O Pequeno Lord escrita por TassyRiddle


Capítulo 2
Capítulo 2




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O sábado amanhecera aconchegante e ensolarado nos arredores da imponente Mansão Riddle. O belíssimo quarto de um dos habitantes do lugar era logo iluminado pelos intensos raios de sol, mas mesmo assim o jovem que completava nesse mesmo dia onze anos não parecia muito animado em sair da cama.

Sem duvida aquela era uma das principais habitações – provavelmente o segundo maior quarto da mansão – e oferecia uma elegância natural aos olhos de qualquer um que entrasse, sem perder o característico ar inocente e cativante do seu dono. As paredes eram num tom creme e combinavam perfeitamente com o carpete bege. Havia um confortável sofá de três lugares, verde-escuro, ao lado de uma enorme estante de livros. Do outro lado encontrava-se uma escrivaninha em madeira escura, como o resto dos móveis, com pergaminhos, penas, tintas e tudo que o menino pudesse precisar. Era possível identificar também duas outras portas. Uma dava entrada ao enorme "closet" com milhares de vestes, sapatos e acessórios que provavelmente o menino precisaria de duas vidas para usar. E a outra oferecia o majestoso banheiro no mais puro estilo "grego-clássico", com diversos armários e uma grande banheira saindo diretamente do chão. De volta ao quarto, ao centro, jazia uma enorme cama para no mínimo três pessoas, onde atualmente o moreninho dormia alheio a tudo e bem espalhado. Os lençóis verde-escuro combinavam com as cortinas da mesma cor e em cima da cama encontrava-se um enorme quadro-mágico do próprio menino abraçado a uma serpente.

A mesma serpente que naquele momento esgueirava-se pela cama, até chegar à altura do belo rosto do garoto. Este, por sua vez, sentia algo gelado e escamoso percorrendo seu pequeno corpo, mas só despertou mesmo quando uma conhecida e ofídica língua tocou ternamente suas bochechas, num ato carinhoso o qual ele já estava acostumado. Tanto que não precisou nem abrir os olhos para dirigir-se àquela que o acordara:

- O que foi Nagini? Ainda é madrugada... – murmura ignorando o relógio na cômoda ao lado que já marcava 09h05min.

- Que aniversariante mais preguiçoso – comenta divertida – só vim avisar que seu pai está subindo.

Diante disso o menino apenas se aconchega mais e suspira sonolento.

- Hoje não tenho aulas, então ele não pode me castigar por dormir de mais...

É claro que nenhuma criança gosta de ser castigada, ainda mais se o castigo for um "crucio" do Lord das Trevas. Obviamente Tom sempre aplicava a maldição apenas por escassos segundos e com pouca força, o suficiente para Harry "entender", mas mesmo assim o menino tinha em mente que sempre era bom evitar.

Mas como na noite anterior seu pai anunciara sua "folga dos estudos" devido ao aniversário, Harry sabia que podia dormir o quanto quisesse sem ser jogado para fora da cama em direção a alguma aula maçante. Nagini, no entanto, apenas se divertia com a inocência do menino.

- Não seja bobo Harry, ele vem trazendo o seu presente.

- Meu... Presente?

Na mesma hora duas brilhantes esmeraldas se deixam contemplar, entusiasmadas, ao mesmo tempo em que a porta do quarto se abria dando entrada ao imponente homem de quem falavam.

Lord Voldemort adentrava no local mantendo sua conhecida expressão impassível no rosto, apenas o divertido brilho em seus olhos podiam mostrar a satisfação que sentia ao contemplar seu jovem herdeiro. Os anos não representaram nenhuma mudança para o Lord que mantinha seu semblante adulto e másculo de um belo homem de trinta e poucos anos, da mesma forma que se encontrava quando trouxera o menino para a fortaleza. Seu corpo forte e bem trabalhado estava oculto por uma calça negra e uma elegantíssima camisa de seda na cor vinho, acentuando ainda mais seus belos e ameaçadores olhos. A capa negra fazia características ondas ao caminhar, completando o visual imponente que amedrontava a todos. Todos, exceto o menino e a serpente que o encaravam desde a cama.

