Diz que Me Ama escrita por Sleepless


Capítulo 1
O1


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira fanfic em que o narrador é o personagem.



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PRÓLOGO


Eu nunca imaginei que viveria uma história assim. Cada momento da minha vida parecia que ia me desintegrar em mil pedaços que ninguém podia refazer. Os olhos dele me levavam a um estado que até eu desconhecia. Meus ideais pareciam não ter nenhuma importância. E nossos interesses nos distanciavam ainda mais. Éramos como água e vinho. Aquele andar, e a boca praticamente sem sorriso sugavam a minha alegria de viver. Os meus sonhos eram pesadelos. A partir dali nada seria como antes. Eu havia caído em uma armadilha. Ninguém além dele podia me salvar. Só restava esperar. Ter esperança ou morrer por dentro.


Ass: Alexandre.

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Eu estava terminando de almoçar. Era o cardápio das sextas. Minha mãe havia preparado com todo o carinho que só ela sabia ter. Meu pai estava no trabalho de consultor de vendas. Por isso sempre chegava de noite em casa. Quando terminei de comer escutei um barulho de caminhão. Curioso eu me debrucei na janela da cozinha para tentar ver o que era. Não consegui. Havia muitas casas onde morava. Nossa vila cheia de árvores, pássaros e asfalto era bem tranqüila. Era difícil ter alguma coisa emocionante, mas quem já era acostumado, como eu, não ligava muito para isso. Sempre fui um garoto caseiro. Como sou o único filho, sempre tive minhas escolhas. Meus pais nunca se meteram nelas. Embora meus amigos tivessem a mania de me dizer o que fazer. Nunca gostei disso na verdade. Mas eles sempre foram leais a mim.
Eu ainda estava muito curioso para ver quem tinha chegado no caminhão. Mas como sempre, depois do almoço, dá aquele sono que é impossível de ser ignorado. Não consegui dormir muito, porque minha mãe me chamou para ajudar a lavar os pratos. Como eu detestava isso. Ficar lá horas e horas ouvindo ela cantarolar enquanto me entrega a louça. Mas como eu estava livre, até que era bom para se movimentar um pouco. E logo depois sair para descobrir de quem era o caminhão. Quando eu estava para sair meu amigo Douglas chegou. Ele estava empolgado para dizer alguma coisa. E começou a falar:

- Alex, você já viu quem chegou?

- Não. Quem? – Perguntei curioso.

- Chegou um casal e com eles um garoto que parecia ter a tua idade.

- Sério? Vizinhos novos. Pensei que os Pratas se mudariam só no mês que vem.
- Eu também. Mas parece que eles se adiantaram. Quem sabe a gente não chame ele para nossa banda.

- É, quem sabe. – Fiquei imaginando.

- Vamos lá? – Perguntou ele.

- Agora? É melhor esperar eles se ajeitarem na casa primeiro.

- O que foi? Está com vergonha?

- Vergonha? Eu? Que nada. Só que eu acho melhor esperar.

- Então ta. Eu vou jogar vídeo game na casa do Paulo. – Você vem?

- Não. Eu estava para sair mas agora eu vou para meu quarto descansar um pouco.

- Então ta. Fui.

Eu estava querendo muito ir, mas confesso que estava com medo. Queria subir para meu quarto e observar eles. Seja lá quem fossem. Se havia um garoto era o sinal de que havia uma nova amizade para ser feita. Isso me empolgava muito, embora a minha timidez atrapalhasse um pouco. Depois de entrar no meu quarto eu pude ver pela janela a casa ao lado. Um cara estava carregando um sofá amarelo para dentro da casa. Acho que não era o dono, parecia mais um empregado. Achando aquilo sem graça acabei cochilando. A minha cama ficava bem perto da janela. Eu realmente estava cansado. Foi quando resolvi acordar e dormir de verdade, me esparramar na minha cama, mas uma cena me chamara muita atenção. Um garoto de camisa azul e bermuda bege saiu da casa; tinha olhos verdes pelo que eu pude ver lá de cima e cabelos castanho escuro; também tinha um cordão parecido com aqueles de gravar nomes de exército; os pés em uma chinela havaiana; um rosto sério e muito bonito e um andado nem tão rápido, nem tão devagar. Aquela imagem me cegou. Certamente aquele era o filho deles. Fiquei na janela bem acordado esperando que alguém mencionasse o nome dele, mas ninguém mencionou. Ele pegou uma mala preta e um celular no carro, um Stilo. Depois entrou na casa e não saiu mais. Por um instante me senti estranho, com calafrios e suor. Ele era realmente muito interessante. Podia ser amigo dele, mas nem imaginava por onde começar.

