Crow escrita por ashirogi, mao_hitachiin__


Capítulo 1
O corvo


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar, desejamos a você uma boa leitura. Leia com calma e quando tiver tempo disponível. Agradecemos a todos.



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[tic, tac, tic, tac] Para um lado, para outro, meus olhos não paravam de seguir o pêndulo daquele relógio. Eu me perguntava como ainda existia um relógio antigo daqueles numa escola tão atual como aquela. Com sono e sem disposição para prestar atenção na aula, eu apenas olhava as horas no meu relógio de pulso, esquecendo que na minha cara havia um relógio de pêndulo bem grande, pendurado na parede. Eu não via a hora daquela aula acabar, e causar suspensão não seria uma boa idéia, já que alguém ia arrancar o meu coro.

– AC é igual a três, BC é igual à raiz quadrada de CD que é a média aritmética entre A e D. – um professor qualquer, que nem vi entrar, explicava o conteúdo.

– Senhor Black, pode me dizer quanto vale o X nesta situação? – perguntou para algum idiota incapaz de responder.

Achei estranho o jeito de todos estarem com os olhares voltados a mim, nada amistosos por falar.

– Senhor Black, estou esperando. – disse.

– Quem? – perguntei.

O professor me olhou com aquela cara de quem gostaria de dizer “qual é o teu problema, em?”.

– Qual é o teu problema, em?

– Nenhum, o problema ta é nessa matéria ridícula que não dá para entender. - falei, sem pensar.

– Não, o problema está entre a mesa e a cadeira, É VOCÊ! - gritou - Você é muito burro! A tua sorte é que teu pai é bem sucedido e vai te sustentar.

Os alunos começaram a rir, zoando. A coisa mais inteligente a se fazer numa hora dessas seria responder algo bem doidão para o professor. Eu só queria deixá-lo sem nenhuma palavra, mas como eu não era bom nisso eu pensei apenas em ficar calado e deixar isso passar.

– Aliás, para que existe a matemática mesmo? Eu estudo coisas aqui que eu nunca vou usar na minha vida. Qual a finalidade disso tudo? – eu disse que pensei em ficar calado, mas não disse que tinha feito isso.

O professor ficou sério e demorou um pouco para responder. Também pensei em milhões de coisas, como o erro que tinha acabado de cometer ao perguntar aquilo e como ele poderia me responder algo do tipo “Você gosta de ir para casa de metrô ao invés de ir a pé? Você gosta de assistir TV? De falar com sua família no telefone? De escrever algo no computador ao invés de escrever numa folha com uma pena? Você queria que a matemática nunca fosse desenvolvida para aprender como eram os extintos do homem na pré-história para caçar e ser nômade a fim de sobreviver aos animais ferozes e às doenças que não tinham cura?”, mas ele simplesmente respondeu meio irritado, enquanto todos riam:

– Você precisa de matemática para passar de ano.

O sinal tocou e os professores começaram a trocar de sala. O professor exibiu um pequeno sorriso, pegou seus materiais e saiu da sala. Mesmo assim, a situação ainda era motivo de discussão e piada entre os alunos.

Não sei por que faziam isso. Tudo bem que eu era meio isolado, mas não dei motivo algum para implicarem comigo. Parece que todo dia eles carregavam a necessidade de mexer com alguém. “Ah, claro! Por que não mexer com o sem-amigo ali, com cara de emo?” Era uma droga. Inventavam cada coisa sobre mim. Entretanto, eu era apenas um cara normal vivendo os dias que passavam normalmente, tentando não chamar atenção e vivendo sempre na mesma. De vez em quando, era bom sair da sala para ter um pouco de paz.

Saí para respirar um pouco e fui para a cobertura. Para ser sincero, eu nem queria respirar tanto, queria mesmo era conversar com meu único amigo: Teddy, o corvo. Ele era o único que me escutava sempre sem se queixar. “Óbvio” - você deve estar pensando - “era um corvo” .

Se você é um ser que preserva sua sanidade mental, pode me xingar e esquecer tudo o que eu falei sobre ser normal.

Subi as escadas rapidamente para não esbarrar com ninguém. Antes de abrir a porta, olhei rapidamente para trás. Não havia ninguém me olhando, não era para ter mesmo. Passei pela porta e olhei bem para os lados, observando se alguém estava lá. A área era bem grande, seria bem fácil alguém permanecer lá sem ser notado. Agora eu estava bem e sozinho. Aproximei-me do final da cobertura onde ficava uma pequena mureta com uma grade em cima, de onde era possível visualizar a área frontal da escola. De repente uma imagem gozada apareceu como um borrão no céu. Era Teddy, voando na minha direção. Pousou em cima do meu ombro e começou a girar a cabeça roboticamente, coisa de pássaro, eu acho.

– E aí, Teddy? Beleza? – perguntei animado.

Aaaaaaaa!

Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, portanto insisti, ainda animado.

– Qual é Teddy? Tá maluco?

Teddy pulou em cima da minha cabeça e começou a me bicar.