Os olhos verdes de Harry preocupavam-se mais em captar a caixa negra, com alguns furos e um laçarote verde esmeralda, indicando que aquele era o seu tão esperado presente. No entanto, o menino estranhava um pouco, pois a caixa não era tão grande como os presentes que seu pai sempre lhe dava, mas longe de aborrecê-lo isso o instigava ainda mais.

- Pretende passar o dia inteiro na cama? – Voldemort pergunta, abandonando o semblante frio para adotar aquele ar amigável que apenas Harry conhecia, sentando-se ao lado deste na cama.

- Não, papai, Nagini já fez o favor de me acordar – suspira.

- Hey! Fale no meu idioma para que eu possa me defender!

Os dois deixam escapar uma risada divertida com o tom indignado da serpente.

- Só estou comentando que você, querida Nagini, fez a gentileza de me acordar tão carinhosamente hoje...

- Sei...

- Bom, se vocês vão ficar discutindo talvez eu deva entregar seu presente depois Harry – comenta como quem não quer nada, já se levantando da cama, para desespero do menino.

- NÃO! Espera... – segura com força a manga da túnica de Tom, encarando-o com os olhinhos de cachorrinho perdido que o Lord não resistia, ainda que não admitisse.

Ainda de costas para Harry, Voldemort sorri sem maldade ou malicia daquele jeito que qualquer Comensal se mataria ao presenciar, por achar que havia ficado louco. E ainda sorrindo ele se volta ao menino, estendendo-lhe a caixa.

- Feliz Aniversário, Harry.

- Obrigado, papai! – Harry sorri logo se apoderando da caixa e dando um beijo estalado na bochecha de seu pai. Coisa que deixou o Lord completamente deslocado, pois ainda que o amasse e tentasse demonstrar sempre da melhor forma, Harry sempre o surpreendia com essas efusivas e naturais amostras de carinho.

Na mesma hora o menino desfaz o laço, destampa a caixa e contempla o presente com seus olhos verdes brilhando de emoção.

Era simplesmente magnífico.

Nunca imaginara que o Lord algum dia fosse presenteá-lo com algo assim. E pelo semblante petrificado e incrédulo de Nagini estava claro que ela também não sabia que era este o presente.

O maravilhoso presente...

- É uma "metamorfocobra" – Tom explicava – seu semblante original é o de uma Naja Negra, mas pode se transformar em qualquer serpente do mundo. Desde uma simples cobra d'água até um Basilisco.

De fato, dentro da caixa encontrava-se uma belíssima Naja com penetrantes olhos verdes iguais aos seus e escamas negras como a noite. A bela serpente encarava-os com curiosidade, mas não se mostrava intimidada, mesmo sob o olhar mortal que Nagini lançava.

- Ela funciona como uma espécie de guardiã que estará sempre ao seu lado. Desde já você é o amo e ela sua protetora.

- Mas Tom...! – Nagini interrompe, porém o olhar de advertência do Lord a mantém calada.

- Então... – o adulto continua – O que achou?

Harry parecia em outro mundo, pois seus olhos estavam fixamente conectados com os da bela serpente. Como se estivessem se reconhecendo na qualidade de amo e guardiã.

- Maravilhosa... – finalmente murmura – Ela é linda...

- Obrigada, jovem amo – diz com certa auto-suficiência – para mim, é um prazer proteger e aconselhar um humano tão belo e puro como você.

O menino apenas cora intensamente diante do olhar divertido do Lord e ela continua:

- Posso sentir, pelo encantamento que nos conecta, todo o brilho em seu coração e farei de tudo para mantê-lo assim.

- Er... Obrigado...

- Você deveria dar um nome a ela, não? – Tom sorri, contemplando a felicidade que o menino emanava.

- Um nome? – pergunta, vendo o mais velho e a nova serpente assentirem ao mesmo tempo.

Nagini, por sua vez, olhava com desconfiança e rancor para a nova serpente que capturava todas as atenções do SEU pequeno Harry, mas não se atrevia a dizer nada por ordem do Lord. É claro que tomaria satisfações com ele depois. Afinal, nada, serpente nenhuma, era melhor do que ela para proteger seu pequeno filhote.

- Bom, deixe-me ver... – murmura pensativo, mas após alguns minutos em profunda introspecção Harry logo sorri.

- Então?

- Morgana.

- Morgana... – repetem o Lord e a nova serpente.