Me deitei na cama pensando em tirar minha soneca, mas a imagem dele pairou sobre meu olhar. O que me deixou confuso. Afinal, como eu poderia ficar aficionado em uma pessoa que eu apenas tinha visto, e de longe. Queria que as coisas acontecessem naturalmente. Se fosse para nascer uma amizade, que bom, se não, paciência. Eu estava preste a fazer mais uma tentativa e dormir, quando a campainha tocou. Eu ignorei. Tinha me esquecido que minha mãe tinha ido para o mercado comprar umas coisas que estavam faltando na dispensa. Então desci as escadas já sabendo que era perda de tempo tirar uma soneca se ninguém me deixava em paz. Eu abri a porta sem perguntar quem era e para minha surpresa era nada mais, nada menos que a mulher da mudança.

- Oi! Desculpe-me incomodar, mas a gente acabou de se mudar e está faltando açúcar. Será que você poderia me emprestar um pouco?

- Claro! Espera só um instante que eu vou pegar. – Deixei a porta entre aberta.

Com o pote de açúcar na mão:

- Está aqui.

- Obrigada. Depois eu devolvo o favor. – Disse a mulher. Ela era uma mulher bonita também; cabelos castanhos claro; olhos castanhos; branca igual o garoto e provavelmente o pai também.

- De nada.

Ela agradeceu e virou as costas, mas tornou a se virar para mim com uma cara de quem tivera uma idéia ou coisa parecida.

- Escuta. Qual o seu nome? Esqueci de perguntar. – Disse ela se aproximando da porta novamente.

- Alexandre. E o seu? – Resolvi perguntar também.

- Márcia.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela prosseguiu.

- Escuta. Será que você podia me fazer um favor?

- Sim. Qual seria? – Perguntei curioso.

- Sabe. É que meu filho, ele não é bom para fazer amizades, e você me parece ser bem legal. -Ele é bem sério e detestou vir com a gente. Quem sabe você pudesse convencê-lo do contrário, ficando amigo dele.

- É pode ser, mas você quer que eu vá agora?

- Se não for te atrapalhar em alguma coisa.

- Então ta. Deixa eu colocar uma roupa melhor e passo lá.

- Obrigada. Eu agradeço de coração.


Eu nem sabia porque tinha concordado com tudo. A mãe dele era muito preocupada. Assim de cara pedir para um garoto como eu esse favor, sem nem me conhecer. Era de dar dó. Estava na cara que ela queria que ele se socializasse, mas que ele não era de fazer esforço para isso. De qualquer maneira fiquei pensando depois, que diabos eu tinha feito. O garoto nem vai nem me receber direito. Provavelmente. Se tem uma coisa que eu sei é o quanto dá raiva quando nossos pais ou amigos chamam pessoas para nos conhecer sem nem nos avisar. E logo eu estava sendo um desses, só que eu já tinha me comprometido com a Márcia. E continuava sem saber o nome dele, mas também porque eu estava querendo tanto saber o nome dele?

