Pluma de Travesseiro escrita por LadySpohr


Capítulo 4
Não existe cola...




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É, eu era uma idiota. E minha noite tinha desmoronado. Estava acabada.

Sim, ele estava esperando nas escadarias, completamente de babar, inteiro de esporte fino.

O cabelo preto brilhando tanto quanto os olhos.

Mensagemmmmmmmmmmmmmmmm!

BOA SORTE, AMOR!

ARRASA PODEROSA!

J AKBA D RECBR O DIPLOMA DLE.

HAPPYYYYYYY!

BJS. T AMU.

V.

Obrigada Vane. Eu também amo você.

  • Olá garota! - Bruno me deu dois beijos no rosto – Você tá linda!

Por J.K.Rowling! Olha a Letícia morreeeeeeeeeendooooooooooooo!

  • Obrigada! - acho que meu sorriso nunca foi tão gigantesco – Você também está lindo!

Ele não ficou vermelho como eu. Estava acostumado a ouvir aquilo, lógico.

  • Obrigado.

  • Então,vamos entrar?

Bruno olhou no relógio.

  • Pode esperar mais um pouco? A galera ainda não chegou.

GALERA? QUE GALERA? ERA SÓ EU E ELE, NÃO ERA?

NÃO ERA???

  • Quem mais você está esperando?

  • Ah, o pessoal da minha sala, meus amigos e as meninas – ele fixou seus olhos em mim, me fazendo derreter – Você não se importa, não é? Vai ficar junto com a gente.

  • Não, não me importo... - suspirei, sem conseguir tirar meus olhos do rosto dele. Como é que alguém podia ser tão lindo?

E na verdade eu me importava. Mas provavelmente não ia ser tão ruim. A turma com quem ele andava era bem bacana. Não aqueles tipinhos que iam olhar torto se me vissem com ele. A não ser talvez a Penélope, aquela nojenta.

Ela foi a primeira a aparecer, logo se pendurando no pescoço do Bruno.

  • Você tá liiiiinnnnndddddoooooo!

  • Você também!

Ele a colocou no chão e depois cumprimentou Felipe, um amigo dele, enquanto Penélope me dava uma olhada superior.

  • O que você tá fazendo aqui?

O mesmo que você, bruxa!Era isso que devia ter respondido!

Mas eu fui educada por uma rainha: Vossa Majestade Real Vanessa Fabiana Bounfleur.

  • Estou acompanhando o Bruno, caso você não tenha reparado – eu falei, dando meu melhor sorriso de víbora.

Ela ergueu as sobrancelhas douradas.

  • Aproveite enquanto pode.

  • Vou aproveitar mais do que posso, te garanto.

Toma papuda! Ela não respondeu.

E graças ao senhor o resto do pessoal legal chegou.

Adriana, a garota mais gente fina, amiga do Bruno, me cumprimentou com um abraço apertado.

  • Que bom que você veio! Sua irmã estava linda na entrega dos diplomas!

  • Você disse isso a ela?

  • Não deu tempo, quando ela desceu do tablado os meninos e os fotógrafos a rodearam e nem consegui chegar perto!

Nós rimos. Era uma coisa que acontecia com frequência com minha irmã mais velha. Todos a adoravam.

- Você pode dizer quando ela aparecer aqui depois! - eu continuava rindo.

- Não sei se ele vai aparecer não, vi ela dar uns pegas no namorado, sei lá...

Ri mais ainda.

- Bom, a gente festeja por ela!

- Isso aí!

- Ei, vamos entrar, parem de papo!

Era Bruno.

- Vem logo, Letícia!

- Tô indo!

Subimos os degraus da escada e entramos na festa. Tava bombando! Um ambiente com DJ e outro com banda. O terceirão tinha caprichado de verdade.

Todos nós ficamos na mesma mesa, durante um bom tempo, batendo papo. Eu queria estar sentada ao lado do Bru, mas Penélope tinha sido mais rápida, então acabei perto do Lipe e da Adri mesmo. Nada contra, mas era pelo Bruno que eu estava apaixonada!