- Exato. Em homenagem à discípula de Merlin, a mais bela bruxa da ilha de Avalon, onde Merlin a criou e ensinou como sua própria filha, tornando-a uma sábia e habilidosa mulher que não se submetia a ninguém. O símbolo da força de uma verdadeira bruxa, ou no caso, de uma sábia e bela serpente.

Tom sorri, ocultando sua surpresa com os conhecimentos históricos do menino, pois este sempre se mostrava pouco entusiasmado com as aulas de Historia da Magia que Lucius lhe ensinava. Mas seu pequeno Harry era assim, sempre surpreendia a todos com suas habilidades. Não era por nada que o menino fora destinado a ser seu herdeiro.

- Então, o que achou? – Harry pergunta a serpente e esta parece sorri emocionada. Isso é claro, se as serpentes sorrissem emocionadas, mas pelo tom de sua voz era evidente sua excitação:

- Perfeito, amo! Com certeza de muito bom gosto...

- Hum, puxa-saco! – Nagini murmura, irritada.

Harry, por sua vez, apenas sorri e abraça a ciumenta serpente ao seu lado.

- Não fique assim, Nagi, você sabe que é mais do que uma mãe para mim... Ninguém jamais tomará o seu lugar.

- Hum... – solta um grunhido, um pouco mais calma, mas sem deixar de encarar com desprezo a bela Naja de pouco mais de dois metros.

Tom, diante da cena, parecia se divertir mais do que qualquer coisa, pois sabia como sua fiel conselheira podia ser ciumenta e possessiva com quem amasse. Como ele próprio, ainda que esse pequeno fato jamais admitisse. Mas o que mais satisfazia o sempre frio e inescrupuloso homem era ver aquele sorriso sincero e cativante nos lábios do seu pequeno Harry enquanto este deixava sua nova guardiã subir pelo seu dorso e cheirá-lo constantemente para reconhecer e gravar sua essência.

- Harry... – o Lord volta a capturar a atenção do menino, sentando-se ao seu lado – Hoje às sete horas quero que você esteja pronto com a túnica que encontrará em sua cama, entendeu?

- Sim, papai.

- Haverá um baile comemorativo em homenagem aos seus onze anos, pois como você sabe essa é a idade em que um mago se apresenta à sociedade.

- Podendo, finalmente, ir para a escola...

-... Exato – o interrompe – mas falaremos disso depois. Entre hoje e amanhã deve chegar sua carta de Hogwarts.

- Não vejo a hora! – diz entusiasmado.

Porém o Lord adota um semblante frio, como se pensasse em outras coisas relacionadas.

- Sei... – suspira, voltando a encará-lo normalmente – Em todo o caso esteja impecável e para o seu bem trate de se comportar.

- Certo, certo – revira os olhos, imaginando que seria mais um daqueles bailes chatos e sem diversão da alta sociedade – pode deixar, papai.

Tom deixa escapar um sorriso pela conhecida atitude do filho.

- Não se preocupe pequeno, é seu aniversário, portanto o jovem Malfoy e os filhos dos outros Comensais estarão aqui.

- Sério? – sorri animado.

- Sim, mas trate de ir com calma, viu?

- Oh papai! Prometo que serei um bom garoto, não se preocupe! – promete, jogando-se nos braços do pai num carinhoso e agradecido abraço que este correspondeu com um sorriso inconsciente nos lábios.

- Er... Amo Harry? – uma voz os surpreende – Está... Er... Esmagando...

Ao ouvir a voz abafada de Morgana, o menino logo se afasta, lançando um olhar reprovador a Nagini, quem parecia desfrutar da situação da pobre serpente.

- Desculpe Morg, sinto muito.

- Não se preocupe jovem amo, e a propósito, parabéns.

- Obrigado – sorri acariciando-a ternamente, para profunda irritação de Nagini.

Mas antes que a ciumenta serpente pudesse interromper, ou quem sabe avançar na "rival", Tom se volta ao menino:

- Então ande logo, Harry, porque ainda há um longo dia pela frente. Um dia cheio de mimos e consentimentos que você só usufrui uma vez ao ano.

- Haha!... Até parece, papai, nisso nem você acredita – encarava-o com diversão.

- Hum... – Tom suspira pensativo – Ok, digamos que hoje é um pouco mais descarado...

