— Eu te amo.

Eu não tinha reação. Perdi todos os meus sentidos. Até mesmo as lágrimas pararam de cair. Tudo o que eu podia ver e sentir eram Kaoru-kun de cabeça baixa na minha frente, e seu aperto forte nos meus ombros. Lentamente ele levantou a cabeça, para novamente fazer eu me perder na imensidão dourada. A intensidade com que ele me fitava, o leve tremor que eu sentia através das suas mãos, o rubor das suas faces... nem por um momento eu pude duvidar. Aquilo realmente estava acontecendo, e era comigo!

Levantei a minha cabeça, ao mesmo tempo em que Kaoru baixava a dele, até nossas testas se tocarem. Eu sentia sua respiração, ainda irregular bater no meu rosto, provocando arrepios.

— Eu sou tão lento – ele sussurrou, fechando os olhos – Me desculpe. Eu fui tão burro de não perceber antes os meus sentimentos – eu também fechei meus olhos, querendo com todas as forças que meu coração se aquietasse para que eu pudesse ouvir as palavras dele – A ideia de você ter ficado a noite inteira com Hikaru me fez perder o controle. Foi então que eu percebi... – ele circundou os braços ao meu redor, num abraço quase urgente. Eu apoiei a cabeça no seu peito, ouvindo com atenção o palpitar do seu coração que estava quase tão rápido e alto quanto o meu – Foi então que eu percebi que os meus sentimentos por você eram tão fortes.

Uma onda de calma espalhou-se por todo o meu corpo. Naquele momento o mundo parou de girar, e nada mais passava pela minha cabeça. Eu sentia o calor do corpo de Kaoru irradiando, e eu sabia que não iria encontrar lugar mais confortável para estar.

— Eu te amo, Hanako – ele disse no meu ouvido, apertando-me ainda mais nos seus braços, enquanto acariciava de leve meus cabelos – Por favor, nunca mais saia de perto de mim!

As lágrimas embaçaram minha visão. Afastei-me alguns centímetros, secando o rosto, enquanto tentava recuperar o foco da visão. Kaoru não soltou os braços de mim, permanecendo com as mãos nas minhas costas. A sensação de tê-lo assim tão perto me fazia perder totalmente o equilíbrio.

— K-kaoru-kun, realmente me ama... eu não sei... eu... eu estou tão feliz... acho que...eu... – as palavras simplesmente sumiram, me deixando completamente perdida. Kaoru acariciou minha bochecha com a ponta dos dedos, espalhando um calor agradável. Ele sorria, de um jeito que eu nunca havia visto, mas que fazia meu coração pular desesperado no peito – Eu te amo... – deixei escapar, de modo quase automático ao fitar seu rosto. Eu estava transbordando, e sentia que já não conseguia guardar nada mais dentro de mim.

Kaoru se aproximou lentamente, deixando nossas respirações se misturarem. Ele fechou os olhos, e eu fiz o mesmo. Sentia ondas elétricas percorrendo todo meu corpo, e meu peito em completo silêncio, aguardava com expectativa. Senti o nariz dele roçando o meu, fazendo cócegas, e as borboletas do meu estômago agitaram-se, revoando para todos os lados...

— Está na hora da aula, o almoço já acabou – uma voz masculina e divertida dizia, com ar de superioridade. Kaoru se afastou de mim imediatamente, seu rosto colorido de vermelho, tornando-se quase azul de raiva.

— Ikeyamada-sensei – sibilei entredentes, fitando a figura que segurava o riso na minha frente. Nunca antes eu havia sentido real desejo de golpear alguém, mas pela primeira vez eu me peguei repetindo mentalmente os exercícios que Mori-senpai me ensinava. Só aqueles que matavam, ou pelos menos que machucavam bastante, pelo menos.

— Vamos para a aula, queridos pupilos – o sensei segurou a nós dois, um em cada mão, e caminhou cantarolando feliz, em direção ao prédio.

