Dodger

Duas garotas, uma morena e a outra ruiva, ambas de cabelos lisos, com uniformes da Grifinória, andavam pelos corredores de Hogwarts. A ruiva falava muito rápido enquanto a morena lia um livro.

- ...Minha pergunta era: Como isso aconteceu? Como todos diziam que de repente eu não precisaria de Veritaserum para falar a verdade? Ai o tonto do seu irmão levantou a mão e me humilhou na frente da sala inteira dizendo que eu era uma tagarela sem cura e que estava dizendo a verdade sem perceber.

- Você sabe que é uma tagarela sem cura, não sabe Lily? – disse Rose sem encará-la concentrada em sua leitura.

- Eu sei, mas precisa o Hugo gritar que cada resposta minha era como uma redação de duas mil palavras que o Senhor Colins vive pedindo?

Rose começou a rir.

- Do que está rindo, não me diga que cada resposta minha tem mais de duas mil palavras, Rose, pois sei que não tem, ou tem? – a prima continuava rindo – Quer me responder?

- Realmente não tem.

Lily cruzou os braços brava.

- Só está dizendo isso para me fazer calar a boca.

- Como se isso fosse possível.

- Isso confirma o que o idiota do seu irmão falou, mas ele vai se ver comigo, ele acha que não consigo ficar calada perto dele, mas vou conseguir, custe o que custar, nem se tiver que lançar um feitiço em mim mesma para calar minha boca. – Lily parou de falar um segundo e encarou a prima – Não conte isso a ele!

- Cuidado para não contar você mesma para ele.

Lily fungou nervosa e não disse mais nada.

Um garoto loiro, correndo apressado, passou do lado de Rose, e puxou seu livro, o roubando de sua mão.

- Ei! – Rose gritou vendo o garoto se distanciar dela.

- Volte aqui moleque! – gritou o zelador passando mancando do lado das garotas. – Espere que vou chamar a diretora McGonagall e ela lhe colocará em detenção por lançar bomba de bosta no banheiro feminino.

- Esse Scorpius é pavoroso, não é possível que seja tão mau aluno, deve ser por isso que não tem amigo nenhum – comentou Lily.

- Ele roubou meu livro! – gritou Rose.

- Ah Rose, você tem um monte, é bom ficar sem alguns durante um tempo.

- Ele roubou meu livro! – voltou a gritar exasperada.

- O que aconteceu Rose? – perguntou Peter chegando por de trás dela a abraçando pelas costa e depositando um beijo em seu pescoço.

- Peter, roubaram meu livro, meu livrinho da Jane Austen, meu livrinho preferido, meu livro que já li milhões de vezes, meu livrinho todo surrado, roubaram meu livro! – ela gritava.

- Depois dizem que sou uma tagarela sem cura, você é viciada em livros sem cura, tudo isso por causa de um livro Rose?

- O que aconteceu Lily? – perguntou Peter olhando para a ruiva.

- Como vou cumprir minha promessa se me pedem para falar? – reclamou Lily

Rose , que ainda estava nervosa por terem roubado seu livro, abraçou o namorado que começou a acariciar seus cabelos.

- Lily, comece a falar agora! – gritou Peter.

- Ok – se rendeu à ruiva respirando fundo – Eu e a Rose estávamos andando pelo corredor, esse corredor, eu lhe contando que o idiota do irmão dela me humilhou na frente da sala inteira, falando que eu sou uma tagarela incorrigível, não que eu era uma tagarela sem cura, ou foi incorrigível? – ela se perguntou.

- LILY! – urrou Peter – se atenha ao roubo do livro, ao roubo.

- Ai que estresse, devia rir mais Peter, ser alto de mais de dois metros de altura e gritar meu nome desse jeito assusta sabia?

Ele lhe deu um olhar cortante.

- Ok, namorado protetor... – Lily respirou fundo – Aquele Scorpius Malfoy roubou o livro da Rose. Foi o que eu vi... Ah ele também pelo o que o Filch falou, jogou bomba de bosta no banheiro feminino. O que me lembra que estou apertada, Rose me passa a senha do banheiro dos monitores?

- Aquele tranqueirinha roubou seu livro? – disse Peter indignado.

- Ele tomou da mão dela para falar a verdade, foi o que vi. – acrescentou Lily.

- Porque não o azarou Rose?

- Ah Peter, vocês namoram a mais de seis meses e ainda não notou que a Rose é certinha demais para cometer essas traquinagens?

- Mas, ela se defenderia...

- Com o Filch passando ao lado e a denunciando a diretora? – perguntou Lily levantando as sobrancelhas.

- Mas...

- Querem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui – disse Rose quando viu que o namorado ia contestar – Eu vou ir conversar com o Malfoy.

- Não! – gritou Peter – Deixe que eu vá exigir o livro de volta.

- Não Peter, você não viu o roubo, ele vai negar quando você o questionar.

- Mas... – ela o calou lhe beijando de leve nos lábios – Vá indo para a aula de Herbologia, já te alcanço.

Peter ficou olhando chateado a namorada se distanciar apressada.

- É triste ter dois metros de altura e nem poder defender a namorada né Peter? – ele virou para Lily fungando – Acho que vou ao banheiro da Murta-que-geme mesmo... Tchau!