- Aí pode ser – mostra a língua, sorrindo.

- Anda logo pirralho! – sorri também, puxando-o para fora da cama.

Assim o dia seguiu nesse intenso e divertido ritmo. Harry e Tom desfrutando das comidas favoritas do mais novo no café da manhã e no almoço, jogando xadrez-de-bruxo, apostando corrida com vassouras, nadando e se divertindo na enorme piscina da mansão, entre outros diversos jogos. Situações onde ninguém imaginaria ver o "Terror do Mundo Mágico" desfrutar, mas que este fazia, pois estava na companhia do único que conseguia derrubar sua máscara de crueldade e frieza. Aquele que lhe garantia a glória eterna. Aquele que lhe garantia uma verdadeira companhia.

-x-x-x-

O relógio ao lado da cama já marcava 18h50min quando Harry dava uma ultima olhada no espelho de corpo inteiro, maior do que ele, e conferia seu visual. A nova túnica que o Lord escolhera e deixara em cima de sua cama era, sem duvida, de muito bom gosto. No mais puro estilo grego antigo a belíssima túnica verde esmeralda com pequenos diamantes cravejados caía como um pequeno vestido, sendo amarrada por fios de ouro branco na cintura, mantendo os ombros descobertos e com um caimento leve que se movia graciosamente ao andar. Era o tipo de túnica que não precisava usar calça ou camisa por baixo, sendo apenas necessária a bela sandália estilo "gladiador-romano" na cor prata, que dava voltas e amarrava em sua canela. Para completar o "look" Harry também contava com dois braceletes em forma de serpentes, feitos de ouro branco, um em cada braço, que acentuavam seu ar elegante e ao mesmo tempo encantador. A capa prateada pendia de seus ombros, estando presa por dois broches com belos desenhos de serpentes em auto-relevo, chegava aos pés da túnica quase roçando no chão e aguçava ainda mais o brilho natural de Harry. Mas o que o menino tentava domar agora era o seu rebelde cabelo, porém isso se mostrava uma tarefa impossível, pois os belíssimos fios negros caíam graciosamente pelo rosto dando um ar infantil e cativante.

- Está perfeito, jovem amo.

- Hum... Tem certeza, Morg? – suspira passando mais uma vez os dedos por entre as suaves e incontroláveis mechas.

- Absoluta, amo. Mas aconselho que se apresse, pois seu pai não ficará feliz com um eventual atraso.

- Oh Merlin! – olha o relógio e logo agiliza, acomodando uma ultima vez a túnica e estendendo o braço para que a bela Naja Negra se acomodasse ao redor do seu corpo.

Em questão de poucos minutos Harry já estava parado no topo da escada que o levaria ao enorme salão, onde centenas de pessoas bem vestidas e elegantes desfrutavam de conversas amenas, caríssimos espumantes importados e dos diversos canapés que ele particularmente sempre detestara. Mas não demorou muito para que todos os olhares se voltassem a ele. Olhares cheios de orgulho e admiração.

Aquele belo jovem no topo das escadas era a personificação viva de todo o grandioso poder do Senhor Obscuro.

Aquele belo jovem era o símbolo de adoração de todos os Comensais fieis ao amo.

Aquele belo jovem era Harry Riddle, herdeiro do Lord das Trevas.

- Pode ir dar uma volta, Morgana – sussurra à serpente e esta logo se desenrola do seu corpo.

- Obrigada, amo Harry, nos vemos mais tarde.

Sorrindo à nova amiga, que já sumia em direção à cozinha, Harry começa descer os degraus sem pressa, com aquele característico andar imponente herdado de seu pai. No entanto, a elegância logo dá lugar à alegria e ao entusiasmo quando vê aquele conhecido garoto o encarando desde os pés da escada. Era impossível não reconhecer aquele porte aristocrático, uma réplica perfeita de seu padrinho, as vestes caras que hoje consistiam em uma elegante calça negra e uma bela camisa cinza-clara combinando perfeitamente com seus olhos que brilhavam ainda mais com o toque da suave capa branca de seda. O cabelo loiro impecável, o olhar frio, mas que no fundo mostrava clara excitação. E o conhecido ar de "sou-melhor-que-todos". Definitivamente aquele era o seu melhor amigo. Diante disso Harry não pensou duas vezes, quando estavam a menos de três degraus de distância, e se lançou naqueles conhecidos braços.

