'Diffindo' ele cortou as cordas que prendiam Draco e este agora flutuava, inconsciente, a alguns centímetros do leito do lago, acompanhando o movimento da água.

Olhando ao redor, Harry não viu nem sinal dos outros competidores e suspirou irritado:

- "Por que eles estão demorando tanto?"

Não que ele reclamasse de estar na frente, mas não poderia salvar todos e de jeito nenhum pensava em deixar sua amiga ali. Com isso em mente, apontou a varinha para as cordas que prendiam Pansy, mas antes que pudesse murmurar o feitiço, fortes mãos cinzentas o seguraram. Meia duzia de sereianos começaram a afastá-lo de Pansy, balançando a cabeça em negação, seus olhos amarelos cheios de severidade.

- Você leva o seu refém – disse um deles – Deixe os outros.

- Mas ela é minha amiga também! – protestou, mas apenas bolhas saíram de seus lábios. E quando estava prestes a lançar algumas maldições naqueles sereianos irritantes, uma enorme cabeça de tubarão surgiu à sua frente. Desta saía o corpo de Victor Krum, que lhe fez um breve aceno, abocanhou a corda de Pansy e saiu nadando com ela em direção a superfície.

Bom, um problema a menos, pensou.

Os outros dois não eram da sua conta.

Assim, ele abraçou a cintura do namorado e começou a nadar para cima, pois sentia que os efeitos do guelricho já estavam acabando. Fez uma nota mental: dizer a Draco que ele estava muito pesado e que deveria amenizar a musculação. Afinal, não era por nada que o loiro era quase dez centímetros mais alto e significativamente mais forte do que ele, ainda que Harry, sorrido maliciosamente, sempre alegasse que força física não influenciava no poder mágico e que neste aspecto ele ganharia do herdeiro da fortuna Malfoy de olhos fechados.

- "Quase lá..." – pensou, mas os efeitos do guelricho, pelo visto, acabaram antes do esperado e repentinamente Harry se viu sem suas guelras e membranas, começando a afundar com o corpo de Draco e se afogar.

Não. Ele não tinha chegado tão longe para acabar assim.

Sem pensar duas vezes, pegou a varinha do porta-varinhas que levava na canela, apontou para cima e com um feitiço não verbal conjurou:

Ascendio!

No instante seguinte ele se viu de volta na margem, onde os juízes aguardavam em pé, observando-os. Mas sua real surpresa foi ver o Lord em pessoa ao lado dos juízes, esperando-o, e quando o viu, seu pai não pensou duas vezes e chegou ao seu lado para lhe enrolar num grosso cobertor, o mesmo que Pansy e Krum usavam mais adiante, que fora oferecido por Madame Pomfrey.

- Você está bem?

- É claro que sim, papai.

- E não podia ter deixado ele se afogar? – murmurou, lançando um olhar de esgueira a Draco, que agora voltava a si tossindo e cuspindo um pouco de água.

- Papai... – advertiu em seu tom. E o Lord revirou os olhos, mais preocupado em conferir se apenas aquele cobertor era suficiente.

Logo em seguida Cedric saía do lago puxando seu amigo, que quase bateu em uma rocha quando o castanho se distraiu acenando para Harry. Este apenas balançou a cabeça, divertido, mas desesperados soluços logo chamaram a sua atenção:

- Minha irmãzinha! Eu non consegui... Oh, dieu! Mon dieu! Minha petit Gabrielle!

Fleur Delacour, pelo visto, não havia completado a prova, Harry constatou com um malicioso sorriso.

- Não se preocupe, senhorita Delacour, não precisa levar a música a serio, eu já pedi para os sereianos trazerem sua irmã. Acalme-se, por favor.

- Mas professor Dumbledore...

- Com essa pontuação – o diretor, no entanto, a interrompeu, dirigindo-se aos demais alunos – temos o senhor Krum e o senhor Riddle empatados em primeiro lugar, o senhor Diggory em segundo e a senhorita Delacour em terceiro lugar.

Os gritos de cada torcida logo se estenderam pelo local. E após Harry receber os estalados beijos de Pansy, os cumprimentos de Krum e Cedric, e o apaixonado beijo de Draco sob o olhar assassino do Lord, mas orgulhosíssimo do casal Malfoy, ele seguiu com seu pai em direção ao bosque proibido, ainda enrolado no cobertor e sob um poderoso feitiço de aquecimento.