Pra minha enorme decepção, foi aquela nojenta quem ele convidou primeiro pra dançar.

E eu fiquei lá, levando chá de cadeira. Bom, nem pra tanto. Eu fiquei com Adri, Lipe, Karol, Marina e Everton.

Estava começando a pensar que tinha convidado Bruno por nada, quando ele voltou e me puxou pra outra dança.

É isso aí, Letícia. Estava na hora da grande confissão. É claro que ele sentia o mesmo, se não, não teria topado vir contigo na festa. Tá, nem foi só com você, mas quem está ligando?

  • Bruno... - melhor fazer tudo de uma vez.

Ele olhou no meu rosto, enquanto a gente balançava no mesmo lugar.

  • Diga.

  • Eu pensei que... bom, pensei que a gente ia ficar sozinhos aqui, sabe, não achei que seus amigos viriam.

Ele franziu as sobrancelhas.

  • Eles todos compraram ou ganharam convites. Eu ia comprar mas você chegou primeiro … -ele sorriu pra mim, a luz do lugar brincando no rosto dele – Então é óbvio que eles estariam aqui. Mas, você vê algum problema nisso?

Ai, por Dolce e Gabbana, como diria Vane. Eu falava ou não?

Sim, fala logo, você guardou isso por tempo demais.

  • Bom, eu...eu...

Ele continuava com os olhos em mim, esperando.

  • Achei que seria só nós dois. - falei de uma golfada só – Queria que fosse só nós dois, Bruno.

Ele parou. Virou estátua, no meio da pista.

Piscou um monte de vezes, como se não acreditasse no que tinha ouvido.

  • É... isso foi um pouco chocante... - ele finalmente falou – Olha Letícia, eu não sabia que você pensava...sente... - ele estava tropeçando nas palavras.

Resolvi ajudar (talvez tenha sido uma péeeeeeessssssssiiiiiiiimaaaaaaaaaaa idéia).

  • Sinto mesmo Bruno, sinto que gosto muito de você, e há muito tempo.

Ok. Juro que os olhos dele se arregalaram tanto que podiam ter saído das órbitas.

E pior que ele ficou desse jeito por no mínimo um minuto inteiro.

Comecei a me sentir bem sem graça.

  • Ah, desculpa, tá, eu não queria falar desse jeito, mas...

  • Eu é que peço desculpas, Letícia – a voz dele soou esquisita. Não, não era esquisita, era...arrependida - Não devia ter aceito esse convite, não gosto de iludir ninguém.

Alguém aí já levou um soco? Ou um raio na cabeça? Ou parece que está caindo num abismo?

  • Sinto muito, Leti, mas você é minha amiga...- ele passou as mãos nos cabelos – E só isso. Nada mais.

Por que meus olhos estavam ardendo daquele jeito? Por que eu não conseguia ouvir mais a música? Por que eu sentia de repente meu corpo todo entorpecido?

Por quê? Por quê?

POR QUÊ???

  • Sinto muito...- então ele olhou de verdade pra mim – Leti, você está bem?

Alguém fez que sim com a cabeça. Eu não sabia quem era ela, mas sabia que podia movimentar minha cabeça e usava meus sapatos prateados.

  • Eu vou voltar pra mesa, você não se importa?

A estranha fez que não.

Bruno deu as costas e voltou pra mesa.

A garota ficou parada, sem mover um músculo, como se raízes a segurassem ali.

Penélope passou por ela a caminho do banheiro e disse de um jeito maldoso:

  • Que bom que já aproveitou o suficiente.

Nada, a garota continuava sem um sinal de vida.

Então uma mão pegou a garota pelo braço e a tirou dali.

  • Vem, vamos lá pra fora, o que você ouviu não foi coisa boa. Lipe,volte pra mesa e pegue minha bolsa. Vou ligar pra Vane.

Vane. Vane. Vane.Vane.