– Ai, ai! Tá bom, chega de brincadeira seu corvo imbecil! – falei irritado, puxei o bicho da minha cabeça e comecei a esmagar seu pescoço com as mãos, movendo os braços para frente e para trás.

Teddy batia as asas e deixava as penas caírem, devia estar tentando se soltar.

Nya, ha! – Uma risada interrompida soou bruscamente aos meus ouvidos.

Percebi alguns sussurros e risadas por trás de mim. Larguei Teddy e dei um chute na porta. Não havia ninguém lá. “Devo estar ouvindo coisas”, pensei. Voltei-me para o corvo, já fugindo, e gritei:

– Você não se livrou por isso seu babaca. Vou te trancar no banheiro e não vou te dar comida, seu merda.

Aaaaaaa!

Bati a porta, nervoso, e desci as escadas de volta à sala. Me deparei com uns idiotas rindo bem alto. Riam que se matavam de tanto rir, riam que até choravam, um com a mão na barriga, outro batendo a cabeça na mesa, o do canto caído no chão. Coitado do moleque que estava sendo motivo de chacota dessa vez. Fiquei aliviado por não ser eu.

– Olha lá, o chapadão – um deles comentou, apontando para mim.

– Sem comidinha pra você hoje!

– Teddy, fala comigoooo! – falavam alto, sem saber se riam ou me imitavam.

Sentei na minha cadeira e fiquei com cara de palhaço. Uma garota sentada ao meu lado me olhou como se quisesse dizer “Paranóico!”.

– Paranóico! – ela disse.

Me encarou me olhando como se eu fosse um verme.

– Eu não sou um verme. – disse ao acaso.

Ela permaneceu imóvel por uns segundos, pegou suas coisas e simplesmente mudou de lugar. Levantei-me e fui um pouco a frente da sala.

PORRA! Porque não me deixam em paz? – gritei.

Felizmente, o professor não estava na sala. Logo que chegou, pararam de fazer piada e se aquietaram, tentando conter os sorrisos.

– Bom dia galera, - disse ao chegar - sente-se senhor Black. - e me repreendeu.

Fiquei mais calmo, mas ainda assim peguei minhas coisas e saí da sala. Saí sem autorização no meio do horário, sem dar muita explicação à ninguém. Ninguém tentou me parar.

O metrô demorou um pouco, mas finalmente chegou. Tentei esquecer o que havia acontecido, mas sempre que tentava, pensava mais e mais naquilo tudo. Estava tão cansado da minha vida que nem percebi que o metrô já tinha passado da estação que eu ia descer.

Voltei para casa andando e deitei na minha cama, tudo estava quieto no presente momento, nada poderia me perturbar. [tec, tec, tec] Teddy bicava a janela, pedindo para entrar.

– Eu não vou abrir, Teddy...

Ele continuou até a hora em que se cansou e saiu de onde eu podia vê-lo. Fiquei deitado, paradão, esperando que alguma coisa importante acontecesse. Eu precisava de férias. Não, eu precisava mesmo era dar um jeito de mudar o curso natural das coisas ou então eu ia morrer mais cedo do que o mundo acabando em 2012. Pensei na possibilidade de que Teddy estaria certo ao me dizer que eu estava precisando de uma namorada. Sorri da situação a que me fez pensar nisso e logo larguei essa idéia de mão, até porque o Teddy era um babaca. Nós dois sabíamos que esse negócio de namoro era contra as regras.

Pela primeira vez, depois de um bom tempo deitado, levantei da cama e fechei a cortina da janela. Deitei-me novamente, sem saber ao certo se queria dormir, mas depois de um tempo eu já tinha pegado no sono.

[pé, pé, pé,pé] Acordei com o despertador, muito irritante, por falar. Abri lentamente os olhos e permaneci imóvel por alguns minutos, olhando para o teto. Sentei à beira da cama, cocei os olhos, bocejei, me espreguicei, me cocei todo e desliguei o despertador. Ainda meio sonolento, fui andando devagarinho pelo quarto em direção ao banheiro. [] Bati a cara na verga da porta me assutei com o barulho e, convenhamos, doeu um bocado.

– Mas que...! – tentei me controlar para não perder o controle. Óbvio, não?

Todos os dias eu estava começando com o pé esquerdo, e como todos os outros dias, contra a minha vontade, eu começava com o treinamento que meu pai me passou para eu fazer todas as manhãs. Fui até a cozinha e olhei para o relógio pregado na parade marcando exatamente duas e sete da manhã.

– Estou sete minutos atrasado. – resmunguei.

Vesti meu uniforme rapidamente, chamei o Teddy, que estava dormindo no telhado da casa, e, com a folha de exercícios do meu pai, aaí correndo por cima de telhados em companhia do bicho.

Pois bem, faço coisas à noite que pessoas normais não conseguiriam entender. Eu não sou normal. Mas estou apenas vivendo todos os dias o mesmo dia. Não é para entender mesmo. Se você é um ser que preserva sua sanidade mental, pode esquecer tudo o que falei sobre ser normal.

Daqui para frente, nada fará o menor sentido.


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Notas finais do capítulo

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