- Pode tirar o feitiço, papai, eu estou bem.

- Hum! O que esse Dumbledore tem na cabeça? Deixar os alunos à mercê dos perigos desse lago, sem contar os efeitos da água gelada...

- Deixa de ser super-protetor! – sorriu divertido, abraçando o mais velho, que apenas revirou os olhos resmungando alguma coisa por entre os lábios apertados.

A única coisa boa desse torneio, além de deixar o diretor de Hogwarts com a cara no chão a cada vitória gloriosa sua, era poder passar um tempo com seu pai andando pelos arredores da escola. Aquilo, sem dúvida alguma, não tinha preço.

-x-

Harry e Tom, agora, encontravam-se nas proximidades do corujal sentados em um dos bancos de pedra que adornavam o imenso pátio da escola, nenhum estudante, é claro, atrevia-se a se aproximar dos dois e assim, eles contavam com total privacidade. O menino ainda estava enrolado no cobertor e bebia o chocolate quente que seu pai havia conjurado para ele, conversavam sobre a brilhante estratégia de Harry, usar guelricho para a prova, e Tom balançava a cabeça, divertido, ao saber que o ingrediente fora roubado do armário de Snape.

- A Srta. Parkinson é muito habilidosa.

- Sim, eu sempre posso contar com ela e os outros. O Theo também me ajudou bastante... E o Cedric, é claro, foi quem mais ajudou...

- Cedric? – estreitou os olhos, e o menino engoliu em seco.

- O outro campeão de Hogwarts.

- Eu sei. E por que ele ajudou você?

- Porque ele é uma boa pessoa?

- Harry...

- Certo, porque ele é uma boa pessoa e gosta de mim.

- Ele é um Hufflepuff! – exclamou, como se a palavra Hufflepuff resumisse todas as suas críticas.

- Não seja preconceituoso, papai...

O olhar mortal do Lord, porém, silenciou o menor rapidamente.

- Eu não quero saber de você andando em tais companhias.

- O Draco é um perfeito Slytherin sangue-puro e você também não gosta dele – murmurou.

- É diferente. Eu apenas acho cedo demais para você... namorar.

- E quando não será cedo de mais?

- Bom, quando você tiver uns... Trinta anos, talvez.

- Papai!

- O que? – perguntou com inocência – É o que eu penso, oras!

- Hum... Mas não precisa se preocupar, eu amo o Draco e não quero nada além da amizade do Cedric.

Tom, no entanto, suspirou:

- Amizade com um Hufflepuff, que coisa mais desnecessária.

- Pois está sendo muito vantajosa... – sorriu com malícia e o Lord não pôde conter um sorriso semelhante, pois conhecia muito bem o filho para saber que o garoto Hufflepuff estava lhe entregando informações de cada prova de bandeja.

Uma bela coruja negra com rajadas acinzentadas, porém, interrompeu a conversa dos dois ao pousar ao lado de Harry com uma carta firmemente sujeita no bico. E este arqueou uma sobrancelha, pois a única pessoa que podia lhe mandar uma carta – uma carta que interessasse – estava ao seu lado, encarando-o com igual curiosidade. E ao tirar o grosso pergaminho do envelope em branco, a face de Harry perdeu a cor. Conhecia aquela caligrafia já há alguns meses, a caligrafia de seu suposto padrinho, Sirius Black.

- De quem é a carta? – Tom perguntou com a voz impassível.

- Sirius Black.

Foi a resposta direta.

Direta demais, talvez.

Um perigoso brilho assassino havia surgido nos olhos do Lord, que estendeu a mão em silêncio, pedindo a carta. E Harry, é claro, não demorou a entregá-la.

