_É ele – disse Evy.

  Antes que o teto caísse literalmente me cima de nós, ela segurou o braço de Jacob e os dois desapareceram. Luv fez o mesmo comigo. Estávamos novamente na frente da loja de CD’s.

  _Temos que sair daqui – falei. – Ele já deve ter percebido que desaparecemos.

  _Se continuarmos nos teletransportando, ele vai conseguir sentir nossa energia e irá atrás de nós onde quer que seja.

  _O que devemos fazer então? – Jake perguntou.

  _Correr – disse Evy. – E rápido!

  Fizemos o que ela disse. Começamos a correr o mais rápido que conseguimos. Miguel provavelmente iria atrás de nós, mas pelo menos não sentiria nossa energia.

  _Não podemos correr para sempre – falei. – Ele vai nos pegar uma hora ou outra.

  _Madeira! – Disse Luv. – Precisamos de mais algum lugar com madeira.

  _Mas ele conseguiu nos achar – disse Jacob. – E o nosso esconderijo era todo revestido de madeira.

  _A culpa foi minha – disse Evy. – Eu tive que me teletransportar para cá. Ele deve ter sentido a minha energia.

  _Tudo bem – falei. – Precisamos encontrar uma casa de madeira. Logo!

  Continuamos correndo. Eu sabia que Miguel já devia estar a nossa procura novamente, mas não conseguia sentir direito nossa energia.

  Então, um barulho agudo e ensurdecedor invadiu meus ouvidos. Tive que levar as mãos até eles para tentar abafar um pouco, mas era em vão. Tive que gritar, e acabei caindo de joelhos no chão. Jake também estava da mesma forma, tentando abafar o som. Eu só estava assim por minha parte humana. Luv e Evy estavam bem, olhando ao longo do céu para ver se vinha alguma coisa. O barulho parou, e foi como se minha cabeça tivesse ficado em branco. Não consegui escutar nada por um momento. O som foi voltando aos poucos, e um raio atingiu o chão, jogando Luv e Evy para bem longe. Jacob se arrastou até mim, me envolvendo em seus braços. Como se nada tivesse acontecido, Luv e Evy já estavam de pé novamente. A nossa frente, envolto por uma forte luz branca, estava Miguel, com suas enormes asas abertas. Jacob e eu levantamos devagar – Luv e Evy estavam a nossa frente, como um escudo protetor. Encaramos Miguel.

  _Anjos e humanos não podem se apaixonar – Miguel bradou. – As consequências podem ser terríveis! E a conseqüência para vocês dois virá agora!

  Ele inclinou o corpo para frente e investiu contra nós, mas foi detido pelo escudo invisível que Luv havia criado – digno de um arcanjo.

  Se preparando para a luta que estava prestes a começar de verdade, Evy liberou suas asas. Não eram tão grandes como as de Miguel, mas ainda assim eram lindas e perfeitas. Luv fez o mesmo, mas não foram suas asas médias de cupido que apareceram em suas costas. As asas de Luv eram gigantescas, maiores até que as de Miguel, e reluziam. Por um momento fiquei hipnotizada por aquelas asas, nunca imaginei meu amigo com uma dessa.

  Luv encarava Miguel – que tentava se recuperar do baque -, quando sua voz ecoou em minha cabeça.

  Vamos distraí-lo. Fuja com Jacob o mais sorrateiro possível. Encontrem uma casa de madeira. Nos encontramos assim que possível. Vá!

  No momento seguinte, todo a área em que Luv, Evy e Miguel estavam, foi coberta por uma forte luz branca, nos impedindo de enxergar qualquer coisa que se passasse ali. Entendi que aquilo era a cápsula de luz. Ninguém de fora enxergava o que se passava lá dentro; e ninguém de dentro enxergava o que se passava aqui fora.

  _É a nossa deixa – falei para Jacob, segurando sua mão com força. – Temos que encontrar uma casa de madeira.

  Ele assentiu.

  Me virei para irmos embora, mas ele fez com que eu parasse. Me puxou para junto de seu peito e me beijou.

  _Caso aconteça alguma coisa – disse ele.

  Dei um meio sorriso, e assim que ouvimos um estrondo vindo de dentro da cápsula, saímos correndo.

  Passamos por ruas e mais ruas. Todas as casas eram de concreto ou madeira falsa.

  _Será que eles ainda estão segurando as pontas? – Jake perguntou.

