Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 13
Revelação Não-Espontânea


Notas iniciais do capítulo

"Eliminei qualquer pensamento da minha mente. Meu corpo estava sendo controlado inteiramente pelo ódio."



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            Sete horas da noite.

            Não tinha ninguém em casa além de mim, Kasumi e outra alienígena desgraçada que estava no quintal. É para lá que eu estava me dirigindo.

            - Me-kun – disse Kasumi, tentando me segurar – eu preciso abrir a cápsula pra você tentar qualquer coisa. E caso alguma coisa dê errado, você não vai conseguir segurar a Joana sozinho.

            - Tudo bem, Kasumi, você vai também. Mas eu quero falar com ela.

            Ela ficou em silêncio. Após um tempo, levou as mãos à cabeça, segurando o SPIPA.

            - Não! – exclamei – Eu não preciso disso.

            - Tem certeza? Você não vai entender nada do que ela disser.

            - Isso não importa. Nem que eu entendesse, não ouviria nada.

            Andamos até o lugar que Kasumi me indicou. A cada passo, minha raiva aumentava de forma que eu estava assustado comigo mesmo. No entanto, a última coisa na qual eu queria pensar era se minha ação a seguir seria moral e politicamente aceitável.

            Havia um buraco no chão. Kasumi disse algo na sua própria língua, que fez emergir uma cápsula familiar. A porta se abriu, revelando uma criatura que lembrava bastante a forma real da que eu já conhecia. Porém, ela parecia feita de bronze. Não consegui ver se havia uma turbina nas suas costas, mas Kasumi tinha dito que qualquer forma de tecnologia que ela tinha foi removida por precaução.

            A criatura abriu seus olhos sem emoção. Ao me ver, soltou um guincho agudo, ao mesmo tempo que mudava sua expressão para algo que mesclava desprezo e deboche. Não dava pra ver muito bem, já que estava escuro, mas ainda assim, ela conseguia transmitir essa impressão. E conseguia me deixar ainda mais descontrolado.

            Eliminei qualquer pensamento da minha mente. Meu corpo estava sendo controlado inteiramente pelo ódio. Não me importava que eu entrasse na cápsula sem aviso prévio. Não me importava que eu socasse a face brilhante de uma “mulher”. Não me importava que eu continuasse a espancando com todas as minhas forças, até que não restasse força nenhuma. Só queria vê-la sofrer.

            Mas não tive resultado.

            Quando parei, ela voltou a me dirigir aquela expressão medonha. Eu tinha lágrimas escorrendo pelo rosto, e ela soltou outro guincho ao percebê-las.

            - |_|-|-|<|_>-_|~_!

            - Kasumi, o que ela disse?

            - Ela perguntou, “É só isso que você consegue fazer?”

            Eu não precisava ter perguntado. Pela cara e pela reação dela, era óbvio que ela não sofreu nada. O que é que eu podia fazer, então? Tentei me controlar, mas a decepção me possuía. Caí de joelhos e desatei a chorar. A alienígena guinchava numa seqüência que interpretei como um riso. Minha tristeza aumentava ainda mais quando, subitamente, os guinchos cessaram, dando lugar a um grito horrível de dor. Levantei a cabeça, percebendo que Kasumi tocava a cabeça de bronze da extraterrestre com a ponta do indicador, provavelmente realizando outra tortura neural desconhecida. Sua expressão também era de ódio intenso.

            Ao tirar o dedo, os gritos pararam, e a cabeça que os estava emitindo tombou, sem forças. Olhei para Kasumi, com vontade de agradecer por fazê-la sofrer, mas ela disse:

            - Não adianta. Vê a cara dela...

            “A cara dela” ainda estava com aquele sorriso nauseante estampado.

            - Nem o SPIPA serve pra isso? – perguntei, desolado.

            - Aparentemente, não. Ela não quer contribuir com nada – Kasumi também estava decepcionada – Eu não sei os seus objetivos, nem o que motiva suas ações, nem o que exatamente ela fez com a Ana...

            - De que adianta? – falei, sem esperanças – A memória dela já se perdeu...

            - Talvez, não.

            - ...Como assim?

            - Considerando que o C.E.M. não permitia intervenções significativas a longo prazo na memória das pessoas, a Joana deve ter “retirado” a memória dela.

            - Você quer dizer...?

            - Que as lembranças que a Ana tem de você ainda devem estar no SPIPA dela.

            - ...!

            - É uma possibilidade...

            - Por que você não disse isso antes?! – perguntei, revoltado.

            - Porque eu não tenho certeza! Depois que eu descobri que existe outra funcionária do C.E.M. aqui, não sei mais o que eles pretendem.

            - E você não pode checar isso?

            - Infelizmente, não. Apesar de poder tirar o SPIPA dela, eu não posso usá-lo. Ela pôs uma ceia de proteção... (ah, senha!)

            - Nós temos que tirar isso dela!!

            - É, mas duvido que ela ceda essa informação de qualquer maneira. E não dá pra arrancar dela, eu já tentei de tudo.

            - Nem analisá-la funcionaria?

            - Eu já te disse, só tenho permissão pra analisar você. Só se eu... – de repente, ela alterou sua postura de decepção para descoberta - É isso!

            - Isso o quê? – ela olhava fixo para mim - ...ah! Não me diga que...