- Draco!

O loiro, por sua vez, sorria abertamente daquele jeito que só fazia com Harry, mantendo este firmemente sujeito em um apertado abraço. Mesmo sendo apenas poucos meses mais velho, estava claro que Draco era quase uma cabeça e meia maior do que Harry e adorava usar isso para irritá-lo, sempre recebendo ameaças de maldições que o levavam a altas gargalhadas. Mas o fato é que desde que se conheceram, com mais ou menos três anos de idade, o jovem herdeiro da fortuna Malfoy se encantou com a inocência e expressividade de Harry, e jurou para si mesmo que sempre cuidaria e protegeria seu novo amigo. A partir de então se tornaram inseparáveis.

- Feliz aniversário Harry! – o aperta, bagunçando o pobre cabelo do menino.

- Hei! Meu cabelo! – suspira exasperado -... Mas já faz muito tempo que você chegou?

- Um pouco...

- Por que não foi me ver lá em cima?

Os olhinhos de cachorrinho abandonado de Harry fizeram o maior balançar a cabeça negativamente, suspirando:

- Porque o Lord disse que você demoraria uma eternidade.

- Oh! Que calúnia!

- Sei... Sei... – diz entre risos.

- Bom, vamos procurar alguma coisa interessante para fazer antes que...

- Harry? – uma voz os interrompe.

-... O meu pai me ache – suspira – sim, papai?

Atrás dos dois se encontrava um imponente homem com profundos olhos escarlates. Seu corpo tentador estava coberto por uma elegante túnica negra, com leves detalhes em rubi, mantendo nos ombros uma belíssima capa de veludo que completava perfeitamente sua majestosa imagem.

- Jovem Malfoy – cumprimenta elegantemente, recebendo uma educada reverência como resposta – temo só que possa ceder-lhe o aniversariante mais tarde.

- Como desejar, Mi Lord – repete as palavras que seu pai lhe ensinara desde cedo, desprovidas de qualquer emoção.

- Mas...

- Mas nada, Harry. Quero que você cumprimente algumas pessoas.

Sem ter outra opção, Harry apenas revira os olhos, deixando-se guiar em direção aos demais convidados.

O ambiente nem de longe parecia ao de um aniversário comum de onze anos que normalmente contaria com crianças e mais crianças correndo e quebrando tudo pela casa, sujas e sem noção de limites, mas isso não importava nem um pouco para o menino que queria apenas desfrutar da presença de seus amigos. Harry sabia que festas desse tipo eram boas para os negócios de seu pai e o que ele mais queria era ajudá-lo em tudo, por isso valia à pena cumprimentar elegantemente dezenas de pessoas que jamais vira na vida. Por outro lado, o clima era até bem agradável. A música clássica tocada por uma gabaritada orquestra de magos contratados ressoava ao fundo, acentuando o ar aristocrático, porém envolvente. Ainda que não lhe agradasse tanto os canapés, podia sempre comer os doces finos que eram constantemente renovados na grande mesa do bufê e mesmo não podendo tomar o espumante – devido ao teor alcoólico – sempre podia contar a mesma bebida um pouco diluída em água para as crianças já se acostumarem ou então com deliciosos sucos de frutas da estação.

Havia algumas mesas dispostas estrategicamente pelo salão, onde alguns convidados descansavam da valsa ou saboreavam um dos deliciosos pratos oferecidos. Os outros convidados encontravam-se espalhados pelo local, conversando entre si, bebendo e se divertindo daquele jeito que só a mais alta classe de sangues puros sabia fazer. Todos usavam vestes caríssimas, com diversos adornos e jóias. As mulheres contavam com deslumbrantes vestidos longos, em diversos tons, um mais lindo que o outro. Enquanto os homens usavam seus trajes de gala com suas melhores túnicas. As poucas crianças que circulavam por ali – das quais, Harry só conhecia cinco ou seis - imitavam a pose altiva dos pais, com uma perfeita mascara de frieza que aprenderam a levar desde cedo.

- Harry... – o Lord interrompe a "análise" que menino fazia da festa -... Cumprimente Severus Snape, ele será seu professor de Poções em Hogwarts.

