— Eu sou Hitachiin Kaoru.

 Não pode ser...

— Ei garotinha, pare de dizer besteiras! – um dos gangsters disse, irritado. Eu não lhe dei atenção. Estava entorpecida, absorvendo tantas informações.

— Kaoru, a gente pode levar ela pra algum lugar, pra fazer algumas coisas? – um deles, o mais alto de cabelo comprido e loiro, e uma touca escura na cabeça, me abraçou por trás, e sorriu malicioso.

— Estamos entediados.

— E você não gosta dessa franguinha mesmo, ou gosta?!

Minhas pernas travaram, eu não tinha nem mesmo forças para gritar, muito menos para sair correndo. Apenas fiquei estática, respirando pesadamente, encarando o  Kaoru-kun sem expressão alguma a minha frente.

— Não.

O garoto que me abraçava continuou sorrindo, e passava a mão em minha barriga e meu pescoço. Senti vontade de vomitar. Meu corpo todo parecia congelado, eu nem mesmo sentia minhas pernas, que tremiam compulsivamente.

— Ela não faz o meu tipo. Não é sexy o suficiente – Kaoru continuou, com o mesmo olhar indiferente.

Suas palavras ecoavam na minha mente vazia, enquanto os amigos do Kaoru-kun me levavam para o outro lado.

Ele não vai... me ajudar?

O Kaoru-kun que eu conheço pode ser meio lerdo, mas ele sempre me ajudou quando eu precisei... Ele nunca me abandonaria dessa forma!

Ele não é o Kaoru-kun.

— Não... não... – me debati fracamente nos braços dos dois sujeitos mal-encarados que me arrastavam, quando senti um movimento rápido perto de mim, seguido de um barulho de batida e um gemido fraco. Olhei para baixo e vi um dos garotos que me seguravam caído no chão com o nariz sangrando. O outro me soltou rudemente e se afastou, pronto para sair correndo.

Olhei para frente, com os olhos se inundando em lágrimas, um pouco tarde de mais. Kaoru-kun sorria triunfante, com seus cabelos flamejantes brilhando mesmo na luz da Lua.

— Idiotas. Eu disse que ela não faz o meu tipo, mas eu não dei permissão para vocês fazerem o que quisessem! – ele bradou, se aproximando de mim. E mais uma vez eu não pude fazer nada ao ser carregada. Kaoru-kun colocou meu corpo em seu ombro, e só me restou segurar com força o seu casaco para não cair. Engoli o choro, afinal já era patético o bastante estar sendo levada daquela forma.

— Ela pode não ser sexy – ele continuou falando com aqueles garotos, enquanto me carregava – mas eu meio que gosto dela. Eu mato qualquer um de vocês que tente tirar uma casquinha. Eu to esperando ela crescer, vai ser melhor pra mim, e então eu vou tirar todas as primeiras experiências dela! Ela é só minha, entenderam agora? – ela concluiu pisando na cabeça do garoto de cabelos compridos.

— H-hai... – ele balbuciou em resposta. Kaoru apenas sorriu e se afastou comigo nas costas. Meu rosto queimava furiosamente, pelas afirmações que o Kaoru fez a pouco. Como ele pode ter dito coisas tão constrangedoras???

Depois que nos afastamos o suficiente, Kaoru parou de andar. Estranhamente, era o mesmo local que a pouco eu estava com o outro Kaoru-kun, nos balanços. Minha mente está dando nós com tantos acontecimentos em apenas um dia...!

Ele me desceu lentamente dos ombros, me segurando pela cintura. Nossos rostos estavam tão perto! Eu podia ver seus olhos de gato me fitando de um jeito esquisito, brilhando com a luz falha e alaranjada do poste acima de nossas cabeças.

Ele me soltou de repente, e eu caí estrondosamente sentada no chão. Doeu. Por que ele fez isso?

— Isso foi por ter me seguido, mesmo sendo apenas uma coelhinha. É a sua punição! – ele respondeu à minha pergunta não feita, de braços cruzados, como quem dá um sermão em uma criança levada que quebrou um vaso caro.

— Voce deve estar bem assustada agora – ele continuou, enquanto eu me levantava e limpava a sujeira da roupa – é melhor ir pra casa logo, não vou te salva da próxima vez – ele falava com a expressão severa, se afastando.

— E-espera! – eu hesitei – você é mesmo... o Kaoru-kun?

— Não há sombra de dúvidas – ele disse, com um sorriso de canto adornando o rosto – você mesma viu, o mesmo rosto, a mesma marca de nascença...

O que ele diz é verdade... mas...

— Meu coração... – eu o fitei suplicante – meu coração diz que não é verdade. O Kaoru-kun que eu conheço é sincero e gentil, e nunca tocaria em uma garota só por diversão!

Ele pareceu um pouco surpreso com o que eu disse, mas logo sua expressão voltou a ser aquela irritante e debochada, com um sorriso zombeteiro.

— Você é estúpida? Não fale como se soubesse de tudo sobre mim, você não me conhece!

— Eu realmente não sei tudo... -  doía muito ser tratada daquela forma pelo garoto que eu gostava. eu me sentia mal, queria me acabar chorando, mas acabei me exaltando e gritei – Mas o Kaoru-kun me ajudou bastante! Ele é muito gentil comigo. Ele limpou o sangue do meu nariz quando a gente se conheceu, ele me deu seu casaco quando eu tive febre, ele até elogiou meus desenhos estranhos, e também me disse que não conhece essas mulheres. Eu confio no Kaoru-kun!!!

Ele é puro, sincero e gentil. E não mentiria para mim! Eu amo esse Kaoru-kun, e por isso vou confiar nele!

— Merda! Você é tão ingênua – ele disse com raiva – eu vou te contar a verdade então...