  _Espero que sim – falei.

  Jake assentiu, então parou subitamente, me segurando no lugar.

  _O que foi? – Perguntei.

  _Tem uma fazendo a poucos minutos daqui – disse ele, olhando ao redor. – O celeiro. Celeiros são feitos de madeira.

  Tentei entender o que ele disse.

  _É, você tem razão – falei. – O que está esperando? Nos leve agora mesmo para lá!

  Ele assentiu, e fomos o mais depressa possível para essa tal fazenda.

  Jake fechou bem a porta e se sentou ao meu lado no amontoado de palha.

  _Você já veio aqui – falei. – Eu já vi. Só não me lembro o porquê.

  _É a fazenda do noivo de Rachel – disse ele. – Ele só vem aqui nos finais de semana. Passamos alguns dias aqui com a família dele uns tempos atrás.

  Assenti, então me encolhi, abraçando minhas pernas. Ficou frio de repente.

  _Não estava tão frio assim – disse Jacob me abraçando.

  _Desordem – falei. – É uma conseqüência pela luta que eles estão tendo. Daqui a pouco passa, mas aí vem o calor.

  _Esse não deve ser tão ruim – disse Jacob, depois deu uma risadinha. Não entendi o que ele quis dizer com isso.

  Segurei sua camisa com as pontas dos meus dedos, encostando minha cabeça em seu peito. Meus dentes começaram a bater um no outro. Jake estava conseguindo segurar o frio, mas eu não.

  _Atlanta inteira deve estar batendo os dentes – falei. – Só mais cinco minutos de sofrimento. Pelo frio, quero dizer. O calor é o pior de todos. Você sufoca.

  Senti o corpo de Jake estremecer e vi que agora ele estava ficando mesmo com medo.

  _Não chega a morrer – garanti. – É só um sufoco.

  Ele assentiu e me abraçou mais forte ainda.

  Exatamente cinco minutos depois, o ar ficou amenizado, esquentando aos poucos. Nos afastamos, tentando diminuir o calor, mas era impossível. Nesse ponto, já estava insuportável. Jake tirou a camisa e teve que se conter para não tirar as calças também. O suor escorria por seu corpo e ele andava de um lado para o outro. Eu também estava assim. Segurava meus cabelos no alto e me segurava para não tirar alguma peça de roupa. Acabei levantando só um pouco a blusa, deixando a barriga à mostra.

  _Quanto tempo? – Jake perguntou.

  _Mais dois minutos – falei, quase sem ar.

  Parecia que minha garganta poderia fechar a qualquer momento. O ar que entrava em meus pulmões era quente e agoniante. Por um momento achei que fosse literalmente torrar.

  Dois minutos depois, o ar se amenizou mais uma vez e começou a chover. Não estava frio de mais nem quente de mais. Estava normal. A chuva era a terceira conseqüência. Só restava saber se poderia se tornar uma tempestade. Aí sim teríamos que nos preocupar – e muito!

  Jake enxugou o suor do rosto com sua camisa, e não a vestiu novamente. Abaixei minha blusa e me sentei novamente no feno. Pelas grades que haviam na parte de cima do celeiro, pude ver o céu ficando mais escuro. Depois do raio veio o trovão, fazendo com que eu arrepiasse a espinha. Jake se sentou ao meu lado e segurou minha mão. Ambos ficamos olhando pela grade, vendo se alguma coisa a mais acontecia. Então o céu foi clareando novamente, a chuva ficando fininha.

  _O que será que aconteceu agora? – Jake perguntou.

  _Eu não sei – falei. – Eles ainda podem estar na cápsula, como a luta já pode ter terminado. Luv tem que entrar em contato comigo.

  Jake me olhou com a testa franzida, e no mesmo instante eu escutei a voz de Luv na minha cabeça.

  Onde vocês estão?

  No celeiro de uma fazenda, respondi em minha mente. Acho que é a única que tem por aqui.

  Tudo bem. Já estamos indo.

  Assim que nossa conexão terminou, Luv e Evy apareceram a nossa frente.

  _Se teletransportaram – disse Jacob. – Ele vai conseguir sentir você.

  _Como sempre – disse Evy – conseguimos distraí-lo, mas é por pouco tempo. Luv tem que ir com Nessie. Você vem comigo.

  Jake ia protestar, mas Evy segurou seu braço novamente e os dois sumiram.