Querido Harry,
Quando me deparei com o Profeta Diário esta manhã não acreditei no que os meus olhos viam,
você, com a irreverente pose que me lembrou tanto o meu falecido amigo, James, posando para as câmeras como o mais novo campeão do Torneio Tribruxo.
Pela sua expressão pude ver que você não estava nada a vontade, então, creio eu que não foi idéia sua participar deste perigoso torneio que agora só permite maiores de dezessete anos.
Fiquei preocupado, Harry, muito preocupado, quem quer que tenha armado isso para você não é seu amigo...
Tome cuidado, por favor, pessoas morrem neste torneio, isso não é brincadeira.
Todavia, acredito nas suas habilidades e sei que você vai se sair bem, apenas tome cuidado com Karkaroff – ele foi um Comensal da Morte que traiu seus comparsas para se livrar de Azkaban – e com Olho-tonto-Moody, que apesar de ser um excelente Auror, está um pouco maluco.
No mais, você sabe que sempre pode contar com a minha ajuda, qualquer coisa que precisar é só mandar sua coruja, ela sabe onde me encontrar. Não posso dizer onde estou por questão de segurança, mas tenho uma ótima notícia, o Moony está comigo!
Estamos viajando bastante para despistar o ministério e aproveitando para retomar nossa amizade neste tempo juntos, ele é maravilhoso...
Enfim, nós dois estamos com muitas saudades de você! Espero que possamos nos encontrar logo, temos muitas histórias para contar da época dos Marotos que eu sei que você vai adorar, o Snivellus com certeza se lembra da maioria delas!
Bom, mais uma vez eu peço que você tome cuidado com este torneio.
Estarei esperando sua resposta – acredito que a última carta que você mandou se perdeu – e aguarde, pois em breve eu conseguirei mandar o seu presente de natal, que tal um novíssimo Estojo de Manutenção de Vassouras para a sua Firebolt? Espero que goste!
Até breve, pequeno Prongs!
Seu padrinho,
SB.

Quando terminou de ler a carta, Tom estava com a face ligeiramente avermelhada, tamanha a sua cólera, e com seus olhos perigosamente cerrados. Harry conhecia aquela expressão, que não indicava boa coisa, e apenas contorcia as mãos com nervosismo enquanto esperava o maior tomar a palavra.

- Você anda se comunicando com Sirius Black?

Foi a gélida pergunta e o menino estremeceu inevitavelmente.

- Defina 'se comunicar', papai.

- Eu não estou brincando!

- Certo, desculpe – murmurou – Talvez eu tenha trocado uma ou duas cartas com ele.

- Por que?

Os olhos vermelhos estavam enraivecidos.

Enraivecidos de um jeito que Harry poucas vezes havia visto.

- Curiosidade – respondeu sinceramente – Pura curiosidade, papai, e eu acho que ele pode se tornar um bom Comensal da Morte.

- Nós já não conversamos sobre isso?

- Sim, eu sei. Ele pode estar do lado do velhote maluco, mas se não estiver, ele pode ser nosso aliado...

- Ele faz parte da corja do Dumbledore! Eu avisei você, Harry!

- Mas e se não estiver...

- Chega! Eu não quero voltar nesse assunto, você vai parar de se comunicar com ele imediatamente!

- Mas papai...!

- Você não vê que eu estou preocupado com você?

Aquelas palavras saíram tão naturalmente que até mesmo o Lord se surpreendeu, mas era verdade, ele estava preocupado com Harry e com a verdadeira ameaça que Sirius Black podia significar em suas vidas. E o menino, é claro, percebeu isso, e com um pequeno suspiro abraçou o pai, apoiando a cabeça no seu colo:

- Desculpe, papai, você está certo – murmurou – mas eu estava pensando apenas em conseguir aliados poderosos para os nossos ideais...

- Eu sei, pequeno, mas o Black é ardiloso, não quero que você se exponha a tal risco.

- Não se preocupe, garanto que ele não receberá mais nenhuma notícia minha – com o olhar decidido, Harry pegou o pergaminho das mãos de seu pai e o rasgou, reduzindo-o a tiras.

O Lord, é claro, sorriu, satisfeito com aquela atitude.

- E como ele sabe da sua Firebolt?

- Er...

- Harry?

- Porque foi ele que me deu.

Uma sobrancelha severamente arqueada foi o que o menino recebeu como resposta.

- Não foi o Theo que me deu... – suspirou – Na verdade, foi o Black.

- O que eu disse sobre mentir para o seu pai?

- Que eu não devo fazer tal coisa, a mentira é uma arte a ser aplicada apenas nos mais insignificantes.