- Prazer em conhecê-lo, professor – diz educadamente, encarando o homem de ar mal-humorado que usava uma simples túnica negra.

Severus, no entanto, parecia sofrer um conflito interno, mas mantinha-se impassível como sempre.

Oh, Merlin! Aquele era... Potter!

Era o filho de Lily!

Era...

- O prazer é meu, pequeno Lord.

O professor de poções sabia que encontraria o menino ali, só não esperava que se parecesse tanto ao seu falecido inimigo James Potter, ainda que tivesse algo diferente. E não, não eram apenas os belos olhos de sua querida Lily Evans. Era aquela expressão indiferente e cheia de imponência que o jovem herdeiro de Voldemort naturalmente emanava. Expressão esta que Harry sempre adotava com quem não confiava ou desconhecia.

- Severus cuidará para que você não fique a mercê daquele velho maluco.

Harry sorri divertido diante do comentário de seu pai, o que deixa o professor ainda mais petrificado. Afinal, mesmo conhecendo histórias de que o menino era tratado como um príncipe, sempre imaginara uma relação mais fria entre o Lord e seu herdeiro. Mas pelo visto estava enganado.

O que lhe preocupava profundamente.

Pois sabia que Dumbledore não iria gostar nem um pouco disso.

- E este é Quirinus Quirrell – Tom continua, indicando o homem que acabava de se juntar a eles – será o novo professor de Defesa Contra as Artes Obscuras.

- Hum, matéria inútil... – Harry murmura arrancando um sorriso satisfeito de seu pai e um aperto no coração de Snape.

O homem que usava um estranho turbante vinho, combinando com sua túnica, parecia, no entanto, emocionado e logo fez uma exagerada reverência.

- É um...um.. imee...imenso... pra...praaa...prazer... fin...finalmente... co..co..conhecê-lo... se...senhor!

- Er... Igualmente – arqueia uma sobrancelha, com uma elegância imprópria num menino de onze anos, o que acabou arrancando um sorriso torcido de Snape e um olhar orgulhoso por parte do Lord.

Assim, após cumprimentar educadamente mais algumas dezenas de pessoas que sequer sabia da existência – partidários influentes de seu pai – Harry finalmente recebe carta branca para ir ao encontro de seus amigos. É claro que não demorou muito a encontrar uma conhecida cabeleira loira que só podia pertencer ao menor dos Malfoy, este conversava com mais quatro pessoas de sua mesma idade, na verdade com apenas duas, pois os outros dois "ogros" pareciam mais preocupados em encher a boca de canapés, deixando as migalhas caírem pelas vestes roxas sem graça.

- "Crabbe e Goyle" – pensou de imediato.

Por outro lado, as outras duas pessoas que acompanhavam Draco mostravam-se impecáveis. Uma era sua amiga e eterna consultora de moda – ele querendo ou não - Pansy Parkinson. Uma menina divertida e expressiva que escondia uma forte personalidade por trás do inocente corte chanel e andava sempre como uma pequena princesa, tanto é que no momento encontrava-se com um lindo vestido meia manga na cor vinho e finas jóias adornando seu rosto, pulço e pescoço, que a deixavam ainda mais meiga, constratando com sua pouca idade. Ao lado dela estava o esperto e sempre perspicaz Blaise Zabini, um garoto único, divertido e que com suas idéias mirabolantes de "curiosas investigações" era sempre garantia de boas risadas. Blaise também estava elegância pura com um conjunto de calça e camisa de seda, ambas na cor petróleo, que combinavam perfeitamente com a elaborada túnica cobre que levava por cima e que acentuava ainda mais seus belos olhos castanhos.

Desde que se entendia por gente, Harry os conhecia e apreciava como seus melhores amigos, não tão próximos como Draco, mas ainda sim muito queridos. Mal podia esperar para estarem juntos em Hogwarts, aprontarem e se divertirem como nunca imaginaram antes. E por sinal, era esse o tema da conversa quando chegou: Hogwarts.

- Slytherin, com certeza... – Blaise sorria com auto-suficiência, arrancando uma risada divertida do aniversariante que acabara de chegar ao seu lado.

- Harry! – Pansy se lança ao pescoço dele, sorrindo – Parabéns! Oh, que túnica linda! Combina com seus olhos!

- Obrigado, Pansy, obrigado... – diz entre risos.

