Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 8
A Reunião


Notas iniciais do capítulo

"Se eu fosse uma vidraça, estaria estilhaçado agora".



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                Ficamos ali, olhando um para o outro por um bom tempo. Aliás, a Ana olhava para mim. Eu não conseguia acompanhar aquela troca, parecia mais que eu tava procurando lentes de contato à distância.

                - Afinal, por que você veio aqui? – Ana perguntou – E sem avisar, nem nada.

                - Não foi idéia minha! Er, quer dizer...

                - Ué, e de quem foi?

                - Esquece, fui eu, sim. Desculpa... Eu precisava vir, pra esclarecer tudo.

                - Tudo o quê?

                - O que aconteceu ontem... Você sabe...

                - Ah. O que mais precisa esclarecer além do óbvio?

                Nesse momento, uma tristeza quase insuportável percorreu meus pensamentos. Tive que me segurar, desta vez, pra não cair de joelhos aos pés dela, chorando e pedindo desculpas. Mas algo na minha mente me manteve são. Talvez o fato de saber que, realmente, eu não tinha feito nada de errado. A culpa era...

                - Foi a Kasumi.

                - Hã?

                - Ela que me forçou, eu não queria fazer aquilo.

                - Aquilo o quê? O que você fez?

                - Como assim, o que eu fiz? Você não viu o que aconteceu?

                - Não, eu fui embora.

                - Exatamente! Logo depois do recreio, você...

                - Não, eu fui embora antes disso.

                - ... Não me diga que você viu ao vivo, lá em cima na...

                - Matt! Eu não vi nada! Do que você tá falando?

                ... não é possível.

                - Você tá bem? – ela continuou – Bateu a cabeça, cheirou alguma coisa...?

                - Por que você faltou hoje?

                - Pelo mesmo motivo de ontem. Não passa assim, de um dia pro outro, sabe?

                - O que não passa?

                - Essas malditas cólicas! Desde terça-feira, eu tô sofrendo com isso.

                ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... como é que é?

                - Matt? Tá tudo bem? Você tá vermelhão.

                - ... Então, terça, quando você tava cabisbaixa no final da aula...

                - É, dores muito fortes. Muito, mesmo. Eu tava com vergonha de contar, na hora.

                - E ontem, você foi embora...

                - Logo que bateu o sinal do recreio. Não dava pra agüentar.

                - E hoje, você faltou...

                - Pelo mesmo motivo. Eu precisava muito da minha cama pra me recuperar.

                Se eu fosse uma vidraça, estaria estilhaçado agora. Minha cabeça parece ter quebrado em vários pedacinhos que foram carregados com o vento e sobrou apenas um sentimento indescritível de vergonha, perplexidade e, por incrível que pareça, felicidade.

                - Ninguém avisou isso pra vocês, não? – ela continuou – Que escola vagabunda! É sempre assim, ninguém me considera... Matt? Você tá chorando...!

                Ela tinha razão. A emoção confusa que eu sentia estava se manifestando e eu não conseguia contê-la. Não faço idéia se são lágrimas de vergonha, tristeza, raiva, alegria, alívio ou mesmo desespero. Sei apenas que meu impulso imediato foi me atirar aos braços da Ana como uma criança desamparada, soluçando. Ela não se moveu.

                - Desculpa...! Desculpa!

                - ... eu não tô entendendo nada, mas tudo bem.

                E ela retribuiu o abraço.

                Ficamos assim por um bom tempo, até que ela murmurou no meu ouvido:

                - Agora para de chorar que você tá muito emo.

                - ...heh. Tá bom.

 

                Sentamos no chão, encostados à cama. Não sei quanto tempo se passou enquanto nós olhávamos para as copas das árvores pela janela. Acho que ela esperou a minha face voltar ao normal para perguntar:

                - Então... tem como você me explicar o que acabou de acontecer?

                - Na verdade, é uma longa história.

                - Tudo bem, eu tô disposta a ouvir.

                - Você promete que vai ouvir até o final?

                - Prometo.

                Parei um pouco pra pensar. Eu deveria contar tudo? Revelar a verdadeira Kasumi não seria comprometedor? Se bem que, desde o início, a idéia de vir até aqui foi dela. Deu a impressão que ela queria falar tudo, mesmo.

                - E aí? – Ana perguntou.

                - Você não vai acreditar.

                - Você só vai saber quando acabar de contar.

                - ...ok. Sabe a aluna nova lá da escola?

                - Eu só vi ela de relance, mas sim.

                - Ela não é... bem... desse mundo.

                Resolvi dizer tudo, desde que a cápsula caiu perto da minha casa até o transporte instantâneo à casa dela. Não foi nada confortável, especialmente contar a parte do exame do SPIPA. E a cada palavra que eu dizia, Ana fazia uma expressão de descrença ainda maior.

                - ... Aí ela tocou a campainha e fugiu. E aqui estou eu.

                - É isso?

                - Aham – eu já previa a reação, pela cara dela.

                - Tá bom. Eu não acredito, mesmo.

                - Eu te disse. Mas eu juro que é a verdade.

                - Por que você tá me contando essa história? Se o seu intuito é ficar com essa tal de Kasumi, podia ter simplesmente dito isso, eu entenderia.

                - Eu não quero ficar com ela! É por isso que eu não posso mentir pra você!

                Ela ainda olhava pra mim com a mesma expressão de que não acreditava.

                - Ana – continuei – Eu quero ficar com você! Eu te amo!

                - ...! – ela ficou rosada nas bochechas, ao mesmo tempo em que mudava de expressão de descrente para surpresa. De repente, começou a rir.

                - O que foi? – perguntei.

                - É que, mesmo quando nós estávamos juntos, você nunca me disse isso.

                - Sério? – corei. Eu não me lembrava disso.

                - Vamos supor que a sua história é verdadeira.

                - Ela é!

                - Você está usando aquele capacete alienígena agora, certo?

                - Certo.

                - Então... – ela se aproximou – me examina.

                Corei outra vez.

                - Ah, não, é, quer dizer, não sei se funciona, parece que só...

                Ela tapou a minha boca com um dedo e disse:

                - Não tem problema. Não é isso que eu quero, mesmo.

                Seus olhos me encaravam como que me explorando. Olhei fundo naqueles olhos claros, que se aproximavam cada vez mais. Eles se fecharam. Os meus, logo fecharam também.

                Depois de tanto tempo...

                - Ana. Terra. Escola. Casa. Estresse. Alegria. 42. Matt. Pais. Kim. Jenny. Joey. Carbono. Água. Sexuada. Guerra. Paz.

                O SPIPA funcionou.

                Mas ninguém pareceu se importar.

 


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Notas finais do capítulo

Como já me disseram: ALELUIA! \o/
xD

Esse capítulo foi o mais "bonitinho" que eu já escrevi. Mas, na minha opinião, o resultado foi melhor que o esperado!

Qual a sua opinião? Reviews! =D



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