Always a Chance - não é tarde Demais escrita por Lara Boger


Capítulo 8
Capítulo 8




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Início da segunda semana.

As pesagens constataram que Kimberly tinha emagrecido um pouco. Os saltos que ambicionava fazer pareciam ter se tornado mais fáceis, mas não achava que fosse suficiente.

Diminuiu o que comia nas refeições. Não comprava mais doces contrabandeados por Adelle, nem nas raras ocasiões em que sentia uma vontade por açúcar que parecia incontrolável.

Fora do ginásio conseguiu um laxante e um diurético. Tinha que se esforçar para esconder o que andava fazendo. Afinal era como Leslie tinha dito, e ela tinha experiência no assunto.

Procurou esquecer disso enquanto estava no tablado, mas não conseguia. Sempre que treinava ao lado de Leslie não se sentia capaz de chegar ao mesmo nível. Depois que quase dois anos treinando juntas ainda ficava mesmerizada com sua técnica e agilidade.

Daria tudo para estar aos pés dela. Daria o sangue para ter aquele talento que tinha capacidade de assombrar os jurados. Por mais que as pessoas dissessem que tinha talento, não se achava capaz de chegar ao topo.

Durante as próximas duas semanas, Kimberly parecia aumentar a sua determinação. Comia menos, treinava mais forte. Parecia mais preocupada com seu peso que o próprio Schimdt.

Leslie observava de perto e parecia tensa ao vê-la desse jeito. Todas as vezes que tentava falar acabava sendo cortada bruscamente. Não podia ceder aos conselhos de amiga de quem secretamente invejava. Seria o mesmo que deixar todo o esforço de lado.

Chegou o dia da competição. Seriam duas etapas. Chegando até o pódio, teriam asseguradas as vagas no pan-americano. Aquele era um passaporte para a fama.

Kimberly comeu pouco enquanto Leslie pelo menos nesse dia comeu a porção normal oferecida. Sabia que numa disputa precisaria de energia. Cega com sua tensão de iniciante viu com nojo a quantidade que sua colega comia.

Se ela continuar comendo desse jeito vai acabar ficando enorme”.

Talvez fossem bom. Quem sabe os movimentos dela se tornassem mais difíceis com o sobrepeso? Seria bom que acontecesse, não?

Com uma van, foram ao ginásio onde iriam competir. Schimdt era obsessivo com horários, e o mesmo valia nessas competições. Preferia ser um dos primeiros a chegar para que as meninas se habituassem a atmosfera do lugar e diminuíssem o nervosismo. Algo que nem sempre funcionava.

Leslie, Kimberly e as outras meninas sentaram ao lado de Schimdt e dos auxiliares. Todas pareciam muito sérias, principalmente Leslie. Todas sabiam que aquela era uma grande chance. Era também uma grande responsabilidade: afinal, além de ser a alavanca para o sonho da vida, também representavam um importante ginásio, com tradição na formação de atletas de elite.

Uma a uma entraram para exibir suas rotinas. Não havia muito tempo para ver a rotina das outras. Leslie, quando nervosa ficava calada, com o olhar fixo em qualquer ponto. Kimberly aprendeu a não incomodá-la nessas horas. Também tinha seus próprios rituais.

Olhou para ela que iria executar sua última prova no aparelho pelo qual Leslie nunca demonstrara grande entusiasmo: a trave. Sua expressão era impassível. Se não a conhecesse, poderia dizer que não havia nervosismo, ou que toda a atmosfera da competição sequer a atingia. Um grande equívoco: os vários anos de ginástica a ensinaram a controlar o nervosismo e guardá-lo apenas para si, mas não a esqueça-lo.

Schimdt lhe disse algo em voz baixa que não pôde ouvir. Ela assentiu com a cabeça. Entrou no tablado quando foi chamada e começou, executando a entrada no aparelho.

Kimberly a observava. Parecia hipnotizada pelas peripécias da parceira. Os exercícios de Leslie naquela trave eram repletos de movimentos com alto grau de dificuldade, e ela nem parecia intimidada com o precário equilíbrio que a estrutura oferecia.

Schimdt sempre lhe confiava as surpresas: os novos movimentos, as acrobacias mais difíceis. Leslie nunca decepcionava, executando todos com a naturalidade de quem o fizera por toda a vida: algo banal. Por um momento teve inveja, imaginando quando seria a sua vez.

“O dia em que eu for realmente leve”.

A saída foi feita com perícia. Sorriu e saudou ao público e aos juízes discretamente como era de seu gênero. Fosse qual fosse o seu desempenho, bom ou ruim, sempre os saudava da mesma forma, mesmo nas ocasiões em que queria matar os jurados.

Voltou para junto de seu pessoal, e a viu receber elogios e abraços de outras garotas. Alguns calorosos, outros falsos. Mas a sinceridade veio do abraço de urso de Schimdt, feliz pelo desempenho de sua melhor atleta naquela geração. A alta nota dos jurados, para ele, era apenas a confirmação do show que eram todas as rotinas, fruto do esforço daquela garota incansável nos treinos.   

- Boa sorte, Kim. – ouviu-a dizer, quebrando o transe no qual estava mergulhada.

Kimberly era a próxima a entrar. Sentiu um frio na barriga, ainda pior que naquelas competições anteriores que pouco representavam senão uma preparação.

Levantou-se e antes de ir ao tablado ouviu orientações técnicas de Schimdt.

Após uma saudação inicial, executou a entrada na trave. Assim que se viu no aparelho sentiu seu equilíbrio oscilar. Sentiu o estômago vazio e o corpo mais leve, mas seu organismo reclamava alimentação.

Agora não podia desistir: precisava terminar sua rotina, ou tudo estaria acabado. Então continuou como se nada houvesse acontecido.

Sua rotina não tinha movimentos tão elaborados quanto Leslie mas exigia-lhe técnica. Giros, saltos em que perdia o contato visual com a trave, como eram as regras. Agradeceu mentalmente ter feito cada um deles sem cair pois do jeito que estava certamente não era algo tão fácil.

Manteve o foco até o fim, tentando não transparecer o esforço que fazia.

Precisou de concentração extra para a saída, mas ocorreu tudo bem. Ao terminar e finalmente sentir seus pés no acolchoado, saudou o público e os jurados, mas não estava sorrindo. Na verdade apenas aliviada por ter terminado.

Olhou para o visor, querendo saber qual era sua nota, mas ainda não estava lá. Preparava-se para sair do tablado quando se sentiu tonta. Sentiu o corpo caindo, sem controle.

Kimberly desmaiou.


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Notas finais do capítulo

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