Aquela era uma cena muito, digamos... estranha de se ver. Quem não o conhecesse (o que era raro, visto que era bem famoso) provavelmente não saberia o porquê, mas a grande maioria estranharia (se estivessem o vendo naquele momento) o fato de Uchiha Sasuke aparentar estar pasmado.

(Será que ele tinha escutado direito?)

— Você o quê...?

A Haruno suspirou cansada, e repetiu pela segunda vez, aparentando uma calma impressionante considerando-se a gravidade da situação:

— Eu estou grávida.

Bem, ao menos agora estava explicado o motivo de tanto assombro.

O Uchiha continuava perplexo e sem palavras. Passaram-se mais alguns minutos de completo (e torturante) silêncio, até este ser quebrado pela voz espantada – e ainda assim muito sexy – do moreno.

— Mas... Você tem certeza?

Sakura irritou-se um pouco com a pergunta idiota do namorado. Afinal, ela era uma médica-nin (1). E não qualquer uma, mas a melhor logo após a Godaime Hokage (2), tendo sido esta sua mestra. Mesmo assim, tentou controlar seu temperamento e respondeu da forma mais tranqüila possível.

— Sim, Sasuke, eu tenho absoluta certeza.

Bem, qualquer um poderia estranhar a perplexidade do Uchiha. Não era ele que queria reconstruir seu clã? Tudo bem, ainda não eram casados, mas já namoravam há algum tempo, e ele não planejava se casar com ninguém exceto ela.

Mas ele tinha motivos para estar assim.

Bons motivos.

Afinal, eles eram muito novos para serem pais...

Tinham apenas 16 anos.

Não era como se ele não soubesse como aquilo havia acontecido, muito pelo contrário, podia lembrar-se de diversas ocasiões em que essa criança poderia ter sido gerada. Apenas não esperava que aquilo acontecesse com ele ainda tão cedo.

Milhões de pensamentos passaram-se pela cabeça do Uchiha em questões de segundos. Será que ele estaria preparado para ser pai? Será que poderia educar uma criança para que esta não seguisse os mesmos caminhos do irmão... ou até mesmo o próprio? Será que conseguiria fazê-la feliz? Conseguiria protegê-la e amá-la como merecia?

Alguém como ele, que ainda estava aprendendo a amar, poderia ensinar o amor ao seu filho?

Todos estes pensamentos torturavam-no por dentro, fazendo com que sentisse uma enorme vontade de sair correndo, fugindo de seus temores...

...Mas não poderia fazer isso.

Ele era um Uchiha e estes nunca fogem de seus compromissos. Ele tinha que arcar com as conseqüências de seus atos, superar seus temores e seguir em frente... Mas, mais do que isso, ele tinha que protegê-la. Proteger àquela que sempre esteve ao seu lado, que sempre o amou, que sempre o apoiou.

Sakura era sua posse mais preciosa e tinha que preservá-la.

Apesar da fachada de tranqüilidade, sabia que ela era a que devia estar mais apavorada. Afinal, ela é quem sofreria a maior parte das mudanças que a gravidez proporcionava física e espiritualmente. Era ela que sentiria os olhares reprovadores sobre si por onde quer que fosse. Era ela que sentiria as dores do parto.

Além disso, ela ainda teria que dar a notícia aos seus pais, que certamente não iriam ficar muito contentes. Nesse ponto agradecia por não ter pais vivos – que Kami (3) e seus falecidos pais o perdoem por pensar assim.

Afastou todos os pensamentos negativos e segurou firmemente as mãos macias da namorada. Não podia perder tempo pensando em coisas ruins, ele tinha que ser forte para poder proteger sua nova família. Sabia já há muito tempo atrás que não poderia recuperar a perdida, mas poderia formar uma nova. E esta ele protegeria com sua vida se fosse necessário.

Fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo, abrindo-os em seguida com um novo brilho nestes. Um brilho de determinação.

— Sakura.

A jovem médica-nin fitou aqueles orbes escuros cheios de determinação e se sentiu mais segura. A verdade era que apesar de seu esforço para aparentar tranqüilidade, sentia medo, muito medo. Medo de que Sasuke não aceitasse a criança, medo de ser abandonada novamente...

...Dessa vez para sempre.

Mas as palavras que saíram da boca de seu amado não eram as que ela estava preparada para ouvir, e estas fizeram com que toda a barreira de proteção que ela tinha levantado durante as últimas 24 horas, desde o momento que teve a certeza de que estava esperando um filho do Uchiha, se quebrasse em mil pedacinhos, deixando suas emoções transparecerem e lágrimas brotarem em seu rosto angelical.

— Seremos uma família feliz. Eu prometo.

E a abraçou de forma protetora e, ao mesmo tempo, possessiva, depositando um beijo suave em sua testa. E de repente todas as suas dúvidas, todos os seus medos dissiparam-se num piscar de olhos, pois eles tinham um ao outro e isso era tudo o que importava.