  • Não! - esganicei, finalmente saindo do meu estado de torpor mental – Ela está com o príncipe encantado dela! A noite dela tem que ser perfeita!

  • Beleza, beleza, não ligamos pra Vane! - Adriana parecia assustada – Vá buscar minha bolsa mesmo assim, Lipe, vou chamar minha mãe. E você não viu nada disso, falou? Penélope não vai ter chance de humilhar ninguém espalhando fofoca na segunda.

  • Sou um túmulo! - Felipe saiu de perto de nós.

Eu fui rebocada até as escadas vazias, enquanto Adri falava com a mãe no celular.

Eu ainda estava viva? Não tinha morrido de dor ( e vergonha, todo mundo ficou olhando pra mim parada como uma retardada no meio da pista de dança!) ainda?

Então ele não gostava de mim. Não mesmo. Era meu amigo, nada mais.

Por que aquilo doía tanto?

Levei a mão no peito e desabei num degrau, tendo uma grande dificuldade pra respirar. Doía até nos ossos. Era a pior coisa do mundo.

Comecei a chorar, finalmente.

Eu queria me esconder em algum canto escuro e ficar lá pra sempre, sem ver ninguém. Eu não podia amar um cara por um ano exato e ele não sentir...nada de volta.

Era impossível. Não podia ser.

Meu celular bipou.

FESTA D+

COMPANHIA MELHOR AINDA!

SPERO Q ESTJA C DIVERTINDO TBM.

T AMU.

V

Tapei a boca com a mão pra não soluçar.

Não Vane, minha noite tinha se tornado um verdadeiro filme de terror, pior do que a formatura da Carrie, A Estranha (tá, nem tanto, porque não tinha ninguém morrendo e atividades paranormais).

Ou quando o Edward mandou a Bella passear no segundo livro.

Eu sei o que ela está sentindo agora.

É mesmo uma bosta.

A vida é uma bosta. E além disso é injusta.

Virei pro lado e encostei a cabeça na parede fria, chorando dentro das mãos.

  • Calma, Leti, você vai pra casa – Adri afagou meus ombros – Nem acredito que Bruno disse aquilo, ele parecia gostar muito de você.

  • Aparentemente nos equivocamos... - engrolei, quase sufocando com as lágrimas.

  • É, infelizmente...

  • Como você ouviu?

  • Eu estava dançando com o Felipe praticamente ao lado de vocês dois, mas vocês não viram a gente. Ah, Felipe!

  • Toma aí!

Ouvi um som que pareciam sininhos. A bolsa da Adri, sempre lotada de chaveiros, certamente.

  • Você vai pra casa também? - Lipe perguntou, em tom preocupado. Eu devia estar parecendo uma descontrolada.

  • Vou sim, não tem mais nada pra fazer aqui depois dessa, você sabe que não vou aguentar olhar pra cara da Penélope o resto da noite – respondeu, Adriane, me erguendo do chão pelo braço.

  • Está bem, eu também vou ir, a festa sem minha namorada não vai ter graça nenhuma – Lipe se aproximou de mim, com um olhar gentil – Você vai ficar legal, está bem? Vai passar, sempre passa.

Assenti com a cabeça, me sentindo como uma múmia saindo de um sarcófago.

As únicas lembranças que tenho do resto disso, foi a de ser enfiada em um Citröen C4 preto, alguém perguntar do volante se tudo estava bem (não, não estava nada bem), da Adri afagando meus cabelos enquanto eu inundava seu belo vestido amarelo-ouro com meu aguaceiro de choro, e de chegar na porta de casa e minha mãe dizendo obrigado pra alguém e depois falando que fosse qual fosse o motivo, eu não precisava mais chorar, porque eu estava em casa, com ela, e ela faria de tudo pra me ver feliz de volta, como a grande mãe que ela é e sempre vai ser.

Mas isso ela não podia resolver. Ninguém podia.

Porque não existe cola pra coração partido em pedaços.


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