Ao contrário de muitos outros filhos de Comensais, que queriam se aproximar dele só por interesse ou ordem de seus pais, os quatro – sim, até os gorilas de escassos neurônios - apreciavam e se divertiam verdadeiramente na companhia de Harry. E este sabia que os efusivos comentários de Pansy eram verdadeiros, que as piadas de Blaise não eram apenas para agradá-lo, que Draco estava sempre com ele porque desfrutava disso e que Crabbe e Goyle... Bom, estes não pensavam tanto para ter uma presença notória em sua vida, mas do seu próprio jeito sabiam ser simpáticos e agradáveis.

- Sim, você está realmente encantador nessa túnica Harry... Digo, ainda mais...

E obviamente também não poderia faltar: Theodore Nott.

Para grande irritação de Draco Malfoy.

O herdeiro da fortuna Nott era um garoto inteligente, bonito, da mesma altura de Draco, com um cabelo negro ligeiramente revolvido – não tanto quanto o de Harry – e frios olhos azuis que só adquiriam certo brilho de emoção quando estava com o jovem herdeiro de Voldemort. Não se preocupava em fazer amizades ou conversar com alguém, preferindo sempre um bom livro de Artes Obscuras. Exceto quando se tratava de Harry, é claro. Com o moreninho, Nott sempre se mostrava preocupado e atencioso, adorava brincar com ele e fazer tudo que o menino quisesse, chegando quase a se equiparar a Draco em certas ocasiões, o que deixava o loiro para morrer, ou matar, no caso. Mas o fato é que desde que conhecera Harry, há mais de seis anos, sentiu que ele seria SEU amigo e que ninguém poderia se intrometer na amizade dos dois. Ainda que Harry não estivesse ciente, Nott sabia que sua amizade deveria pertencer só a ele e a ninguém mais. O que obviamente gerava grandes conflitos com o herdeiro da fortuna Malfoy...

- Obrigado, Theo... – Harry sorri, mas antes que pudesse continuar Draco o interrompe com um olhar de poucos amigos:

- Não tinha uma túnica menos Revenclaw, Nott?

- Não tinha uma túnica que o deixasse menos pálido, Malfoy? – responde no mesmo tom frio.

De fato o menino usava uma elegante calça negra e uma camisa azul petróleo de seda. Por cima caía uma belíssima túnica azul-escura com pequenos detalhes em safiras que acentuavam a envolvente cor de seus olhos. Asseado e sofisticado, mas que Draco sempre conseguia encontrar um defeito.

- Hum, já vão começar a brigar – Pansy murmura para Blaise e este balança a cabeça, apenado.

- É sempre assim...

Mas antes que Draco voltasse ao tema, Theodore já se dirigia a Harry, abraçando-o.

- Parabéns Harry, espero que goste do meu presente, já deixei junto com os outros – pisca, arrancando um lindo sorriso do menor.

- Que presente? – pergunta, animado.

- Chama-se Espelho de Inimigos – olha de soslaio para Malfoy - tem o objetivo de mostrar os inimigos de quem o possui. Quando os vultos que nele aparecem ficarem nítidos, significa que eles estão por perto.

- Uau! – diz emocionado, abraçando-o com força novamente.

- Pois eu, Harry – Draco interrompe, colocando sua melhor pose de "você-não-chega-aos-meus-pés-Nott" com um sorrisinho de lado no rosto – Te dei um Espelho de Dois Sentidos, para nos comunicarmos sempre que quisermos. É só você me chamar que o meu começa a brilhar e quando eu tocá-lo você aparece para conversarmos. E vice-versa, é claro.

- Uau! São bem legais mesmo! – sorri indo abraçar o loiro, mas Theodore o detém:

- É claro que o meu é muito mais útil, não é Harry?

- Er... – murmura, mas Draco o interrompe, segurando-lhe o outro braço.

- O meu é muito mais interessante! Harry poderá me chamar para nós dois brincarmos juntos sempre que quisermos!

- Sim, mas... Ai! – sente Theo puxar, em seguida Draco. Como se o fizessem de "cabo-de-força".

- O meu presente é melhor!

- O meu que é!

- O meu!

- O meu!

- Não, o meu!

- Não seja idiota, papai disse que nada se compara ao meu!

- Hum! Pois seu pai não conhecia o meu presente então!