            - Sim! Me-kun, você analisa ela!

            - Tá maluca?!!

            - Mas é a solução perfeita! Você só precisa priorizar os objetivos e a senha do SPIPA dela! E se possível, as ordens do C.E.M., e também...

            - Eu não vou fazer isso! – enfatizei – Sem chance!!

            - Então me diz, senhor purista, tem alguma idéia melhor?

            Deve haver outra solução... Tortura? Não funciona. Diálogo? Não daria em nada. Implorar? Aah, que droga!!

            - Tudo bem... Eu vou fazer isso – como eu mudo rápido de idéia...

            Joana estava cabisbaixa até aquele momento, mas notei que ela aumentou atenção no momento em que Kasumi tirou seu SPIPA e o entregou a mim.  Lentamente, entrei mais uma vez na cápsula, colocando o capacete e ouvindo os sons insuportavelmente altos de adaptação.

            - [O que é que você pretende com isso?] – a criatura de bronze perguntou.

            - [Saber a verdade. E salvar a Ana.]

            - [Como, salvá-la? Sou eu quem a estou protegendo!] – ela mantinha aquele sorriso.

            - [De quê?]

            - [De um idiota como você!] – ela riu, mesmo enquanto eu dava um soco naquele rosto alienígena.

            - [Você me dá nojo! Eu ainda não acredito que vou fazer isso...]

            - [Se depender de você, não vai mesmo, não.] – ela debochou.

            - [Me-kun!] – Kasumi gritou – [O que está esperando?]

            - [Ela tem razão, Kasumi. Eu não vou conseguir me convencer a... beijar... essa coisa!]

            - [Você não precisa! O SPIPA toma a iniciativa por você.]

            É verdade, isso facilitaria as coisas. “Analisar Joana”.

            Nada aconteceu.

            - Mas que droga! – murmurei, depois olhei para ela – [Qual é seu nome real?]

            Ela acentuou ainda mais seu sorriso repugnante:

            - [Ora, achei que você soubesse. Já se esqueceu?] – eu devia saber que ela não contribuiria com nada...

            - [É JNN-606060K!] – Kasumi lembrou – [Dá pra ver isso com o SPIPA, desculpa não ter te falado isso antes.]

            - [Ah, valeu...] – “Analisar JNN-606060K”.

            Mais uma vez, meu corpo saiu do meu controle. Minhas mãos seguraram a cabeça dela, que tentava se libertar, sem resultado (caramba, o capacete me dá força sobre-humana, também?). Por fim, me aproximei dela e... Argh! Não quero prestar atenção nisso!

            - JNN-606060K. Zerphys Boh. C.E.M. . Moradia fixa não encontrada. – “Ah, preciso da senha!” – Senha do Sistema de Processamento de Informações de Planetas Alheios: ... ... ...

            “O que houve? Por que a demora?”

            - Informação oculta. Impossível destravar.

            - Quê?! – exclamei, me soltando subitamente da análise.

            - [O que foi?] – Kasumi olhava para mim, apreensiva.

            - [Não consigo descobrir a senha! O SPIPA diz: “Informação oculta”!]

            Ela ficou decepcionada, como se pensasse “Era o que eu temia”. Joana estava rindo, mais uma vez.

            - [Eu já disse!] – ela falou – [Você não vai conseguir tirar essa informação de mim... porque nem eu consigo!]

            - [Como assim?]

            - [Existem coisas] – Kasumi explicou – [que o C.E.M. cria e insere na mente de seus funcionários. Geralmente, senhas de proteção são as mais requisitadas.]

            - [Mas então, não dá pra acessar de jeito nenhum?]

            - [Só na central. A informação é inconsciente em quem a possui. Ela não sabe qual é a senha, mas consegue usá-la.]

            - [Aah! Que raiva!!]

            - [E os objetivos? Você conseguiu?]

            - [Ah! Opa... Esqueci.] – corei.

            - [Ai ai, Me-kun... Você vai ter que analisar ela de novo.]

            A princípio, eu estava desmotivado a continuar com aquilo. Recuperar a memória da Ana era minha prioridade, e isso não era possível naquele momento. Ainda assim, parei pra pensar. Talvez, se eu soubesse os objetivos dela, poderia correr atrás deles e, assim, a alien devolveria as lembranças dela. Não tinha certeza, mas tentar ainda era melhor que ficar estático e sofrendo.

            “Analisar JNN-606060K: objetivos”.

            Meu corpo a segurou novamente, aproximou-se novamente e encostou novamente seus lábios nos dela... Por que eu estou pensando em detalhes? -_-‘

            - Objetivos secundários: Confrontar o segundo funcionário; Dificultar os objetivos do segundo funcionário; Colher amostras de memórias.

            “Objetivos primários: Verificar o nível dos habitantes do planeta analisado; Caso esteja abaixo de 60, ativar o dispositivo D na cápsula e na cápsula do segundo funcionário”.

            “Objetivo principal adquirido: Preparar a Terra para aniquilação”.

            ...

                        ...

                                   ...

            Joana olhou para minha perplexidade e disse:

            - [É. Vocês estão condenados.]

 


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Notas finais do capítulo

Estamos com problemas Dx

Bom, vocês vão ter que esperar o próximo capítulo pra saber se existe salvação pra gente. Nem eu sei, ainda =P