  _Onde você tem que me levar? – Perguntei.

  _Lembra que eu disse que lembrei a forma de você se livrar de Miguel e ficar com Jacob? – Assenti. – Então, vamos fazer isso agora.

  _Tudo bem – falei. – O que temos que fazer?

  _Vamos indo primeiro – disse Luv. – Ele já está voltando.

  Um raio cortou o céu e atingiu o celeiro. Felizmente Luv já havia nos transportado.

  _Onde estamos? – Perguntei, olhando de um lado para o outro.

  Uma coisa era certa: estávamos em um lugar bem alto. Fui até a beirada e olhei para baixo. Os carros lá em baixo pareciam daquelas miniaturas de colecionadores.

  _Estamos em um arranha-céu – disse Luv. – Este é o edifício mais alto da Geórgia.

  _Por que estamos aqui? – Gritei. – Você disse que...

  _Eu sei – disse ele. – E é o que vamos fazer.

  Ele foi até a beirada, se sentando na paredinha de 30cm mais ou menos e tacando uma pedrinha lá em baixo.

  Me ajoelhei ao seu lado e olhei para baixo.

  _O que tenho que fazer? – Perguntei.

  _Nessie – disse ele -, para você ficar com Jacob e Miguel não poder fazer nada, você tem que se tornar 100% humana.

  Arfei.

  _Como assim? – Perguntei.

  _Miguel vai sempre perseguir e importunar vocês dois enquanto você ainda tiver sua parte anjo – disse ele. – Mas se você for totalmente humana, ele não pode fazer nada.

  _Como eu faço isso? – Perguntei.

  _Primeiro – disse ele – quero que me garanta que tem certeza de que quer deixar tudo para trás. Seus poderes, suas asas... Sua imortalidade. – Ele fez uma pausa. – Tem certeza de que quer deixar tudo por Jacob?

  Eu respirei fundo, e uma lágrima escapou. Deixar tudo para trás. Me tornar totalmente humana para poder ficar com Jacob.

  _Ficar com Jacob é tudo o que eu quero – falei em um sussurro. – Eu tenho certeza de que quero deixar tudo por ele.

  Luv assentiu.

  _Então muito bem – disse ele calmamente. – Você tem que cair, Renesmee.

  Olhei para ele com uma interrogação nos olhos.

  _Você tem que pular, literalmente – ele explicou. – Depois de tomar sua decisão e pular, haverá a transformação enquanto você cai.

  Limpei a lágrima do meu rosto.

  _Tudo bem – falei, me levantando e subindo em cima da paredinha. Olhei para baixo. Era muito alto. Mas eu iria fazer aquilo.

  _Espere um minuto – disse Luv.

  _O que foi agora? – Perguntei. – Já fiz minha escolha. Estou pronta para passar pela transformação.

  _Eu sei que está – disse ele. – Mas há duas coisas que podem acontecer quando você chegar ao chão. – Olhei para ele e ele continuou. – Primeira: você pode chegar lá e acordar com muitos ferimentos que serão tratados com o tempo, pois você não terá mais poder de cura. Será totalmente humana; segunda: você cai, e com a grande colisão com o chão, você, que será totalmente humana, pode morrer. – Ele fez uma pausa e continuou me olhando nos olhos. – Espero que ainda tenha certeza, Renesmee.

  Hesitei por um momento.

  _Eu tenho – falei.

  Ele assentiu.

  _Torço muito por vocês dois – disse ele.

  Eu dei um meio sorriso.

  _Promete que nunca vai me deixar? – Perguntei.

  _Estarei sempre com você – disse ele.

  Olhei para ele. Luv, sempre meu melhor amigo. Desci e o abracei o mais forte que pude.

  _Se eu não agüentar o baque – falei -, quero que saiba que você é uma das pessoas mais importantes para mim. Se eu sobreviver, você será meu anjo. Quero que esteja sempre comigo.

  _Sempre vou estar – disse ele.

  Eu sorri e lhe dei mais um abraço. Subi novamente e olhei lá para baixo.

  http://www.youtube.com/watch?v=ew57ZIVVUSQ

_Seja o que Deus quiser – falei.

  Respirei fundo, então pulei. Meus braços se abriram automaticamente. Vi a rua lá embaixo ficar cada vez mais perto. Quando já estava a poucos metros da colisão, fechei os olhos. Esperei pela inconsciência.