- Calma, gente, eu gostei dos dois... – Harry tentava acalmá-los, não querendo nem imaginar a cena que seria se seu pai chegasse agora.

Por sorte Draco e Theodore haviam soltado o menino, para discutirem com mais ímpeto e comodidade – ou seja, voar um no pescoço do outro a qualquer instante – e dessa forma Harry aproveitou para esgueirar-se silenciosamente para longe dos dois, sendo acobertado por Pansy e Blaise.

- "Credo, quase fiquei sem braço..." – pensava, balançando a cabeça negativamente enquanto parava no marco da sacada e contemplava o belo jardim banhado pela lua. Já se encontrava fora do salão, mais precisamente no enorme terraço que oferecia uma bela vista naquele instante. Uma vista que desde pequeno gostava de apreciar.

A luz da lua cobria todo o belo jardim da Mansão, certas flores só se revelavam naquela hora da noite e era impossível não se encantar com os sons dos pequenos animais do enorme bosque que cercava os fundos da Mansão, ainda que tivesse plena consciência de que não eram só animais bons que se encontravam ali, na verdade a maioria perigosos, era impossível não ser cativado por tamanho esplendor.

- Estou te falando! Cuide direito daquele projeto de serpente que você ganhou ou ela será o meu jantar!

- Ahn?... Nagini? – arqueia uma sobrancelha, vendo a estressada serpente chegar ao seu lado. Estranho, pois nunca pensara que as serpentes tivessem estresse. Bom, Nagini não era qualquer uma, é claro.

- Aquela minhoca crescida fez um tremendo estrago na cozinha! – esbravejava – Onde já se viu? Brincar de assustar os elfos domésticos! Agora é que eles morrem de vez!

- Nagi, relaxa... – sorria divertido – Ela só estava se distraindo.

- Distraindo? Oh, Onde já se viu! Parece até um filhote! Mas também, o que eu podia esperar? Essa lagartixa ainda nem saiu dos ovos! Hum! Mas ela que não me tente...

É claro que Harry já deixara de ouvir as reclamações da serpente há tempos. Seus pensamentos agora estavam perdidos num futuro próximo. Num futuro que qualquer garoto de onze anos gostaria de desfrutar. Sua mente lhe dizia que logo estaria em Hogwarts. Poderia se divertir com seus amigos, explorar todas as maravilhas do lugar, conhecer coisas novas e o mais importante, aprender mais para ajudar seu pai quando chegasse à hora, além de aproveitar para manter o velhote maluco sob vigia, pois jamais deixaria que este "amante-de-Muggles" prejudicasse aquele que o criara e amara como um filho.

- Harry? – uma conhecida voz o surpreende, interrompendo seus pensamentos – Espero que você entre logo para dar um jeito em Nott e Malfoy, parece que a qualquer instante eles estarão rolando pelo chão e eu não quero ter que distribuir "crucios" no dia do seu aniversário.

Harry, no entanto, parece nem escutar e apenas sorri abraçando seu pai:

- Mesmo quando eu estiver em Hogwarts não estarei longe de você.

A princípio Tom é pego de surpresa, mas logo corresponde, estreitando-o em seus braços.

- Eu sei pequeno, para isso temos a conexão, lembra? –pisca de forma divertida.

- Sim, isso também, mas o que eu quero dizer é que estarei me preparando para ajudá-lo quando chegar à hora, papai.

O Lord sorri sinceramente, daquele jeito que só fazia com Harry.

-Muito bem, pequeno, mas não deixe de se divertir e aproveitar. Quero que você usufrua de tudo que eu não usufruí, em Hogwarts e no resto do mundo, entendeu? Quero que você seja feliz.

Harry o abraça mais uma vez, com aquele doce e especial sorriso que tinha guardado apenas para ele, e sabendo que não eram necessárias mais palavras segue de volta ao salão.

O Lord, entretanto, suspira:

- "Esse pirralho está me deixando muito sentimental..." - balançando a cabeça negativamente, sem deixar o pequeno sorriso sumir de sua face.

- O pai do ano... – Nagini comenta divertida, ganhando um olhar gélido de Tom, mas ela sabia que o coração daquele que também seguia de volta ao salão já não era feito de gelo – Graças ao pequeno Harry...

Continua...


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