Depois de passar algum tempo escolhendo uma roupa que eu achava que era propícia para a ocasião, eu finalmente fui cumprir minha missão. As minhas pernas estavam um pouco bambas; minhas mãos suando e meu coração batendo aceleradamente. Só tem um nome para isso: a danada da timidez. E o burro aqui sabendo disso se comprometeu mesmo assim. Pensei, onde que você está com a cabeça. Nem isso me impediu. Eu não podia dar para trás agora. Atravessei a calçada e lá estava eu, em frente à casa de madeira, estilo colonial, toda pintada de branca com janelas de vidro. Algumas caixas vazias perto da porta e uma campainha. Fiquei um pouco parado, respirando, antes de tocar. E então a porta se abriu como mágica. Na verdade era a mágica da mão na maçaneta da mãe dele com um sorriso gigante.

- Que bom que você veio! – Pode entrar. O Pedro Henrique está lá em cima.

- Tudo bem. É para eu subir? – Perguntei engolindo seco.

- Sim. Pode subir. Eu disse a ele que você vinha.

- Por aquela escada né? – Perguntei para disfarçar minha vergonha.

- Sim. Fique a vontade.

Eu subi as escadas praticamente a beira de um ataque do coração. Estava muito nervoso. Pensava, será que o Pedro Henrique queria mesmo conhecer alguém? Bem, o nome dele era bem apropriado, na minha opinião. Quando os degraus terminaram eu vi duas portas, a casa ainda não estava arrumada, havia muitas caixas com nomes. No segundo andar o que podia se observar é que tinha três portas, portanto, havia três quartos, ou, dois quartos e um gabinete. Não demorei a descobrir qual era o quarto dele, porque a porta estava aberta, só o que dava para ver era uma cama de solteiro com um garoto de costas em cima, sem blusa e ouvindo música.Eu me aproximei da porta, ainda nervoso. E bati de leve. Outra burrice minha, pensei, se ele estava ouvindo música com o mp4 dele, certamente não ouviria minhas batidas. A única alternativa era entrar no quarto para que ele pudesse me ver, ou ficar ali parado esperando ele virar. Resolvi criar coragem e entrar. Me arrependi.

- Quem é você? – Perguntou ele grosseiramente.

- Eu sou o Alexandre. Moro na casa ao lado.

- E daí?

- Não sei. A sua mãe me pediu para vim aqui. – Respondi nervoso.

- Sei. Então já veio. Agora se manda!

- Está bem.
Fiquei tão nervoso e irritado que sai correndo escada abaixo. Passei pelo pai dele e a mãe, mas nem parei, porque já tinha escutado muita grosseria. Entrei em casa batendo a porta, ainda bem que minha mãe não tinha chegado. Que ódio! Que garoto idiota! Eu que pensava que ele fosse legal, mas me enganei. No quarto eu fiquei observando a casa e a janela onde eu calculara que era a dele. E realmente era a dele. Agora que eu estava mais orientado dava para vê-lo escutando música. Só não entendia porque eu ainda queria observá-lo.

Finalmente a noite havia chegado. E parecia que eu conseguiria finalmente dormir. Engano. Minha mãe estava preparando o jantar e ainda faltava uma hora para meu pai chegar. Quando a campainha tocou. Minha mãe foi atender, eu nem me dei ao trabalho de descer. Ela me chamou. E quando cheguei lá embaixo uma surpresa, Pedro Henrique. O que ele queria comigo?

- Alex, ele quer falar com você. – Disse minha mãe.

- Diga. – Decidi ser grosso também.

- Eu queria te pedir desculpa. – Disse ele forçadamente.

- Tudo bem. Só isso?

- Não. Queria que você fosse outro dia lá para casa de novo.

Sem entender nada, eu resolvi aceitar.

- Tudo bem. Amanhã eu passo lá.

- Tchau.

Ele saiu dizendo apenas tchau. Estava na cara que os pais dele que tinha obrigado ele a fazer esse pedido. Eu achei foi bom. Ele pedindo desculpa. Por um instante viajei, como se ele fosse alguém legal. Um grosso desse, pensei, não pode ser um bom amigo. Uma coisa eu tinha que admitir, mesmo com o jeito dele, ele mexia comigo de alguma forma. O problema é que eu não entendia porque.