- Muito bem.

- Desculpe, papai.

Tom apenas assentiu, bagunçando os cabelos do menino, seus pensamentos estavam centrados, porém, no último modelo lançado pela Firebolt com o qual presentearia seu filho, afinal, aquele imbecil do Black não poderia ser consagrado com um presente a altura dos seus. Oh, não, ele é o pai de Harry e como tal, provedor de presentes a sua altura, aquele tal Sirius Black não significava nada na vida do seu filho, nem nunca significaria.

-x-

Dias mais tarde, o povoado de Hogsmead era visitado por dezenas de adolescentes, alunos de Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang aproveitavam aquela ensolarada manhã de domingo para fazer compras, visitar alguns pontos turísticos – como a Casa dos Gritos – ou apenas beber cerveja amanteigada no Três Vassouras na companhia de seus amigos. Esta última opção fora escolhida por Harry e seus amigos, que, agora, estavam sentados no bar de Madame Rosmerta conversando sobre "trivialidades", tais trivialidades tinham nome e sobrenome: Pansy Parkinson. A menina não estava entre eles, pois fora convidada por Victor Krum para passar o dia com ele no povoado, e naquele exato momento, provavelmente, ela estava num romântico encontro com o búlgaro no Café Madame Puddifoot, no qual se encontravam em sua maioria casais apaixonados.

- Ele está se aproveitando dela, é óbvio!

- Blaise... – o pequeno Lord suspirou – Você está soando um pouquinho repetitivo.

- Mas ela não entende!

- Zabini, você está me irritando. Por que não se levanta dessa cadeira, vai até ela e se declara de uma vez? Assim, você pouparia tempo e os nossos ouvidos.

- Dray, querido, você é tão romântico quanto uma pedra de gelo.

- Sou romântico com quem interessa, mon amour, ou seja, com você.

Harry, é claro, corou, Theodore revirou os olhos com puro desdém e Blaise balbuciava alguma coisa que soava como: "declarar o que? Eu... Eu não sinto nada por ela... Digo, ela é minha amiga, nada mais".

Quando acabaram suas cervejas amanteigadas, as jovens serpentes seguiram para a Dedosdemel, pois Harry queria comprar algumas Penas de Algodão e Draco uns Sapos de Chocolate. Por sorte a loja não estava muito cheia, assim, eles conseguiram seus doces logo, mas quando já estavam de saía, a entrada de um casal os deteve. Victor Krum abraçando ninguém meno que Pansy Parkinson acabava de ingressar no local.

- Oh, Victor, você vai adorar as Delicias Gasosas!

- Delicias Gasosas?

- São sorvetes de frutas que nos fazem levitar.

- Que interrressante...

A irritada voz de Blaise, porém, interrompeu o casal:

- Vamos embora, gente, a pouca vergonha está chegando até aqui numa loja séria e de família.

- Algum problema, Zabini? – a menina perguntou friamente.

- Hum, eu não falo com traidoras.

- Pois para o seu azar, eu não me importo em falar com idiotas – com um sorriso malvado ela pegou a varinha e num rápido movimento levitou o garoto até deixá-lo cair na fonte de chocolate quente da loja, o que arrancou risadas de todos os alunos presentes, inclusive de Harry, Draco e Theodore – Principalmente se é para colocá-los no seu devido lugar!

- Você ficou louca?

- Não, mas você com certeza precisa de um banho.

A sorridente menina não pensou duas vezes antes de abraçar o divertido búlgaro, que não parava de gargalhar, e seguir com ele para outra loja. E ao notar o olhar enfurecido de Blaise, que dificultosamente conseguia sair de dentro da fonte, completamente banhado de chocolate quente, Harry não pôde evitar comentar com um sorriso nos lábios:

- Não adiante reclamar, Blaise, você mereceu.

- Ninguém mandou provocá-la – acrescentou Draco e assim, eles deixaram a loja entre risos, com Blaise amaldiçoando a menina a cada segundo.

O herdeiro da fortuna Zabini esperava apenas que aquele torneio acabasse logo para o maldito búlgaro desaparecer para sempre de suas vidas.

Faltava apenas uma prova.

Uma decisiva prova.

E tudo terminaria.

Continua...


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