Eu engoli seco, e fui para seu lado. Dentro do banheiro, ouvia a água batendo no chão.

- Vamos? – perguntei enfiando-me embaixo de seus braços, e segurando em sua cintura, ele mancava um pouco, e tremia de dor quando apoiava o pé no chão.

   Por mais que seja estúpido e praticamente impossível, descemos os oito lances de escada, e paramos quando vimos vários guardas meio embriagados, e se chocando uns contra os outros.

- O que agente faz agora? – perguntou ele soltando meus ombros.

   Impedi que suas mãos saíssem de lá, dando uma desculpa esfarrapada de que: “ele estava machucado”. Na verdade, eu conseguia sentir, com um pequeno toque, todos seus músculos trabalhando quando ele dobrava os braços, conseguia ouvir o coração martelando, sua respiração ofegante... Tudo isso. Em um só toque!

- Pedimos ajuda?

- É.

- Bernardo? – gritou alguém com a voz cortante.

   Minhas costas se retesaram, e eu sabia que vinha problema ai.

- Vai. – sussurrou Bernardo para mim, liberando meus ombros.

   Dei pequenos passos para trás dele, e alguém berrou:

- Ei! Parada ai! – e depois ouvi um clique de arma. Comecei a andar mais rápido. – Eu disse parada! – berrou uma voz masculina. Uma bala passou de raspão em minha perna. Ardeu um pouco, e eu rosnei me virando para a pessoa.

   Norbert, o idiota, havia mirado em minha perna, mas estava tão bêbado que errou feio.

- Seu idiota! – praguejou Bernardo.

   Se eu não estivesse tão irritada com aquele babaca, eu até ligaria para meu coração que praticamente saltou do peito.

- Idiota é você que anda com os monstros! – rebateu Norbert. – Principalmente com aquele menininho idiota. Ele vai ser sacrificado logo, então...

   Ele não terminou de falar, pois o punho de Bernardo voou para o queixo dele.

- Idiota!

   Mais uns três guardas chegaram prendendo meus punhos na algema extremamente irritante, e puxando meus ombros para trás.

- Me solta! – eu berrava. Eles tentaram puxar-me, e eu proferi um soco no primeiro guarda. Ele caiu gemendo de dor. Dei uma cotovelada no nariz do segundo, e ele se dobrou no chão. O terceiro tentou alcançar a arma que estava descansada do lado do corpo, e eu chutei-o para longe.

   Quando aquele energúmeno mencionou meu irmão, meu sangue ferveu nas veias, e eu fiquei sem controle. Voei para trás de Bernardo, e coloquei meus braços em volta de seu pescoço. Ele ficou sem reação.

- O que diabo você está fazendo? – sussurrou ele para mim.

- Foi mal. – sussurrei em resposta.

- O que... – Bernardo não conseguiu terminar, pois eu entortei seu braço nas costas. Ele gritou.

- Desculpa, desculpa! – disse e seu ouvido. – Se alguém ousar a mover um músculo, eu juro por Deus que quebro o braço dele! – avisei pressionando ainda mais o braço dele, e sentindo um aperto no coração ao ouvir seu grito.

- Acho que eles já entenderam. – sussurrou Bernardo com a voz entrecortada.

   Senti um cano de arma sendo pressionado em minha cabeça, e uma voz rouca dizer:

- Se você não ouviu Camila, eu mandei você colocar as mãos na cabeça.

   Eu comecei a tremer e Bernardo percebeu. Eu não me mexi a principio.

- Será que você é surda? – perguntou a pessoa grosseiramente.

   Ouvi a arma ser carregada, e tirei os braços do pescoço de Bernardo, levemente.

   Adam entrou em meu campo de visão, e sussurrou chegando perto de mim:

- Sinto muito por isso.

   Logo após, vi com horror ele fechar o punho, e chocá-lo contra meu rosto. Eu cai no chão, sentindo a dor subiu por meu rosto, mas não foi pior do que a arma de choque sendo ligada em minhas costas, e fazendo com que eu desmaiasse.