‘’Eu e o Tom estávamos em Hamburgo brigando no carro quando ele bateu em um caminhão, ficou duas semanas em coma e morreu. Graças a Deus eu tive apenas um braço quebrado. Lindo, não?’’

Acordei com o Sol fraco batendo em meu rosto. Estava abraçado a Ashley. Ela estava dormindo com a boca entreaberta e segurava meu braço. Linda com sempre. E naquele momento eu senti uma paz imensa. Juro, mas, se morresse agora, eu morreria feliz. Nossa, às vezes Bill você tem pensamentos meio idiotas sabia? É, na verdade, sabia.

Alguns minutos se passaram e comecei a cochilar novamente. Sentia minhas pálpebras cada vez mais pesadas. Cheguei a dormir por alguns segundos, quando escuto a porta do meu quarto sendo aberta. Abri os olhos, era Tom.

- Bill, você esta dormindo? – Perguntou bem baixinho

- Não! Estou treinado pra morrer, por quê? – Me olhou com uma cara de nojo. Tolerância zero, maninho.

- Então aproveita e morre logo!  - Como eu sinto saudades do nosso ‘‘Bom dia’’ e ‘’Boa noite’’.

- O que você quer Tom? – Disse bem alto, o que fez Ashley acordar. – Viu o que você fez Tom? Acordou ela.

- Não vi não. Caso você ainda não tenha notado, eu nasci cego. – Hoje é o dia nacional das patadas? Por que, né... – Bill, eu quero conversar com você. Posso?

- Deixa eu pelo menos acordar, Tom? Me espera na cozinha? – Olhei para Tom que logo depois foi vitima de lindos olhinhos curiosos.

- Tudo bem – Perai... Ele fechou a porta devagar? Mas, ele tem mania de fechar a porta como se o mundo tivesse acabando. O que será que aconteceu com ele?

- Deus! Será que meu irmão foi contaminado por um vírus alienígena como no filme ‘’Invasores’’? – Bill, não viaja ok? Não viaja.

Olhai para Ashley, dormia novamente.Me soltei dela e fui ao banheiro cambaleando que nem um bêbado. Tirei minhas roupas (Yasmim: Imaginem a cena... *0*) quem nem uma tartaruga (Yasmim de novo: Em câmera lenta é melhor, não? XD) e entrei no chuveiro, tomei um banho galado. Já que é só assim que eu fico acordado. Mas, em vez de pensar em como minha vida tem sido a mesma nos últimos messes – o que eu tenho feito sempre, comecei a pensar naquela pessoinha que esta dormindo ma minha cama. Pensei em com ela é sortuda por eu ter a achado. Mas, acabei por pensar que eu sou o sortudo de tudo. E por uma das primeiras vezes em toda minha vida tenho a certeza que estou certo.

Sai do banho e voltei ao quarto. Ashley ainda dormia. Fui ao closet e vesti uma camiseta vermelha, uma calça jeans escura e um tênis Nike de cano longo. Penteei os cabelos tão devagar que acho que demorei uns 10 minutos. Não usei maquilagem, já que só ficaria em casa. Assim que sai de lá, me deparei com umas das cenas mais lindas que já vi. Tom segura Ashley. E estava com a mesma cara de idiota que a minha quando a vi pela primeira vez. É, eu disse que ele iria aceitar, não disse? Confesso que não pensei que seria tão rápido. Mas, como sempre me enganei.

- Já aceitou? – Perguntei com um tom sínico, mas, engraçado.

Olhou para mim meio surpreso e logo seu rosto ganhou uma feição super envergonhada – Aceitei o que?

- Já aceitou o fato dela ser sua futura sobrinha? – Perguntei agora sem o tom sínico.

- Sabe como é, né? Vou ter que aceitar mais cedo ou mais tarde. E eu prefiro que seja cedo. – Vi um sorriso no canto da sua boca.

- Serio?

- É... Sabe, ser tio não deve ser tão ruim assim – Olhou para Ashley e sorriu – E eu não poderia ter uma sobrinha mais linda.

Foi a minha vez de sorrir. Sentei bem devagar na cama ao lado dele. Nos olhamos e sorrimos um para o outro. Aquele sorriso que em palavras seriam ditas ‘’Tudo vai dar certo’’. De repente Ashley começou a chorar. Olhamos para ela e Tom voltou a olhar para mim.

- Eu deixei mamadeiras prontas na cozinha – Levantamos e fomos à cozinha. Abri o isopor e peguei uma das mamadeiras. Coloquei um pouco na mão. Morno. A peguei do colo de Tom e ‘’enfiei’’ a mamadeira na boca dela com ele ainda chorando. Tom ficou ao meu lado e olhou pra Ashley. Ela continuava a beber o leite desesperadamente e como eu sou paranóico tirei a mamadeira da sua boca por alguns segundos para ela respirar. Ou pior, se afogar no leite.

- Sabe, eu acho que você será um ótimo pai. – Olhei para ele que sorria para mim. Um sorriso confortável.

- Ownn... Mesmo? – Perguntei com uma cara tão feliz que parecia uma criança pestes a ganhar um saco gigante de balas.

- É, acho. Meio desastrado, mas, eu gostaria de ter você como pai. – Olhou para Ashley - E sabe o que eu mais acho, Bill?

- O que, Tom? – Voltou a olhar para mim.

- Que essa menina veio par nos unir de novo, Bill.

- Nos unir? – Notei que a mamadeira da Ashley já estava na metade. Garota gulosa essa, heim!

- É. Sabe, eu venho percebendo de uns tempos pra cá. Depois que a filha da p... da Juliana me largou, nós não conversamos mais. Nem nos vemos direito. Aquele sentimento inseparável de gêmeos que nós tínhamos desapareceu. Não morreu, mas, desapareceu. – Olhou para o chão e voltou a olhar pra mim com um dos olhares mais tristes que já vi. Se não o mais triste.

- Eu também tenho percebido isso, Tom. Eu sempre tentava conversar com você, mas, você sempre corria de mim. Então, eu deixei de insistir. Eu sabia que se eu tentasse conversar sobre isso com você, nós teríamos uma briga feia e você iria parar de falar comigo.

E ele fez uma coisa que eu jamais pensei que ele fosse capaz de fazer. Abraçou-me e começou a chorar. Fiquei sem reação. Não podia acreditar naquilo. Meu Tom chorava ao meu lado. Por Deus, como eu fui burro. Sim, burro o suficiente para não entender seus sentimentos. Burro o bastante para não entender que aquele era um dos momentos em que ele mais precisava de mim. E eu nem tive a coragem de perguntar o que estava acontecendo. Assim que o leite na mamadeira da Ashley acabou tratei de abraça-lo. E comecei a chorar também. Ficamos abraçados e chorando por vários minutos. Quando o silencio foi cortado por ele.

- Desculpa, Bill. Por favor, me perdoa. E não quis ter quase nos separado, Bill. Desculpa. – Falava entre soluços.

- Não, Tom. Quem deveria pedir desculpas sou eu. Eu fui egoísta o suficiente para não perceber que meu irmão precisava de mim. Eu que te peço desculpas. – E continuamos ali. Chorando e abraçados. E entendemos que naquele choro estava nosso perdão.