-

Durante as aulas que se seguiram, eu me senti impaciente, mal conseguindo me conter. Tudo parecia mais brilhante e colorido, até mesmo a voz chata daquele maldito professor era como uma linda música soando ao longe. Meu coração martelava indistinto, sem ritmo algum, enquanto eu rabiscava algumas carinhas sorridentes e corações na borda do caderno.

 Invariavelmente eu me surpreendia fitando Kaoru-kun, do outro lado da sala. Hikaru não estava ao meu lado, o que não é nenhuma novidade, então nada me impede de apreciar a paisagem algumas vezes. Eu gosto de ficar olhando para ele, observando cada mínimo gesto. O jeito com que ele segura o lápis, seu semblante sério ao responder alguma questão, o balanço dos seus cabelos sempre que ele se mexe, e eu sinto que nunca vou cansar disso.

Finalmente ouvi o sinal de fim das aulas, e antes mesmo que o professor nos dispensasse, e já estava guardando meu material, ansiosa pelo treino no Clube de hoje.

Depois de me trocar no vestiário, e fazer uma trança de cada lado da cabeça, fui recebida pelo caloroso ‘bem-vindo’ de sempre do Honey-senpai, que parecia ainda mais fofo e abraçável do que o normal, na entrada do Clube. Até mesmo Mori-senpai não parece tão ameaçador e selvagem hoje.

— Nee, Hana-chan! Como que foi o resto da sua festa, hein? – ele perguntou audacioso, com um lindo sorriso de derreter geleiras que disfarçava perfeitamente a sua intensa curiosidade.

— Do que você está falando, Honey-senpai?

— Eu vi você sendo carregada no colo pelo Kao-chan! Como uma princesa! – ele disse animado, gesticulando com as mãos enquanto falava.

— N-não foi Kaoru-kun quem me levou – eu sorri sem jeito, corando levemente – foi o Hikaru...

— Aaaaah! Entendi! Então foi o Kao-chan quem saiu correndo desesperado lá de dentro...

— É... acho que foi...

Deixei Honey-senpai refletindo sobre o assunto, e fui para o outro lado, esperando a minha vez de fazer os exercícios. Queria evitar mais interrogatórios. Sentei no chão, olhando para os meus colegas de clube que agora lutavam, sem estar prestando atenção de fato. A única coisa que me passava na cabeça agora era ele!

— H-hanako-chan...

Meu coração acelerou subitamente ao reconhecer aquela voz. Eu quis levantar imediatamente, mas me atrapalhei com os pés e acabei caindo. Kaoru-kun sorriu de leve, e me ajudou a levantar, apoiando minhas costas com a mão. Um calor agradável se espalhou continuamente por mim, com apenas esse pequeno toque.

— O-oi... – eu disse sorrindo encabulada. Não tinha nada melhor para falar?? Aaah, que idiota!!!

— Eu vim dizer que não vou participar do treino hoje, por que tem uma reunião do conselho estudantil... então... eu não vou poder ir para casa com você hoje...anh... – Eh! Ele planejava voltar pra casa comigo? Que fofo!!! O que eu deveria dizer nesse tipo de situação...?

— T-tudo bem... – tudo o que eu conseguia fazer era olhar para meus próprios pés... eu sou tão errada!

— Eu estava pensando... bem... o que você acha... de sair comigo...

— Num encontro?! – eu o fitei surpresa, um pouco ansiosa demais.

— Exatamente... – ele parecia preocupado.

— Eu... iria a-adorar! – Um encontro! Com Kaoru-kun!!!

Eu... eu ... eu... eu...

— Então está bem... eu vou indo... – Kaoru-kun sorriu de canto, um sorriso completamente perfeito que me fez perder o ar, e se aproximou, parecendo indeciso. Senti seus lábios pousarem suavemente na minha bochecha, e então se afastarem, rápido demais.

Fiquei olhando ele se afastar, enquanto permanecia com o olhar parado e cara de boba, com a mão repousada tolamente na bochecha direita, onde eu ainda podia sentir com nitidez o beijo que ele acabara de me dar.

Existe realmente espaço para tanta felicidade dentro de mim...?