Era certo que eles eram muito jovens para serem pais. Era certo que teriam que enfrentar muitos preconceitos e olhares tortos. Era certo que a vida deles mudaria dali em diante... Mas isso não importava, pois eles sabiam no fundo de seus corações que eles tinham sido destinados a ficarem juntos, e a criança que Sakura carregava em seu ventre apenas aceleraria esse processo.

E por mais que tivesse sido gerada em um “acidente”, sem planejamento, ela não deixaria de ser o fruto do amor de ambos.

— Sasuke-kun...

A Haruno, após conseguir acalmar-se um pouco, chamou-o com sua voz doce ainda um pouco chorosa.

— Hn? – respondeu, ainda sem se soltar da namorada. Ela levantou o rosto do peito do Uchiha, encontrando seus orbes esmeralda com os ônix dele.

— E-eu estou com medo... O que faremos agora? Como contaremos à todos? Eu não sei se conseguirei ser uma boa mãe e...!

Mas Sasuke a calou colocando um dedo sobre seus lábios, e com um olhar carinhoso e um sorriso – ou algo bem próximo a isso –, sussurrou de forma tranqüila e amorosa:

— Shh... Tudo vai dar certo, nós aprenderemos juntos e seremos felizes, não se preocupe...

Não sabia se era as suas palavras ou o modo como ele a acariciava o rosto, mas aquilo teve um efeito tranqüilizador na médica-nin. Sentia-se mais segura, protegida. E aquilo que antes era um grande problema, parecia agora algo tão insignificante...

Sorriu e sentiu a mão que estava em seu rosto escorregar até seu pescoço, puxando sua face de encontro aos lábios do moreno. Não sabia se era impressão sua, mas sentiu que o beijo dessa vez era muito mais doce, muito mais delicado... como se ele achasse que poderia quebrá-la. Era um beijo tão diferente dos anteriores, pois quando se beijavam Sakura sempre sentia o desejo, a necessidade... Mas este beijo era diferente, demonstrava carinho e, principalmente, amor.

Tão suave como começou, o beijo foi encerrado. Sasuke afastou seu rosto um pouco e apoiou sua testa na de Sakura, saboreando o momento.

A Haruno tinha que admitir que, se fosse para receber aquele tratamento de princesa toda vez que ficasse grávida, adoraria permanecer assim para sempre.

Mas, para o desagrado da futura mamãe, Sasuke a soltou de seu abraço confortável. Afastou-se um pouco e pegou na mão de Sakura, intercalando seus dedos. Sorriu daquela maneira sexy que só ele conseguia e disse:

— Vamos?

A garota de cabelos róseos encarou-o interrogativa, com uma expressão tão inocente que Sasuke teve que se conter para não a agarrá-la ali mesmo.

— Aonde, Sasuke-kun?

— À sua casa. Precisamos combinar com seus pais os detalhes de nosso casamento.

Ela não pôde conter um riso divertido, enquanto sentia-se conduzida em direção à residência Haruno.

— E como você sabe que eles irão nos dar a permissão para nos casarmos? Além disso, nós só temos dezesseis anos e você não está em idade legal para casar.

— Bem, se eles não apoiarem o nosso casamento, então terei que te seqüestrar e fugir da vila... Creio que eles prefeririam ter a filha e o futuro neto por perto, não? E com relação à idade legal, eu já sou independente física e financeiramente deste que completei dezesseis anos, visto que não tenho nenhum outro parente vivo, muito menos um tutor legal. – ele fez uma pequena pausa e sorriu no mesmo tom divertido da namorada. – Não pense que poderá fugir de mim assim tão fácil!

Este último comentário arrancou risadas gostosas provindas da kunoichi (4) de cabelos róseos.

Agora eles tinham certeza que tudo daria certo, afinal, o mais importante era que eles tinham um ao outro e se amavam. E seja qual o problema que aparecesse em seus caminhos, eles superariam juntos. Porque eles eram uma família, e é isso o que uma família faz.

E não importava se eram jovens demais, inexperientes demais. Porque eles estavam destinados um ao outro e eles sabiam que mais cedo ou mais tarde aquilo iria acontecer...

Owari.

Minidicionário:

(1) Médica-nin: São os conhecidos ninjas médicos, que utilizam chakra para curar a maioria dos ferimentos. O nome é a tradução do original “Iryou-nin” (医療忍).

(2) Godaime Hokage: Na tradução, “Quinta Hokage”. O cargo mais alto da vila de Konoha (Hokage), sendo responsável pelas grandes decisões na vila. A Quinta Hokage (A primeira mulher entre os Hokages) é a Tsunade, discípula do Terceiro Hokage (Sarutobi Asuma), uma dos três lendários Sennins junto a Jiraiya e Orochimaru, e neta do primeiro Hokage (Hashirama Senju).

(3) Kami: Significa “Deus” em japonês. Geralmente vem seguido do sufixo “-sama”, que indica autoridade e respeito.

(4) Kunoichi: É a designação dada a ninjas do sexo feminino. Além do treinamento normal, igual ao recebido pelos homens, as kunoichis eram treinadas na arte da sedução, para extrair informações do inimigo, distraí-los ou até mesmo assassiná-los.