Rose andou por Hogwarts praticamente inteira procurando Scorpius, até que se lembrou de um fato e que provavelmente ele estaria em um lugar específico no momento. Correndo chegou em frente a uma estátua em forma de gárgula e esperou, até que alguém descesse de lá. E foi o que aconteceu, dez minutos após sua chegada. Um garoto loiro, alto, de cabelos lisos e olhos prateados apareceu com as mãos no bolso, assobiando uma música.

- Malfoy! – Rose o chamou.

Scorpius parou e a olhou.

- Levou uma detenção foi? – Rose não podia deixar de alfinetá-lo.

- Não te interessa, Weasley – ele a ignorou e voltou a andar.

- Quero meu livro!

- Eu não leio muito... – respondeu andando.

Rose correu e se postou a frente do Sonserino.

- Quero meu livro!

- Não sei do que está falando.

- Vou te denunciar a diretora.

Ele deu de ombros e virou no corredor.

Rose bufou nervosa e olhou a gárgula decidindo se o denunciava a McGonagall. Resolveu deixar para depois, afinal já estava atrasada para a aula.

- Então ele simplesmente ignorou que roubou seu livro? – perguntou Lily gritando enquanto caminhavam juntas em direção ao grande salão para jantarem.

- Isso Lily, anuncia para todos saberem do acontecido.

- Devia contar ao Peter, ele daquele tamanho resolveria num piscar de olhos.

- Deixe o Peter fora disso, por favor.

As duas sentaram a mesa de frente a Alvo e Hugo que já comiam a um bom tempo.

- Aquele sonserino ridículo te devolveu o livro Rose? – perguntou Alvo.

- Nossa Lily, já contou pra Hogwarts inteira? – perguntou Rose brava encarando a prima.

- A Lily não falar? Ta pedindo milagre né, irmãzinha? – disse Hugo levantando as sobrancelhas.

- Cale a boca, fofoqueiro! – gritou Lily.

- Tente você calar a boca, tagarela!

- Pelo amor de Merlin! Vocês têm quinze anos, parem de se comportarem feito crianças – exclamou Rose.

- Concordo plenamente – disse Alvo.

- Você quer que eu cale a boca? Pois irei calar.

Lily fechou a boca rudemente.

- Aposto um galeão que isso não dura um minuto – disse Alvo para Hugo.

- Aposto dois galeões que isso não dura trinta segundos – respondeu Hugo.

Os dois deram as mãos selando o acordo.

Lily abriu a boca pronta para falar, mas fechou fazendo um bico enorme.

- Mentira! – gritou Hugo apontando algo atrás de Lily – é o vocalista das Esquisitonas?

Lily olhou para trás, e quando viu que era uma farsa para que ela falasse, começou a dar socos em Hugo.

- Ai! – ele exclamava enquanto tentava desviar dos socos.

De repente, a jovem ruiva parou de dar socos, seus olhos ficaram arregalados olhando um ponto à frente e sua boca se abriu pronta para falar.

- Não acredito!

- Ah ganhei a aposta.

Lily deu um último soco em Hugo o fazendo calar a boca.

- Rose! – ela gritou olhando a prima que comia uma enorme coxa de galinha – olha o garoto que não estava com seu livro – ela ergueu o dedo indicador mostrando Scorpius.

Rose ergueu a cabeça e viu o loiro sentado na mesa da Sonserina lendo seu livro com as pernas esticadas em cima da mesa.

- Ele vai se ver comigo – Rose levantou decidida da mesa e caminhou de encontro a ele – Malfoy! – gritou assim que chegou ao lado do loiro.

O Sonserino por sua vez continuou a ler seu livro sossegado.

- O que está fazendo? – Rose perguntou.

- Lendo – ele respondeu simplesmente.

- Lendo meu livro? Achei que não o tivesse roubado – ela disse sarcástica.

- Eu não roubei, peguei emprestado – ele se defendeu parando a leitura a encarando.

- Tirar da mão dos outros enquanto corre é pedir emprestado agora? – ela o olhou incrédula.

- Cadê seu namorado gigante? – perguntou Scorpius desviando do assunto.

- Não preciso dele para resolver meus assuntos pendentes.

- Sou um assunto pendente? – ele ergueu as sobrancelhas interessado.

- Meu livro! – ela estendeu a mão esperando.

Scorpius levantou de onde estava sentado e colocou o livro na mão dela.

- Eu apenas quis colocar umas notas na margem.

Ela o olhou intrigada e observou seu livro que agora tinha algumas anotações com a letra do garoto.

- Você já o leu antes?

Ele confirmou com a cabeça e respondeu:

- Umas quarenta vezes.

- Mas é um livro cuja autora é trouxa – ele deu de ombros – Achei que não lesse muito.

Ele arregalou os olhos e encolheu os ombros.

- O que é muito?

Ela sorriu e fez não com a cabeça.

- Boa noite, Rose – ele se despediu.

A garota notou que era a primeira vez que ele dizia seu primeiro nome.

- Boa noite, Dodger – ela respondeu.

- Dodger?

- Pense – ela sorriu e virou as costas caminhando devagar para a mesa da Grifinória.

- Oliver Twist! – ele gritou para ela o escutar.

Rose virou para ele e confirmou com a cabeça.