O papai chegou. Eu já estava caindo de sono. Dei um abraço nele, na mamãe e fui dormir, dessa vez pra valer. Não. Eu estava preparando a cama, já tinha tomado banho, pronto para me encostar no travesseiro quando eu vi a luz do quarto dele acendendo e apagando. Não sei porque, mas isso me fez querer ver do que se tratava aquilo. Eu coloquei a cara na janela para verificar, não esperava nada demais, mas mesmo assim continuei observando. A luz acendeu de novo, ele estava só de cueca encostado na parede, pintada de branco, como se tivesse assustado com alguma coisa. Em seguida a luz apagou de novo. Ele ficava apagando e acendendo a luz. Parecia um doido. Só que eu estava começando a me interessar por isso. A tentar entender ele. Vai ver ele queria só queimar o interruptor, ou não. Como que eu ia saber? E a cara de assustado? Porque eu só pensava na cueca que ele estava usando? E porque eu estava me importando tanto? Muitas perguntas surgiam a cada minuto que eu passava observando a janela de Pedro Henrique. O que foi impressionante foi quando a luz acendeu de novo e por incrível que pareça ele estava com os olhos marejados pelo que se podia notar. Fiquei impressionado. O grosso parecia ter problemas para dormir. Pelo menos era o que parecia. Fiquei com uma vontade enorme de ir lá. De acender e apagar a minha luz também para chamar atenção dele. Eu acabei ficando na minha, mas passei a noite em claro observando ele fazer isso até amanhecer. Depois que o sol começou a aparecer ele dormiu, provavelmente porque não agüentara de sono. E eu também. Dormi logo em seguida.

Acordei às 2hs da tarde. A primeira coisa que fiz foi olhar pela janela para ver Pedro Henrique. Porque, eu não sei. Ele ainda estava dormindo. Achei tão bonito ele dormindo, sei lá porque. Tive até uma idéia; tomei banho; me arrumei; peguei um dinheiro que havia juntado para comprar um binóculo. No caminho encontrei com meu amigo Samuel. Ele nem parou para falar comigo, só acenou. Estava com pressa. Quando cheguei em casa minha mãe estava lendo no sofá e o papai dormindo no colo dela. Muito bonita a cena dos meus pais. Eu dei um beijo nela e subi para inaugurar meu binóculo. Pedro ainda dormia. Agora eu tinha o que fazer naquela tarde de sábado, esperar ele acordar. Depois de uma longa espera ele finalmente acordou, levantou da cama, entrou no banheiro e ficou lá por um tempo até sair todo banhado e de toalha. Eu sai da janela. Não queria vê-lo se trocar. Ele fechou a cortina. Até aquele momento eu nem sabia que ele tinha cortina. Eu voltei a observar com o binóculo. De repente a cortina se abriu e ele olhou diretamente para mim. Eu caí para o chão. E fiquei sem levantar por alguns instantes. Em seguida ouvi um barulho, era um sabonete que tinha entrado janela adentro. Nele estava enrolado um papel. Eu me arrastei até o sabonete para ver o que estava escrito. Uma pequena frase, que me fez ficar vermelho:

Eu sei que você esta me espionando, seu lunático!

Eu não sabia se ria da maneira como ele escreveu, ou, ficava chocado. Se bem que eu merecia, por estar espionando ele. Bem, depois dessa, não adiantava ficar abaixado, já que ele tinha me visto. Quando levantei, ele estava lá, parado, com a mesma cara antipática dele, olhando fixamente para mim. Eu olhei para ele e pedi desculpa. Ele virou as costas e pelo que parecia sorriu escondido, para que eu não pudesse ver. Fiquei alegre, tinha conseguido arrancar um sorriso dele. Ele fechou a cortina de novo, mas incrivelmente, abriu pouco tempo depois e me chamou. Eu fiquei sem reação. Ele entrou no banheiro de novo e depois voltou com outro sabonete, que jogou também, com um bilhete:

Vem aqui. Eu quero conversar com você. Lunático!


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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